domingo, 16 de setembro de 2012

Refutando alguns argumentos anti-sabatistas - Parte 2

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Na última postagem, comecei a refutar alguns argumentos anti-sabatistas presentes em um site, cujo link foi enviado por um rapaz gentil, com o qual estou debatendo. Como o texto tinha alguns erros (tá... eu tô sendo generoso), resolvi fazer uma análise, apontando-os. Na primeira parte, eu apontei 5 erros. Agora, na segunda, apontarei o restante, que são mais 8 (a começar do sexto erro). Vamos começar?


- Sexto erro: Ligação Forçada
Conforme o Profeta Jeremias, em Seu novo pacto, o Senhor promete escrever a Sua Lei no interior e no coração dos homens. E conforme Ozéias, no dia em que isto acontecer, os homens O conhecerão. Ora, isto se cumpre exatamente num Domingo, quando o Espírito Santo é dado aos Apóstolos (cf. Jo 20,19-23; At 2,1-4); pois é o Espírito Santo que nos convence da vontade de Deus.
A segunda aparição do Senhor aos discípulos não é no Sábado, mas no novo "dia que o Senhor fez" (cf. Sl 118,24), isto é, no Domingo (cf. Jo 20,26), dia em que Tomé o adora como Deus (cf. Jo 20,29). Talvez temos aqui a primeira adoração cristã a Deus no dia de Domingo. 
De onde o articulista tirou a ideia de que há uma ligação necessária e lógica entre a aparição de Jesus e a descida do Espírito Santo no domingo e a suposta validade da guarda do domingo? São fatos que não apresentam nenhuma ligação. Na realidade, se analisarmos mais detidamente, esses eventos ocorreram no primeiro dia da semana porque o primeiro dia da semana é que as coisas começam e recomeçam. Deus começou a criação no primeiro dia da semana. Da mesma forma, Jesus ressuscitou no primeiro dia e o Espírito desceu no primeiro dia. Seguindo essa lógica, Deus terminou a criação na sexta, Jesus terminou seu ministério numa sexta e o Espírito Santo que estava em Jesus também. E ainda seguindo a lógica, Deus descansou da criação no sábado, Jesus descansou de seu ministério num sábado e o Espírito Santo também. 



É uma simbologia, evidente, porque Deus não precisa descansar e está sempre trabalhando em prol da humanidade; e Jesus deixou claro que descansar no sábado não é deixar de pregar o evangelho e fazer o bem para o próximo (pelo contrário, é um dia muito propício para isso, pois não se faz trabalhos seculares); e o Espírito Santo age nos corações de todos os cristãos todos os dias, inclusive no sábado. 



Mas é uma simbologia que mostra como que Pai, Filho e Espírito Santo são o mesmo Deus: o Deus criador. E isso significa que o ciclo semanal continua o mesmo desde a criação: sexta é o término, sábado é o descanso e o primeiro dia é o recomeço de tudo. Por isso Jesus ressuscitou no domingo e não no sábado ou na própria sexta. E por isso o Espírito Santo desceu num domingo e não numa quarta, quinta ou sábado. O Deus criador mostrou que o ciclo continua o mesmo.



- Sétimo Erro: Confusão sobre o que é “dia guarda”
O Culto Cristão acontece no domingo (cf. At 20,7; 1Cor 16,2). Os Sabatistas alegam que a "Ceia do Senhor" não era uma reunião de culto. A Primeira Carta de São Paulo aos Coríntios mostra claramente que a reunião da "Ceia do Senhor" era uma reunião de culto. Basta verificar os capítulos 11 a 16.
É preciso deixar uma coisa bem clara aqui: reunir-se com outros irmãos a fim de adorar o Senhor Jesus NÃO significa guardar esse dia. Guardar um dia é dizer que ele santo e sustentar que nesse dia devemos nos abster de toda forma de trabalho secular durante suas 24 horas, utilizando-o para adorar o Senhor, ler a Bíblia, evangelizar, se reunir com irmãos, se reunir com a família, ajudar o próximo, fazer coisas relacionadas a Deus e admirar as coisas que Deus fez. Isso é guardar um dia.



Então, apontar reuniões de cristãos (para adorar o Senhor) durante outros dias, não serve para provar que esses dias eram guardados. Na verdade, podemos ler no livro de Atos que os irmãos se reuniam e pregavam todos os dias. E é assim que tem que ser mesmo. O sábado não foi criado para que passássemos todos os dias longe de Deus e um dia apenas na sua presença. Deus almeja que demos tempo para Ele e para suas coisas durante toda a semana. O salmista afirma que medita na Palavra de Deus todos os dias. Daniel orava a Deus três vezes por dia. O apóstolo Paulo diz que devemos orar sem cessar (isto é, com frequência). 



Se o sábado limitasse nossa adoração ao Senhor e nossas reuniões com irmãos a apenas um dia, não seria um bom mandamento. O objetivo do sábado é: (1) podermos ter um dia específico e fixo para fazermos as coisas de Deus (porque durante a semana temos outros afazeres, o que nos impede de dar o dia inteiro para Deus); e (2) nos lembrar que Deus é o Criador do mundo e que o Criador do mundo é o mesmo ser que sacrificou por nós na cruz e que habita em nosso interior (é um Deus Triúno).



É por isso que os adventistas do sétimo dia também têm cultos de adoração ao Senhor no domingo e na quarta. Em algumas semanas especiais, temos cultos todos os dias da semana. E ainda existem os pequenos grupos, que podem ser feitos em qualquer dia da semana e que são reuniões caseiras onde um grupo menor da igreja se reúne para estudar a Bíblia, louvar e orar. Isso não quer dizer que guardamos esses dias. E o sábado continua sendo um dia diferente e especial.



Quanto aos textos de Atos 20:7 e I Coríntios 16:2, também os refutei naquele texto antigo que pretendo postar. Vou resumi-las aqui. O texto de Atos 20:7 afirma que Paulo e os irmãos estavam reunidos no primeiro dia da semana e que Paulo prolongou seu discurso até à meia noite. Ora, o leitor deve saber que nos tempos bíblicos, o dia era contado até o pôr do sol (como podemos ver em Gênesis 1:5, em Levítico 23:32 e em Lucas 23:54). É o certo, afinal, o dia não termina no meio da noite, mas sim no fim do dia. 



O texto também afirma que Paulo se estendeu porque iria viajar no outro dia, pela manhã. Então, fica claro que Paulo e os irmãos estiveram reunidos durante todo o dia de sábado, até o pôr do sol (o fim do sábado e começo do domingo). E continuou falando depois do pôr do sol (já no primeiro dia da semana), até meia-noite, porque iria viajar de manhã. E por que viajaria pela manhã do primeiro dia? Porque sábado não é dia para viajar, mas para se reunir com os irmãos e falar de Deus. Só eu Paulo gostava de falar e acabou se alongando, varando o primeiro dia da semana. Portanto, o texto, na verdade, é uma boa evidência de que o sábado ainda era guardado.



A passagem de I Coríntios 16:2, Paulo afirma nela que os irmãos deveriam juntar o dinheiro da oferta a partir do primeiro dia da semana para que quando ele voltasse, pudesse levar as ofertas. Vamos ler o texto:
Quanto à coleta para os santos, fazei vós também como ordenei às igrejas da Galácia. No primeiro dia da semana, cada um de vós ponha de parte, em casa, conforme a sua propriedade, e vá juntando, para que se não façam coletas quando eu for. E, quando tiver chegado, enviarei, com cartas, para levarem as vossas dádivas a Jerusalém, aqueles que aprovardes. Se convier que eu também vá, eles irão comigo.
Isso é guardar um dia? Não! Na verdade, isso é uma prova de que o ciclo semanal começava no primeiro dia da semana. Sabendo disso, Paulo diz que a partir do primeiro dia da semana, que é o primeiro dia de trabalho, as pessoas deveriam começar a juntar dinheiro. Ele não pediria para começar a juntar no sábado, porque sábado não é dia de ganhar dinheiro e, portanto, não é dia de começar a juntar. Simples.



- Oitavo Erro: Outra confusão entre tipos de leis



No entanto muitos cristãos se viam tentados a judaizar, isto é, a observar as prescrições da Lei Mosaica. Os Gálatas era um exemplo e por causa deles São Paulo dirige-lhes uma epístola exatamente para tratar desta questão. E vejam a bronca que o Apóstolo dá neles: "Ó insensatos gálatas! Quem vos fascinou a vós, ante cujos olhos foi apresentada a imagem de Jesus Cristo crucificado? Apenas isto quero saber de vós: recebestes o Espírito pelas práticas da lei ou pela aceitação da fé? Sois assim tão levianos? Depois de terdes começado pelo Espírito, quereis agora acabar pela carne? (Gl 3,1-3).
Quem ainda duvidar de que São Paulo também estava se referindo à observância do Sábado, então veja o que ele escreveu aos Colossenses: "Que ninguém vos critique por questões de comida ou bebida, pelas festas, luas novas ou sábados. Tudo isso nada mais é que uma sombra do que haveria de vir, pois a realidade é Cristo" (Cl 2,16-17) (grifos meus).
Errado. O articulista ignora que “sábados” também é utilizado para se referir aos feriados religiosos. Uma prova disso está em Levítico 23:26-32 que afirma que o Dia da Expiação era um sábado. Acontece que o dia da Expiação tinha uma data certa: era o décimo dia do sétimo mês. Ou seja, em cada ano, o décimo dia do sétimo mês caía em um dia da semana diferente. Podia ser domingo, segunda, terça, quarta, quinta, sexta ou até no sábado. Fosse como fosse, o dia era chamado de sábado, porque sábado que dizer “cessar” e nos feriados, assim como no sétimo dia, cessava-se o trabalho secular.



Como Paulo está falando sobre leis cerimoniais nesse texto de Colossenses, então é óbvio que esse “sábados” se referem a feriados religiosos.



A questão é: Paulo nunca falou contra a sobre a observância de leis morais. Pelo contrário, ele a exalta em vários pontos. O que Paulo criticava eram duas coisas: (1) os que viam a lei como meio para salvação e purificação e (2) os que acreditavam que os preceitos cerimoniais da lei ainda estavam valendo. Essas duas coisas estavam erradas, pois (1) Jesus é quem salva e o Espírito é quem purifica; a função da lei é somente ser um padrão moral de conduta; e (2) os preceitos cerimoniais prefiguravam o sacrifico de Cristo e a Nova Aliança, então claro que com o sacrifício já feito, tais preceitos se tornaram obsoletos e inúteis. Aqueles que se voltavam para eles, era como se estivessem declarando não acreditar que o sacrifício do Messias era suficiente para salvar.



Mas em nenhum momento, Paulo levanta a voz para falar contra leis de caráter moral. Portanto, os 10 mandamentos ficam fora das críticas de Paulo. Não adiante tentar colocar o sétimo dia da semana no bolo. Ele não é igual a sacrifico de animais, festas, feriados religiosos, santuário terreno, comida e bebida sagrada e circuncisão. Ele é um mandamento moral.



