quarta-feira, 31 de outubro de 2012

Analisando o conteúdo do Vídeo “Já estamos no Sétimo dia” – Parte 1

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Há algum tempo, em um grupo virtual de debates do qual participo, um irmão postou um vídeo de nome “Já estamos no sétimo dia”. O vídeo é uma palestra de pouco mais de meia hora, na qual o palestrante argumenta que o quarto mandamento (a guarda do sétimo dia da semana, o sábado) era um símbolo do verdadeiro descanso, descanso espiritual em Cristo. Ou seja, não é mais necessário guardar um sábado literal (de 24 horas) e nem um domingo (como fazem muitos cristãos em lugar do sábado).

Como de costume, preferi não fazer comentários precipitados. Em vez disso, eu prometi que veria o vídeo e que faria uma análise do mesmo em uma postagem aqui no blog. Por falta de tempo e alguma preguiça (eu confesso), demorei a ver o vídeo. Agora que já vi, posso expor meus pontos de vista.

Duas coisas me preocuparam no vídeo. A primeira: as más interpretações dos textos bíblicos pelo palestrante. A segunda: o uso descabido de analogias. O que farei aqui será mais uma explicação de cada texto bíblico, citando entre eles as afirmações que foram feitas pelo palestrante e, mostrando porque são incoerentes.

1) Gênesis 2:1-3:

Assim, pois, foram acabados os céus e a terra e todo o seu exército. E, havendo Deus terminado no sétimo dia a sua obra, que fizera, descansou nesse dia de toda a sua obra que tinha feito. E abençoou Deus o dia sétimo e o santificou; porque nele descansou de toda a sua obra que, como criador, fizera.
Esse é o primeiro texto utilizado pelo palestrante. Ao lê-lo, ele pergunta: “Deus precisa descansar?”. Como a resposta, obviamente, é “não”, o palestrante conclui que esse descanso de Deus não é um descanso literal, mas uma alegoria, um símbolo, uma metáfora do verdadeiro descanso, que é o descanso espiritual em Cristo. A interpretação proveniente desse texto parece ser um dos pontos-chave da palestra.

Agora, note como que o palestrante comete vários erros aqui. O primeiro é a sua conclusão implícita de que, se Deus não precisa de um dia para descansar de suas obras (que fizera durante a semana), nós, humanos, também não precisamos. Evidentemente isso é um falso raciocínio. Deus pode não se cansar, mas nós nos cansamos. E não falo só de cansaço físico e mental por conta das atividades do dia-a-dia, mas também de um cansaço espiritual gerado pela falta de um tempo maior de concentração em Deus.

Aliás, em todo o vídeo, o palestrante se esforça por traçar uma diferença entre o descanso literal e o descanso espiritual, afirmando que no descanso espiritual, todos os dias são dias de descanso. Aqui podemos catalogar o segundo erro: o palestrante força uma falsa dicotomia entre os dois descansos. Para ele, ou você descansa espiritualmente todos os dias ou você descansa literalmente em um dia fixo na semana.

Acontece que o descanso literal e o descanso espiritual não são opostos um ao outro (e nem poderiam ser), mas se complementam. O descanso espiritual é uma paz de espírito alcançada mediante um relacionamento íntimo com Deus. Isso pode e deve ser feito todos os dias. Basta mantermos uma boa vida de oração, lermos a Palavra de Deus com freqüência (pois ela é alimento para nossa fé), confiar em Jesus, permitir a ação do Espírito Santo dentro nós e etc. Isso é descanso espiritual. E não é necessário deixar de fazer nossas tarefas diárias (trabalho, estudo, faxina, compras...) para obter tal descanso em nossas vidas.

Mas o descanso espiritual tende a ser atrapalhado quando não temos um dia fixo e específico para cessar nossas atividades seculares e descansar literalmente. O tempo que temos concentrado em Deus durante a semana é curto. Há pessoas que tem muitas atividades. E, além disso, o cansaço físico e mental às vezes nos vence, fazendo com que nossos momentos com Deus não sejam tão bons como poderiam ser se estivéssemos descansados. O descanso literal permite que o ser humano reponha suas energias físicas, mentais e espirituais, porque estará longe das atividades seculares que lhe cansaram du-rante a semana e concentrado no Senhor durante um dia inteiro (o que terá peso para a próxima semana, com certeza).

Como o leitor pode ver, não há oposição entre os dois descansos. Os dois são muito importantes e se complementam. Um não existe perfeitamente sem o outro. Se eu não descanso espiritualmente todos os dias, meu dia literal de descanso não terá nenhum propósito. Será apenas um dia de folga e nada mais. E, se eu não descanso literalmente, não só terei um tempo escasso para as coisas de Deus como o cansaço físico e mental irá, eventualmente, atrapalhar minha concentração em Deus.

Curiosamente, o palestrante acaba concordando com isso sem perceber, quando diz (já próximo ao final do vídeo) que o fato de sua igreja se reunir aos domingos não quer dizer que ela guarda o domingo. Em suas palavras: “Nós nos reunimos no domingo por conveniência. Porque é um dia em que a maioria das pessoas está em casa”. Ora, ora, isso é uma confissão de que um dia livre é importante para o descanso espiritual. Se não existisse um dia livre, não existiria reuniões entre os cristãos.

Há um terceiro erro do palestrante ainda: ele conclui que se o descanso de Deus não foi literal, o nosso também não deve ser. Em outras palavras, se Deus não precisa descansar literalmente, então seu mandamento de descanso para o homem tem que ser um símbolo. Mas isso não faz o menor sentido. O próprio texto de Êxodo 20:8-11 indica que Deus “descansou” no sétimo dia como um exemplo para o homem. Não que Deus precise descansar, mas Deus quis dar o exemplo.

A mesma coisa faz Jesus com o batismo. O batismo sempre foi um símbolo de arrependimento, de morte e de ressurreição de uma pessoa em Jesus Cristo. Aquele que se batiza se torna nova criatura. Nasce de novo. Contudo, Jesus não tinha nada do que se arrepender e muito menos precisava nascer de novo. Jesus sempre foi perfeito. É o filho de Deus e o próprio Deus encarnado. Então, é óbvio que Jesus só se batizou para dar o exemplo. Seria ridículo que alguém dissesse: “Ah, como Jesus não precisava se batizar, então isso foi um símbolo; nós não devemos nos batizar literalmente (com água), mas somente nos batizar no Espírito”.

Ainda há um quarto erro do palestrante (e eu só estou no primeiro texto...): ele parece ignorar que a palavra hebraica para descanso também significa “cessar”. Eu não sei falar ou escrever em hebraico, mas é óbvio que o descanso de Deus pode muito bem significar um “cessar” na sua obra de criação. É a mesma coisa de um pedreiro terminar uma obra e afirmar que agora irá descansar dela. Talvez o pedreiro continue trabalhando em outra obra no dia seguinte, mas daquela obra ele descansou, pois a terminou. Esta interpretação é plausível, pois a Bíblia diz que Deus “descansou de sua obra de criação” e não que Deus “descansou de todas as obras, ficando em completa inatividade, porque estava muito cansado física e mentalmente”.

2) Êxodo 20:8-9 e Êxodo 23:12:

Lembra-te do dia de sábado para o santificar. Seis dias trabalharás e farás toda a sua obra. Mas o sétimo dia é o sábado do Senhor, teu Deus [...]. 
Seis dias farás a tua obra, mas, ao sétimo dia, descansarás [...].
Estes dois textos são usados pelo palestrante de um modo muito engraçado. Ele começa dizendo que nesses textos se encontra a base para que os sabatistas acreditem que devem guardar um sábado literal de 24 horas. E obviamente faz uma crítica porque são passagens do Antigo Testamento e estamos no Novo, tudo mudou. Mas o que quero destacar é o que ele faz enquanto lê os textos. Segundo ele, há uma “revelação” nos dois textos, algo que só pode ser entendido nas entrelinhas: a frase “Em seis dias farás a tua obra”, é um símbolo do período anterior à vinda de Cristo (a era da lei) e a frase “ao sétimo dia descansarás”, um símbolo do verdadeiro descanso, o descanso espiritual iniciado após a ressurreição de Jesus (a era da graça).

Mas o que prova que, de fato, as frases desses dois textos bíblicos representam aquilo que o palestrante disse que representam? Percebe? Não existe na Bíblia nada que indique essa representação. O palestrante simplesmente procura criar uma representação em cima desses textos bíblicos que entre em acordo com sua interpretação inicial de que o sábado era um símbolo do descanso espiritual. Ou seja, é uma analogia que o próprio palestrante inventou. E se a analogia é do próprio palestrante, e não da Bíblia, ela não tem valor para provar sua interpretação inicial.

Que fique claro: Não há problemas em criar analogias a partir da Bíblia. É uma maneira útil de ensinar e extremamente comum em pregações. Em certo culto em que estive, por exemplo, o pregador fez uma analogia em cima de uma passagem de Jonas, na qual o navio onde o profeta entrou para fugir de sua missão representava nossa vida; o capitão do navio representava a cada um de nós, humanos (em especial os cristãos); e Jonas, o profeta desobediente da história, representava aquilo que deixamos entrar em nossa vida (o navio).

Mas em nenhum momento, o pregador tentou induzir os irmãos a crerem que a analogia provinha da própria Bíblia. A analogia é do pregador. O navio representa nossa vida apenas dentro dessa analogia. Dentro da Bíblia, o navio é o navio. Não há nada que indique em qualquer lugar das Escrituras que, de fato, a história de Jonas foi feita para representar nossa relação com o que colocamos em nossa vida.

Outro ponto risível em cima desses dois textos é quando o palestrante descreve como teria sido o período anterior a vinda de Cristo (os “seis dias de obras”, segundo a sua interpretação): “Nos primeiros seis dias é por obras, sacrifício; paga preço”. Ei, péra aí meu irmão! O que exatamente é por obras e sacrifício, no Antigo Testamento? Será que o palestrante está falando da salvação e da relação com Deus? Bem, pelo menos é isso o que a frase induz o espectador a pensar. E se isso se torna um fato na cabeça do espectador (mesmo que só no inconsciente), a rejeição de tudo o que for dito no Antigo Testamento se torna automática. Afinal, quem vai aceitar qualquer coisa que provenha de um conjunto de livros que “prega” a salvação por mérito próprio?

Entretanto, nós sabemos que jamais um ser humano foi salvo por mérito próprio, por fazer boas obras ou por observar a lei. O capítulo 11 da epístola aos Hebreus, deixa claro como água que os heróis do Antigo Testamento foram todos salvos por causa da fé que tinham. O apóstolo Paulo em Romanos 4 e em Gálatas 3 também não deixa dúvidas sobre isso. Então, ou o palestrante ignora a função da fé no Antigo Testamento (o que acho pouco provável) ou pretende fazer o espectador ignorar. Seja como for, o ouvinte menos estudioso da Bíblia fica com impressão de que o relacionamento com Deus e a salvação no Antigo Testamento ocorria mediante a lei. Uma distorção violenta!

3) Jeremias 31:33:

Porque esta é a aliança que firmarei com a casa de Israel, depois daqueles dias, diz o Senhor: Na mente, lhes imprimirei as minhas leis, também no coração as inscreverei; eu serei o seu Deus e eles serão o meu povo.
Continuando com sua crítica aos sabatistas, o palestrante conta que uma vez, ao debater com um sabatista na internet, o sabatista disse: “Eu até concordo que as leis de aspecto cerimonial, como você diz, foram abolidas na cruz. Mas os dez mandamentos continuam vigentes”. A resposta do palestrante foi: “Mas os dez mandamentos não são mais para serem cumpridos na letra, mas no nosso coração, no nosso espírito”. Então, o palestrante cita o texto de Jeremias, para argumentar que na Nova Aliança a lei está no coração e não em tábuas de pedra (ele cita II Coríntios 3:6-9 também, que já analisarei).

