terça-feira, 27 de novembro de 2012

Afinal, quem foi Jesus? - Parte 3: Mais que um simples homem

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Vimos na última postagem que Jesus também não poderia ter sido apenas um grande mestre da moral, nem um grande mentiroso e nem um grande lunático. Todas essas alternativas falharam feio. O que nos resta, então? Bem, agora não há mais como negar que Jesus era algo mais do que um homem como qualquer outro. Jesus, com certeza, tinha alguma ligação com o sobrenatural. Há três opções aqui: (a) Jesus teria sido alguém com influência satânica – a hipótese judaica; (b) Jesus teria sido um profeta de Deus, mas não divino – hipótese islâmica; (c) Jesus era (e é) parte do próprio Deus – hipótese cristã. Nesta postagem, vamos analisar as três.


A) Possuído por demônios



Quando lemos o Novo Testamento, vemos que os líderes judaicos (que, em sua maioria, não gostavam de Jesus) não negavam que Jesus fazia milagres. Os milagres de Jesus eram conhecidos do público judeu e esse era um dos motivos pelo qual a popularidade de Jesus foi consideravelmente alta até antes de ser crucificado. O motivo pelo qual a maioria dos judeus parou de crer em Jesus, deixando uma forte tradição anticristã para as gerações futuras, foi a sua morte na cruz. Precisamente aquilo que seria o ponto principal de pregação dos cristãos algumas semanas depois, passou a ser a principal razão da recusa judaica em aceitá-lo como Messias.



Quanto aos líderes, eles faziam oposição a Jesus desde antes de sua crucificação. A razão era a atitude de Jesus quanto a eles. Jesus costumava criticá-los por hipocrisia, não os bajulava (como a maioria fazia), não aceitava as tradições rabínicas que não estavam pautadas nas Escrituras e não parecia estar interessado em assumir o trono.



Com isso, a visão que predominava entre os líderes judaicos sobre Jesus e a visão que passou a predominar após sua morte era a de que Jesus tinha sido um homem apóstata, herege e possuído por demônios, que intentou desviar o povo judeu dos caminhos corretos. A influência satânica seria a explicação para os seus milagres. A crucificação seria a confirmação de que Jesus era um “maldito de Deus”, a expressão utilizada para quem morria pendurado.



A questão é: Em que se baseia essa afirmação? Como podemos reconhecer uma pessoa que está agindo por influência satânica? Penso que é aqui que o judaísmo falha. Jesus não tinha as características que uma pessoa possuída. A primeira característica de uma pessoa influenciada pelo Diabo é falar contra a Palavra de Deus ou deturpá-la, a fim de enganar as pessoas. Mas não há na teologia de Jesus nada que contradiga as Escrituras. Pelo contrário, Jesus procurou em todo o seu ministério basear-se nas Escrituras e acusar aqueles que a deturpavam. Em certa ocasião Jesus afirmou:
Jeitosamente vocês rejeitam os mandamentos de Deus para guardar a própria tradição. Pois Moisés disse: ‘Honra teu pai e tua mãe’. Disse também: ‘Quem maldisser a seu pai ou a sua mãe seja punido de morte’. Vocês, porém, dizem: ‘Se um homem disser a seu pai ou sua mãe que aquilo que poderia dar a eles é Corbã, isto é, oferta para o Senhor, isso o dispensa de fazer qualquer coisa em favor de seu pai ou de sua mãe’. Assim, vocês invalidam a Palavra de Deus pela própria tradição de vocês, que vocês mesmos transmitiram. E fazem muitas outras coisas semelhantes (Marcos 7:9-13).
Veja como Jesus está fazendo justamente o oposto do que faria alguém com influência de Satanás. Ele está exaltando as leis das Escrituras e criticando as tradições corrompidas dos líderes judaicos da época. Em outra ocasião, quando um fariseu perguntou a Jesus quais os mandamentos das Escrituras eram mais importantes, ele respondeu:
O principal é: ‘Ouve, ó Israel, o Senhor, nosso Deus, é o único Senhor! Amarás, pois, o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todo o teu entendimento e de toda a tua força’. O segundo é: ‘Amarás o teu próximo como a ti mesmo’. Não há outro mandamento maior que estes (Marcos 12:29-31).
A resposta de Jesus é uma citação literal de um texto que está em Deuteronômio 6:4-5 (um texto imprescindível para os judeus) e de outro texto que está em Levítico 19:18. É curioso como que Jesus não só responde corretamente como tem o cuidado de selecionar textos provenientes da Torá (os cinco primeiros livros das Escrituras), que os judeus viam com ainda mais reverência. Ouvindo essa resposta, o fariseu que o havia questionado, teve que reconhecer:
Muito bem, Mestre, e com verdade disseste que Ele é o único e não há outro senão Ele, e que amar a Deus de todo o coração e de todo o entendimento e de toda a força e amar ao próximo como a ti mesmo excede a todos os holocaustos e sacrifícios (Marcos 12:32-33).
A preocupação de Jesus em fazer tudo conforme as Escrituras (a Palavra de Deus) era tão grande que, logo ao começar seu ministério, ele teve o cuidado de afirmar ao público:
Não penseis que vim revogar a Lei e os Profetas; não vim para revogar, vim para cumprir. Porque em verdade vos digo: até que o céu e a terra passem, nem um i ou um til jamais passará da Lei, até que tudo se cumpra. Aquele, pois, que violar um destes mandamentos, posto que dos menores, e assim ensinar aos homens, será considerado mínimo no reino dos céus; aquele, porém, que os observar e ensinar, esse será considerado grande no reino dos céus. Porque vos digo que, se a vossa justiça não exceder em muito a dos escribas e fariseus, jamais entrareis no reino dos céus (Mateus 5:17-20).
E Jesus seguiu esse procedimento até o fim da vida. Durante todo o Novo Testamento o que vemos é Jesus elevando a Palavra de Deus. Jesus era uma Bíblia ambulante. E era por isso que não se podia pegá-lo em contradição. Foram diversas as vezes em que os líderes judaicos tentaram fazê-lo, mas sem êxito.