- Nono Erro: Tradição posterior a Bíblia
Mais uma confirmação Bíblica de que o Domingo é o Dia do Senhor, está no Livro do Apocalipse. Em Ap 1,10 São João escreve: "Num domingo, fui arrebatado em êxtase, e ouvi, por trás de mim, voz forte como de trombeta". A expressão que no português está como "num domingo" no original grego está "té kyriaké hémerà", que significa "No Dia do Senhor". Ora, aqui São João está dizendo que no Domingo, que é Dia do Senhor, Deus lhe deu uma revelação. Se o Domingo não é o Dia do Senhor, por que São João assim o indicou no Livro do Apocalipse?.
Aqui, temos uma prova ou de que o articulista tem muito pouco conhecimento ou que ele é muito desonesto. O apóstolo João não diz que teve a visão no primeiro dia da semana (que é como o “domingo” é chamado na Bíblia). Ele diz que teve no “dia do Senhor”. Mas qual é o dia do Senhor bíblico? É o primeiro dia da semana? Não. O único dia do Senhor do qual a Bíblia fala é o sábado. Ele é chamado de “meus sábados” pelo Senhor, no Antigo Testamento, e Jesus diz que ele é “o Senhor do sábado”. Foi o sábado que foi santificado e abençoado por Deus, é o sábado que está no decálogo e nada nunca foi dito contra o sétimo dia da semana na Bíblia. Este é o dia do Senhor.



Mas veja a malandragem: quando os cristãos passaram a guardar o primeiro dia da semana, este dia foi chamado de dia do Senhor (domingo). E quando a Bíblia foi traduzida para o latim e do latim para o português, no trecho que diz “dia do Senhor”, ficou “domingo”. Isso nos induz a pensar que João estava se referindo ao primeiro dia da semana, quando, na verdade, ele diz “dia do Senhor”, que não podia ser outro que não o sábado. Se, de fato, João quisesse dizer que o dia do Senhor era o primeiro dia da semana, diria: “No primeiro dia da semana, o dia do Senhor, fui arrebatado...”.



O erro do articulista é fazer uso de uma tradição posterior a Bíblia (a de que o dia do Senhor é o primeiro dia da semana), para dizer que João está falando desse dia, e não do “dia bíblico do Senhor”.



- Décimo Erro: Confiar em tradições humanas:
A Igreja do período pós-Apostólico, também confirmou a doutrina do Novo Dia de Adoração que recebeu dos Apóstolos.
Já refutamos as alegações que os apóstolos ensinaram a guardar o primeiro dia da semana em lugar do sábado. Então, não faz sentido usar textos de cristãos do período pós-apostólico para provar a santidade do primeiro dia. Se os apóstolos não ensinaram isso é porque Jesus Cristo não disse nada a respeito. Então, a guarda do primeiro dia da semana é apenas tradição humana, que começou a se disseminar justamento quando os apóstolos já estavam todos mortos, exilados ou muito velhos.



Ainda assim, é bom fazer algumas análises rápidas aqui sobre alguns dos textos que o articulista cita. Um deles é um trecho do Didaquê. Diz assim: "Reúnam-se no dia do Senhor para partir o pão e agradecer, depois de ter confessado os pecados, para que o sacrifício de vocês seja puro". Mesmo que o autor esteja se referindo ao primeiro dia da semana (o que não está explícito), não há aqui uma exortação para que se guarde o domingo e se abandone o sábado. É uma exortação a que haja uma reunião em algum momento do primeiro dia da semana para que se parta o pão, se agradeça e se confesse os pecados. De fato, os primeiros cristãos faziam isso nas manhãs de domingo, antes de saírem para seus trabalhos. Era uma tradição para se lembrar da ressurreição, mas não era propriamente a guarda do domingo (que só se oficializa com o édito de Constantino, em 325) e nem era uma tradição com embasamento bíblico (embora não haja nada de mal em acordar na manhã de domingo e fazer um pequeno culto).



Outro texto citado é proveniente da Carta aos magnésios, escrita por Inácio. Um trecho da carta diz assim: 
Aqueles que viviam na antiga ordem de coisas chegaram à nova esperança, e não observam mais o sábado, mas o dia do Senhor, em que a nossa vida se levantou por meio dele e da sua morte.
Este texto é problemático, porque no original não lemos a expressão hemera (ou equivalente), que quer dizer “dia”. No original temos: “meketi sabbahizontes, alla kata kyriaken zoontes” (“não mais sabatizando, mas conforme o do Senhor vivendo”). A melhor interpretação, de acordo com o contexto, seria: “Não mais sabatizando, mas vivendo conforme a vida do Senhor”. “Sabatizar” seria aqui um neologismo para: “agir como um judeu”. Talvez esse neologismo fosse uma crítica de Inácio à forma judaica antiquada da época de se guardar o sábado. Então, Inácio faz um paralelo entre a nova vida no Senhor e a vida judaica cheia de fardos. A interpretação é coerente.



O outro texto é de Justino. Ele é o primeiro autor que indica que o primeiro dia da semana deveria ser usado para o Senhor. E é interessante que, a todo o momento, ele faz uma alusão a esse dia com o dia do deus sol dos pagãos (que também era o primeiro dia da semana), o que parece ser uma tentativa de se aproximar dos pagãos. Mais ou menos como fez Paulo em Atos 17, quando disse aos gregos que o “Deus desconhecido” era precisamente o Deus que ele pregava. Só que Paulo não pretendia mudar a lei de Deus. Justino, no entanto, diz o seguinte:
Celebramos essa reunião geral no dia do sol, porque foi o primeiro dia em que Deus, transformando as trevas e a matéria, fez o mundo, e também o dia em que Jesus Cristo, nosso Salvador, ressuscitou dos mortos. Com efeito, sabe-se que o crucificaram um dia antes do dia de Saturno e no dia seguinte ao de Saturno, que é o dia do Sol, ele apareceu a seus apóstolos e discípulos, e nos ensinou essas mesmas doutrinas que estamos expondo para vosso exame.
Mas espere um pouco... Onde é que lemos nos evangelhos ou nas epístolas do Novo Testamento que Jesus mandou tornar o domingo um dia santo? Não há isso em nenhum ponto do Novo Testamento. Então, Justino está se utilizando de tradições humanas em lugar da lei moral de Deus que diz: “Lembra-te do dia de sábado para o santificar” (Êxodo 20:8).



Os demais textos citados são mais próximos de quando Constantino oficializou a guarda do primeiro dia. Vou fazer uma postagem sobre isso depois, mas devo ressaltar que a mudança da guarda do sábado para o domingo ocorreu de maneira gradual e passou por muitas fases. Assim, antes da oficialização de Constantino, é óbvio que o processo de mudança já estava bem avançado. Ou seja, citar textos de cristãos do período pós-apostólico falando sobre o domingo como dia santo não é válido. Temos que provar através dos escritos do Novo Testamento que Jesus Cristo ordenou isso e que os apóstolos assim faziam. 



- Décimo primeiro Erro: Mentiras contra os adventistas
A fundadora do Adventismo do Sétimo Dia, a senhora Ellen G. White, afirmava em seus escritos que a instituição do Domingo como dia do Senhor, era invenção do Papado, e quem observasse este dia com Dia do Senhor receberia a marca da Besta. Por esta razão alguns Adventistas (acreditando mais na senhora White do que na Bíblia, nos Apóstolos, no Espírito Santo e nos cristãos dos primeiros séculos) têm procurado fundamentar esta afirmação pesquisando onde o Papado teria feito tal instituição.
Nunca vi tantos disparates na minha vida. Em primeiro lugar, Ellen White não foi “a fundadora do adventismo”. O articulista usa essa expressão para gerar um efeito psicológico negativo no leitor. O leitor fica com a impressão de que Ellen White é para o adventismo o que Maomé é para o islamismo (um pilar fundamental). Ocorre que o adventismo não depende de Ellen White para existir. Tudo o que Ellen White falou era pautado na Bíblia. Então, chamá-la de fundadora do adventismo é apenas um truque para induzir o leitor a aceitar os argumentos sem nem sequer analisar o que Ellen White falou em seus escritos.



Em segundo lugar, ela não afirmou que a guarda do domingo era invenção do papado, mas sim que a Igreja Católica concretizou isso. E isso é verdade. Acontece que nenhuma mudança na história acontece do nada. Para que a Igreja Católica mudasse o dia de guarda do sábado para o domingo, era necessário que grande parte dos cristãos concordasse com isso. E para que grande parte dos cristãos concordasse com isso, é óbvio que antes do decreto de Constantino e antes do Concílio de Laodicéia e antes a Igreja Católica ser ratificada como Igreja oficial em 538, houve um lento e gradual processo de aceitação da ideia, envolvendo várias fases de validação.



Em terceiro lugar, como já mostrei, o Novo Testamento não afirma em nenhum lugar que o primeiro dia da semana substituiu o sábado ou que o sábado foi abolido. O articulista se utiliza de uma série de erros básicos de interpretação bíblica para fazer tal afirmação e depois disso deposita a sua confiança na opinião de cristãos pós-apostólicos que cometeram os mesmos erros. Então, quem confia mais em homens do que na Bíblia não são os adventistas, mas o articulista.



- Décimo segundo Erro:
Devemos lembrar que os decretos contra os cristãos judaizantes foram instituídos pelos Apóstolos durante o Concílio de Jerusalém (cf. At 15). Conforme já expomos, estes decretos não favoreciam a observância do Sábado como Dia do Senhor.
O texto de Atos 15 gira em torno de uma discussão sobre a validade ou não da circuncisão. Circuncisão é preceito cerimonial, portanto, nada tem a ver com a guarda do sétimo dia da semana. Então, chamar os sabatistas de judaizantes é colocar o sétimo dia num pacote de preceitos ao qual ele não pertence. Desonestidade isso.



- Décimo Terceiro Erro:
Os Bispos de Jerusalém sempre foram fiéis a estes decretos, conforme podemos observar no testemunho de São Cirilo, Bispo de Jerusalém: "Não ceda de forma alguma ao partido dos Samaritanos, ou aos Judaizantes: por Jesus Cristo de agora em diante foste resgatado. Mantenha-se afastado de toda observância de Sábados, sobre o que comer ou como se purificar. Mas abonime especialmente todas as assembléias dos perversos heréticos" (São Cirilo de Jerusalém. Carta 4, 37) (grifos meus).
Então, devemos ficar com o testemunho de Ellen G. White ou com o testemunho de Jeremias, Oséias, Jesus, Espírito Santo, dos Apóstolos e dos primeiros cristãos?.
Devemos ficar com o testemunho de Jeremias, Oséias, Jesus e o Espírito Santo, é óbvio. Mas devemos também saber interpretar esses testemunhos à luz da Bíblia. Por exemplo, fazer confusão entre preceitos morais da lei e preceitos cerimoniais é algo totalmente antibíblico. A Bíblia ensina que existe distinção entre esses dois preceitos, e se alguém faz confusão, não está sendo bíblico. E acreditar em qualquer pessoa que não se pauta na Bíblia, é um erro.



Portanto, devemos recusar o testemunho do Bispo Cirilo e todos os que insistem em fazer interpretações antibíblicas e sem sentido da Bíblia Sagrada, seguindo tradições humanas. Foi o que a Ellen White se esforçou para fazer em seus escritos, inclusive.

Refutando alguns argumentos anti-sabatistas - Parte 1

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Ontem eu recebi um comentário de um rapaz com quem estou debatendo na postagem: “Um pouquinho sobre os adventistas do sétimo dia”. Em seu comentário, ele me foi muito caridoso ao me enviar um link de um site de apologética católica (clique aqui se quiser ver), falando sobre a questão da mudança do sábado para o domingo; caso eu me interessasse em estudar mais o assunto. Como me interesso, fiquei muito feliz com o link.