A minha pergunta é: qual é a diferença entre a lei estar em tábuas de pedra e a lei estar dentro do coração? Segundo a interpretação do palestrante, a diferença reside em cortar alguns mandamentos da lei e flexibilizar outros. Obviamente ele não diz isso com essas palavras, mas é exatamente o que ele quer dizer quando afirma que os dez mandamentos não se resumem àqueles dez mandamentos descritos em Êxodo 20:3-17, pois há uma série de “desdobramentos legalistas” nos dez mandamentos que ninguém nunca conseguiu cumprir. Ou seja, o palestrante inventa “desdobramentos legalistas” no decálogo, a fim de ter uma argumento para cortar e/ou flexibilizar alguns mandamentos.

Mas será que é isso mesmo, amigo leitor? Eu proponho uma pequena revisão do contexto bíblico para entender se realmente melhor a relação entre os dez mandamentos e nós, cristãos. Para começar, quais são as principais diferenças entre a Antiga Aliança e a Nova Aliança?

Na Antiga Aliança, nenhum homem ainda havia sido feito apto por Deus para ser morada do Espírito Santo. O Espírito habitava no meio do povo e até descia sobre os homens mais santos, mas aquela unção especial do dia do pentecostes, em Atos 2, ainda não tinha ocorrido. Nenhum homem era templo do Espírito de Deus. E isso só poderia acontecer após a justificação dos homens por meio do sacrifício de Jesus Cristo, isto é, na Nova Aliança. Então, na Nova Aliança, nós somos o templo do Espírito de Deus.

Na Antiga Aliança ainda, como Jesus Cristo não tinha vindo, eram necessários uma série de rituais que simbolizavam a vinda e o sacrifício de Jesus (os aspectos rituais da lei), o que tornava a lei mais pesada e difícil de cumprir. Na Nova Aliança, tendo já vindo Jesus, não é mais necessário (e nem faria sentido) cumprir esses rituais.

Também na Antiga Aliança, as leis eram bem mais duras porque Deus precisava proteger suas verdades. Deixasse determinados pecados se espalharem, a existência do judaísmo até a época de Jesus poderia não se concretizar. Foi assim no mundo anterior ao dilúvio, no qual as nações se afastaram tanto de Deus, que restou apenas uma família de 8 pessoas fieis a Deus. Foi assim no mundo posterior ao dilúvio, no qual as nações tornaram a se afastar de Deus a ponto de Deus ter que criar um povo próprio. E poderia ter sido assim em Israel, já que a nação foi tão dura ao longo dos séculos. Contudo, na Nova Aliança isso já não é mais necessário. Os crentes em Deus estão habilitados para formarem uma nação sem terra própria, espalhados por diversos países, firmes em Jesus Cristo e cheios do Espírito Santo para evangelizar.

Fiou claro? Então, agora dá para irmos ao ponto principal: o que a passagem de Jeremias 31:33 quer dizer quando afirma que o Senhor imprimiria suas leis em nossas mentes e as inscreveria em nossos corações? Quer dizer que na Nova Aliança, as leis do Senhor estariam muito mais firmes em nosso interior do que estavam no interior dos que viveram na Antiga Aliança. Sobretudo em função da relação extremamente mais íntima com o Espírito Santo. É o que Paulo diz em Romanos 8:3-4:

Porquanto o que fora impossível à lei, no que estava enferma pela carne, isso fez Deus enviando seu próprio Filho em semelhança de carne pecaminosa e no tocante ao pecado; e, com efeito, condenou, na carne, o pecado, a fim de que o preceito da lei se cumprisse em nós, que não andamos segundo a carne, mas segundo o Espírito.
Notou? É impossível a lei salvar o homem. Não é essa a função da lei. A lei só, e tão-somente, tem função de mostrar o que é certo e o que é errado. Ela não provê meios para resolver seu problema. Então, como era (e é) impossível sermos salvos através da lei, Deus enviou Jesus para nos salvar. A fim de quê? A fim de que o preceito da lei possa se cumprir em nós. E como isso é possível? Seria por que somos fortes e temos condição de cumprir a lei com as próprias forças? Não!!! É porque existe um Espírito Santo dentro de nós. Essa é a grande diferença.

Por isso as leis de Deus agora estão inscritas dentro do nosso interior. Esse é o sentido verdadeiro do texto de Jeremias 33:31. Somos habilitados, através de uma forte relação com o Espírito Santo, a sermos cada vez mais obedientes aos mandamentos de Deus. E esses mandamentos não têm “desdobramentos” que ninguém nunca conseguiu cumprir. Estamos falando apenas de mandamentos morais. Os preceitos ritualísticos não valem mais nada. As punições civis (do Estado israelita do Antigo Testamento) para transgressões morais também não fazem mais sentido hoje (como já disse, as atitudes imediatistas de Deus se deviam à necessidade de não deixar que o povo todo se corrompesse). Tudo isso caiu. Estamos falando simplesmente de mandamentos morais, que estão resumidos no decálogo, e cuja base foi apontada por Jesus Cristo como sendo o amor a Deus acima de todas as coisas e o amor ao próximo como a nós mesmos. É só isso. Não há desdobramentos legalistas aqui. Por isso João afirma:

Todo aquele que crê que Jesus é o Cristo, é nascido de Deus; e todo aquele que ama ao que gerou também ama ao que dele é nascido. Nisto conhecemos que amamos os filhos de Deus: quando amamos a Deus e praticamos os seus mandamentos. Porque este é o amor de Deus: que guardemos os seus mandamentos; ora, os seus mandamentos não são penosos, porque todo o que é nascido de Deus vence o mundo; e esta é a vitória que vence o mundo: a nossa fé. Quem é o que vence o mundo, senão aquele que crê ser Jesus o Filho de Deus? (I João 5:1-5).
4) II Coríntios 3:5-9:
[...] nossa suficiência vem de Deus, o qual nos habilitou para sermos ministros de uma nova aliança, não da letra, mas do Espírito; porque a letra mata, mas o Espírito vivifica. E, se o ministério da morte, gravados com letras em pedras, se revestiu de glória, a ponto de os filhos de Israel não poderem fitar a face de Moisés, por causa da glória de seu rosto, ainda que desvanecente, como não será de maior glória o ministério do Espírito! Porque, se o ministério da condenação foi glória, em muito maior proporção será glorioso o ministério da justiça.
Em cima desse texto, que foi citado juntamente com o de Jeremias, o palestrante afirmou que os 10 mandamentos, quando guardados na letra, são o ministério da morte e da condenação, conforme Paulo diz. Mas o que Paulo quer dizer aqui, na verdade, tem conexão com aquele texto de Romanos (que vimos há pouco) em que ele escreve que é impossível a lei salvar o homem. Lembra? Pois é. Segundo Paulo, a lei é santa, justa, boa e espiritual (conforme se lê em Romanos 7:12-16). Só que ela não tem função de salvar, justificar ou purificar o homem. Então, a lei, sozinha, só traz condenação e morte, pois esse é o salário do pecado (Romanos 6:23); e a lei não pode fazer nada por nós.

É por isso que Paulo compara as tábuas de pedra do decálogo a um ministério de condenação e morte. Porque, de fato, o que a lei faz é só condenar. Você olha para a lei e ela te diz: “Querido, você adulterou. O salário disso é a morte”. E acabou. As tábuas de pedra não irão te salvar dessa condenação e muito menos irão te ajudar a se livrar de seu pecado. Mas veja o que o apóstolo Paulo afirma no final do capítulo 7 de Romanos e no começo do capítulo 8:

Desventurado homem que sou! Quem me livrará do corpo dessa morte? Graças a Deus por Jesus Cristo, nosso Senhor! [...] Agora, pois, já nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus. Porque a lei do Espírito da vida, em Cristo Jesus, te livrou da lei do pecado e da morte. Porquanto o que fora impossível à lei, no que estava enferma pela carne, isso fez Deus enviando seu próprio Filho em semelhança de carne pecaminosa e no tocante ao pecado; e, com efeito, condenou, na carne, o pecado, a fim de que o preceito da lei se cumprisse em nós, que não andamos segundo a carne, mas segundo o Espírito (Romanos 7:24-25 e Romanos 8:1-4).
O leitor vê? O apóstolo Paulo se esforça para mostrar para as pessoas que o que perdoa, salva, justifica e purifica é Jesus, com seu sacrifício, é o Espírito Santo com seu trabalhar em nosso interior, é o amor do Pai, nos reconciliando; em suma, é Deus, e não a lei. A função da lei é tão-somente mostrar o que é certo e o que é errado.

É por isso que Paulo contrapõe em II Coríntios os ministérios do Espírito Santo e das tábuas de pedra. É óbvio que o ministério do Espírito é superior. Porque a lei não faz nada a não ser condenar. Mas Jesus Cristo nos justifica e o Espírito Santo nos guia até cumprimento da lei. Como o próprio texto diz: “Nossa suficiência vem de Deus” e não de nós mesmos.

A letra diz: “Você vai morrer, porque pecou”. Mas Jesus diz: “Você vai viver, porque você confessou seu pecado e confiou em mim, então meu sacrifício justificará a sua vida”. Isso não é uma a abolição da lei ou a modificação dela, amigo leitor. O que a lei diz continua sendo certo. A lei continua tendo sua função. Jesus disse: “Não penseis que vim revogar a Lei e os Profetas; não vim para revogar, vim para cumprir. Porque em verdade vos digo: até que o céu e a terra passem, nem um i ou um til jamais passará da Lei, até que tudo se cumpra”.

O grande lance que Paulo quer nos mostrar não é que a lei foi abolida, mas sim que a lei não pode condenar quem está em Jesus. Por isso, Paulo diz: “Anulamos, pois, a lei pela fé? Não, de maneira nenhuma! Antes, confirmamos a lei” (Romanos 3:31).

5) Gálatas 4:8-11:

Outrora, porém, não conhecendo a Deus, servíeis a deuses que, por natureza, não o são; mas agora que conheceis a Deus ou, antes, sendo conhecidos por Deus, como estais voltando, outra vez, aos rudimentos fracos e pobres, aos quais, de novo, quereis ainda escravizar-vos? Guardais dias, e meses, e tempos, e anos. Receio de vós tenha eu trabalhado em vão para convosco.
Neste ponto, o palestrante começa a argumentar que o apóstolo Paulo não era a favor da guarda do sábado literal. Ele tenta fazer os espectadores crerem que quando o apóstolo fala “guardais dias” está se referindo ao sábado. O palestrante é tão enfático nessa parte que chega a dizer com todas as letras: “O que é ‘guardar dias’, irmãos? É o Shabbat! É o Sábado!”. Não sei se rio ou se choro com isso... Melhor é refutar.

É claro que esse “guardar dias” não se refere ao sétimo dia da semana. Os judeus tinham sete feriados sagrados nos quais se faziam festas. Estes feriados também eram chamados de sábados, pois sábado significa “cessação” (ou seja, feriado) e faziam parte do sistema cerimonial que prefigurava, com cada um de seus detalhes, o sacrifício de Jesus Cristo. Os judeus também tinham meses, tempos e anos sagrados que faziam parte desse sistema ritualístico.

Mas o sétimo dia da semana nunca foi um preceito cerimonial, mas sim um mandamento moral que foi dado por Deus para que nós descansássemos e para que isso fosse um símbolo de que Ele é o Criador. Foi um mandamento dado por Deus antes de existir Israel, hebreus, 12 tribos, Jacó, Isaque e Abraão. Foi dado no final da primeira semana que existiu. E para ratificar sua importância, o Senhor Deus o colocou nos 10 mandamentos, no monte Sinai, com o seguinte início: “Lembra-te”.