O que diferia a teologia de Jesus da teologia judaica da época não era a doutrina em si, mas a interpretação da doutrina. Por exemplo, a questão da missão do Messias. Jesus, que se identificava como sendo o Messias, tinha a plena convicção de que sua missão não era terrena. Por esse motivo, se recusou a tomar o trono. 



Interessante que se ele era mesmo um endemoninhado, se tornar rei seria algo importante para desviar a povo dos caminhos de Deus. Se ele agisse como os judeus da época esperavam que o Messias iria agir, todos os judeus creriam nele, incluindo os líderes. Da mesma forma, é interessante que se ele era um endemoninhado, caminhar para a morte era frustrar os planos de Satanás. Afinal, o Diabo não pode ressuscitar ninguém. Assim, sua morte não poderia servir de pilar para a crença dos primeiros discípulos na ressurreição corporal de Cristo, nem a tumba vazia seria explicada. 



Poder-se-ia sustentar que Satanás possuiu alguém para roubar o corpo de Cristo e exerceu influência mental em mais de 500 pessoas para que acreditassem ter visto e tocado em Jesus depois de sua morte. Assim, o cristianismo teria surgido. Entretanto, isso seria dar ao Diabo um poder que ele não possui: o de controlar pessoas que se guiam pelos princípios de Deus. Como venho dizendo, Jesus não agia como um endemoninhado e muito menos agiram posteriormente os seus discípulos e os primeiros cristãos. Tal como Jesus seguia estritamente as Escrituras Sagradas, os seus discípulos fizeram o mesmo e assim ensinaram aos demais. Em Tiago, por exemplo, lemos:
Se vós, contudo, observai a lei régia segundo a Escritura: Amarás o teu próximo como a ti mesmo, fazeis bem; se, todavia, fazeis acepção de pessoas, cometeis pecado, sendo argüidos pela lei como transgressores. Pois qualquer que guarda toda a lei, mas tropeça em um só ponto, se torna culpado de todos. Porquanto, aquele que disse: Não adulterarás também ordenou: Não matarás. Ora, se não adulteras, porém matas, vens a ser transgressor da lei. Falai de tal maneira e de tal maneira procedei como aqueles que hão de ser julgados pela lei da liberdade (Tiago 2:8-11).
Aqui Tiago deixa claro que os cristãos deveriam seguir as Escrituras e serem zelosos quanto à observância dos dez mandamentos. O discípulo João também afirma:
Todo aquele que pratica o pecado também transgride a lei, porque o pecado é a transgressão da lei. Sabeis também que ele se manifestou para tirar os pecados, e nele não existe pecado. Todo aquele que permanece nele não vive pecando; todo aquele que vive pecando não o viu, nem o conheceu (João 3:4-6).
Isso não é coisa que um integrante de uma seita demoníaca diria. A verdade é que a teologia cristã, se seguida corretamente, preserva os principais pontos da teologia judaica. As diferenças estão nos ritualismos (que para os cristãos eram preceitos temporários, apenas prefiguração de Jesus, não precisando ser mais cumpridos hoje), nas leis civis (que para Jesus eram leis de caráter contextual, devendo ser cumpridas de acordo com o que o contexto ordena) e na concepção de Deus Triúno, isto é, um único Deus, mas formado por três partes (pessoas): o Pai, Jesus Cristo e o Espírito Santo.



O apóstolo Paulo não foge a regra. Ex-fariseu, Paulo mostrava em todos os seus escritos um amplo conhecimento das Escrituras. E todo esse conhecimento era aplicado em sua teologia. Ele diz em Romanos 7:12-16:
Por conseguinte, a lei é santa; e o mandamento, santo, justo e bom. Acaso o bom se me tornou em morte? De modo nenhum! Pelo contrário, o pecado, para revelar-se como pecado, por meio de uma coisa boa, causou-me a morte, a fim de que, pelo mandamento, se mostrasse sobremaneira maligno. Porque bem sabemos que a lei é espiritual; eu, todavia, sou carnal, vendido a escravidão do pecado. Porque nem mesmo compreendo o meu próprio modo de agir, pois não faço o que prefiro e sim o que detesto. Ora, se faço o que não quero, consinto com a lei, que é boa.
Isso é uma das inúmeras provas de que o cristianismo não era uma religião contrária ao que o judaísmo pregava e muito menos era uma religião pautada em princípios demoníacos. Os judeus (e também os islâmicos) argumentam que o princípio demoníaco do cristianismo seria fazer de Jesus parte de Deus. No entanto, a não ser que realmente Jesus não seja um com Deus, não há pecado em afirmar isso. O cristianismo não afirma que existem vários deuses. Ele afirma que existe um só Deus, formado por três pessoas, que são iguais em essência. Seria algo como três pedaços de uma mesma laranja: são três pedaços, mas os três são iguais em essência; e formam uma laranja, não três.



Então, a questão na qual devemos focalizar é se havia evidências ou não de que Jesus era um endemoninhado. E a resposta é não. Não havia. Pelo contrário, Jesus citava sempre as Escrituras e, antes de retornar para o céu, mostrou aos discípulos as diversas profecias e simbologias que para ele apontavam nas próprias Escrituras judaicas (profecias e simbologias que terei o prazer de expor e de analisar em uma próxima ocasião).