Na verdade, eu já li por alto esse artigo alguma vez há muito tempo e, embora a maior parte dos argumentos utilizados ali já tenham sido refutados por mim em alguns textos que não publiquei no blog, nunca fiz uma refutação sistemática desse artigo em si. Felizmente, vou poder fazer agora. Como tal artigo é um festival incrível de más interpretações e coisas sem sentido, terei que dividir a postagem em duas partes. Na primeira, apontarei 5 erros e na segunda, mais 8. No total são 13. Vamos lá?



- Primeiro erro: Desordem Cronológica
Todos sabem que no AT, o Senhor instituiu o Sábado como o Seu dia de adoração. Mas resta a pergunta: por que? Para entendermos o motivo deste mandamento divino, devemos responder às seguintes perguntas: 1) Por que Deus instituiu um dia para o Seu culto? 2) Por que o Sábado (Shabath) foi escolhido para ser este dia? 
A resposta para a primeira pergunta encontramos no livro do Deuteronômio, onde lemos: 'Lembra-te de que foste escravo no Egito, de onde a mão forte e o braço poderoso do teu Senhor te tirou. É por isso que o Senhor, teu Deus, te ordenou observasses o dia do sábado' (Dt 5,15).
A resposta para a primeira pergunta (por que o Senhor instituiu o Sábado como o seu dia de adoração?) está, em primeiro lugar, em Gênesis 2:1-3, em Êxodo 16:22-30 e em Êxodo 20:8-11. Vamos ler cada uma delas e eu vou comentar uma por uma.
Assim, pois, foram acabados os céus e a terra e todo o seu exército. E, havendo Deus terminado no sétimo dia a sua obra, que fizera, descansou nesse dia de toda a sua obra que tinha feito. E abençoou Deus o dia sétimo e o santificou; porque nele descansou de toda a sua obra que, como criador, fizera (Gênesis 2:1-3).
Esta é a primeira citação que a Bíblia faz à santidade do sétimo dia da semana, chamado sábado. Quero que o irmão note duas coisas. A primeira: Deus tornou esse dia abençoado e santo por ter descansado da obra que fizera como criador. Notou a ênfase na palavra “Criador”? Isso é importante. Em toda a Bíblia Sagrada, o Deus verdadeiro é identificado como sendo o Criador (vamos observar isso mais à frente). E vemos aqui que o sábado enfatiza essa verdade.



A segunda: O sábado foi abençoado e santificado antes mesmo da queda do ser humano. Não havia pecado, nem povo hebreu, nem Israel, nem 12 tribos, nem Abraão, nem judaísmo, nem Moisés, nem os 10 mandamentos escritos em tábuas de pedra. Mas já ali, o sábado era abençoado e santificado por Deus como sendo um dia de descanso e um memorial da criação e do Criador do mundo.



Então, qual era o motivo da instituição do sábado? Relembrar que Deus era o criador da terra. E quem deveria guardar esse dia? Os judeus? Não. Não havia judeus, nem hebreus, nem Abraão, nem 12 tribos. Todos deveriam guardar. Agora, vamos ler a segunda passagem.
Ao sexto dia, colheram pão em dobro, dois gômeres para cada um; e os principais da congregação vieram e contaram-no a Moisés. Respondeu-lhes ele: Isto é o que disse o Senhor: Amanhã é repouso, o santo sábado do Senhor; o que quiserdes cozer no forno, cozei-o, e o que quiserdes cozer em água, cozei-o em água; e tudo o que sobrar separai, guardando para a manhã seguinte. E guardaram-no até pela manhã, como Moisés ordenara; e não cheirou mal, nem deu bichos. Então, disse Moisés: Comei-o hoje, porquanto o sábado é do Senhor; hoje, não o achareis no campo. Seis dias colhereis, mas o sétimo dia é o sábado; nele, não haverá.
Ao sétimo dia, saíram alguns do povo para o colher, porém não o acharam. Então, disse o Senhor a Moisés: Até quando recusareis guardar meus mandamentos e minhas leis? Considerai que o Senhor vos deu o sábado; por isso, ele, no sexto dia, vos dá pão para dois dias; cada um fique onde está, ninguém saia do seu lugar [para pegar pão] no sétimo dia. Assim descansou o povo no sétimo dia (Êxodo 16:22-30).
Esta passagem é interessante porque fala que a guarda do sábado já era uma lei e um mandamento de Deus antes mesmo de Deus escrever os dez mandamentos nas duas tábuas de pedra e entregá-los ao povo, por meio de Moisés (os dez mandamentos só são dados no capítulo 20 de Êxodo). Isso significa que, desde o início do mundo, o sábado era guardado pelos servos de Deus. Obviamente, essa guarda deve ter sido atrapalhada quando o povo hebreu foi escravizado no Egito. Afinal, se nem mesmo trabalhadores assalariados da Inglaterra, no século XVII tinham dia de folga, você acha que escravos que viveram 1500 anos de Cristo teriam? Porém, agora, libertos, o mandamento poderia ser cumprido em sua plenitude novamente. Vamos ler a outra passagem.
Lembra-te do dia de sábado para o santificar. Seis dias trabalharás e farás toda a sua obra. Mas o sétimo dia é o sábado do Senhor, teu Deus; não farás nenhum trabalho, nem tu, nem teu filho, nem tua filha, nem teu servo, nem tua serva, nem o teu animal, nem o forasteiro das tuas portas para dentro; porque em seis dias fez o Senhor os céus e a terra, o mar e tudo o que neles há e, ao sétimo dia, descansou; por isso o Senhor abençoou o dia de sábado e o santificou (Êxodo 20:8-11).
Aqui Deus resolve escrever o mandamento do sábado juntamente com outros mandamentos nas tábuas de pedra. E escreve com o próprio dedo, para mostrar que é importante. Note que, todos esses mandamentos já existiam há tempos. Sempre foi lei para os que seguem a Deus, adorar um somente Ele, não adorar imagens, não utilizar seu nome de forma desrespeitosa, honrar pai e mãe, não matar, não adulterar, não furtar, não mentir sobre seu próximo e não cobiçar. Da mesma forma, sempre foi lei guardar o sábado. E por quê? Porque Deus o santificou para que descansássemos e lembrássemos que Ele é o Criador. Por enquanto, tudo bíblico. Agora, vamos analisar a passagem de Deuteronômio citada pelo artigo.
Guarda o dia de sábado para o santificar, como te ordenou o Senhor, teu Deus. Seis dias trabalharás e farás toda a tua obra. Mas o sétimo dia é o sábado do Senhor, teu Deus; não farás nenhum trabalho, nem tu, nem teu filho, nem tua filha, nem teu servo, nem tua serva, nem o teu boi, nem o teu jumento, nem animal algum teu, nem o estrangeiro das tuas portas para dentro, para que o teu servo e a tua serva descansem como tu; porque te lembrarás que foste servo na terra do Egito e que o Senhor, teu Deus, te tirou dali com mão poderosa e braço estendido; pelo que o Senhor, teu Deus, te ordenou que guardasse o dia do sábado (Deuteronômio 5:12-15).
É uma repetição do mandamento do sábado. Nesta ocasião, Deus deu a Moisés as segundas tábuas dos dez mandamentos, visto que as primeiras foram quebradas por Moisés (em um momento de ira contra o povo). Há duas coisas que são interessantes nesse texto. A primeira: Deus dita os mesmos 10 mandamentos de novo, mostrando que sua lei moral é imutável. 



A segunda: Deus relembra que durante o tempo de escravidão no Egito, o povo não pôde guardar o sábado como deveria, mas que agora, pelo Senhor ter livrado o seu povo, eles não tinham porque não guardar o seu mandamento. Por isso ele diz: “porque te lembrarás que foste servo na terra do Egito e que o Senhor, teu Deus, te tirou dali com mão poderosa e braço estendido; pelo que o Senhor, teu Deus, te ordenou que guardasse o dia do sábado”. Não dava mais para dizer: “Ah, Senhor, não dá para guardar o sábado, porque nós somos escravos no Egito”. Deus os livrou. Por isso, eles deveriam guardar o sábado.



O erro de interpretação do articulista constitui em: trocar a ordem dos textos bíblicos que falam sobre o sábado, citando primeiro o texto de Deuteronômio como se esse evento tivesse ocorrido primeiro. Desta maneira, em vez do texto de Deuteronômio depender dos textos anteriores (que é o certo, cronologicamente), os textos anteriores passam a depender do texto de Deuteronômio. É como se eu dissesse que a minha mãe existe (tem vida) porque eu existo, quando, na verdade, sou eu que existo (tenho vida) por causa dela. Erro grave, hein...



- Segundo erro: Ignorância sobre interpretação bíblica e argumentos sabatistas
Eles [os sabatistas] argumentam que o Sábado é perpétuo. Se isto fosse verdade, significaria que toda Lei Levítica (circuncisão, páscoa, incenso, sacerdócio, etc) também seria perpétua. Por exemplo, em Ex.12:14 está declarado que a páscoa terá de ser observada 'por suas gerações' e 'para sempre', exatamente como é dito sobre o Sábado. A oferta de incenso também é dita como perpétua (Ex.29:42). Lavagem de mãos e pés também (Ex.30:21).
Não, por favor, não! Quem escreveu este artigo não deve entender nada sobre interpretação bíblica e nem sabe nada sobre argumentos sabatistas. Em primeiro lugar, no hebraico e no grego (as línguas originais do Antigo e Novo Testamento, respectivamente,) expressões como “por gerações”, “para sempre”, perpetuamente”, “eternamente”, “pelos séculos dos séculos”, “inextinguível” e etc., podem significar “um tempo sem fim” ou ser relativo ao tempo máximo de duração de alguma coisa finita. Para saber em qual sentido está sendo usada a expressão, portanto, deve-se saber se o caráter da palavra ao lado da expressão é finito ou infinito.



Por exemplo, há um texto no Antigo Testamento que diz que um escravo poderia ser escravo para sempre. Ora, é claro que esse “para sempre” se refere só ao tempo de vida que ele durará. No Novo Testamento, João Batista compara os ímpios à palha queimando no fogo inextinguível. Isso não quer dizer que a palha queima para sempre. Pelo contrário, fogo na palha até queima muito rápido. O que a expressão quer dizer é que queimará interruptamente até acabar, sem que ninguém impeça de queimar. Quando não tiver mais nada para queimar, nada mais irá queimar. Isso é lógico.



Mas não precisamos ir tão longe. Usamos expressões desse tipo no português. Por exemplo, quando eu digo: “Ela sempre foi legal comigo”, estou limitando a palavra “sempre” ao espaço de tempo que ela foi legal. A palavra “sempre” aqui não quer dizer “tempo sem fim”. No entanto, eu posso usar sempre para descrever algo que não terá fim jamais, desde que realmente seja algo infinito. Se eu digo: “Deus viverá para sempre”, estou falando de não ter fim mesmo.



É aqui que está o grande lance: Sabemos, através das cartas de Paulo, e do livro de Hebreus que rituais judaicos tinham a função apenas de prefigurar o sacrifício de Jesus ou de servir de símbolo para a Nova Aliança e que, por isso, foram abolidos. Mas será que há algo falando sobre o sétimo dia da semana como um ritual que foi abolido ou trocado pelo domingo? Não, não há. Assim, dizer que o sábado é perpétuo é, de fato, dizer que ele seria o dia de ser guardado sempre.