O sábado é um mandamento moral. Não há dúvidas disso. É um mandamento tão moral que até mesmo o palestrante sabe que nós precisamos de um dia de descanso em nossas vidas; um dia livre do trabalho e das tarefas seculares, no qual é conveniente que se faça um culto a Deus. Também o palestrante com certeza concordaria que um dia assim é bom para que possamos estar junto de família e amigos. Quer dizer, são coisas que nós podemos fazer durante a semana, mas que o trabalho e a correria de cada dia não nos dá muito tempo. Então, o sábado é um dia de relacionamento com Deus e com o ser humano que precisa existir no fim de cada semana. É um mandamento moral.

Aí vem o palestrante me dizer que “guardar dias” se refere ao sábado. Ah, pelo amor de Deus, meu querido! O contexto da carta e da passagem nem sequer falam de preceitos morais. Se olharmos um pouco mais à frente, no capítulo 5 de Gálatas, lemos:

Para a liberdade foi que Cristo nos libertou. Permanecei, pois, firmes e não vos submetais, de novo, a jugo de escravidão. Eu, Paulo, vos digo que, se vos deixardes circuncidar, Cristo de nada vos aproveitará. De novo, testifico a todo homem que se deixa circuncidar que está obrigado a guardar toda a lei. De Cristo vos desligastes, vós que procurais justificar-vos na lei; da graça decaístes. Porque nós, pelo Espírito, aguardamos a esperança da justiça que provém da fé. Porque, em Cristo Jesus, nem a circuncisão, nem a incircuncisão têm valor algum, mas a fé que atua pelo amor.
Circuncisão, meu querido! Paulo está falando meramente de rituais judaicos. É claro, então, que “guardar dias” se refere àqueles feriados judaicos. O que esses feriados representavam já havia se cumprido. Jesus Cristo veio, sofreu, morreu, ressuscitou e nos deu vida. Não havia mais necessidade de observá-los. Mas o sétimo dia da semana é um preceito moral e necessário ainda nos dias de hoje.

6) Filipenses 3:3:

Porque nós é que somos a circuncisão, nós que adoramos a Deus no Espírito, e nos gloriamos em Cristo Jesus, e não confiamos na carne.
O palestrante cita esse texto por alto, para afirmar que guardar o sétimo dia é confiar na carne. Nada mais tolo. Guardar o sétimo dia é reconhecer que nós precisamos de um dia de descanso, bem como reconhecer que o Deus criador no Antigo Testamento é o mesmo Deus criador no Novo Testamento. E outra coisa: o assunto é circuncisão e rituais judaicos mais uma vez. Nada tem a ver com o sétimo dia.

7) Hebreus 10:1:

Ora, visto que a lei tem sombra dos bens vindouros, não a imagem real das coisas, nunca jamais pode tornar perfeitos os ofertantes, com os mesmos sacrifícios que, ano após ano, perpetuamente eles oferecem.
Aqui, o palestrante argumenta que o sétimo dia é uma sombra, que o verdadeiro sábado é Jesus Cristo, que o verdadeiro sábado é a graça de Deus. Veja que ele persiste em seu erro de misturar os assuntos. A epístola aos Hebreus é uma das mais simples de se interpretar. Fala toda hora de sacrifícios de animais, de serviços de sacerdotes, do santuário judaico, enfim, é só ritual. O autor usa a carta toda para falar o que cada ritual representava. Dizer que ele está falando de preceitos morais da lei (como o sábado) é até uma heresia. Se aceitarmos isso, teremos que aceitar coisas como: “Ah, ‘não adulterarás’ é apenas sombra de um bem vindouro e não algo literal que devo fazer ainda hoje”.

To be Continued...

Bem, já deram dez páginas aqui no Word (sim, eu digito no Word e depois passo para o blog). É muita coisa para se ler na internet de uma vez só. Então, continuaremos na próxima postagem. Nela falarei sobre a passagem de Mateus 11:28-30 (citada pelo palestrante para dizer que o sábado é Jesus Cristo), sobre o capítulos 4 da epístola aos Hebreus (que merece uma explicação mais detalhada) e sobre a passagem de Romanos 6:14 (que não é citada na palestra, mas que permeia todo o pensamento da palestra). É isso. Espero ter sido claro até aqui.

Argumentos para a existência de Deus - Parte 7: O Testemunho Interno do Espírito Santo (Conclusão)

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É, amigo leitor, o fim chegou. Não o fim do mundo, mas o fim da nossa série de postagens sobre a existência de Deus. A proposta, desde o início, era a de mostrar que a crença na existência de Deus não é uma questão de fé cega, ilógica e anticientífica em um Ser de caráter mitológico. Bem distante disso, a crença na existência de Deus se baseia em observações e conclusões pautadas no raciocínio lógico.

Em nenhum momento da série, eu apelei para a emoção, para o subjetivismo ou para pressuposições. Ao contrário, antes de chegar a qualquer conclusão, analisei todas as hipóteses, a fim de não ser tendencioso. Apenas para aclarar a mente do leitor, vamos lembrar o caminho que percorremos. 

Introdução 

Começamos com o argumento cosmológico, onde observamos que tudo aquilo que tem um começo, tem uma causa para esse começo. Levando em conta que a lógica e a ciência nos mostra que o universo teve um começo de existência, isso nos levou a concluir que o universo tinha uma causa e que essa causa não poderia ser o próprio universo (pois isso é contraditório). Então, concluímos que o universo precisa ter algo que o causou e que está além do universo, isto é, um agente atemporal, aespacial, imaterial e com propriedades de causa. 

Passamos para o argumento teleológico e nele observamos que o universo e os seres vivos apresentam mecanismos complexos, constantes, funcionais e com finalidade específica. Tais elementos não poderiam surgir através do acaso, porque o acaso é um agente aleatório, que nada ordena. Assim, inferimos que o agente causador do mundo é um agente pessoal, inteligente e ordenador. Alguém que deu aos mecanismos a possibilidade de seguir uma ordem (leis naturais fixas, por exemplo). 


Depois vimos o argumento moral, no qual entendemos que nossa concepção de certo e errado, de bom e mal como moral objetiva, absoluta e transcendente, não faz o menor sentido se não derivar de um padrão moral absoluto, objetivo e transcendente. Se esse padrão não existe, não há certo e errado real. Há apenas convenções da sociedade e sensações subjetivas sobre o que se deve fazer. Mas não uma moral absoluta. Então, se cremos em uma moral absoluta (e há evidências de que ela existe), há um padrão transcendente, o qual não é outro que não o agente causador e ordenador do universo. 


O quarto argumento que vimos foi o da razão humana, que nos mostrou que do mesmo modo que não faz sentido falar de uma moral absoluta sem um padrão absoluto, também não faz sentido crer na validade de nosso raciocínio (da razão humana) sem que se creia na existência de uma causa racional para a nossa razão. Se nossa razão deriva de causas não racionais, não morais e aleatórias, não há porque confiar que realmente somos seres racionais e que nosso raciocínio faz algum sentido lógico. Assim, não crer em Deus (que seria a causa racional), obriga o ateu a não crer em seu raciocínio. 



O quinto argumento foi o complexo argumento ontológico. Ele mostrou que ao afirmarmos a hipótese de que existe um Ser maior que tudo, este ser se faz existente na hipótese. Mas se ele é maior que tudo, é maior fora da hipótese também, isto é, no que chamamos de mundo real ou realidade. Sendo assim, se é possível que exista um Ser maior que tudo, Ele necessariamente existe na hipótese e na realidade. Como vimos que é possível (e necessário) que Deus exista, concluímos que Ele existe mesmo (e que é o único, pois logicamente não pode haver dois ou mais seres maiores que tudo). 


O sexto argumento que vimos foi o da ressurreição, o argumento em que eu mais tive necessidade de escrever. Nele, vimos que existem seis fatos históricos sobre Jesus que são reconhecidos pela maioria dos historiadores. Isso se dá porque existem alguns critérios de confiabilidade de fatos atestados em documentos que são amplamente satis-feitos nesses seis fatos (nós listamos 10 critérios principais e vimos como que eles realmente são muito bem satisfeitos nos fatos). 

Estes fatos históricos, uma vez provados como históricos através dos critérios já citados, necessitam de uma explicação. Relembrando os fatos: (a) a existência de Jesus; (b) a sua morte; (c) o seu sepultamento; (d) a constatação de seu sepulcro vazio; (e) as suas aparições para mais de 500 pessoas após sua morte; (e) a crença entre os primeiros discípulos e seguidores de que Jesus ressuscitara corporalmente. 

Relembrando as perguntas: Por que Jesus não foi achado em seu sepulcro? O que houve com o corpo? Como explicar suas aparições para mais de 500 pessoas? Por que os discípulos passaram a acreditar na ressurreição e pregá-la, se a crença na ressurreição corporal era amplamente desacreditada na época? Por que os discípulos passaram a pregar algo que eles sabiam que não lhes daria nenhum benefício pessoal, mas, pelo contrário, lhes traria injúrias, hostilidade, pobreza, vida nômade, perseguição, prisão, tortura e morte? 

A conclusão do argumento (a que chegamos após analisar as principais hipóteses que são dadas para explicar esses seis fatos e responder essas perguntas) foi a de que a melhor, mais plausível e lógica explicação seria a da ressurreição de Jesus (cuja possibilidade é bem atestada pelos argumentos anteriores que mostram a necessidade da existência do sobrenatural). 

Então, através do raciocínio lógico (sempre respaldado pelas ciências) chegamos às seguintes conclusões gerais: Existe um Deus, único, atemporal, aespacial, imaterial, pessoal, inteligente, causador do universo, ordenador, do qual emana a moral e a razão e que se mostrou ao mundo na pessoa de Jesus, tornando-se homem, passando por sofrimentos humanos e possibilitando nossa salvação através de sua morte na cruz e de sua ressurreição no terceiro dia. São conclusões a que chegamos sem recorrer, em momento algum, à pressuposição de que a Bíblia é a Palavra de Deus. 

Algo além da Razão 


Agora, chegamos à última postagem e eu me sinto obrigado a revelar algo para o leitor: estes argumentos não servem para converter ninguém. Por mais lógicos que eles sejam, ninguém nunca deixará o ateísmo ou o agnosticismo e se tornará um cristão de grande fé porque se sentiu convencido por eles. E a resposta para isso é bem simples: o ser humano não é apenas racional. 

Pois é... Não somos seres puramente racionais. Para dizer a verdade mais nua e crua, somos seres altamente sensitivos. São as sensações, as emoções e a maneira como nos sentimos em relação a algo, que nos impulsionam a negá-lo ou aceitá-lo. O homem é movido a paixões. Por exemplo, quando nos apaixonamos por uma pessoa. Por mais claras que sejam as evidências de que aquilo não dará certo, nós teimamos em insistir em nossa utopia. Abrimos mão da razão para dar lugar a uma sensação boa. 


Barack Obama ganhou as eleições presidenciais dos EUA. Mas por quê? Por que a maioria das pessoas foi racional ao escolher seu candidato? Não. Foi porque a maioria se identificou com o candidato. Votaram porque ele é engraçado, porque é simpático, porque é mais pop, porque é negro (um monte de gente votou nele só por causa da cor, acredite), porque já foi pobre, porque pareceu se preocupar com as vítimas do tornado Sandy (o que é apenas obrigação de um presidente) e etc. Mas nada disso diz respeito à razão, mas sim ao modo como nos sentimos em relação ao candidato. 


Estou querendo dizer que é ruim sermos emocionais? Não! De modo algum. As emoções, aquilo que sentimos em relação a algo, são muito importantes. Aquilo que nós sentimos é indissociável de nosso ser e tão relevante quanto a nossa razão. Por exemplo, eu posso saber tudo sobre uma laranja, como é sua aparência, como ela é nutritiva, como ela surge... Mas se eu não experimento a laranja, não posso dizer se ela é boa e muito menos posso adquirir seus nutrientes. Assim, o conhecimento que tenho sobre a laranja (razão) de nada me adianta, se eu não experimentá-la (sensação). 