Curiosamente, existe nos evangelhos uma passagem em que Jesus lida com essa hipótese de que ele seria um endemoninhado. Sua resposta aos líderes judaicos é muito interessante:
Então, lhe trouxeram um endemoninhado, cego e mudo; e ele o curou, passando o mudo a falar e ver. E toda a multidão se admirava e dizia: É este, porventura, o Filho [descendente] de Davi? Mas os fariseus, ouvindo isto, murmuravam: Este não expele demônios senão pelo poder de Belzebu [Diabo], maioral dos demônios. Jesus, porém, conhecendo-lhes os pensa-mentos, disse: Todo o reino dividido contra si ficará deserto e toda a cidade ou casa dividida contra si, não subsistirá. Se Satanás expele a Satanás, dividido está contra si mesmo; como, pois, subsistirá o seu reino? (Mateus 12:22-26). 
O raciocínio lógico que Jesus tinha me encanta. Aqui Jesus mostra que não fazia sentido que os líderes judaicos o acusassem de endemoninhado. Suas atitudes não eram de quem estava possuído por demônios, mas de quem lutava contra o poder das trevas. Portanto, se realmente ele fazia o que fazia com o poder do Diabo, então o Diabo estava lutando contra si mesmo. E é evidente que Satanás jamais faria uma idiotice dessas.



A conclusão é óbvia: Jesus não era um endemoninhado. Satanás nada ganhava com as ações de Jesus. Pelo contrário, perdia. A hipótese que resta, antes de aceitar Jesus como divino, seria a de que Jesus foi apenas um profeta de Deus. Essa é a hipótese do islamismo. Vamos vê-la?



B) Um Grande Profeta



Bem, como já disse, a visão de Jesus como um profeta é a visão islâmica de quem teria sido Jesus. Ela é descrita no Corão, o livro sagrado do islamismo. O islamismo surgiu através do profeta Muhammad, durante o sexto século depois de Cristo. O profeta afirmava que recebeu uma visão do anjo Gabriel, cuja mensagem era de que ele (Muhammad) era um profeta e que Deus (o mesmo Deus do judaísmo e do cristianismo) queria restaurar seus ensinamentos originais, que haviam sido detur-pados e/ou esquecidos com o passar do tempo pelas principais religiões monoteístas.



Tendo sido encorajado a espalhar essa mensagem, Muhammad sofreu oposição em Meca (sua cidade natal) e, fugindo para Medina, se tornou chefe da primeira comunidade mulçumana que existiu. A partir daí, travou-se um grande número de batalhas entre os habitantes de Medina e Meca, na maior parte das vezes com vitórias Muhammad e de seus seguidores. O resultado da liderança do profeta foi unificar toda a Arábia Saudita sob uma só religião, o islamismo.



E qual, exatamente, é a visão que os islâmicos tem sobre Jesus e o cristianismo? Bem, para os islâmicos Jesus foi um homem normal que seguia os preceitos de Deus e que se tornou um profeta de grande importância (talvez só menor que Muhammad). Para os islâmicos também, Deus não é um ser Triúno. Sendo assim, o cristianismo teria se corrompido ao elevar Jesus ao posto de Deus, algo que o próprio Jesus, segundo os islâmicos, não teria ensinado.



Agora, vamos começar nossas análises. O islamismo é uma religião que surge seiscentos anos depois de Jesus, afirmando que o cristianismo estava errado por divinizar Cristo. Existem duas hipóteses utilizadas por islâmicos que explicariam esse suposto pecado dos cristãos: (1) a de que os documentos que compõem o Novo Testamento foram deturpados ao longo do tempo, fazendo com que Jesus fosse aparecendo como divino neles; (2) o Novo Testamento tem sido mal interpretado pelos cristãos.



Quanto à primeira hipótese, ela carece de apoio histórico. Talvez o leitor não saiba, mas os documentos do Novo Testamento são os mais confiáveis documentos históricos do mundo quanto à fidelidade do seu conteúdo. Vou explicar o motivo. Conforme eu afirmei na postagem do argumento da ressurreição, um dos métodos dos historiadores para saber se determinado fato foi deturpado ao longo do tempo é a análise das cópias dos documentos que relatam o fato. Por exemplo, suponha que existam 10 cópias de um documento chamado X. Esse documento atesta o fato Y. Acontece que em cada um dos documentos o fato é descrito de maneira diferente. Não, não se tratam de documentos de autores diferentes. São cópias de um mesmo documento, mas com diferenças no conteúdo. A que conclusão eu devo chegar? É lógico. O documento foi adulterado ao longo do tempo.



Então, para um historiador, quanto mais cópias antigas existirem de um determinado documento, mais fácil é para descobrir se a informação presente nele foi deturpada ou não. Se não existe muita diferença no conteúdo, podemos afirmar que a informação é confiável. Pois bem, os documentos do Novo Testamento são campeões nisso. Existem cerca de 5700 manuscritos gregos do Novo Testamento (ou fragmentos dele) com datas bem antigas. E esses documentos não apresentam erros centrais em seus conteúdos. As informações de cada uma das cópias são rigorosamente iguais umas as outras no que diz respeito às doutrinas principais do cristianismo.



Para se ter idéia do que essas informações significam, vamos fazer algumas comparações. A obra Illíada de Homero, a mais bem documentada depois do Novo Testamento, apresenta cerca de 640 manuscritos antigos. Outras obras importantes, como Guerras Gálicas, de Júlio César e Poética, de Aristóteles sobrevivem através de 10 e 5 manuscritos.



Em outras palavras, o número de cópias antigas do Novo Testamento é tão superior aos de outras obras antigas que não há justificativa para aceitar obras muito menos documentadas em detrimento do mesmo; e também não existe possibilidade de adulterações ao longo do tempo, já que as comparações entre os muitos manuscritos mostram que não há diferenças substanciais entre as diversas cópias.



Outro aspecto interessante que deve ser observado é que estas mesmas obras tão menos documentadas são datadas de muitos anos depois da escrita de seus originais. Falando mais uma vez de Illíada, que é a segunda obra com o menor espaço de tempo entre as cópias e os originais, temos uma diferença de 500 anos. Em Guerras Gálicas a diferença é ainda maior, 900 anos. E a cópia mais recente da Poética, de Aristóteles data de 1400 anos depois do original. Mas quando se trata do Novo Testamento, existem cópias que datam de apenas 90 anos depois da morte de Cristo, além de fragmentos discutíveis, talvez dos anos 50 d.C e 70 d.C.