O erro do articulista é o mesmo de todos os não-sabatistas: argumenta-se que o domingo substituiu o sábado porque Jesus ressuscitou nele. Mas não há ligação lógica entre as premissas desse argumento. Quer ver? Vamos formalizar o argumento:
(1) Deus mandou guardarmos o sábado;
(2) Jesus ressuscitou no domingo;
(3) Logo, devemos guardar o domingo em lugar do sábado.
Não faz sentido! Faria sentido se o argumento fosse assim:
(1) Deus mandou guardarmos o sábado; 
(2) Jesus ressuscitou no primeiro dia da semana e falou: “Agora, porque eu ressuscitei no domingo, guardem o domingo em lugar do sábado”;
(3) Logo, devemos guardar o domingo em lugar do sábado.
Não há, absolutamente, nenhuma autorização por parte de Jesus a se guardar o domingo em lugar do sábado. Especular que porque ele ressuscitou no primeiro dia da semana devemos guardar esse dia não passa de uma ligação forçada entre dois assuntos que não tem absolutamente nada a ver (o que nos faz pensar que a ressurreição de Jesus no domingo tem a ver com o descanso sabático?). É diferente de quando é deixado bem claro e explícito nas epístolas de Gálatas, Colossenses e Hebreus que, festas religiosas, sábados cerimoniais, circuncisão, sacrifícios de animais e o serviço dos sumo-sacerdotes no santuário não valem mais nada. Mas os maiores argumentos para a guarda do sábado são os seguintes:



(1) O sábado, sétimo dia da semana, não é um mandamento cerimonial. Ele foi dado por Deus antes mesmo do ser humano cair em pecado (ao contrário dos mandamentos ritualísticos) mostrando que era de caráter moral;



(2) O sábado, sétimo dia da semana, não foi um mandamento dado apenas para os judeus, pois quando ele foi dado não havia nem judeus, nem hebreus, nem Abraão (e assim foi durante séculos até Deus formar a nação Israelita). E mesmo quando Deus formou Israel, o mandamento do sábado era requerido dos estrangeiros que queriam aceitar o Senhor (conforme podemos ler em Isaías 56:6-8); 



(3) O sábado, sétimo dia da semana, foi colocado entre os 10 mandamentos, que são mandamentos morais escritos pelo próprio dedo de Deus. Sabemos que os 10 mandamentos não foram abolidos por Deus, pois são morais, isto é, de caráter imutável. Prova disso são as citações de trechos dos 10 mandamentos durante todo o Novo Testamento;



(4) Jesus afirma que não veio abolir a Lei e os Profetas, mas cumprir; e que a lei continuaria a mesma até que o céu e a terra passem (Mateus 5:17-20). Claro que alguém pode argumentar que Jesus Cristo aboliu sim algumas leis, como os rituais judaicos e as leis de caráter civil dos israelitas. Mas o que houve nesses casos não foi um “descumprimento da lei”. Ao contrário essas leis sempre tiveram um prazo de validade (pois só faziam sentido enquanto Jesus não tinha cumprido seu ministério). Assim, o seu “descumprimento” após o sacrifício de Cristo, na verdade, era o cumprimento do objetivo que elas sempre tiveram. Agora, leis morais continuam fazendo sentido mesmo após o sacrifício de Jesus, de modo que o seu “descumprimento” é um desvio de seus objetivos e, logo, transgressão da Lei (o que, o apóstolo João classifica como sendo pecado em I João 3:4-6);



(5) O sábado é (e sempre foi) um memorial de que Deus é o Criador. E é um memorial instituído pelo próprio Deus. Quando esse memorial é trocado pelo domingo, é como se estivéssemos dizendo que o Deus Criador e Jesus não são o mesmo Deus. Ora, mas eles são. O Pai, o Filho e o Espírito Santo são três pessoas que formam o mesmo e único Deus. Então, Jesus também é o Criador. Por isso João afirma: “No princípio era o verbo...”. Então, esse memorial não pode ser substituído. Alguém pode perguntar: “Mas e a ressurreição? Ela não tem que ter um memorial?”. Sim. E tem. É o batismo. Ele simboliza a morte e a ressurreição do nosso “eu” pecador, o que só pode ser feito em função da morte e ressurreição de Jesus. Da mesma forma, a santa ceia nos lembra a morte de Jesus e fato de que Ele vai voltar (pois ele diz: Fazei isso até que eu volte). Se ele vai voltar, é porque está vivo, o que nos lembra que ele ressuscitou;



(6) Jesus jamais falou que o sábado seria abolido e que o domingo o substituiria. Nem mesmo seus discípulos. Simplesmente resolver fazer essa transferência sem essa autorização é dar mais valor às ideias humanas do que os mandamentos de Deus. E Deus condena isso veemente mesmo, por exemplo, em Apocalipse tal, e tal;



(7) Por fim, o sábado tem um caráter prático. Não faz sentido aboli-lo, pois, embora devamos buscar a Deus e nos lembrarmos dele todos os dias, precisamos de um dia específico para fazer isso, sem precisar nos preocupar com trabalho, estudos, afazeres domésticos (a não ser os inevitáveis, claro) u qualquer coisa que dê para fazer outro dia.



- Terceiro Erro: Confusão entre tipos de leis diferentes
O pacto da Antiga Aliança seria substituído por um Novo, onde o primeiro foi apenas uma figura do segundo que é Eterno (cf. Hb 9 ). Neste Novo pacto, o Senhor instituiria um novo dia para Sua Adoração, pois em um novo dia Ele iria salvar o seu Povo para sempre (...).
O que o articulista disse aqui está certo: o pacto da Antiga Aliança com os judeus seria substituído por um Novo, pois o primeiro era figura do segundo. Até aí, tudo bíblico e lógico. O problema é que o articulista quer nos forçar a acreditar que o sábado (que é uma lei de caráter moral) está incluído nas leis de caráter ritualísticos que prefiguravam Jesus e a Nova Aliança. E não é assim. Os dez mandamentos não foram dados para simbolizar nada. Por mais que possamos comparar Jesus ao sábado, pois Jesus, de fato, é um descanso para nós, isso não quer dizer que o sábado foi dado com o intuito de simbolizar Jesus e depois ser abolido. 



O objetivo dos 10 mandamentos sempre foi servir de base para uma boa conduta. Através deles sabemos o que devemos ou não fazer. Claro que, sozinhos, não temos condições de guardá-los com perfeição. E é claro que eles não nos servem para perdoar pecados, salvar da morte e nos purificar. É Jesus quem nos perdoa e salva. É o Espírito Santo que nos purifica e ajuda a fazer o certo. É o Pai que nos ajuda quando oramos, pedindo força a Jesus. Mas os 10 mandamentos são a norma. 



O homem, sozinho, nada pode. Mas isso não anula a validade da lei moral. Só reforça que ele precisa de Deus para cumprir a lei, pois sua natureza é má. Paulo deixa isso claro como a água em Romanos 7. Ele diz:
Por conseguinte, a lei é santa; e o mandamento, santo, justo e bom. Acaso o bom se me tornou em morte? De modo nenhum! Pelo contrário, o pecado, para revelar-se como pecado, por meio de uma coisa boa, causou-me a morte, a fim de que, pelo mandamento, se mostrasse sobremaneira maligno. Porque bem sabemos que a lei é espiritual; eu, todavia, sou carnal, vendido a escravidão do pecado. Porque nem mesmo compreendo o meu próprio modo de agir, pois não faço o que prefiro e sim o que detesto. Ora, se faço o que não quero, consinto com a lei, que é boa (Romanos 7:12-16).
O articulista pretende misturar as coisas e fazer do sábado um mandamento cerimonial, mas o sábado é de caráter moral e a lei moral vale para todos os contextos históricos.



- Quarto erro: Má interpretação do trecho de Hebreus
A própria carta aos Hebreus acentua a índole figurativa do sábado, afirmando que o repouso do sétimo dia era apenas uma imagem do verdadeiro repouso que fluiremos na presença de Deus (cf. Hb 4,3-11). Onde no Sábado estava a figura (o prenúncio), no Domingo está a concretização. O Domingo é o Sábado eterno.
Esse mesmo texto é utilizado por sabatistas para dizer que o sábado ainda estava valendo e, por isso, o autor da epístola fez essa comparação. Eu, particularmente, não concordo nem com a interpretação desses sabatistas e nem com a interpretação feita pelo articulista. A verdade pura e simples é que esse texto de Hebreus não diz nada sobre se o sábado ainda era válido ou não. O autor simplesmente faz uma comparação entre três descansos: (1) o descanso do deserto (na terra de Canaã); (2) o descanso da semana (no sábado); (3) o descanso das coisas do mundo (em Deus). 



Todos esses descansos não foram dados a quem não obedeceu a Deus. Os hebreus desobedientes morreram no deserto, sem entrar em Canaã. Os sabatistas desobedientes não se deleitam no sábado (como podemos ler em Isaías 56), passando a ter esse dia como um fardo. Por fim, os cristãos desobedientes não tem um descanso espiritual verdadeiro das coisas do mundo em Deus. O autor faz comparação para mostrar como a desobediência sempre impediu que as pessoas descansassem. Por isso, ele termina dizendo: “Esforcemo-nos, pois, por entrar no descanso de Deus, a fim de que ninguém caia, segundo o mesmo exemplo de desobediência” (Hebreus 4:11).



Não há nada aqui que ao menos indique que o sábado foi abolido, assim como também não há nada que afirme que ele continua de pé. O autor cita o sábado apenas para exemplificar outra coisa. Se estivesse falando que o sábado foi abolido e que o domingo é o sábado eterno, como diz o articulista, ele citaria o primeiro dia da semana e apontaria como dia santo. Em vez disso, ele apontou o dia de “hoje”, dizendo: “Hoje, se ouvirdes a voz de Deus, não endureçais o vosso coração” (Hebreus 4:7). Ou seja, ele está falando sobre obediência e não sobre dias santos.



- Quinto erro: Interpretação Tendenciosa
Jesus aparece à primeira vez aos Apóstolos no domingo, no dia da Ressurreição. Imaginem a alegria que os Apóstolos sentiram ao ver o Senhor Ressuscitado! Sobre isto escreveu o Salmista: 'A pedra que os edificadores rejeitaram tornou-se cabeça da esquina. Foi o Senhor que fez isto, e é coisa maravilhosa aos nossos olhos. Este é o dia que fez o Senhor; regozijem-nos e alegremo-nos nele' (Sl 118,22-24). Ora, Jesus se tornou a Pedra Angular no dia em que Ressuscitou, o dia da Ressurreição 'foi o Dia que o Senhor fez'.
Eu vou postar um texto que tenho, antigo já, que analiso detalhadamente cada passagem que os “não-sabatistas” usam para defender a abolição do sábado e/ou a santidade do domingo. Mas antes disso, vou colocar aqui, resumidamente, a análise desse texto que está no Salmo 118.