O grande problema, portanto, é justamente quando a sensação não está atrelada à razão. Razão e sensação são dois elementos que não podem caminhar separadamente na vida de uma pessoa. Um deve complementar o outro. Este é o ponto. Se alguém usa só a sua razão para verificar se Deus existe, ainda que descubra que Ele existe, não terá uma grande fé nele, pois essa pessoa não tem a sensação de que Ele existe. 


Suponha que você, amigo leitor, seja um ateu ou agnóstico. Você não tem fé em Deus e, portanto, não tem amor por ele. Se não há amor, então não há absolutamente nenhuma sensação positiva quanto a Deus. Como, então, pode surgir uma crença? 


É o fato de ter estado emocionalmente ligado à descrença que impede que você passe a crer de uma hora para outra. Você não sente a existência de Deus. Você não sente a sua presença. Você não sente a sua falta. A razão te diz que Deus existe, mas suas sensações parecem não crer nisso. É essa falta de sensação sobre a existência de Deus que invariavelmente levará uma pessoa a jogar fora todos os motivos racionais que tem para crer, permanecendo descrente. 

É por esse motivo que apenas os argumentos não são suficientes. É necessário algo mais que isso. E eu vou dizer o que é. É necessário que a pessoa abra o seu coração para o Espírito Santo. 



O leitor pode achar essas palavras um tanto emotivas. Não deixam de ser. Isso é mesmo um apelo. Não um apelo para que você creia em Deus, mas um apelo para que você entenda que, se realmente Deus existe, ele te ama. Se realmente os argumentos que foram descritos nesta série estão corretos, existe um Deus que te ama. 

Então, não estamos tratando apenas de raciocínio lógico, mas da possibilidade de que você seja infinitamente amado por um Ser que simplesmente criou todo o universo e a vida. Você já parou para pensar nisso? Não, isso não é um apelo para que você creia em Deus, mas um apelo para que, ao estudar sobre Deus, você não o veja apenas como um objeto de estudo, mas como um Ser que talvez exista e que talvez tenha amado tanto a humanidade a ponto de enviar parte de si mesmo a terra, a fim de se sacrificar por nós. 


Não estou te pedindo, amigo leitor, que você abandone a razão, mas que você abra a sua mente para a hipótese do amor de Deus. E... se realmente existe esse Deus tão amoroso? Você está preparado para receber esse amor? Você está preparado para amar este Ser? Consegue visualizar a profundidade do que um tema como esse representa? 


Tente imaginar o quanto Jesus sofreu enquanto esteve na terra. Ele foi xingado, humilhado, cuspido, espancado, açoitado, zombado e posto nu em uma cruz. A cruz era a pior condenação que existia. A mais dolorosa, a mais violenta, a mais vergonhosa. Ele suportou tudo isso, apenas para que pudesse nos dar a chance de estarmos com ele. 


Talvez isso seja uma hipótese para você. Não tem problema. Mas tente, dentro dessa hipótese, observar o tamanho desse amor. Não seria um amor assim digno de um estudo de coração mais aberto? Abra o seu coração... Não tenha medo de se envolver demais emocionalmente com a hipótese desse amor. Embora sejamos seres altamente sensitivos, também somos seres altamente carnais. Se você não crê em Deus, não será a emoção que te fará crer. Porque, no fundo, é justamente a emoção que nos faz querer estar longe de Deus. 

O que o homem natural deseja é sentir o prazer de xingar uma pessoa, de bater em quem lhe perturba, de trair seu companheiro, de fazer bacanais, de se vingar, de se viciar álcool ou outras drogas, de guardar rancor, de odiar, de se orgulhar, de matar, de roubar, de querer o que é do outro, de arrumar confusão, de ser egoísta, de não abaixar a cabeça para ninguém, de viver como quer. Não é isso que a humanidade tem feito desde os tempos mais remotos? Não são essas as emoções que queremos? Por que trocaríamos a liberdade de sentir essas emoções pela emoção de acreditar em Deus? 

Mas se Deus existe, a partir do momento em que abrirmos o coração, o Espírito Santo de Deus passará a trabalhar em nós. Nossa mente se iluminará. A razão se tornará mais clara e a sensação de que Deus está próximo de nós aumentará mais e mais. Então, em dado momento nada mais importará. Tudo aquilo que você achava que era prazeroso não poderá se comparar ao prazer de ser amado por Deus. Mas só o Espírito Santo pode fazer uma transformação dessas. Ninguém se converte sozinho. 


Esse é o argumento do testemunho interno do Espírito. Esse é o argumento mais poderoso que existe no mundo. Porque uma vez que sua vida é regenerada por esse Espírito Santo, não há quem possa refutar sua convicção interna. Você sente. Você sabe bem. Ela é pessoal. Ela interna. Não serve para ninguém, mas serve para você. 


Considerações Finais 


Em sua primeira carta aos tessalonicenses, no capítulo 1, versículos 5 e 6, Paulo, o apóstolo que mais converteu pagãos ao cristianismo, escreveu: 

[...] porque o nosso evangelho não chegou a vocês somente em palavra, mas também em poder, no Espírito Santo, e em plena convicção. [...] De fato, vocês se tornaram nossos imitadores e do Senhor, pois, apesar de muito sofrimento, receberam a palavra com a alegria que vem do Espírito Santo.

Como podemos ver, o apóstolo Paulo sabia que apenas os seus argumentos não faria ninguém crer no evangelho. Era necessário que o Espírito Santo agisse, dando plena convicção aos ouvintes e gerando alegria em seus corações. O que intentei fazer nesta série seguiu esse molde: dar os argumentos, mas deixar bem claro, no fim, que o restante do trabalho é do Espírito Santo. Sem o seu trabalho, os argumentos não servem para nada.

Sei, amigo leitor, que você pode estar repleto de dúvidas sobre Deus. Mas quero que entenda uma coisa: Se Deus existe, Ele é o dono da razão. Então, com certeza não existe contradição entre a razão e Ele. Sugiro, portanto, que o leitor estude. Se há algum questionamento, se há alguma dúvida... Estude. Existe um mito que espalham por aí de que a fé é contrária a razão. Não é. Fé é lógica. Fé é crer em algo que você não vê, mas que sabe que é verdade porque faz sentido. Não foi isso que vimos em todas as nossas postagens? Então, guarde isso em seu coração. 

Termino com um alerta: meu trabalho não terminou. A não ser que Deus tire a minha vida amanhã (o que ele tem todo o direito, já que a vida é dele), continuarei com postagens e séries de postagens que mostrarão como que a fé está em harmonia com a razão (e a ciência). Já tenho algum material para fazer uma série sobre a veracidade da Bíblia e para fazer uma pequena série analisando diversas hipóteses que existem sobre quem teria sido Jesus (vou dissecar cada uma e mostrar porque estão erradas). Em suma, se o leitor gostou dessa série, continue de olho e... Divulgue o blog. Abraço forte.

Argumentos para a existência de Deus - Parte 6: Argumento da Ressurreição

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Estamos chegando ao final da nossa série, amigo leitor. Já vimos os argumentos: cosmológico, teleológico, moral, da razão humana e ontológico. E conforme tivemos a oportunidade de ver, nenhum desses argumentos apela para crenças cegas, sem sentido lógico, mas se baseia puramente no raciocínio lógico. Seguindo esse mesmo princípio, o que vamos ver hoje é o argumento da ressurreição. Tal argumento pretende mostrar que existem alguns fatos históricos sobre Jesus (reconhecidos pela maioria dos historiadores), que apontam para a sua ressurreição.

Embora o intuito dessa série não seja defender uma religião específica, mas sim mostrar que existe a necessidade lógica da existência de um Ser transcendente, pessoal, único e criador de tudo, não posso deixar de citar o argumento da ressurreição. Não se trata de ser pretenciso, mas tão-somente de observar que este argumento tem um forte potencial de sustentar a existência de Deus. Afinal, se realmente Jesus ressuscitou, isso confirma que existe algo além da natureza; mais que isso, confirma que o próprio Deus se fez humano, revelando-se à humanidade.

Mas será que realmente há evidências históricas que apontam para a ressurreição de Jesus? É o que vamos ver.

Introdução

O argumento da ressurreição pode ser resumido da seguinte forma:
(1) Existem alguns fatos históricos sobre a vida de Jesus que são reconhecidos pela maioria dos historiadores, tais como: (a) sua existência; (b) sua morte em uma cruz; (c) seu sepultamento em uma tumba de José de Arimatéia; (d) a constatação da tumba vazia ao terceiro dia de sua morte; (e) os diversos testemunhos sobre aparições de Jesus após sua morte; (f) a origem da crença dos discípulos na ressurreição; 
(2) tais fatos históricos necessitam de uma explicação. Por que Jesus não estava no túmulo em que fora posto? Como o corpo saiu de lá? Como várias pessoas puderam ver Jesus após a sua morte? Por que surgiu a crença de que Jesus havia ressuscitado? É necessário achar uma explicação plausível para todos essas questões;
(3) a melhor explicação, que abrange todos os pontos e que parece mais provável, é a de que Jesus ressuscitou. É uma explicação mais lógica do que todas as alternativas que tem sido postuladas pelos céticos.
Este é o resumo do argumento da ressurreição. Obviamente o leitor que não crê na ressurreição de Jesus deve estar cheio de questionamentos e críticas. Mas acalme-se um pouco! Esse é o resumo do argumento. Vou explicar cada ponto e depois lidar com cada crítica que possa vir a surgir. Ok?


Fatos históricos e critérios de confiabilidade

O argumento da ressurreição se inicia afirmando que há alguns fatos históricos sobre Jesus que são aceitos pela maioria dos historiadores. Entretanto, devemos saber o que são fatos históricos antes de qualquer coisa. Bem, fatos históricos são aqueles que podem ser atestados através de documentos históricos. Eles se diferem de outros fatos porque podem ser afirmados com um mínimo de certeza. Por exemplo, como podemos ter certeza que Pedro Àlvares Cabral chegou ao Brasil em 22 de Abril de 1500? Através de uma série de documentos da época que nos ajudam a recompor esses fatos.

Assim é todo o estudo da história. Tudo o que sabemos do passado com algum grau mínimo de certeza (historicamente falando) está baseado em documentos da época ou próximos à época em que ocorreram os fatos*.

É óbvio que apenas a existência de documentos não são suficientes para dizer que um evento realmente aconteceu. É necessário também saber se os documentos são confiáveis. Afinal, é possível que um documento da época de um evento seja apenas um relato mítico, uma lenda, uma mentira. Como podemos saber se um documento, de fato, está relatando um evento real? Aqui exponho dez critérios principais que são utilizados pelos historiadores para averiguar se um documento relata um evento real:

1) Descrição do Contexto: Se o fato relatado pelo documento ocorre em um contexto político, econômico e/ou cultural bem definido no tempo e no espaço, ele já inspira alguma confiança - isso porque histórias míticas ou lendárias não são relatadas dentro de contextos bem definidos no tempo e no espaço. Por exemplo, a história da Branca de Neve. Vamos supor que essa história tenha sido descoberta em documentos antigos. O que nos faria ter certeza de que se trata de uma narrativa mítica seria a total falta de contexto na história. Vejamos:

Em que país a história ocorreu? Em que província do país? Em que ano? Quem eram as pessoas mais ilustres? Quem era o rei? A qual dinastia ele pertencia? O que o povo mais almejava? Quais eram as principais tradições e costumes que vigoravam na época? Que importância Branca de Neve e sua história tiveram para a vida das pessoas em geral? Qual é a história política desse país? Como era a sua relação com outros países? Qual é a sua geografia? Como ele era na época e como ele é hoje? Quais foram as consequencias da história da Branca de Neve para o país?