Acabou por aqui? Não, não. Existe ainda outro ponto que confirma a confiabilidade do Novo Testamento. Os escritos dos “pais da Igreja”. Esses primeiros teólogos tinham o costume de escrever comentários sobre passagens do Novo Testamento. O apologista Bruce Mertzger afirma que 95% do Novo Testamento poderia ser reconstituído a partir apenas desses comentários. E esses pais da Igreja viveram realmente muito próximos dos eventos narrados no Novo Testamento, alguns deles chegando a conhecer alguns discípulos de Jesus. Ou seja, não pode ter havido deturpação nesse período.



O apologista Voddie Baucchan, em uma palestra, afirma que se realmente algumas pessoas adulteraram toda a história de Jesus, elas tiveram que:
encontrar seis mil manuscritos e porções de manuscritos em grego, roubá-los, mudá-los, não mostrar sua caligrafia, devolve-los (...), encontrar as traduções em siríaco, copta e latim, mudá-los para que combinem com as mentiras que contaram nos seis mil manuscritos, devolve-las aos lugares de onde roubaram, e então achar todos os escritos de todos os pais da igreja primitiva, mudá-los para combinar com as mentiras que contaram a dois níveis atrás, devolvê-los, nunca contar a ninguém o que fizeram e nunca serem pegos!
Essa argumentação serve tanto para mostrar a ateus e agnósticos que a Bíblia é confiável, como para mostrar para islâmicos que o Jesus divino do Novo Testamento não foi uma invenção dos cristãos, mas uma concepção que surgiu dos próprios ensinos de Jesus. Se fosse diferente, haveria documentos falando de Jesus como um profeta. De fato, um Jesus profeta teria causado muito menos rejeição entre israelitas e pagãos do que um Jesus Messias e divino, que morreu em uma cruz. Profetas costumavam mesmo terem um fim trágico e ninguém se admiraria se Jesus fosse apenas mais um profeta que foi injustiçado. Então, se a história real de Jesus tivesse sido adulterada com o tempo, com toda a certeza o resultado não seria um Jesus Messias e divino, que morreu e ressuscitou corporalmente. Seria um profeta humano, ou um espírito que parecia ter um corpo humano (como afirmam muitas obras apócrifas).



Agora, observe o panorama da situação. Seiscentos anos depois da morte de Jesus, surge um homem se dizendo profeta e que começa a descaracterizar aquele Jesus descrito nos evangelhos, nas cartas de Paulo, de Pedro, de João e de Tiago e nos escritos dos Pais da Igreja – documentos esses que são os registros mais antigos que existem sobre Jesus. Descaracteriza até a história de Jesus que encontramos nos documentos não-cristãos mais antigos. Opõe-se a fé dos cristãos mais antigos e próximos de Jesus. Embora o trate Jesus com respeito, Muhammad deixa claro que ele não passou de um profeta de Deus. A pergunta é: Não é difícil acreditar em alguém que contradiz um gigantesco movimento formado e firmado há seiscentos anos, cuja existência só é plausível se de fato Jesus era divino e ressuscitou?



Aliás, comparar Muhammad a Jesus e aos escritores bíblicos é interessante. O profeta árabe difere de Jesus, por exemplo, por ter sido um chefe militar e político também. Isso é um ponto-chave para entender porque o movimento islâmico cresceu tanto. A teologia islâmica tinha uma visão mais terrena do que a do cristianismo. Para quem se unia ao islamismo, havia muitas chances de uma boa vida ainda nessa terra. Muhammad deu aos árabes algo pelo qual lutar fisicamente. Movidos por um sonho político de unificar a Arábia, o exército do profeta tinha grande interesse em combater.



Ora, é muito mais fácil unificar pessoas para conquistar objetivos terrenos, nos quais a luta física não é descartada, do que unificar pessoas para sair pregando o evangelho, abrindo mão de usar a força. Mas a verdade é que esse sempre foi o plano de Deus. Se Deus precisou manter firmemente a nação israelita por vários séculos, a fim de preservar o monoteísmo e as verdades bíblicas até que Jesus viesse (como crêem os cristãos), quando Jesus veio, um novo contexto foi fundado. Uma nação limitada a determinado pedaço de terra já era passado. Deus tinha, pela primeira vez, a condição de preparar uma “nação” sem pátria, formada por cristãos “nômades”, que se espalhariam por diversos países, espalhando o evangelho sem fazer uso da força. O Espírito Santo, que agora habitava dentro de cada cristão, os tornava aptos a cumprir tal missão. E, de fato, até antes do Estado romano agregar a religião cristã para si (algo lastimável) cristãos espalharam o evangelho sem usar a força.



Muhammad, no entanto, cria um novo movimento que necessitava de luta. Era um contexto antigo retornando. Era uma teologia que fixava os olhos no terreno, na luta, na política. Talvez esse seja um ponto a favor de Jesus e contra Muhammad. Jesus deixava claro: “O meu reino não é desse mundo”. A teologia de Jesus só servia para quem pensava além desse mundo.



A teologia de Muhammad também diferia dos escritos bíblicos no sentido de que era baseada nos escritos de um único homem: ele mesmo. Quão diferente da Bíblia, uma coletânea de diversos documentos de autores diferentes, que viveram em épocas diferentes, mas cuja teologia é a mesma; um escrito complementa o outro. Não há contradições entre esses documentos. Qual a probabilidade disso acontecer sem que haja uma intervenção divina? É muito pequena. Então, a Bíblia acaba sendo bem mais confiável que o Corão.



Em suma, a suposição islâmica de que o conteúdo do Novo Testamento foi deturpado com o tempo não apresenta evidências. Tampouco existem motivos plausíveis para acreditar no Corão em detrimento da Bíblia. Não estou afirmando taxativamente que o Corão está errado, mas pelo menos até aqui ele está se mostrando pouco confiável.