O argumento é que quando Davi diz: “Este é o dia que fez o Senhor” está se referindo ao domingo, pois Jesus se tornou pedra angular em um domingo. Mas essa alegação é muito tendenciosa. Primeiro porque o rei Davi poderia estar se referindo somente ao dia específico em que Jesus ressuscitou. Neste caso, o salmo teria sido feito especificamente para quem viveu na época em que Jesus ressuscitou. É como se Davi estivesse dizendo para os discípulos e seguidores de Jesus: “Pessoal, o mestre de vocês vai ressuscitar nesse dia. Então, alegrem-se, porque vocês o verão”. Perceba que não há aqui nenhuma prova de que Davi estava falando da santidade do domingo, mas sim que aquele dia específico da ressurreição seria muito feliz. E foi mesmo, não é?



Segundo, Davi poderia estar usando uma figura de linguagem chamada metonímia, que é a substituição de um termo pelo outro por aproximação de ideias. Neste caso, quando ele diz: “Este é o dia que o Senhor fez”, não está pondo ênfase no dia da ressurreição, mas na ressurreição que ocorreu nesse dia. Por conseguinte, ao dizer para ficarmos alegres e exultantes nesse dia, na verdade, Davi quer dizer: “Fiquem alegres e exultantes pelo o que aconteceu nesse dia (a ressurreição)” e não: “Fiquem alegres toda vez que for domingo”. Ora, isso é muito plausível, pois o acontecimento do dia deve ser mais enfatizado do que o dia do acontecimento.



Da mesma forma, quando eu digo: “Eu me alegro em você”, não estou querendo dizer que me alegro quando estou dentro de você (óbvio!), mas quero dizer que me alegro por causa de você ou por estar com você. A ênfase não é se alegrar por estar dentro de você, mas sim se alegrar por você.



Terceiro, ainda que Davi estivesse falando que devemos nos alegrar todos os domingos por causa da ressurreição do Senhor Jesus, isso não anula o mandamento do sábado e nem faz do domingo um dia de guarda. Ora, podemos nos alegrar em qualquer dia (isso não significa guardar esse dia); e se alegrar com a ressurreição no dia de domingo não quer dizer que não possamos nos alegrar com a ressurreição também outros dias.



Quarto, Davi poderia estar falando sobre o dia chamado Hoje. Afinal, o Senhor não fez apenas o domingo. Fez todos os dias da semana. Então, qualquer dia após a ressurreição de Jesus é um dia para que devamos nos alegrar com isso. Essa interpretação faz sentido porque no Salmo 95:6-9, o próprio Davi fala sobre o dia chamado Hoje. E o contexto do Salmo 118 tem a ver com isso: Davi diz que Deus fez maravilhas (como exaltar a pedra angular) e nos convoca a nos alegrarmos com isso a partir de hoje.



Então, temos quatro interpretações plausíveis e que mostram que não existe nada que indique que Davi está falando sobre a guarda do domingo.



Aqui termina a primeira parte da nossa postagem. Na próxima parte continuarei a partir do sexto ponto, indo até o 13, como afirmei.

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

Sobre as leis bíblicas de saúde

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A grande maioria dos cristãos acredita que Jesus aboliu as leis de saúde contidas no Antigo Testamento. Mesmo aqueles que ainda creem na validade dos dez mandamentos, costumam a sustentar que as leis de saúde eram cerimoniais e que no Novo Testamento existem passagens que anunciam a sua abolição.


Como já sustentei em outra postagem, não faz sentido dizer que as leis de saúde são cerimoniais. Não há nada de cerimonial, ritualístico ou simbólico em cuidar de sua saúde e abster-se de alimentos prejudiciais ao organismo. Pelo contrário, elas têm um caráter prático; expressam a preocupação de Deus com o nosso corpo e, se seguidas, nos possibilita viver com mais qualidade e por mais tempo.



No que diz respeito aos textos bíblicos que supostamente provam que as leis de saúde foram abolidas, é necessário que se faça uma análise mais cuidadosa do que essas passagens dizem, pois, na realidade, não existe um texto no Novo Testamento que diga explicitamente: “agora podemos comer alimentos imundos, tais como carne de porco e camarão”. Sendo assim, convido o leitor a analisar esses textos comigo.



Em I Coríntios 10:25-26, o apóstolo Paulo afirma:
Comei de tudo o que se vende no mercado, sem nada perguntardes por motivo de consciência, porque do Senhor é a terra e a sua plenitude.
Diante desse texto, muitos concluem que agora, na Nova Aliança, os cristãos podem comer o que quiserem. A pergunta é a seguinte: de que assunto o apóstolo estava falando? Era sobre uma disputa entre os cristãos a respeito dos alimentos puros e imundos? Era sobre a dúvida de se as leis de saúde tinham sido abolidas ou permaneciam? Não, nada disso. O tema sobre o qual o apóstolo falava era o das carnes sacrificadas aos ídolos. Veja o que Paulo continua dizendo depois:
Se algum dentre os incrédulos vos convidar, e quiserdes ir, comei de tudo o que for posto diante de vós, sem nada perguntardes por motivo de consciência. Porém, se alguém vos disser: ‘Isto é coisa sacrificada a ídolo’, não comais, por causa daquele que vos advertiu e por causa da consciência; consciência, digo, não a tua propriamente, mas a do outro.
Então, já percebemos que Paulo não está interessado em falar sobre as leis de saúde, mas sim sobre alimentos oferecidos aos ídolos. Em sua linha de raciocínio, não havia problema em comer alimentos oferecidos aos ídolos porque o ídolo em si não é nada. Contudo, havia cristãos que se escandalizavam com os que comiam; e, por isso, Paulo, por consideração a esses e para evitar problemas, afirmava que era bom que se abstivesse. Essa é a mensagem que Paulo quer passar.



Portanto, quando Paulo diz: “Pode comer de tudo o que se vende no mercado e de tudo o que te oferecerem na mesa”, ele está pensando apenas na questão dos alimentos oferecidos aos ídolos. Tentar expandir esse “tudo” para absolutamente tudo o que existe é tão errôneo do ponto de vista do contexto que me daria margem para dizer que “tudo” inclui bebidas alcoólicas, a ração do meu gato, o meu cachorro de estimação, o estrume do cavalo, as ratazanas do esgoto, as girafas, os elefantes e até o ser humano. Se qualquer uma dessas coisas for colocada na mesa para eu comer ou forem vendidas em um mercado, eu posso comer. É isso mesmo? Claro que não. Esse “tudo” se refere só aos “alimentos oferecidos”. O contexto é claro.



Vejamos agora o texto de I Timóteo 4:1-4. A passagem diz o seguinte:
Ora, o Espírito afirma expressamente que, nos últimos tempos, alguns apostatarão da fé, por obedecerem a espíritos enganadores e a ensinos de demônios, pela hipocrisia dos que falam mentiras e que tem cauterizado a própria consciência, que proíbem o casamento e exigem abstinência de alimentos que Deus criou para serem recebidos, com ações de graças, pelos fiéis e por quantos conhecem plenamente a verdade; pois tudo o que Deus criou é bom, e, recebível com ações de graças, nada é recusável, porque, pela palavra de Deus e pela oração, é santificado.
Segundo a interpretação da maioria, o que esse texto está dizendo é que nós podemos comer todo o tipo de animal porque todo o tipo de animal foi criado por Deus para servir de alimento ao ser humano. E mais: qualquer coisa que se receba com ações de graça pode servir de alimento. 



Agora, raciocinemos. Repare que o apóstolo está falando de um tipo específico de alimentos. Ele diz “alimentos que Deus criou para serem recebidos”. Assim, é óbvio que Paulo não está pensando, por exemplo, na coxa de um ser humano ou em uma ratazana de esgoto. Essas coisas, tais como também porco, camarão e urubu, não foram criadas para servirem de alimento, mesmo que se dê graças a Deus por eles. Tudo o que Deus criou é bom sim, mas cada coisa para a sua devida função.



Continuando o raciocínio, vemos que o apóstolo afirma que “nada é recusável, porque, pela palavra de Deus e pela oração, é santificado”. Notou? Ele não afirma simplesmente que nada é recusável e pronto. Paulo apresenta um argumento para que nada seja recusável. O argumento pode ser montado assim:
(1) tudo aquilo que é santificado pela Palavra de Deus (a Bíblia) e pela oração, não é recusável; 
(2) alimentos criados para serem recebidos são alimentos santificados pela Palavra de Deus; 
(3) logo, nenhum alimento santificado pela Palavra de Deus (e pela oração) é recusável, pois todos eles foram criados para serem recebidos com ações de graças.
Ou seja, existe uma condição para que um alimento não seja recusável: ser santificado pela oração e pela Bíblia. Então, é lógico que esse “nada é recusável” se refere justamente ao tipo de alimento que “Deus criou para ser recebido”. Os que ele não criou para tal, não estão nessa lista. Os tipos de alimentos que servem para comer são listados em Levítico 11 e Deuteronômio 14; livros que compõem a Palavra de Deus.



Mas o que é mais interessante ressaltar no texto é que ele se encaixa com perfeição no sistema romanista. É esse sistema que, através da igreja católica, proíbe o casamento de membros do clero (o que a Bíblia não proíbe) e que exige a abstinência de carne vermelha na sexta-feira santa (carne esta que é limpa, ou seja, Deus criou para ser recebida). Então, se existe um sistema atual se adéqua a esse texto, esse sistema é o romanista.



Leiamos agora a passagem de Marcos 7:14-23. Ela diz o seguinte:
Convocando ele [Jesus], de novo, a multidão, disse-lhes: Ouvi-me, todos, e entendei. Nada há fora do homem que, entrando nele, o possa contaminar; mas o que sai do homem é o que o contamina. Se alguém tem ouvidos para ouvir, ouça. Quando entrou em casa, deixando a multidão, os discípulos o interrogaram a cerca da parábola. Então, lhes disse: Assim vós também não entendeis? Não compreendeis que tudo o que de fora entra no homem não o pode contaminar, porque não lhe entra no coração, mas no ventre, e sai para lugar escuso? E, assim, considerou ele puros todos os alimentos. E dizia: O que sai do homem, isso é o que contamina. Porque dentro, do coração dos homens, é que procedem os maus desígnios, a prostituição, os furtos, os homicídios, os adultérios, a avareza, as malícias, o dolo, a lascívia, a blasfêmia, a soberba, a loucura. Ora, todos esses males vêm de dentro e contaminam o homem. 
Penso que o ponto principal desse texto é o verso que diz que Jesus considerou puros todos os alimentos. Com certeza nós podemos dizer que, se o contexto está afirmando que todos os alimentos são puros, então essa frase é suficiente para destruir tudo o que sustentei até aqui.



Mas vamos analisar o contexto. Tudo começa no início do capítulo 7, quando os fariseus observam que os discípulos de Jesus comiam pão com as mãos impuras, ou seja, sem que as tivessem lavado. Para os fariseus, uma pessoa que não lavasse as mãos cuidadosamente antes de comer era impura. Não impura no sentido físico da palavra, mas no sentido espiritual. Também esse “lavar as mãos” apresentava um modo todo especial de se fazer, porque era encarado mesmo como um ritual.



No versículo 3 podemos ler:


(...) interpelaram-no os fariseus e os escribas: Por que não andam os seus discípulos de conformidade com a tradição dos anciãos, mas comem com as mãos por lavar?

Veja, leitor, que o contexto da passagem é uma discussão com relação a uma tradição dos anciãos. Era a tradição de lavar as mãos, não como simples higiene, mas como ritual. Tradição é algo que não está na Bíblia. Ou seja, aquele ritual era invenção dos fariseus.