Entendeu, amigo leitor? Se os documentos responderem a essas perguntas, então o relato pode ser considerado digno de algum crédito, pois a história está no interior de um contexto bem definido que pode ser estudado pela história. Mas se essas perguntas não podem ser respondidas, se todo o relato ocorre fora de um contexto espaço-temporal, não podendo ser mapeado pela história, então o que temos é um relato mítico (como a história da Branca de Neve).

Ressaltemos algo importante aqui: ninguém que inventa uma mentira, mistura tal mentira com descrições detalhadas do contexto histórico, político, econômico e cultural de onde se passa a história. Afinal, se isso for feito, será fácil constatar que o relato é uma mentira. Por exemplo, se digo que um lobisomem viveu na minha cidade há 50 anos, algum maluco pode até acreditar nessa mentira. Mas se digo que esse lobisomem nasceu no bairro de Deodoro, virou vereador com 25 anos, teve uma crise nervosa na câmara dos vereadores, sequestrou o prefeito da cidade, foi preso, solto depois de 4 anos e morto em uma praça pública pela multidão, essa mentira não vai se sustentar, pelo simples fato de que nada disso realmente aconteceu no contexto que descrevi.

Portanto, documentos que descrevem detalhes do contexto em que ocorreu o fato descrito, têm muita probabilidade de estarem contando a verdade. Quanto mais detalhes sobre o contexto os documentos derem, mais provável é que a história relatada seja um fato histórico ou, no mínimo, que contenha muitos fatos históricos.

2) Múltiplas Comprovações: Se vários documentos diferentes falam sobre o mesmo fato, temos mais um ponto a favor da veracidade do fato. Quando um evento é descrito apenas por um documento, ele não é muito digno de credibilidade. Quanto mais fontes diferentes atestarem determinado fato, mais provável é que o fato tenha ocorrido de verdade. Isso torna os documentos confiáveis.


3) Antiguidade: Quanto mais antigos forem os documentos que falam sobre um fato, mais provável é que eles sejam verdadeiros. Afinal, os documentos terão sido lidos por pessoas que viviam no contexto descrito (ou próximo), sendo fácil para tais pessoas saberem se o fato era verídico ou não. Não sendo verídico, não se espalharia.

4) Constrangimento: Se as descrições presentes nos documentos incluem fatos constrangedores para o autor, seja por estarem ligadas diretamente ao autor ou ligadas à pessoas importantes para o autor, então temos mais uma grande probabilidade de que os documentos estejam descrevendo fatos verídicos. Um autor só relata eventos constrangedores se tais eventos forem verdadeiros ou se o autor estiver sendo beneficiado com o seu próprio constrangimento (de alguma maneira).

5) Ausência de Benefícios: Existem relatos cujo historiador pode perceber que o autor foi beneficiado com o que escreveu. Esse tipo de relato não costuma ter crédito, já que, provavelmente, o autor investiu em uma mentira para obeter benefícios. Assim, se um documento claramente não traz nenhum benefício para quem o escreveu, ou até traz prejuízos, então é muito provável que o evento descrito é verídico. Ninguém irá mentir sobre algo se sua mentira não traz benefícios, ou pior, se traz prejuízos.

6) Dissimilaridade: Se um relato atesta o surgimento de uma ideia que causaria escândalo, irritação e até rejeição por parte da maioria das pessoas da época, é provável que esse relato seja verídico. Principalmente se o mesmo relato não somente atesta o surgimento dessa ideia escandalosa e irritante, mas a apóia. 

Note que o autor dar o seu apoio à ideia não significa que ele recebeu benefícios por isso. Na verdade, o apoio do autor a uma ideia escandalosa e que causou rejeição por grande parte das pessoas, é uma evidência de que o autor tinha algum bom motivo para apoiá-la. Esse motivo pode ter sido um benefício? Sim. E nesse caso, a obra não é digna de crédito. Mas se o autor apoiou essa ideia escandalosa e rejeitada por muitos, sem receber nenhum benefício pessoal, então isso é uma evidência de que o evento não somente foi verídico como importante o suficiente para que o autor resolvesse relatá-lo mesmo sem receber benefícios com esse relato. 

Se o autor, além de não receber benefícios com o relato, recebeu algum prejuízo por escrever a obra, o tamanho do prejuízo e a sua eminência nos dão ainda mais certeza de que o relato é autentico. Ninguém toma prejuízo à toa.

7) Concordância: Se um fato é atestado por vários documentos, eles não podem se contradizer. Quanto maior e mais grave o número de contradições, mais podemos ter certeza de que o fato real difere bastante de seus relatos (ou seja, o fato foi deturpado pelas várias fontes que o relataram). 

Aqui cabe uma observação imprescíndivel: a memória humana muitas vezes não tem condição de lembrar de detalhes secundários de um evento. Por exemplo, digamos que várias pessoas sejam testemunhas de um assalto um banco. Uma delas pode chegar à sua casa e contar: “O Banco foi assaltado hoje. Foram oito bandidos que praticaram o assalto. Entraram, pegaram o dinheiro e saíram num carro”. Outra pessoa, que também foi testemunha do evento, pode narrá-lo assim: “Eu vi um assalto no Banco hoje. Foram dez bandidos. Um ficou no carro, dois na porta, e sete entraram no Banco. Eles entraram, mataram um cara lá dentro do cofre, pegaram o dinheiro e saíram num carro”. Ainda uma outra pessoa pode dizer assim: “Vi um assalto no Banco. Foram dez bandidos que entraram lá. Pegaram o dinheiro, mataram três pessoas, feriram uma e depois disso eles foram embora”.

Perceba que os três relatos divergem uns dos outros em alguns detalhes, como na ordem dos acontecimentos, no número de bandidos que praticaram o crime, no número dos bandidos que entraram no banco e no número de pessoas que foram mortas. Porém, essas divergências não alteram o relato principal: o de que o Banco foi assaltado por um bom número de bandidos e houve violência lá dentro. As divergências em pormenores das descrições são somente um reflexo da nossa dificuldade de remontar com exatidão todos os fatos; também um reflexo da visão que nós tivemos do evento (às vezes o que eu vi, você não viu ou nós dois vimos, mas eu sou mais detalhista que você).

Portanto, o critério da concordância não deve ser usado de forma exagerada, mas apenas com o intuito de captar a mensagem principal. É a mensagem principal que deve estar em plena concordância. Aliás, divergências em pequenos detalhes são essenciais para que o historiador possa ter certeza de que os vários documentos que descrevem um fato foram escritos por pessoas diferentes (critério da múltipla comprovação).

A mesma coisa podemos dizer das cópias. A maior parte da história geral do mundo é reconstituída não por documentos originais (que, geralmente, se perdem no tempo), mas pelas cópias que se fizeram deles. Se as cópias são abundantes e a data delas é próxima à escrita dos originais, podemos ter certeza de que não houve nenhuma deturpação ao analisar as diferenças entre as cópias. Quanto mais iguais forem as cópias em seu conteúdo principal, mais podemos ter certeza de que a mensagem original do documento não foi adulterada com o passar do tempo.

8) Citações Próximas: Se o conteúdo de algum documento for citado em outros documentos de datação próxima ao fato ocorrido, é provável que o fato seja verídico, pois a confiabilidade do primeiro documento foi atestada por pessoas que viveram mais próximas ao evento do que nós, tendo mais condição de saber se os fatos eram verídicos ou se não eram.

9) Comprovação Inimiga: Se determinado evento é motivo de inimizade entre dois tipos de pessoa e ambos os tipos de pessoa descrevem este fato (cada um criticando o outro), isso quer dizer que o fato é verídico. Afinal, inimigos não tem interesse em se ajudar. Se alguém inventa um fato mentiroso, seu inimigo jamais escreverá algo que confirme essa mentira. Mas se o fato é verídico e é a razão da inimizade entre os dois grupos, então a citação do fato será usada por ambos os grupos. 

Independente de qual grupo esteja correto, sabemos que o fato oconteceu. Por exemplo, os militares achavam que era certo usar a repressão no período da ditadura brasileira. Mas muitos dentre o povo não achava. Não importa para a discussão qual era o grupo que estava correto. Sabemos que a repressão na ditadura militar é um fato, fato este que é atestado tanto pelo grupo favorável à repressão quanto pelo grupo contrário.

10) Citação de testemunhas: Se um documento cita os nomes das testemunhas de determinado fato e/ou oferece a localização das testemunhas para o leitor, ou ainda, lembra aos leitores que o fato teve testemunhas, incentivando-os a irem procurar essas testemunhas para argui-las, com certeza tal fato é verídico. Afinal, ninguém que inventa uma mentira, incentiva as pessoas a procurarem as testemunhas, dando ainda nomes e localizações. Então, se um documento cita testemunhas, ele é verídico. E quanto mais testemunhas forem citadas para um evento, mais digno de confiança é o fato relatado.

Os Documentos do Novo Testamento 

Ufa! Acho que falei de todos os critérios. O leitor deve estar cansado, né? Mas foi necessário. Agora, não teremos mais dúvida sobre como verificar se os documentos que atestam determinado fato são mesmo confiáveis (isto é, se podemos concluir através deles que o fato relatado realmente ocorreu dentro da história).

Agora, é preciso que o leitor saiba de outro ponto importante para o argumento da ressurreição: o Novo Testamento (e a Bíblia) não é um documento só escrito por só um autor. O Novo Testamento é um conjunto 27 livros e cartas que foram escritos de modo independente por pelo menos 8 autores diferentes. O motivo pelo qual tais documentos foram reunidos em um só compêndio é que eles tratam de assuntos semelhantes, complementares e coerentes com a primeira parte da Bíblia (o Antigo Testamento).

Bem, embora estes documentos sejam considerados sagrados e inerrantes pelos cristãos, na qualidade de historiador estes documentos deixam de ter um valor sagrado e passam a ser analisados como qualquer outro documento secular. Este é o trabalho do historiador. Ele não deve analisar o Novo Testamento como a Palavra de Deus (à priori), mas como um conjunto de documentos diferentes que podem ou não conter relatos de fatos verídicos. E como é que podemos saber se os documentos são confiáveis e contém eventos reais? Usando os dez critérios que acabamos de estudar. Se os relatos do Novo Testamento passarem por esses critérios, não há motivo para nós desconsiderarmos o que esses documentos dizem. Vamos usar os critérios, então?

Analisando os fatos do Novo Testamento

Não há espaço aqui para analisar os documentos em sua totalidade. Então, eu irei me concentrar apenas naqueles seis fatos que eu afirmei que a maioria dos historiadores concordam com sua veracidade (ou seja, são históricos). Só para lembrar, os seis fatos são esses: (a) a existência de Jesus; (b) a sua morte numa cruz; (c) o seu sepultamento em uma tumba pertencente a José de Arimatéia; (d) a constatação, três dias depois, de que a tumba estava vazia; (e) os relatos das aparições de Jesus após a morte; (f) o início da crença dos primeiros cristãos de que Jesus havia ressuscitado.

Agora, vamos às análises desses fatos básicos:

A) A existência de Jesus: Este fato é confirmado não só pelos documentos de autores cristãos que viveram no primeiro século, mas também por diversos autores não cristãos (a maioria, inclusive, bem hostil ao cristianismo) que, em seus escritos, citaram um homem judeu chamado Jesus que pregou uma nova filosofia, que foi morto em uma cruz e que gerou o movimento cristão. Não há espaço para pôr os escritos aqui (o farei em breve em uma série de postagens sobre quem foi Jesus), mas posso citar os autores. 