A segunda hipótese islâmica para explicar o suposto pecado cristão de divinizar Jesus seria a de que o Novo Testamento tem sido mal interpretado desde os primeiros séculos. Acredito que esta hipótese é ainda mais fraca. O Novo Testamento é extremamente claro ao dizer que Jesus não é só um homem como qualquer outro, mas parte do próprio Deus. Dizer o oposto é contradizer de modo explícito todo o Novo Testamento. Vejamos algumas passagens:



Em João 8:58, Jesus diz: “Antes que Abraão existisse, Eu Sou”, indicando não só que ele existia antes de Abraão, mas chamando a si próprio pelo nome que ninguém ousaria chamar: Eu Sou. 



Eu Sou era o nome que Deus havia dito a Abraão quando este questionou o que responderia, caso perguntassem o nome de seu Deus. Isto está descrito em Êxodo 3:13-14. O fato de não haver concordância gramatical na frase de Jesus é uma prova do que ele queria expressar. Jesus não disse: “Antes que Abraão existisse, eu era”, ou: “Antes que Abraão existisse, eu existia”. Não, não, o que ele disse foi: “Antes que Abraão existisse, Eu Sou”. E por causa disso, no versículo seguinte do texto de João, os judeus pegam pedras para atirarem nele. Claro! A não ser que Jesus realmente fosse divino, o que ele estava dizendo ali era uma blasfêmia sem tamanho.



Em Marcos 2:28, Jesus diz: “... de sorte que o Filho do Homem [Jesus se auto denominava assim, para mostrar que tinha vindo como homem, de carne e osso] é Senhor também do sábado”. 



Ora, Jesus acabava de ser acusado de transgredir a guarda do sétimo dia (o que era uma calúnia, na verdade), pois não o guardava da maneira que guardavam os mestres da lei. No entanto, Jesus vai longe e diz de maneira simples e direta que ele era o Senhor do Sábado, ou seja, sabia bem o que podia e o que não podia fazer neste dia. Ele era o dono, o criador daquele dia. A mesma história ainda é narrada em Mateus 12 e Lucas 6, expressando também essa verdade.



Em João 14:6, Jesus Cristo diz: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida”. Que profeta teria a petulância e a soberba de aplicar a si mesmo tantos adjetivos grandiosos? Aliás, que profeta tomaria para si atributos que são especificamente divinos? Quem é o caminho, a verdade e a vida, senão o próprio Deus? Pode um profeta se chamar assim? 



Mas Jesus sabia que era muito mais do que um simples profeta e por isso proferiu em João 10:30: “Eu e o Pai somos um”. Em outras palavras, Jesus estava dizendo: “Eu sou parte do Deus Pai todo-poderoso. Quem conhece a mim, conhece ao Pai. Eu não sou só Filho de Deus. Eu sou parte do próprio Deus encarnado em um corpo de Filho de homem”.



Em Mateus 11:27, Jesus continua mostrando que não era só um profeta, dizendo: “Tudo me foi entregue por meu Pai. Ninguém conhece o Filho, senão o Pai e ninguém conhece o Pai, senão o Filho e aquele a quem o Filho o quiser revelar”. 



Era incrível como que Jesus aproximava Deus de sua pessoa! Ele se colocava numa posição acima de todos os seres humanos existentes na Terra: o único que viu a Deus, o único ser perfeito, aquele que revela a Deus e que de Deus recebeu tudo. Seria ele um mero profeta humano?



O discípulo Tomé, embora de pouca fé, sabia que Jesus não era só um profeta e, por isso, ao vê-lo após a ressurreição, exclamou: “Senhor meu e Deus meu!”, em João 20:28. Não, ele não estava usando uma força de expressão por estar impressionado ao ver Jesus. Os judeus tinham extrema reverência ao nome de Deus, de forma que jamais o colocariam em bordões ou expressões. O que Tomé faz aqui é olhar para Jesus e chamá-lo conscientemente de “Senhor meu e Deus meu!”. O fato de estarem em um ambiente fechado, só ele e os discípulos, contribuiu para que Tomé não temesse dizer isso. Tomé não seria apedrejado pelos judeus ali.



O apóstolo João também sabia quem era Jesus. No seu evangelho, logo no primeiro capítulo, ele escreve: “No princípio era o Verbo [Jesus], e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus”. 



Conforme é possível ver no contexto do primeiro capítulo de João, o “Verbo” mencionado é Jesus e, segundo João, esse Verbo estava com Deus e era o próprio Deus! Quer um texto mais claro que esse? Não existe outra forma de interpretar. E no decorrer do evangelho, só confirmamos isso, vendo que Jesus dizia com autoridade ser o bom pastor, a porta, a salvação, a ressurreição, a vida, a água da vida, o pão da vida, enfim, adjetivos que só se aplicariam a um ser divino. 



Em concordância com essa interpretação, o incansável apóstolo Paulo, em Romanos 9:5, confirma tudo isso, dizendo que Jesus “é sobre todos, Deus bendito para todo o sempre”. Então, será que existe escapatória para o islamismo? É possível que todos esses escritores bíblicos, que viveram no mesmo contexto histórico de Jesus não quisessem dizer o que disseram? Isso é pouco provável e extremamente implausível.



Com relação ao Antigo Testamento, que também faz parte das Escrituras, as indicações de que viria um homem com características divinas e libertaria as pessoas são abrangentes. Trata-se de profecias e simbologias que apontam para Jesus como sendo Cristo e como sendo divino, sem qualquer tipo de tentativa forçosa de comparação, mas apenas averiguando a compatibilidade.