Por que os fariseus inventariam aquele ritual? Bem, nós já sabemos que a seita farisaica havia surgido dois séculos antes de Cristo com a proposta de levar o povo a seguir as leis divinas a todo o custo. Por isso, passaram a criar diversas regras que não constavam nas Escrituras que dificultassem seu desvio e que os fizessem mais santos aos olhos de Deus.



A questão das mãos parece estar intimamente ligada com a questão dos alimentos impuros. Era lei de Deus para os judeus que não comessem tais alimentos, pois eram impuros. A lei era de cunho higiênico, mas entendia-se que ela tinha uma dimensão espiritual. Então, os fariseus começaram a raciocinar que se suas mãos estivessem impuras também, o alimento também passaria a ser. E assim eles estariam pecando. Higienicamente falando, o pensamento deles faz sentido. O problema é que eles resolveram fazer disso um ritual sagrado. E agora queriam condenar os dis-cípulos de Jesus por isso.



Jesus, então, começa a discursar sobre a hipocrisia dos fariseus em seguir inúmeras tradições inventadas, em detrimento das Escrituras. Só depois disso, ele fala sobre a questão de que todo o alimento que se ingere não contamina o homem.



Agora, vamos às questões:



(1) Qual é o tema central da passagem?



Resposta: O conflito entre a tradição dos anciãos e o que está escrito na Palavra de Deus.



(2) Esse tema central emerge de que situação?



Resposta: Da acusação dos fariseus de que os discípulos de Jesus estavam quebrando a tradição do “lavar as mãos”.



Alguma dúvida até aqui? Agora, vem a questão mais in-teressante:



(3) Se o tema central da passagem é o conflito entre a tradição dos anciãos e a Palavra de Deus; e se esse tema emerge da acusação da quebra da quebra da tradição do “lavar as mãos”, o que significa “considerou ele puro todos os alimentos?”.



Perceba que se entendermos que Jesus está dando o aval para quebrar as leis de saúde do Antigo Testamento, a sua frase fica totalmente fora de contexto. Não eram as leis de saúde que estavam sendo discutidas. Não era a questão dos alimentos im-puros de Levítico. E muito menos Jesus estava falando contra a lei, pelo contrário, Jesus estava falando contra as tradições e a favor da lei contida na Palavra de Deus. Então, é evidente que Jesus não está dando o aval para comermos de tudo. Mas o que Cristo quer dizer com esta frase?



Voltemos ao contexto. De onde surgiu aquela discussão sobre Palavra de Deus versus tradição? Da tradição do “lavar as mãos”, não é mesmo? Quem não seguia essa tradição, por estar com as mãos “impuras”, tornava impuro o alimento que ingeria, correto?Assim, ao comer o alimento impuro, a pessoa se tornava impura (segundo os fariseus), certo? Então, Jesus afirma que o que entra pela boca não é impuro e sim o que sai dela. A que Jesus se refere? A todos os alimentos que existem ou a todos os alimentos que uma pessoa come sem lavar as mãos? É lógico que a opção correta é a segunda. Ela sim está dentro do contexto da discussão que acabava de ocorrer.



Jesus provou, com aquela frase, que as mãos “impuras” não eram capazes de contaminar espiritualmente o homem, que era o que os fariseus sustentavam. O que contaminava, na área espiritual, era o que saía pela boca, pois o que sai pela boca é o que está no coração. E se o coração está repleto de coisas ruins, o homem está contaminado, e é isso que sairá por sua boca.



Quer a prova bíblica do que estou falando? Corre para o capítulo 15 de Mateus. A história narrada ali é a mesma, só que do ponto de vista do evangelista Mateus. Veja qual é a última coisa que Jesus fala neste relato:
Porque do coração procedem maus desígnios, homicídios, adultérios, prostituição, furtos, falsos testemunhos, blasfêmias. São estas coisas que contaminam o homem; mas o comer sem lavar as mãos não o contamina (Mateus 15:19-20).
Preciso dizer mais alguma coisa?! Mas para que o leitor fique ainda mais seguro de que Jesus não estava abolindo as leis de saúde, vamos analisar uma passagem de Atos que mostra claramente o que Pedro pensava sobre o tema. O texto está no capítulo 10 e narra que Pedro teve um sonho no qual estava com fome e descia do céu um lençol com animais imundos. Veja o que acontece em seguida:
E ouviu-se uma voz que se dirigia a ele: Levanta-te, Pedro! Mata e come. Mas Pedro replicou: De modo nenhum, Senhor! Porque jamais comi coisa comum e imunda. Segunda vez, a voz lhe falou: Ao que Deus purificou não consideres comum. Sucedeu isto por três vezes, e, logo, aquele objeto foi recolhido ao céu (Atos 10:13-16).
Se pararmos por aqui, qualquer um dirá que Pedro ainda tinha costumes judaicos e que Deus resolveu mostrar a ele que aqueles costumes não precisavam mais ser seguidos. Só que a passagem continua, mostrando que um centurião romano queria ouvir as palavras de Pedro sobre Jesus. Então, ele manda alguns homens até o apóstolo para chamá-lo a sua casa. O clímax do texto é quando Pedro chega à casa do centurião. Preste atenção no que o apóstolo vai dizer:
Vós bem sabeis que é proibido a um judeu ajuntar-se ou mesmo aproximar-se a alguém de outra raça; mas Deus me demonstrou que a nenhum homem considerasse comum ou imundo; por isso, uma vez chamado, vim sem vacilar (Atos 10:28-29).
Percebeu? Pedro consegue compreender que o sonho que teve era uma parábola. Os animais impuros simbolizavam quem não judeu. Os judeus nutriam um orgulho tão grande que não se permitiam (e nem eram permitidos pelos doutores) se juntarem aos gentios. Só que Deus queria espalhar o evangelho por todo o mundo. Aquele preconceito não era bíblico. Então, Deus mostra isso ao apóstolo através de uma metáfora. Pedro ainda continua depois disso:
Reconheço, por verdade, que Deus não faz acepção de pessoas; pelo contrário, em qualquer nação, aquele que o teme e faz o que é justo lhe é aceitável. Esta é a palavra que Deus enviou aos filhos de Israel, anunciando-lhes o evangelho da paz, por meio de Jesus Cristo. Este é o Senhor de todos (Atos 10: 34-36).
Agora, vamos amarrar as coisas. Pedro, anos depois da assunção de Jesus, afirma que nunca comeu coisa impura e que ainda se considerava judeu (Atos 10:28). Ele fica admirado com o sonho que teve (pois parecia contrário a lei de Deus), procura entender o seu significado e, por fim, compreende que o sonho se referia aos gentios; era uma exortação a pregação do evange-lho a todos os povos. Pergunto eu: a passagem indica que as leis de saúde foram abolidas? Não! A passagem mostra que Pedro continuava fiel às leis de saúde? Sim! O texto indica que depois do sonho, Pedro começou a comer porco e camarão? Não!



Eu poderia refutar a interpretação de outras passagens do Novo Testamento sobre essa questão das leis de saúde, mas não quero me tornar redundante. Se você entendeu o que leu até aqui, está apto para refutar quaisquer interpretações. Mas quero terminar fazendo o leitor pensar mais um pouco. Se as leis de saúde realmente foram abolidas, por que foram dadas? Se Deus não muda, por que privaria os judeus de comerem alimentos que “foram feitos para ser recebidos” e depois permitiria que esses alimentos fossem recebidos pelos cristãos? Se o leitor não con-cordou com minha análise, ao menos pense sobre isso.