A começar pelos autores não-cristãos, temos os escritos do historiador judeu Flávio Josefo (37 d.C – 100 d.C); do historiador romano Cornélio Tácito (55 d.C – 120 d.C); de Caio Plínio II, governador da Bitínia (61 d.C – 114 d.C); de outro historiador romano chamado Suetônio (69 d.C – 141 d.C); do escritor satírico Luciano de Samósata (125 d.C – 181 d.C) e etc. Há ainda os comentários de Talmudes Judaicos (que eram códigos de discussões rabínicas), nos quais Jesus é citado em alguns trechos, sempre apontado como um judeu apóstata e herege que não deveria ser seguido por nenhum judeu ortodoxo.

Então, aqui já vemos que os critérios para confiabilidade das fontes foram muito bem encontrados já nas fontes não-cristãs. São documentos antigos, múltiplos, coerentes nas informações principais, escritos por adversários dos cristãos (judeus e pagãos) que não tinham o mínimo interesse em defender o cristianismo, que relatam eventos dentro de contextos históricos e etc.

Quanto aos autores cristãos, temos os escritos de pelo menos 8 autores diferentes no Novo Testamento (Mateus, Marcos, Lucas, João, Paulo, Tiago, Pedro e Judas), que são os documentos mais antigos que temos sobre Jesus. Além desses, temos os escritos dos primeiros teólogos da Igreja (chamados de “pais da Igreja”) que chegaram a viver em parte do primeiro século. Entre eles, Clemente, Inácio, Policarpo, Papias e etc.

Os “céticos” leigos costumam a criticar o estudo desses documentos escritos por cristãos, dizendo o seguinte: “Eles não são dignos de confiança porque foram escritos pela parte interessada. Ou seja, eram beneficiados com os relatos que faziam. Por isso, devem ter inventado todos esses relatos”. Só que esses “céticos” esquecem que os primeiros cristãos não foram beneficiados em nada ao escrever e divulgar esses relatos.

Quem lê o Novo Testamento e estuda um pouco de história, sabe que os cristãos do primeiro, segundo, terceiro e início do quarto século, foram fortemente hostilizados por judeus (de onde vieram) e por pagãos. Havia perseguição física, havia prisões, havia martírio, havia tortura e havia morte. Propagar o cristianismo nos primeiros séculos era, em muitos casos, como propogar o cristianismo em países anti-cristãos contemporâneos como a Coréia do Norte e a Arábia Saudita. Não há benefícios para quem propaga essas ideias nesses países.

O “cético” aqui faz algo ridiculo. Ele aplica o seu contexto ao contexto daquela época. Hoje, sobretudo no ocidente, abrir uma igreja é algo que dá dinheiro. As pessoas estão familiarizadas com o cristianismo, existe certa tolerância aos cristãos e, por isso, é fácil abrir uma igreja, enganar muitas pessoas e enriquecer com o dízimo delas. Mas na época do surgimento do cristianismo até antes do governo romano se tornar cristão (no quarto século), o contexto era totalmente diferente. Quem escolhia ser cristão estava su-jeito à pobreza, perseguição, injúrias, hostilidade, ridicularização, rejeição etc. As ideias cristãs, tanto para judeus, quanto para pagãos, eram afrontas às suas crenças tradicionais, seu modo de viver e seu modo de pensar.

Então, dizer que os escritos dos primeiros cristãos não são dignos de confiança porque eles eram a parte interessada é de uma tolice sem tamanho. Eles são dignos sim de confiança, justamente porque não havia nenhum benefício que poderiam ganhar ao escrever aqueles relatos. De fato, a maior parte desses escritores foram martirizados e mortos por causa do que escreveram.

Então, observe bem como todos os critérios se satisfazem quando analisamos os documentos do Novo Testamento e dos pais da Igreja: todos eles apresentam descrições detalhadas do contexto em que Jesus viveu (tal como do contexto do qual emergiu o cristianismo); temos mais de 12 autores diferentes atestando que Jesus existiu; os relatos são de documentos bem antigos; a escrita e divulgação dos relatos não trouxe benefícios para os autores; existia ampla concordância dos escritores no que diz respeito a fatos básicos sobre Jesus; havia vastas citações dos documentos do Novo Testamento pelos pais da Igreja ainda no primeiro século; havia vasta citação de testemunhas dos eventos pelos autores (vamos ver isso melhor a diante); e não existia motivo para que a invenção de uma mentira, já que os ensinos de Jesus irritava a maioria dos judeus e dos pagãos.

Portanto, concluímos que a existência de Jesus é um fato histórico inegável, pois todos os critérios para avaliação de documentos utilizados pelos historiadores são plena-mente satisfeitos na análise dos documentos antigos que falam sobre Jesus. Somente um desonesto intelectual poderia negar a historicidade de Jesus depois destas evidências.

B) A morte de Jesus em uma cruz: Do mesmo modo que documentos cristãos e não-cristãos do primeiro e segundo século atestam que Jesus existiu, também atestam que ele foi condenado à morte de cruz e assim morreu. Todos os nomes que citamos na avaliação acima, ao falarem de Jesus, citaram essa sua morte condenatória. Deste modo, os critérios de contexto histórico, multiplicidade, ausência de benefícios, comprovação inimiga e todos os outros que já vimos se aplicam também a este fato. Portanto, a morte de Jesus em uma cruz também é inegável historicamente.

C) O sepultamento em uma tumba de José de Arimatéia: Este fato é atestado explicitamente pelos quatro evangelhos e implicitamente pelo apóstolo Paulo. Ou seja, é um fato atestado por documentos antigos e múltiplos. Fora isso, dificilmente os cristãos da época inventariam esse sepultamento em uma tumba pertencente a José de Atimatéia, em primeiro lugar, porque era desonroso que alguém não fosse sepultado na tumba de sua própria família. Em segundo lugar, porque José de Arimatéia era um membro do Sinédrio (o tribunal religioso judaico que condenou Jesus). 

Se já era vergonhoso para os seguidores de Jesus verem seu mestre ser sepultado em uma tumba de alguém que não era seu familiar, muito mais vergonhoso e odioso era para os discípulos ver seu mestre sendo posto em uma tumba de alguém que fazia parte do tribunal que matou. Tal história, portanto, jamais seria inventada por nenhum autor cristão da época. Se tal fato foi relatado é porque ele realmente ocorreu.

Então, vemos aqui que foram satisfeitos os critérios de multiplicidade, contexto histórico, antiguidade, citação e localização de testemunhas, constrangimento, ausência de benefícos e etc. O que eu não citar será para não ser redundante, mas o leitor já tem as ferramentas e pode avaliar por si mesmo.

D) A tumba vazia: A constatação da tumba vazia, três dias após o sepultamento de Jesus, é relatada também pelos evangelhistas e por Paulo em diversas cartas. Mas a lógica é igualmente importante para a confiabilidade desse relato. Se Jesus não tivesse sumido da tumba, ninguém sairia espalhando por aí que Jesus ressuscitou. A certeza da ressurreição de Jesus entre seus seguidores surge, em primeiro lugar, pela constatação da tumba vazia.

Há outro detalhe que nos dá a certeza de que a tumba realmente foi encontrada vazia. Os quatro evangelistas afirmam que as primeiras testemunhas deste fato foram mulheres (dentre elas, Maria Madalena, ex-prostituta). O problema é que no contexto judaico da época as mulheres não tinham nenhum valor como testemunha. Na verdade, as mulheres não eram valorizadas em quase nenhum aspecto. Elas serviam somente para agradar o seu marido e cuidar dos filhos.

Assim, se os evangelistas tivessem inventado a história do túmulo vazio, é certo que não colocariam mulheres como as primeiras testemunhas. Isso não só iria contrariar o pensamento patriarcal e machista da época (o que é improvável que autores de índole mentirosa fizessem), como seria burrice, pois não haveria valor em um testemunho dado por mulheres. Pouquíssimas pessoas dariam crédito ao testemunho.

Mas, se mesmo sendo contrário ao pensamento da época, constrangedor para os seguidores homens e um ponto desfavorável em sua pregação, ainda assim, o relato das mulheres como testemunha do túmulo vazio foi feito pelos escritores, tudo isso mostra que eles estavam sendo sinceros. O fato realmente ocorreu.

E) Os testemunhos das aparições de Cristo: As aparições de Cristo após a sua morte são relatadas explicitamente pelos quatro evangelistas e por Paulo. Segundo eles, várias pessoas viram Jesus após morto, num período de 40 dias. São citados como tendo visto Jesus após a morte Maria Madalena e mais um grupo de mulheres, Pedro e mais os outros discípulos, dois seguidores de Jesus no caminho de um vilarejo chamado Emaús, Tiago (um dos irmãos de Jesus), o apóstolo Paulo e cerca de mais 500 pessoas. 

Vários pontos desses relatos dão credibilidade ao fato. Primeiro, temos múltiplos relatos de que diversas pessoas diferentes viram Jesus após a morte. Se fosse apenas um relato, talvez pudéssemos dizer que foi uma invenção. Se o relato tivesse sido escrito muito tempo depois do fato, poderíamos dizer que não é confiável. Se o relato não des-crevesse um contexto histórico, poderíamos apontá-lo como mito. Mas o que nós temos são múltiplos relatos, coerentes em suas informações principais, com um contexto muito bem definido e escritos praticamente na mesma época dos eventos. Ou seja, não há nada aqui que nos leve a crer que tais relatos não são confiáveis.

Segundo, os relatos dizem que diversas pessoas viram Jesus após sua morte. Se fosse uma ou duas, ou mesmo meia dúzia, não ao mesmo tempo, poderíamos dizer que foram alucinações. Só que, no total, foram mais de 500 pessoas que o viram após a sua morte. E na maioria das suas aparições, havia sempre mais de uma pessoa presente. Não podemos dizer que se tratou de diversas alucinações coletivas. Ora, alucinações não são efeitos psicológicos coletivos nos quais todas as pessoas de um lugar veem exatamente a mesma coisa. Alucinações são individuais porque cada um tem seu próprio cérebro e suas próprias sensações. Ou seja, as pessoas desses relatos realmente devem ter visto Jesus após a sua morte.

Terceiro, o apóstolo Paulo em sua primeira carta aos Coríntios 15:3-5, não só oferece o nome de algumas das testemunhas das aparições de Jesus, afirmando ainda que mais de 500 pessoas chegaram a vê-lo de uma só vez, mas também atesta que a maioria dessas pessoas ainda vivia quando ele escreveu a carta (ou seja, um convite para o leitor investigar se realmente os fatos eram verídicos).

Quarto, não havia motivo para que os primeiros seguidores de Jesus inventassem suas aparições. Eles não iriam ganhar dinheiro ou status. E mesmo que tivessem feito isso apaenas por orgulho, para limpar o nome de seu mestre, que havia sido condenado injustamente, isso não explica o porquê persistiram nessa mentira a ponto de sofrerem e morrerem por ela. Na verdade, não faz sentido acreditar que o cristianismo logrou êxito em meio a tantas e terríveis perseguições baseado em um fato que mais de 500 pessoas sabiam que era mentira. Ainda mais quando nos lembramos que essas pessoas criam em Deus. Ou seja, se estivessem mentindo, sabiam que Deus as cobraria por isso.

Bem, tudo isso mostra que, de fato, muitas pessoas experimentaram aparições de Jesus após a sua morte, inclusive alguns dos próprios autores desses documentos. E os critérios, como o leitor está vendo, estão sendo satisfeitos nesses relatos.

F) A crença na ressurreição de Jesus entre os discípulos: Este é o último fato que vamos analisar. Como os outros, ele também é inegável historicamente. É atestado por todos os documentos que compõem o Novo Testamento, assim como por todos os documentos escritos pelos pais da Igreja e também por documentos de alguns daqueles autores não cristãos que citamos na análise do primeiro fato. De fato, o próprio Paulo afirma que a crença na ressurreição de Jesus é motivo pelo qual o cristianismo passou a existir (I Coríntios 15:12-19); e a pregação dos primeiros cristãos era centrada justamen-te neste ponto – Jesus ressuscitou dentre os mortos.