Só para citar alguns dos mais de 50 exemplos, em Miquéias 5:2 lemos:
E tu, Belém-Efrata, posto que pequena entre os milhares de Judá, de ti me sairá o que governará em Israel, e cujas origens são desde os tempos antigos, desde os dias da eternidade. 
Note que Jesus veio nasceu justamente em Belém e sua origem é bem antiga (é eterna), já que ele mesmo diz que “Antes de Abraão, Eu Sou”.



Em Isaías, no capítulo 53, podemos ler:

Era desprezado e o mais rejeitado entre os homens; homem de dores e que sabe o que é padecer; e, como um de quem os homens escondem o rosto, era desprezado, e dele não fizemos caso. Certamente, ele tomou sobre si as nossas enfermidades e as nossas dores levou sobre si; e nós o reputávamos por aflito, ferido de Deus e oprimido. Mas ele foi traspassado pelas nossas transgressões e moído pelas nossas iniqüidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados. Todos nós andávamos desgarrados como ovelhas; cada um se desviava pelo caminho, mas o Senhor fez cair sobre ele a iniqüidade de nós todos. 


Ele foi oprimido e humilhado, mas não abriu a boca; como cordeiro foi levado ao matadouro; e, como ovelha muda perante os seus tosquiadores, ele não abriu a boca. Por juízo opressor foi arrebatado, e de sua linhagem, quem dela cogitou? Porquanto foi cortado da terra dos viventes; por causa da transgressão do meu povo, foi ele ferido. Designaram-lhe a sepultura com os perversos, mas com o rico esteve na sua morte, posto que nunca fez injustiça, nem dolo algum se achou em sua boca.



Todavia ao Senhor agradou moê-lo, fazendo-o enfermar; quando der ele a sua alma como oferta pelo pecado, verá a sua posteridade e prolongará os seus dias; e a vontade do Senhor prosperará em suas mãos. Ele verá o fruto do penoso trabalho de sua alma e ficará satisfeito; o meu Servo, o Justo, com o seu conhecimento, justificará a muitos, porque as iniqüidades deles levará sobre si. Por isso, eu lhe darei muitos como a sua parte, e com os poderosos repartirá ele o despojo, porquanto derramou a sua alma na morte; foi contado com os transgressores; contudo, levou sobre si o pecado de muitos e pelos transgressores intercedeu.

É incrível como que toda a teologia cristã está resumida nesse texto, que foi escrito pelo profeta Isaías cerca de 700 anos antes de Cristo. Vemos aqui que aquele que nos justificaria dos pecados seria humilhado, machucado e entregue como ovelha ao matadouro. E sendo morto, seria sepultado com os perversos (os ladrões da cruz, lembra?), mas um rico lhe designaria uma sepultura (José de Arimatéia). Só que ele olharia para os frutos do seu trabalho (ou seja, ele ressuscitaria para ver isso, é claro) e ficaria satisfeito. Passou, então, a interceder pelas pessoas.



Para quem está familiarizado com o básico da história de Jesus e do Novo Testamento, é fácil captar esses e outros elementos conhecidos e específicos da teologia cristã que são comuns ao relato do profeta. Era como se o profeta Isaías tivesse observado com os próprios olhos os sofrimentos de Jesus, séculos antes de ele os passar. 



Temos ainda profecias muito interessantes em passagens como Isaías 11:2, Malaquias 3:1 e pelo menos mais 50 outras descritas por profetas diferentes, em épocas diferentes, muito antes do nascimento de Jesus, mas que se cumpriram em sua vida. Os detalhes dados sobre Jesus são tão fiéis que não há como desprezá-los, dizendo que se tratam de passagens fora do contexto ou mesmo que se referiam a outra pessoa.



As simbologias também se explicam com perfeição por meio da divindade de Jesus. Talvez os melhores exemplos disso sejam aqueles que envolvem os sacrifícios de animais presentes no sistema ritualístico do Antigo Testamento. Os judeus foram ordenados por Deus a fazerem esses sacrifícios e, antes mesmo do desenvolvimento da religião judaica, podemos observar essa estranha atitude de Deus.



Ora, para qualquer um que não entenda esses sacrifícios como uma simbologia do sacrifício de Jesus Cristo pelo ser humano na cruz, Deus parecerá um tanto sádico e louco. Sobretudo pelo fato de que o próprio Deus afirma, no Antigo Testamento, que não tinha prazer em sacrifícios de animais mais do que tinha em misericórdia e obediência. Ou seja, os sacrifícios não tinham valor em si. Eles só tinham valor se acompanhados de uma boa conduta, pois aqueles sacrifícios eram simbologias de algo maior que se aceitava pela fé em Deus.



Então, o Antigo Testamento só faz sentido se Jesus é, de fato, o Cristo esperado e divino. É apenas o Novo Testamento que apresenta a explicação para as profecias e as simbologias do Antigo Testamento. É apenas no Novo Testamento que aparece um homem extremamente sábio, capaz de calar doutores da lei, de pregar com autoridade que era um com Deus, de perdoar todos os pecados e de ser apontado como o sacrifício real e supremo que os profetas do qual os profetas falavam.



O judeu Jesus de Nazaré, se encarado como o Messias prometido, é o cumprimento de toda a simbologia. Todo o ritualismo judaico era uma prefiguração de Jesus e de seu sacrifício de amor pelo ser humano. Uma espécie de cheque pré-datado para os que esperavam o pagamento definitivo de suas dívidas (as quais não poderiam pagar).



Tudo se torna mais fiel quando lemos em Atos 5:34-40, que outros, antes de Jesus, já haviam se levantado afirmando serem o Messias. Estes conseguiram seguidores, mas duraram pouco tempo e seus ensinos não se espalharam. Não é difícil deduzir que muitos tentaram usar as Escrituras em benefício próprio, mas sem êxito, provavelmente por entrarem em contradições, por não pregarem com autoridade ou por terem sido silenciados pelos grandes doutores da lei judaica.