quinta-feira, 6 de setembro de 2012

Estudos sobre o Apocalipse – Parte 1: As Sete Igrejas

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Introdução
“Revelação de Jesus Cristo, que Deus lhe deu para mostrar aos seus servos as coisas que em breve devem acontecer e que ele, enviando por intermédio do seu anjo, notificou ao seu servo João, o qual atestou a Palavra de Deus e o testemunho de Jesus Cristo, quanto a tudo o que viu. Bem-aventurados aqueles que lêem e aqueles que ouvem as palavras da profecia e guardam as coisas nela escritas, pois o tempo está próximo” (Apocalipse 1:1-3).
            O livro do Apocalipse sempre despertou a emoção das pessoas. Mas raramente essas emoções foram emoções corretas. Há quem sinta medo do que está descrito neste livro, outros fazem sensacionalismo em cima de sua mensagem repleta de símbolos e não poucos preferem não estudá-lo porque “como o que está para ocorrer irá ocorrer de qualquer forma, não há necessidade de discutir interpretações”.
            Para estes três tipos distintos de posições em relação ao Apocalipse, algumas verdades devem ser ditas. A primeira é que o Apocalipse não é um livro para se meter medo, muito pelo contrário, é um livro que deve gerar esperança e conforto. O que está escrito nesta obra inspirada por Deus é o mais sublime propósito para humanidade, é a promessa mais esplendida que se pode esperar. Quem deve ter medo do Apocalipse é justamente quem sabe que sua vida não está correta e que não tem interesse em mudar este quadro.
            A segunda verdade é que sensacionalismo nunca foi à forma escolhida por Deus para revelar os seus planos. Para ele as revelações não servem para serem transformadas em um espetáculo, mas apenas para revelar. Logo, é sempre positivo que se desconfie de interpretadores e interpretações espalhafatosas, que impressionam os ouvintes, criam um clima de temor e como se não bastasse deixam uma pensa de dúvidas sem serem respondidas.
            Por fim, a terceira verdade é que o livro do Apocalipse não foi escrito apenas para completar a Bíblia. Há um objetivo claro no livro que é o de informar aos leitores o que irá ocorrer em um futuro não muito distante e prepará-los para tal. Então, é óbvio que importa estudá-lo. Profecias não são dadas à toa. Em Mateus 24:15, Jesus Cristo, ao comentar sobre os eventos preditos pelo profeta Daniel faz questão de enfatizar: “Quem lê, entenda”. Treze vezes a Santa Bíblia conclama os que quem tem ouvidos para ouvir que o usem para ouvir. Em Provérbios 29:18, lemos: “Não havendo profecia, o povo se corrompe” e em Isaías 5:13: “o meu povo será cativo, por falta de entendimento”.
         Sendo assim, o objetivo deste capítulo é justamente estudar de um modo lógico, detalhado e satisfatório o livro do Apocalipse, a fim de que não mais sermos assaltados por sentimentos de dúvida e insegurança e ter uma resposta convincente às intempéries que têm sido proferidas sobre sua mensagem. Tenho certeza de que já está mais do que provado que com honestidade, neutralidade, raciocínio lógico e ajuda do Espírito Santo, não há porque temer para onde o estudo irá nos levar, pois estes são os ingredientes da santa e boa verdade.
As Sete Igrejas
            O livro do Apocalipse foi escrito pelo apóstolo João, por volta do ano 98 d.C., quando o mesmo se encontrava cativo na ilha de Patmos. Segundo o próprio afirma no início do livro, ele recebe uma visão, na qual Cristo glorificado lhe diz para escrever aquilo que ele falará. João prontamente atende e Cristo passa a anunciar uma mensagem específica para cada uma de sete igrejas presentes na Ásia.
            As sete igrejas são o ponto de partida para entender a linha de raciocínio que o livro seguirá. Essas sete igrejas realmente existiam na região da Ásia (na época) e seus nomes se referem à cidade à qual cada uma pertencia (a “divisão” da Igreja de Cristo era feita por cidades). Mas a escolha dessas igrejas por Cristo foi feita com a intenção de se criar uma simbologia, onde cada uma dessas igrejas representaria, conforme as suas características reais, um dos sete períodos distintos que se sucederiam na história do cristianismo.
Em suma, veremos em cada carta endereçada a uma igreja, existe uma descrição profética de algum período da história da Igreja de Cristo. Esta interpretação sobre as sete igrejas de apocalipse, em geral, é bem aceita pela maioria das denominações cristãs, além de ser facilmente verificável. Então, vamos começar as análises.
1) Carta a Éfeso – O período apostólico
A primeira igreja descrita é a igreja que se encontrava na cidade de Éfeso. Ela representa o primeiro período da Igreja Cristã. Podemos ler:
“Conheço as tuas obras, tanto o teu labor quanto a tua perseverança, e que não podes suportar homens maus, e que puseste à prova os que a si mesmo se declaram apóstolos e não são, e os achaste mentirosos; e tens perseverança e suportaste provas por causa do meu nome, e não te deixaste esmorecer. Tenho, porém, contra ti que abandonaste o teu primeiro amor. Lembra-te, pois, de onde caíste, arrepende-te e volta à prática das primeiras obras; e, se não, venho a ti e moverei do seu lugar o teu candeeiro, caso não te arrependas. Tens, contudo, ao teu favor que odeias as obras dos nicolaítas, as quais eu também odeio. Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas: Ao vencedor, dar-lhe-ei que se alimente da árvore da vida que se encontra no paraíso de Deus” (Apocalipse 2:2-7).
Este é o início da Igreja de Cristo na Terra, marcado por uma pregação enérgica por parte dos apóstolos e um rápido espalhamento do evangelho. A intensa atividade e a pureza da Igreja desse período se dão pelo fato de que o ministério de Jesus, sua morte, ressurreição, ascensão aos céus e a descida do Espírito Santo sobre os discípulos, ainda estavam muito recentes, o que tornava suas mensagens mais enfáticas e gerava cristãos mais assíduos. Como também muitos guardavam a esperança de que Cristo retornaria muito em breve (possivelmente em setenta ou oitenta anos) o esforço para manterem a Igreja pura e em crescimento acabava por ser maior.
Entretanto, a passagem sobre a igreja de Éfeso nos mostra que este período abandonou o primeiro amor. Em outras palavras, as dificuldades, as perseguições e a demora do retorno de Cristo, foram fazendo os cristãos perderem o gás que mantinham logo no início do cristianismo. Cristo, então, conclama sua Igreja para voltar à prática das primeiras obras para que não houvesse necessidade de se permitir que perseguições “acordassem” os cristãos.
A mensagem ao período termina, no entanto, com o elogio de que a Igreja não dava ouvidos às heresias (simbolizadas pelos nicolaítas, uma seita da época), e com a promessa de que o vencedor comeria do fruto da árvore da vida.
O período da igreja de Éfeso provavelmente termina um pouco depois da morte de João, talvez após o ano 103 d.C. Com todos os discípulos diretos de Jesus já mortos, a Igreja passou a agregar lentamente alguns costumes e elementos pagãos. Porém, esse processo acaba sendo retardado pelas duras perseguições que o Império Romano faz à Igreja de Cristo. Neste ponto, se inicia o segundo período do cristianismo, representado pela igreja de Esmirna. Vejamos.
2) Carta à Esmirna – O Período da mais dura perseguição romana
“Conheço a tua tribulação, a tua pobreza (mas tu és rico) e a blasfêmia do que a si mesmos se declaram judeus e não são, sendo, antes, sinagoga de Satanás. Não temas as coisas que tens de sofrer. Eis que o Diabo está para lançar em prisão alguns dentre vós, para serdes postos à prova, e tereis tribulação de dez dias. Sê fiel até a morte e dar-te-ei a coroa da vida. Quem tem ouvidos ouça o que o Espírito diz às igrejas: O vencedor de nenhum modo sofrerá o dano da segunda morte” (Apocalipse 2:9-11).
Perceba que a mensagem proferida a este período é totalmente voltada para o problema das perseguições. Cristo fala de tribulação, pobreza, prisão, fidelidade até a morte e, mesmo a promessa do final é feita de um modo a dar segurança àqueles que seriam perseguidos. Este difícil período se deu em etapas de menor e maior proporção, entre as quais a mais contínua e violenta foi a que se estendeu por dez anos entre 303 e 313. Estes dez anos são os dez dias de tribulação dos quais a passagem fala. Trata-se de “dias proféticos”, onde cada dia se refere a um ano (princípio baseado nas passagens de Números 14:34 e Ezequiel 4:6-7).
Também é bom notar que o versículo nove confirma o que disse há pouco sobre a Igreja agregando costumes pagãos. Cristo enfatiza que conhece “a blasfêmia dos que a si mesmos se declaram judeus e não são, sendo, antes, sinagoga de Satanás”. O leitor reparou nos termos utilizados? Jesus fala de judeus e de sinagoga. Claramente termos simbólicos, pois em um contexto cristão blasfêmia não seria se declarar judeu sem o ser, mas sim se declarar cristão, sem o ser.
Mas por que estes termos são utilizados? Porque Jesus quer deixar claro que, embora a maioria dos judeus não o tenha aceitado como o Messias, ele não fundou uma nova religião. O cristianismo não é uma nova crença, mas a continuação do judaísmo com Cristo. A única coisa que deveria ser mudada no judaísmo, com Cristo, era a visão de nação específica de Deus (que agora não faria mais sentido na Nova Aliança) e o sistema ritualístico judaico (que era prefiguração de Jesus Cristo e também não faria mais sentido na Nova Aliança). Fora esses dois elementos, a religião era a mesma. Os mesmos profetas, os mesmos Escritos, os preceitos morais.
Assim, os termos que Cristo utiliza aqui serviam para alertar que a Igreja já dava indícios de que se afastaria de alguns princípios bíblicos, com a desculpa de que eram de velharias judaicas.
O período da igreja de Esmirna chega ao seu fim justamente em 313, quando um tratado assinado por Constantino dá aos cristãos o direito de praticarem a sua fé sem que o Império Romano permaneça perseguindo-os. Inicia-se, então, o período representado pela igreja de Pérgamo.
3) Carta à Pérgamo – O período do princípio da prostituição
“Conheço o lugar em que habitas, onde está o trono de Satanás, e que conservas o meu nome e não negaste a minha fé, ainda nos dias de Antipas, minha testemunha, meu fiel, o qual foi morto entre vós, onde Satanás habita. Tenho, todavia, contra ti algumas coisas, pois que tens aí os que sustentam a doutrina de Balaão, o qual ensinava Balaque a armar ciladas diante dos filhos de Israel para comerem coisas sacrificadas aos ídolos e praticarem prostituição. Outrossim, também tu tens os que da mesma forma sustentam a doutrina dos nicolaítas. Portanto, arrepende-te; e, se não, venho a ti sem demora e contra eles pelejarei com a espada da minha boca. Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas: Ao vencedor dar-lhe-ei do maná escondido, bem como lhe darei uma pedrinha branca, e sobre esta pedrinha escrito um nome novo, o qual ninguém conhece exceto aquele que o recebe” (Apocalipse 2:13-17).
Este é o período em que o Império Romano resolve mudar a sua política e buscar uma aproximação com a Igreja para aumentar o seu poder. A mudança mostra logo seus efeitos: o processo de paganização do cristianismo ganha mais velocidade e a Igreja de Cristo se transforma em uma instituição do governo. Trata-se do início do que podemos chamar de romanismo.
Roma transformou a Igreja de Cristo em política de Estado, passou a ditar as regras, a escolher o clero e o que dizia era lei. Não culpo nenhuma denominação posterior pelos males que infectaram o cristianismo. Toda a culpa partiu do romanismo, cuja tradição ainda se encontra enraizada em quase todos os sistemas cristãos atuais.
Como se isso não bastasse, o romanismo nos deixou a tendência de darmos mais crédito aos sistemas humanos do que à Palavra de Deus. A sentença de Thomas Erskine não poderia ser melhor para nos alertar deste perigo: “Os que fazem da religião o seu deus não terão Deus em sua religião”.
Entenda religião, aqui, como mero sistema de crenças, o que não presta para nada quando não estão baseadas na Bíblia ou mesmo quando são bíblicas, mas ocupam o lugar que pertence a Deus. Esse tipo de religião passou a ser amplamente propagada pelo romanismo. E é abundante até hoje.
 É por isso que Cristo afirma: “Conheço o lugar onde habitas, onde está o trono de Satanás”. Sim, o trono de Satanás estava ali, pois ali se assentava o sistema que se colocaria no lugar de Cristo, roubando sua autoridade, dividindo sua supremacia com homens, tomando para si seu status de ponte entre Deus e os homens e espalhando toda a sorte de falsos ensinos.
A passagem também fala sobre idolatria e prostituição, usando como símbolos das mesmas a doutrina de Balaão e também a doutrina dos nicolaítas. A idéia é frisar que o período representado pela igreja de Pérgamo começa a sofrer com um problema sério de sincretismo religioso. Na Bíblia Sagrada, freqüentemente a prostituição é utilizada como um símbolo de mistura dos preceitos de Deus com heresias pagãs. E é exatamente o que ocorre neste período. O fim da perseguição aos cristãos traz alívio físico, mas grande perigo espiritual a Igreja de Cristo.