Então, não há dúvida de que os discípulos de Jesus e os primeiros cristãos, desde cedo mantiveram a crença de que Jesus ressuscitara dentre os mortos. Este é o motivo pelo qual o cristianismo começou a existir. E em que se baseava essa crença? Ora, ela se baseava na constação do túmulo vazio pelos discípulos e nas aparições que eles e várias pessoas experimentaram juntas, em diversas ocasiões. Como os relatos das aparições e do túmulo vazio são confiáveis, então a crença sincera dos discípulos na ressurreição de Jesus também é confiável. Tratam-se de fatos históricos.

Ou seja, o relato da crença na ressurreição de Jesus entre os primeiros cristãos é confiável por se basear em outros fatos confiáveis que levaram os discípulos a terem tal crença e também porque o próprio relato da crença em si satisfaz os critérios de confiabilidade, tais como: multiplicidade dos relatos, antiguidade das fontes, coerência nas informações principais, citação de testemunhas, comprovação inimiga e etc. Não existem motivos plausíveis para se opor ao relato dessa crença.

Agora, a grande questão é: Qual é a melhor explicação para esses fatos? Porque o leitor deve notar que até agora eu não concluí que Jesus ressuscitou. Eu apenas citei os fatos históricos de que Jesus existiu, foi morto em uma cruz, sepultado, a sepultura foi encontrada vazia três dias depois, várias pessoas experimentaram visões dele após a morte e, por causa disso, os discípulos passaram a crer em sua ressurreição. Esses são os fatos. São inegáveis. Mas a partir desses fatos, posso concluir que Jesus ressuscitou?

É aqui que entramos na segunda premissa do argumento. Lembra-se dela? Diz assim: tais fatos históricos necessitam de uma explicação. Por que Jesus não estava no túmulo em que fora posto? Como o corpo saiu de lá? Como várias pessoas puderam ver Jesus após a sua morte? Por que surgiu a crença de que Jesus havia ressuscitado? É necessário achar uma explicação plausível para todos essas questões.

O argumento da ressurreição afirma que a melhor explicação para esses fatos é que Jesus realmente ressuscitou dentre os mortos. Mas será que é? Vamos ver...

Qual a melhor explicação para os seis fatos?

O que vamos fazer agora é simples. Vamos comparar diversas explicações que já foram dadas para esses fatos com a explicação de que Jesus realmente ressuscitou. Qual será a explicação mais plausível e lógica?

A) Os discípulos roubaram o corpo de Jesus: Os que sustentam tal explicação, dizem que os discípulos teriam roubado o corpo justamente porque queriam espalhar o mito de que Jesus ressuscitara. Só que isso não explica as aparições experimentadas por muitos. Já vimos que não havia motivos para que os discípulos e os primeiros cristãos pregassem tamanho número de mentiras que em nada os beneficiava. E eles sabiam que se as pregassem, iriam ter problemas. Então, o que os motivava não poderia ser um fato inventado. As aparições eram reais. A crença na ressurreição era real. 

Fora isso, é de suma importância ressaltar que inventar a ressurreição corporal de um homem que foi crucificado, apontá-lo como sendo o Messias prometido ao povo judeu e ainda colocá-lo na posição de um ser divino (o próprio Deus encarnado), era a coisa mais idiota que uma pessoa poderia fazer ou pensar no primeiro século. Tão idiota quanto seria um cozinheiro tentar apagar um incêncio em sua cozinha com uma garrafa de álcool. Vou explicar o porquê.

Em primeiro lugar, a crucificação era a pior punição que uma pessoa poderia receber na época. Só os piores criminosos iam para a cruz. A palavra cruz chegava a ser uma palavra obscena, por conta do caráter dessa punição. A pessoa que ia para uma cruz era desprezada pela sociedade. Ela era um lixo humano, um esterco. Desta forma, falar sobre um Deus que se fez homem e morreu... Ainda por cima em uma cruz... Era algo totalmente inimaginável e absurdo. Sendo assim, nenhum discípulo jamais imaginaria (e se imaginasse, jamais colocaria em prática) espalhar essas ideias, a não ser que fossem verídicas. 

Para os pagãos, tal ideia era risível. Os deuses pagãos eram heróis. Se um Deus descesse do céu, jamais poderia morrer em uma cruz. Isso seria a prova cabal de que ele era um deus fraco ou, mais provável, mero homem. Para os judeus, tal ideia era ofensiva e blasfêmica. Os cristãos afirmavam que Deus e Jesus eram um só e que esse Jesus era o Messias esperado pelas profecias judaicas. Mas isso contradizia toda a teologia judaica da época. Os judeus do primeiro século acreditavam que quando o Messias viesse, iria assumir o trono de Israel, lutar contra os romanos (que os dominava) e elevar a nação ao seu ápice. Essa era uma das crenças mais fortes entre os judeus da época. 

Então, a morte de Jesus na cruz foi uma completa catástrofe para os aqueles que seguiam Jesus. Eles eram judeus. Mantinham a interpretação judaica da época sobre o Messias. Se Jesus morreu em uma cruz, isso era a prova cabal para todas as pessoas de que Jesus não fora ninguém importante. Ele não poderia ser o Messias que exaltaria a nação judaica e muito menos Deus. O nome de Jesus estava completamente manchado com a sua morte na cruz. Inventar que ele havia ressuscitado, que era Messias e que era o próprio Deus seria algo tão idiota que ninguém teria capacidade de pensar nisso.

Aliás, muitos homens surgiram na história proclamando-se o Messias. Eles jun-taram seguidores, mas quando morreram, o movimento minguou, alguns voltando para suas antigas atividades, outros crendo que o Messias poderia ser alguém da família do homem que morreu. Mas uma coisa era certa entre todos os judeus: se aquele que se autoproclamava o Messias morreu, ele não era realmente o Messias. Dizer o contrário disso era totalmente ilógico. E dizer que o homem que morreu era um ser divino... Era blasfêmia das mais terríveis.

Em segundo lugar, a crença na ressurreição corporal não era uma crença comum no primeiro século. Entre os pagãos ninguém cria nisso. Achava-se que o corpo de uma pessoa morria, mas seu espírito (fantasma) permanecia vivo. Esse espírito era imortal e poderia reencarnar em um novo corpo, nascendo de novo. Mas aquele corpo antigo, já era, iria se decompor. Essa crença era tão forte entre os pagãos que em diversas passagens do Novo Testamento vemos uma ridicularização por parte deles à ideia de ressurreição corporal (Atos 17:18, 31-32 e 26:8, 22-25; I Coríntios 1:22-23 e 15:12-20).

Entre os judeus, pelo menos nessa época, a ressurreição corporal era aceita, mas entendida como algo que só ocorreria no dia do juízo final. Era a ressurreição dos mortos justos após a vinda do Messias, a destruição dos inimigos e a exaltação de Israel, que daria início ao Reino de Iavé. Alguns até podiam aceitar que era possível Deus ressuscitar uma pessoa ou outra antes disso, por meio de um profeta, como sinal de que o profeta era de Deus (como Deus fez em raras ocasiões no Antigo Testamento). Porém, essa ressurreição seria temporária. A pessoa ressurreta viveria sua vida, envelheceria e morreria novamente. 

Esse era o máximo em que um judeu do primeiro século poderia acreditar no que tange à ressurreição corporal. Ainda assim, poucos eram os que atentavam para essa hipótese, pois já havia séculos que isso não ocorria. Tanto que na ocasião em que Jesus diz que Lázaro irá ressuscitar, Marta entende que Jesus está falando da ressurreição do último dia (João 11:20-26). Esta passagem deixa bem claro que ninguém cria que Jesus poderia levantar seu amigo Lázaro dentre os mortos. 

Então, quando Jesus morreu, a última coisa em que seus discípulos e seguidores pensariam era em inventar a sua ressurreição corporal. Ainda mais uma ressurreição na qual Jesus jamais morreria novamente, mas iria para o céu. Para ser mais claro, dentro do contexto da época, essa ideia não tinha como surgir de nenhum lugar. Cabe perguntar aqui: que mente seria tão criativa e, ao mesmo tempo, tão imbecil para inventar uma ressurreição corporal desse tipo e espalhá-la, sabendo que isso iria se chocar com tudo o que se pensava naquele contexto?

Então, veja quantas ideias estranhas ao pensamento corrente na época os discí-pulos e primeiros cristãos pregavam: um Messias que veio e não se tornou rei de Israel, nem venceu os inimigos, nem exaltou a nação. Um Messias que veio, foi embora e não iniciou a nova era, na qual os mortos justos ressuscitariam. Um Messias que era divino e, no entanto, morreu em uma cruz. Um Messias que ressuscitou primeiro que todo mundo para a vida eterna e que foi para o céu (em vez de assumir o trono). Quem iria se dispor a pregar essas loucuras se não tivessem ocorrido de verdade? E como o cristianismo iria se desenvolver e chegar até os dias de hoje, tornando-se a maior religião do mundo, com uma pregação tão cheia de “pontos fracos”, se Deus não estivesse do lado dos primeiros cristãos, ajudando-os com o forte poder de seu Espírito Santo? É de se pensar...

B) Os familiares de Jesus pegaram o corpo: Quem usa essa explicação, afirma que os familiares de Jesus teriam pego seu corpo para dar-lhe um enterro digno em uma tumba da família. Sem saber disso, quando os discípulos viram o túmulo vazio, creram que Jesus havia ressuscitado e saíram espalhando isso. Mas essa explicação tem vários problemas. Primeiro, ela também não explica as visões que várias pessoas tiveram de Jesus. É até bom lembrar que essas visões não foram apenas visões. Na maioria delas, Jesus permitiu que tocassem nele e até se alimentou. O que explica mais de 500 pessoas terem essas experiências?

Segundo, ela não explica porque os parentes de Jesus não disseram aos discípu-los que, na verdade, eles pegaram o corpo para sepultá-lo. É uma mal entendido fácil de se resolver. Fora isso, é muito pouco provável que a simples constatação da tumba vazia fizesse todos os discípulos crerem que Jesus ressuscitou. Maria Madalena, por exemplo, ao ver o túmulo vazio, correu para contar aos discipulos e afirmou o seguinte: “Tiraram do sepulcro o Senhor, e não sabemos onde o puseram” (João 20:2). Depois, quando as mulheres contaram que viram Jesus, o evangelista Lucas relata: “Tais palavras lhes pareciam um cmo delírio, e não acreditaram nelas” (Lucas 24:11). Marcos diz a mesma coisa em seu evangelho: “Estes, ouvindo que ele vivia e que fora visto por ela [Maria Madalena], não acreditaram” (Marcos 16:11). Mais tarde, o discípulo Tomé, ao ouvir dos discípulos que eles tinham visto Jesus, lhes disse: “Se eu não vir nas suas mãos o sinal dos cravos, e ali não puser o dedo, e não puser a mão no seu lado, de modo algum acreditarei” (João 20:25). 

Terceiro, é pouco provável que um parente de Jesus tivesse ido até o túmulo no dia de sábado. Sábado era o dia sagrado de descanso dos judeus. No primeiro século, era um mandamento cumprido à risca. Como Jesus foi sepultado um pouco antes do pôr do sol de sexta (que já era considerado fim da sexta e início do sábado), então os parentes de Jesus certamente esperariam até domingo para pegarem o corpo. De fato, Lucas faz uma afirmação que corrobora com essa noção:
Era o dia da preparação [sexta] e começava o sábado. As mulheres que tinham vindo da Galiléia com Jesus, seguindo, viram o túmulo e como o corpo fora ali depositado. Então, se retiraram para preparar aromas e bálsamos. E, no sábado, descansaram, segundo o mandamento (Lucas 23:54-56).
Se nenhum parente de Jesus foi ao túmulo durante o sábado, então não pode ter sido algum deles que pegou o corpo, pois já no domingo de manhã, Jesus não estava lá, e a primeira pessoa a ir ao túmulo, bem cedo, foi Maria Madalena e não um parente de Jesus.