Jesus, entretanto, é o homem que se enquadra em todas as profecias e simbologias. Ele fala com autoridade, conhece as Escrituras a fundo, cala os doutores da lei, não entra em contradições, prega durante três anos e meio, anuncia a própria morte e ressurreição, se diz um com o Pai e leva milhares de pessoas a seguirem firmemente os seus ensinos, que perduram até aos dias de hoje.



Com todas essas evidências, torna-se muito difícil de sustentar que Jesus era apenas um profeta de Deus. Além do mais, o islamismo não tolera a idéia de Deus se tornar um homem como nós. Mas é justamente este o ato que mais nos dá certeza da existência e do caráter de Deus. Um Deus que somente assistisse tudo do alto, não só nos privaria de sermos justificados, como não poderia habitar em nós (através de seu Espírito), nos deixando eternamente indignos e impuros.



Assim, morreríamos em nossos pecados, tentando sem êxito sermos bons por nossas próprias forças. E, como se isso não bastasse, um Deus que não se tornasse um ser humano nos privaria de valiosas evidências de sua existência, envergonhando o seu povo na frente dos ateus.



Mas conforme a teologia cristã, Deus prova o seu amor através de Jesus. Certa vez, Jó, um personagem do Antigo Testamento, falou que Deus não podia saber o que o homem passava, porque não era um homem. Para o islamismo e o judaísmo, isso continua sendo assim até hoje. Mas para cristianismo, Jesus resolveu o problema. Conforme a epístola de Hebreus nos diz:
Tendo, pois, Jesus, o Filho de Deus, como grande sumo sacerdote que penetrou os céus conservemos firmes a nossa confissão. Porque não temos sumo-sacerdote que não possa compadecer-se de nossas fraquezas; antes, foi ele tentado em todas as coisas, à nossa semelhança, mas sem pecado (Hebreus 4:14-15).
C) Jesus é parte do Deus Triúno



Aqui já podemos concluir que a hipótese cristã de que Jesus realmente foi e é divino é a mais plausível e provável. O que tentei fazer nesta postagem, de uma maneira clara, objetiva e resumida, foi analisar logicamente cada hipótese de quem teria sido Jesus e mostrar que as evidências estão a favor de um Jesus divino, tal como os cristãos sustentam há séculos. É óbvio que eu poderia ter abordado mais pontos interessantes e me aprofundado mais na questão da identidade de Jesus. Isso é assunto para um livro inteiro. Mas o pouco que foi dito aqui é o suficiente para que o leitor comece a compreender um pouco mais sobre o Deus apresentado na Bíblia.



Não é minha pretensão ser preconceituoso, intolerante ou ofensivo, mas não é muito lógico aceitar que Jesus Cristo, o homem que dividiu a história ao meio, tenha sido alguma das opções apresentadas até aqui. A sua perfeição em todas as coisas não nos permite tal infâmia. Ele provou de forma simples e clara que sempre existiu e veio a Terra para ser a perfeita ponte entre o Pai e os homens. Sim, uma ponte, pois veio como homem, se despindo de toda a sua glória, limitando-se a ponto de ter as nossas necessidades, mas ao mesmo tempo, ligado ao Pai, cheio de Espírito Santo, vencendo todas as tentações e prevalecendo como o único homem que não caiu em pecado. Ele nos deu toda a autoridade, para vencer a Satanás, pois nos justificou e através do seu nome, alcançamos vitória sobre o pecado.



Portanto, dizer que não existem motivos suficientes para acreditar que Jesus foi (e ainda é) o Senhor do Universo não passa de desculpa de quem não quer estudar com mais atenção cada detalhe da vida deste homem. Ele, em toda a sua grandeza fez questão de nos prover de evidências, para que a nossa fé não fosse cega. Porque a fé, certeza das coisas que não se viram (Hebreus 11:1) não é a certeza das coisas que não possuem evidências. O Senhor da Razão escreveu a fé com a caneta das evidências lógicas. E a principal evidência de que Deus existe, é Jesus. Afinal, Ele é parte de Deus, mas fez questão de vir a Terra, por mim e por você.



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Bibliografia:
1. Norman Geisler e Frank Turek, Não tenho Fe suficiente para ser ateu.
2. F. F. Bruce, Merece confiança o Novo Testamento?
3. Voddie Bauccham, Por que eu acredito na Bíblia? (Palestra) – Presente nos seguintes links: https://www.youtube.com/watch?v=8xidS64Ck9Q (Parte 1);

quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Afinal, quem foi Jesus? - Parte 2: Um homem comum?

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Vimos na primeira postagem dessa série que a hipótese de que Jesus não teria existido e a de que ele seria uma mistura de mitos é uma hipótese idiota, ignorante e anti-histórica. Tendo aceitado, então, que Jesus existiu, resta saber se ele teria sido divino (como a Bíblia diz) ou se foi apenas um homem normal. Nesta postagem, vamos analisar essa segunda hipótese. Ela pode se dividir em três suposições: (a) Jesus foi um grande filósofo (ou professor) da moral; (b) Jesus foi um farsante; (c) Jesus foi um lunático que achava que era Deus. Vejamos cada uma delas.

A) Um Grande Filósofo da Moral

Uma boa amiga minha tinha essa opinião sobre Jesus. Achava difícil acreditar em alguém que operasse milagres e que estivesse acima de todos os homens. “Foi um homem bom, certamente, uma grande pessoa. Mas compartilho com meu cunhado a ideia de que ele não passou disso: um homem bom e normal”, ela dizia.