O período de simbolizado pela igreja de Pérgamo termina em 538, ano em que o imperador Justiniano ratifica o catolicismo como religião oficial do império. A partir daí se inicia o extenso período representado pela igreja de Tiatira.
4) Carta à Tiatira – O período da hegemonia romanista
“Conheço as tuas obras, o teu amor, a tua fé, o teu serviço, a tua perseverança e as tuas últimas obras, mais numerosas do que as primeiras. Tenho, porém, contra ti o tolerares que essa mulher, Jezabel, que a si mesma se declara profetiza, não somente ensine, mas ainda seduza os meus servos a praticarem a prostituição e a comerem coisas sacrificadas a ídolos. Dei-lhe tempo para que se arrependesse; ela, todavia, não quer arrepender-se de sua prostituição. Eis que a prostro de cama, bem como em grande tribulação os que com ela adulteram, caso não se arrependam das obras que ela incita. Matarei os seus filhos, e todas as igrejas conhecerão que eu sou aquele que sonda mente e corações, e vos darei a cada um segundo as vossas obras.
“Digo, todavia, que vós outros, os demais de Tiatira, a tantos quantos não têm essa doutrina e que não conheceram, como eles dizem, as coisas profundas de Satanás: Outra carga não jogarei sobre vós; tão-somente conservai o que tendes, até que eu venha. Ao vencedor, que guardar até ao fim as minhas obras, eu lhe darei autoridade sobre as nações, e com cetro de ferro as regerá e as reduzirá a pedaços como se fossem objetos de barro; assim como eu também recebi de meu Pai, dar-lhe-ei ainda a estrela da manhã. Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas” (Apocalipse 2:19-29).
Esta carta se inicia com um tom de lamento. Cristo elogia os verdadeiros cristãos dessa época, mas lamenta que a Igreja esteja tão contaminada com tradições humanas e iniqüidades. É um período difícil para a Igreja de Cristo. A santa doutrina foi maculada e os erros que entraram no cristianismo foram confirmados como verdades pelos líderes religiosos.
Veja que Cristo volta a falar sobre prostituição, desta vez citando Jezabel (a terrível rainha mencionada em Reis), que obrigava o povo a adorar o deus Baal, além de mandar perseguir e matar os profetas de Deus. O paralelo feito por Cristo é muito preciso: o sistema vigente desta época se coloca como uma profetisa de Deus, mas mata milhares de pessoas na inquisição, ensina o povo a pagar pelo perdão, proíbe a leitura da Bíblia, enaltece clérigos, endeusa o Papa, se coloca entre Deus e o homem, incentiva o culto a santos, impele a devoção por objetos sagrados e persegue a todos que tentam corrigi-lo.
O período se estende até o ano 1517, quando Martinho Lutero prega as 95 teses na porta da igreja do castelo de Wittenberg, iniciando a Reforma Protestante. A partir daí, se inicia também o período representado pela igreja de Sardes.
5) Carta à Sardes – O período da Reforma
“Conheço as tuas obras, que tens nome de que vives e estás morto. Sê vigilante e consolida o resto que estava para morrer, porque não tenho achado íntegras as tuas obras na presença do meu Deus. Lembra-te, pois, do que tens recebido e ouvido, guarda-o e arrepende-te. Porquanto, se não vigiares, virei como ladrão, e não conhecerás de modo algum em que hora virei contra ti. Tens, contudo, em Sardes, umas poucas pessoas que não contaminaram as suas vestiduras e andarão de branco junto comigo, pois são dignas. O vencedor será assim vestido de vestiduras brancas, e de nenhum modo apagarei o seu nome do livro da vida; pelo contrário, confessarei o seu nome diante de meu Pai e diante dos seus anjos. Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas” (Apocalipse 3:1-6).
Cristo começa a descrever este período dizendo que a Igreja tem nome de que vive, mas está morta. Isso é muito forte. Significa que os longos séculos de afastamento das santas verdades deixaram a Igreja gravemente doente. Tão doente que nem mesmo a Reforma Protestante foi capaz de curá-la totalmente, permanecendo em alguns velhos erros e gerando problemas novos. Por este motivo Cristo convida a Igreja a se lembrar daquilo que tem recebido e ouvido, ou seja, se lembrar do que a reforma trouxe de bom e assim solidificar o que estava para morrer.
Ora, a tal solidificação não acontece e o protestantismo entra em uma onda de discussões internas, divisões e enfraquecimento do estudo das Escrituras, estagnando as metas de Deus. Contudo, Cristo elogia o fato de que ainda existem umas poucas pessoas que são dignas e não contaminaram as suas vestes com as sujeiras do romanismo e dos demais sistemas falhos que surgiram.
O período termina em 1755, ano em que a cidade de Lisboa é devastada por um grande terremoto. A partir daí, se inicia o período que é simbolizado pela igreja de Filadélfia, quando uma série de eventos vai contribuindo para que a sistema católico tenha sua força atenuada e para que os cristãos prestem mais atenção a um assunto que por longos tempos ficou esquecido: o retorno de Jesus.
6) Carta à Filadéfia – O período da porta aberta
“Ao anjo da igreja de Filadélfia escreve: estas coisas diz o santo, o verdadeiro, aquele que tem a chave de Davi, que abre, e ninguém fechará, e que fecha, e ninguém abrirá: Conheço as tuas obras – eis que tenho posto diante de ti uma porta aberta, a qual ninguém pode fechar – que tens pouca força, entretanto, guardaste a minha palavra e não negaste o meu nome.
“Eis que farei que alguns dos que são da sinagoga de Satanás, desses que a si mesmos se declaram judeus e não são, mas mentem, eis que os farei vir e prostrar-se aos teus pés e conhecer que eu te amei. Porque guardaste a minha palavra da minha perseverança, também eu te guardarei da hora da provação que a de vir sobre o mundo inteiro, para experimentar os que habitam sobre a Terra.
“Venho sem demora. Conserva o que tens, para que ninguém tome a tua coroa. Ao vencedor fá-lo-ei coluna no santuário do meu Deus, e daí jamais sairá; gravarei também sobre ele o nome do meu Deus, o nome da cidade do meu Deus, a nova Jerusalém que desce do céu, vinda da parte de Deus, e o meu novo nome. Quem tem ouvidos, ouça o que o Espírito diz às igrejas” (Apocalipse 3:7-13).
O período de Filadélfia é caracterizado por ter uma porta aberta por Deus. Esta porta aberta simbolizava um conjunto de eventos que abriria o caminho para algumas mudanças importantes no cristianismo. Cristo deixa claro que a situação do cristianismo ainda é frágil, pois o grupo daqueles que guardam a sua palavra é pequeno e o problema dos “falsos judeus” da “sinagoga de Satanás” ainda persiste.
Contudo, Jesus Cristo faz promessas singulares para a Igreja desse período. Ele diz que ninguém poderá fechar a porta que ele abriu, que os da sinagoga de Satanás virão reconhecer que ele amou esta Igreja, que por ela guardar a sua palavra será guardada por ele nas provações e que ele retornará sem demora.
Nesse período que surge por todo o mundo muitas organizações de Sociedades Bíblicas e se expande consideravelmente os movimentos missionários. Também nesse período, diversos estudos mais aprofundados das profecias de Daniel e Apocalipse são feitos por cristãos de todas as partes.
Mas o que a mensagem deixa patente para nós é que, assim como o movimento da reforma protestante havia trazido algumas mudanças importantes na situação geral da Igreja de Cristo, algum movimento seria levantado por Deus no período representado pela igreja de Filadélfia. Um movimento grande, pois representaria o período, e também um movimento que bateria de frente com o maior problema da Igreja: o romanismo, que é o responsável pela grande maioria dos erros do e no cristianismo. Mas que movimento foi esse? Saberemos em outra postagem. Por enquanto daremos continuidade ao assunto que estamos tratando aqui.
O último período do cristianismo retratado no Apocalipse é o que compreende a igreja de Laodicéia. Ele se inicia ainda no século dezenove (talvez um pouco depois da metade do século), quando a mornidão espiritual começou a afetar as igrejas.
7) Carta à Laodicéia – O período da mornidão espiritual
“Ao anjo da igreja de Laodicéia escreve: Estas coisas diz o Amém, a testemunha fiel e verdadeira, o princípio da criação de Deus: Conheço as tuas obras, que nem és frio nem quente. Quem dera fosses frio ou quente! Assim porque és morno e nem és quente nem frio, estou a ponto de vomitar-te da minha boca; pois dizes: estou rico e abastado e não preciso de coisa alguma, e nem sabes que tu és infeliz, sim, miserável, pobre, cego e nu.
“Aconselho-te que de mim compres ouro refinado pelo fogo para te enriqueceres, vestiduras brancas para te vestires, a fim de que não seja manifesta a vergonha da tua nudez, e colírio para ungires os olhos, a fim de que vejas. Eu repreendo e disciplino a quantos amo. Sê, pois, zeloso e arrepende-te. Eis que estou à porta e bato ; se alguém ouvir a minha voz e abrir a porta, entrarei em sua casa e cearei com ele, e ele, comigo. Ao vencedor, dar-lhe-ei sentar-se comigo no meu trono, assim como também eu venci e me sentei com meu Pai no seu trono. Quem tem ouvidos ouça o que o Espírito diz às igrejas” (Apocalipse 3:14-22).
As palavras que Cristo usa para a sua Igreja no último período do cristianismo são duras. Ele aponta para o fato de que a maior parte das pessoas não será quente nem fria, mas morna; o que não lhe agrada nem um pouco. O que quer dizer isso? Os quentes simbolizam os cristãos verdadeiros, aqueles que realmente vivem as verdades bíblicas que professam crer. Os frios são aqueles que não se professam cristãos, estando distante do que é correto e num estado desconfortável o suficiente para saber que existe algo errado em sua vida. Agora, os mornos são aqueles que se professam seguidores de Cristo, mas não agem em conformidade com a palavra de Deus e também não sentem necessidade de mudar, já que o fato de se dizerem cristãos, não matarem, não roubarem e não usarem drogas gera a idéia de que está tudo certo.
Cristo continua a mensagem descrevendo o perfil do morno: Aquele que diz que é rico e abastado, mas que na realidade é infeliz, miserável, pobre, cego e nu. Não é isso o que temos visto por aí no cristianismo? As características do período que se iniciou no século dezenove se estendem até aos dias de hoje, nos mais diversos lugares, nas mais diversas denominações. Freqüentemente não conseguimos distinguir entre aquele que se diz cristão e aquele que não é, exceto pela hipocrisia, claro – por isso Deus prefere os frios; eles não são hipócritas.
Do meio para o fim da mensagem, Jesus aconselha que tais mornos resolvam esses problemas diretamente com ele. É nele que está o ouro refinado, as vestes brancas e o colírio. A idéia é que a Igreja se volte verdadeiramente para Cristo. E a mensagem que ele deixa logo após o seu conselho é encorajadora: Ele repreende e disciplina a quem ama. As duras palavras que utiliza são um sinal de que ele se importa com a Igreja. E por isso ele se encontra à porta, batendo, e apenas esperando que cada um abra e permita que ele entre e ceie com a pessoa e a pessoa com ele. Cabe a cada um escolher se abrirá ou não.
Conclusão
         O método utilizado neste texto para interpretar o livro do apocalipse é chamado de método historicista. Este método, que foi muito adotado pelas primeiras igrejas protestantes (na época da reforma), se caracteriza por entender que os livros proféticos da Bíblia apresentam profecias que se cumprem gradualmente ao longo dos séculos, sendo necessário estudar a história para ver o seu cumprimento.
            O método historicista se opõe ao chamado método futurista (o mais comum nos dias de hoje) por não aceitar que todas as profecias necessariamente devam se cumprir em um curto espaço de tempo.
           Há embasamento bíblico para o método historicista? Há sim. O primeiro é que o livro de Daniel (livro profético e que aborda muitos assuntos do Apocalipse) é um livro explícita e essencialmente historicista. No capítulo 2 de Daniel, por exemplo, o profeta faz profecias que cobrem as dominações dos impérios babilônico, medo-persa, grego e romano, isto é, séculos e séculos de história.
 O segundo é que a Bíblia afirma que sem profecia o povo se corrompe. Ou seja, o povo precisa ver que ao longo da história as profecias foram se cumprindo. Isso é algo que posso afirmar por experiência própria, pois o que me fez aceitar esses estudos do livro do Apocalipse foi observar que tudo se cumpriu na história conforme as profecias apontam com perfeição. Isso torna evidente que o método historicista é correto.
           Por isso, podemos aceitar que a interpretação feita aqui sobre as sete igrejas de apocalipse serem representações dos sete períodos do cristianismo tem embasamento bíblico. Ademais, está na história. Para qualquer um que estude um pouco, tornar-se-á claro que a Bíblia simplesmente previu toda a história do cristianismo com detalhes.
            A próxima série do Apocalipse é a dos Sete Selos. Ela, assim como a série das sete igrejas, revela um pouco mais sobre o que aconteceria em cada período da história do cristianismo, fortalecendo mais ainda a veracidade da interpretação.