Quarto, há uma possibilidade de que durante o sábado o túmulo tenha sido guar-dado por uma escolta. É o que lemos em Mateus 27:62-66. O evangelista afirma que os líderes religiosos que condenaram Jesus pediram uma escolta para Pilatos, a fim de que o túmulo fosse guardado, justamente para que os discípulos não roubassem o corpo. A escolta foi dada, segundo o relato. Se considerarmos o relato como verídico (esse relato só aparece no evangelho de Mateus, carecendo de múltiplas comprovações), então não houve possibilidade alguma de que pegassem o corpo no sábado.

C) Os romanos pegaram o corpo: Aqui começam as exlicações desesperadas dos “céticos”. A afirmação é: os romanos pegaram o corpo de Jesus. Mas por que os romanos iriam roubar o corpo de um homem que foi crucificado? Que interesse teriam no corpo de um mero judeu que foi condenado à pior morte da época? Não faz sentido nenhum isso. Além disso, essa hipótese não explica as aparições experimentadas pelos discípulos e pelos primeiros cristãos. 

D) Os líderes judaicos pegaram o corpo: Essa é uma das mais fracas hipóteses que se pode postular. Os líderes judaicos eram as últimas pessoas da face da terra que iriam querer roubar o corpo de Jesus. O que eles mais queriam já havia sido feito: Jesus, o homem que odiavam, estava morto. Não havia motivo para pegar o corpo. Do ponto de vista da lógica, inclusive, é bem mais provável que eles tenham feito conforme lemos em Mateus 27:62-66: pediram a Pilatos uma escolta para o túmulo a fim de evitar que qualquer seguidor roubasse o corpo e inventasse a ressurreição (que era algo que Jesus dissera que faria, embora nem os próprios discipulos acreditassem).

Também deve ser dito aqui que essa hipótese também não explica as aparições de Jesus experimentadas por mais de 500 pessoas. Contudo, ainda que desconsideremos isso e aceitemos que os líderes judaicos (ou mesmo os romanos) roubaram o corpo por algum motivo qualquer, seria fácil que eles mostrassem o corpo para as pessoas quando os discípulos começassem a pregar a ressurreição. Assim, ninguém mais daria crédito à pregação.

E) Jesus não morreu na cruz, apenas desmaiou: Quem sustenta essa hipótese, afirma que Jesus não teria morrido de verdade, mas desmaiado. Com isso, ele mesmo poderia ter saído da tumba e suas aparições se dariam porque ele estava vivo. Bem, esta hipótese também é frágil. Primeiro, porque dificilmente os soldados não perceberiam que Jesus não morreu. Na verdade, eles devem ter verificado se Jesus morreu ou não com um cuidado especial. Afinal, a morte de Jesus havia sido prematura; uma pessoa na cruz costumava demorar uma semana para morrer. De fato, o evangelho de João relata que um dos soltados abriu o lado do corpo de Jesus com uma lança, provavelmente para averiguar se ele realmente estava morto (João 19:31-37).

Além disso, se realmente Jesus tivesse sobrevivido à cruz, era de se esperar que não tivesse forças para sair do túmulo. Segundo os relatos, havia uma grande pedra na entrada da gruta onde seu corpo fora depositado. Como é que alguém que foi açoitado, espancado e crucificado, tendo desmaiado de tanta fraqueza, teria força para retirar a pedra que tampava seu túmulo? Sobretudo, se realmente havia ali uma escolta. Caso ele conseguisse tal proeza, seria morto pelos soldados.

Ainda devemos ressaltar que a hipótese não explica a última aparição de Jesus aos discípulos, na qual ele ascende aos céus. A não ser que Jesus fosse um ser divino ou um profeta muito poderoso, não poderia fazer isso. Também não explica suas aparições corporais em que, embora corporais, ele aparecia e desaparecia. Se a ideia é explicar os fatos sem recorrer ao sobrenatural, essa hipótese falha feio.

Ora, mesmo que considerássemos que Jesus desmaiou, que ninguém percebeu que ele estava vivo, que o colocaram numa tumba e que mesmo fraco, conseguiu tirar a pedra e sair, isso não explicaria a crença na ressurreição entre os discípulos, já que Jesus teria aparecido todo “ferrado”. Iriam achar apenas que ele sobreviveu de uma maneira milagrosa. 

A hipótese também não explicaria o “sumiço” de Jesus. Se Jesus não tivesse morrido, os discípulos iriam cobrar dele que assumisse o trono. E, pela lógica, se Jesus era apenas um homem normal, a ideia seria boa. Em vez de viver se escondendo, ele poderia retornar à cidade, mostrando que Deus não deixou que ele morresse e, juntando os judeus para livrar Israel da opressão romana. Isso sem dúvida converteria quase todos os judeus, talvez até quem concordou com sua morte. Afinal, era o que a interpretação da época achava que o Messias faria.


F) Jesus tinha um irmão gêmeo: Essa hipótese eu vi em um debate. Segundo ela, se Jesus tivesse um irmão gêmeo, ele poderia ter sido confundido com Jesus após a sua morte. Isso explicaria as “aparições de Jesus” e a origem da crença dos discípulos na ressurreição. Essa hipótese também falha. Primeiro, porque não há nenhuma evidência histórica que comprove a existência desse irmão gêmeo. Segundo, porque essa hipótese não explica a constatação do túmulo vazio. Se Jesus morreu mesmo, devia estar lá, não é? Terceiro, se Jesus tinha um irmão gêmeo, é pouco provável que os discípulos não soubessem disso. Os discípulos conheciam a família de Jesus. Então, se vissem o irmão de Jesus, é claro que não pensariam que ele era Jesus. Quarto, o próprio irmão de Jesus não teria interesse de se passar por ele. O que ganharia se passando por um crucificado que quase todo mundo rejeitou? Aliás, é importante lembrar que os irmãos de Jesus não criam nele. Então, nem por questão de honra, seu suposto irmão gêmeo se interessaria em se passar por ele.

G) A ressurreição de Jesus: Chegamos, enfim, à hipótese de que Jesus teria ressuscitado dentre os mortos. Será que ela consegue explicar os fatos? Sim. Ela explica porque Jesus não estava mais em seu túmulo no domingo de manhã, porque mais de 500 pessoas tiveram experiências de ver Jesus após a sua morte e porque os discípulos e primeiros cristãos mantinham a crença da ressurreição.

Mais do que isso, essa hipótese explica porque os discípulos e primeiros cristãos pregavam ideias tão estranhas e ilógicas ao pensamento da época, tais como um Messias que não assumia o trono de Israel e que ainda morria crucificado. Explica ainda porque mesmo sendo um homem de carne e osso, que “falhou” em sua missão de Messias e que foi crucificado, Jesus foi considerado divino. Também explica porque os discípulos pre-gavam uma ressurreição corporal de Jesus, quando seriam mais bem aceitos se falassem sobre um “Jesus-fantasma”.

A ressurreição de Jesus explica os fatos, explica a insistência dos discípulos em ideias que entravam em choque com as crenças da época e explica porque os discípulos estavam dispostos a sofrerem hostilidade, perseguição e mortes. Os primeiros cristãos estavam comprometidos com a verdade. E a verdade era que eles tinham testemunhado a ressurreição corporal de Jesus. Então, por mais estranho, esquisito e perigoso que falar sobre isso para o mundo pudesse parecer, os discípulos iriam anunciar essa verdade com toda a intensidade. Isso explica, por fim, a existência e a duração do cristianismo.

Considerações Finais

Chegamos ao fim da explicação do argumento. Agora podemos falar sobre como alguém poderia refutá-lo. Temos duas premissas e uma conclusão. A primeira premissa afirma que existem alguns fatos históricos sobre Jesus que são bem confiáveis e, por isso, aceitos pela maioria dos historiadores. A segunda afirma que esses fatos precisam de uma explicação. A conclusão é que a melhor explicação é a da ressurreição.

A segunda premissa é inquestionável. Fatos requerem explicações e isso se torna bem claro quando temos fatos que não se explicam por si próprios. A conclusão parece ser bem sólida também. Afinal, qualquer explicação naturalista para aqueles seis fatos não explica todos os eles. Então, creio que o ponto que está mais sujeito à crítica é o primeiro. Será que esses seis fatos sobre Jesus são realmente históricos?

Bem, não vimos razões para achar que não. Expus aqui os dez critérios básicos que os historiadores usam para definir um fato como histórico e confiável. Mostrei que esses seis fatos são amplamente apoiados por esses critérios. Então, para refutar o argumento, é necessário que o crítico mostre porque um desses fatos não deveria ser considerado histórico. Ou, quem sabe, tentar achar uma explicação mais plausível para eles do que a ressurreição.

Aqui, vale lidar com uma objeção. Alguém afiramr que um historiador não deve pressupor a existência de Deus e que, por isso, não é válido eu colocar a ressurreição como uma explicação possível. Mas sejamos honestos: se um historiador não pode pressupor a existência de Deus (e concordo), também não pode pressupor a sua inexistência, não é verdade? O historiador deve ser neutro. E foi isso o que fiz. O fato de eu colocar a hipótese da ressurreição ao lado de hipóteses naturalistas mostra que fui neutro. Apenas estava considerando as principais hipóteses para escolher qual era a melhor.

O ponto é: a melhor hipótese é da ressurreição. Não vejo então motivos racionais para não aceitá-la. Isso não é uma pressuposição. Isso é hipótese apoiada por evidências plausíveis. Então, não vejo fundamento nessa objeção.

No mais, quanto à possibilidade ou não de existir Deus, já vimos cinco argumen-tos que mostram, de maneira bem racional, que não só é possível que Deus exista como é necessário no que tange a lógica. Então, por mais que não se pressuponha a crença em Deus, quando chegamos ao ponto em que só a ressurreição de Jesus consegue explicar os fatos históricos que temos nas mãos, é nossa obrigação racional aceitar essa hipótese, não importando no que isso implicará emocionalmente para nossas vidas.
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* Para o argumento da ressurreição, nós focamos apenas em documentos manuscritos, mas no estudo da história, objetos, desenhos e pinturas também servem para documen-tar eventos antigos.
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Bibliografia: 
Nesta postagem, diferentemente das outras, eu não fiz nenhuma citação direta de livros, artigos ou autores. Mas como fiz uma ampla pesquisa para escrever o texto, acho justo colocar aqui as minhas principais fontes (não são todas, pois, alguns conhecimentos que tenho, já não lembro mais de onde retirei).

1. Debate: Dr. Craig x Dr. Ehrman - Is There Historical Evidence for Resurrection? (Existe evidência histórica para a ressurreição?); College of the Holy Cross, Worcester, Massachusetts, EUA – 2006. – Presente no link: http://descontradizendocontradicoes.blogspot.com.br/2010/10/debate-william-lane-craig-x-barth-d.html

2. J . P. Holding, A fé impossível ou como não criar uma religião (Artigo presente no link:


3. Palestra: As Origens Cristãs e a Ressurreição de Jesus: A Ressurreição de Jesus como um Problema Histórico. – N. T. Write (presente no link:

4. F. F. Bruce, Merece Confiança o Novo Testamento? – Ed. Vida Nova, 2010 (Terceira Edição).
5. Alguns artigos sobre ressurreição lidos no site: http://mauevivian.blogspot.com.br