Sobre esta visão, o escritor cristão C. S. Lewis (o mesmo que escreveu As Crônicas de Nárnia), analisa em seu livro Cristianismo Puro e Simples, a incoerência de pensar assim. Ele diz assim em um trecho:

O verdadeiro choque vem depois. Entre os judeus surge, de repente, um homem que começa a falar como se ele próprio fosse Deus. Afirma categoricamente perdoar os pecados. Afirma existir desde sempre e diz que voltará para julgar o mundo no fim dos tempos. Devemos aqui esclarecer uma coisa: entre os panteístas, como os indianos, qualquer um pode dizer que é uma parte de Deus, ou é uno com Deus, e não há nada de muito estranho nisso. Esse homem, porém, sendo um judeu, não estava se referindo a esse tipo de divindade. Deus, na sua língua, significava um ser que está fora do mundo, que criou o mundo e é infinitamente diferente de tudo o que criou. Quando você entende esse fato, percebe que as coisas ditas por esse homem foram, simplesmente, as mais chocantes já pronunciadas por lábios humanos [1].
Existiam duas crenças básicas naquela época, entre o povo judeu: (1) Deus era um Ser único, todo-poderoso e infinitamente superior e distinto de tudo o que criara; e (2) esse mesmo Deus faria nascer um salvador (conforme as profecias das Escrituras) que, segundo a interpretação dos líderes religiosos da época, seria um grande rei, arrancaria o povo da opressão romana e firmaria um reino forte e poderoso.

Tanto uma quanto a outra crença pareceram ser contraditas por Jesus. C. S. Lewis focaliza a primeira crença nesse trecho. Nenhum judeu do primeiro século poderia conceber que um homem de carne e osso, ser humano como qualquer outro, nascido de uma mulher, seria parte do próprio Deus todo-poderoso, maior que tudo e que criou o mundo. Como C. S. Lewis aponta, tal afirmação seria imaginável e não geraria problema algum na Índia, por exemplo, onde o panteísmo afirma que Deus e o universo (e tudo o que há no universo) são uma coisa só. Mas no judaísmo, sobretudo o judaísmo do primeiro século, ninguém diria isso e, se dissesse, seria considerado culpado de grave blasfêmia.

E a pergunta é: Por quê Jesus se apresentou como sendo parte do próprio Deus? Queria ele pregar uma teologia panteísta? Não, não queria. Primeiro, porque não existia influência panteísta no contexto judaico do primeiro século. Não tinha da onde tirar uma ideia dessa. Segundo, porque ele se apresentava como o único. Nem ele, em seu ministério, nem seus discípulos, posteriormente, pregaram algo como: “Deus é cada um de vocês” ou “Você pode ser Deus se quiser”. Não. Deus estava acima de tudo e de todos. Nisso a teologia cristã era igual a teologia judaica. A diferença era que Jesus era considerado parte de Deus; parte de Deus que se fez ser humano, algo totalmente estranho ao judaísmo. Por quê? Por que Jesus se apresentava assim? C. S. Lewis continua:

Há um elemento do que ele afirmava que tende a passar despercebido, pois o ouvimos tantas vezes que já não percebemos o que ele de fato significa. Refiro-me ao perdão dos pecados. De todos os pecados. Ora, a menos que seja Deus quem o afirme, isso soa tão absurdo que chega a ser cômico. Compreendemos que um homem perdoe as ofensas cometidas contra ele mesmo. Você pisa no meu pé, ou rouba meu dinheiro, e eu o perdoo. O que diríamos, no entanto, de um homem que, sem ter sido pisado ou roubado, anunciasse o perdão dos pisões e dos roubos cometidos contra os outros? Presunção asinina é a descrição mais gentil que podemos dar da sua conduta.
Entretanto, foi isso o que Jesus fez. Anunciou ao povo que os pecados cometidos estavam perdoados, e fez isso sem consultar os que, sem dúvida alguma, haviam sido lesados por esses pecados. Sem hesitar, comportou-se como se fosse ele a parte interessada, como se fosse o principal ofendido. Isso só tem sentido se ele for realmente Deus, cujas leis são transgredidas e cujo amor é ferido a cada pecado cometido. Nos lábios de qualquer pessoa que não Deus, essas palavras implicam algo que só posso chamar de uma imbecilidade e uma vaidade não superadas por nenhum outro personagem da história [2].
Aqui podemos começar a duvidar da possibilidade de Jesus ter sido apenas um grande mestre da moral. Falando as coisas que ele falava, só podemos chamá-lo de louco ou de mal-caráter. Afinal, se ele era só um homem, mas se dizia Deus, ele estava mentindo. E alguém que passa um ministério inteiro dando tanta ênfase a essas mentiras, é mentiroso e não um mestre da moral. Tudo o que Jesus falou de positivo em sua vida não o torna um grande mestre se ele mentia sobre quem era. Ele se dizia divino e agia como se fosse divino. Se não era divino, então, ou era lunático ou um farsante, mas não um mestre da moral. Lewis escreve, na continuação de seu texto:
No entanto (e isto é estranho e, ao mesmo tempo, significativo), nem mesmo seus inimigos, quando leem os evangelhos, costumam ter essa impressão de imbecilidade [loucura] ou vaidade [malcaratismo]. Quanto menos os leitores sem pre¬conceitos. Cristo afirma ser ‘humilde e manso’, e acreditamos nele, sem nos dar conta de que, se ele fosse somente um homem, a humildade e a mansidão seriam as últimas qualidades que poderíamos atribuir a alguns de seus ditos [3].
De fato, as coisas que Jesus Cristo dizia e falava deveriam ser consideradas imbecis e loucas, vaidosas e expressão de mal-caráter, caso ele não fosse quem afirmava ser. Vemos nos evangelhos Jesus se dizendo um com Deus, Filho de Deus, o Caminho, a Verdade, a Vida, a Porta, o humilde, o manso e etc. Ele se eleva de tal maneira que se todas essas firmações são mentiras, Jesus foi o mais mentiroso dos homens (ou, se acreditava no que falava, o mais lunático). Lewis conclui sua linha de raciocínio com as seguintes palavras:
Estou tentando impedir que alguém repita a rematada tolice dita por muitos a seu respeito: ‘Estou disposto a aceitar Jesus como um grande mestre da moral, mas não aceito a sua afirmação de ser Deus’. Essa é a única coisa que não devemos dizer. Um homem que fosse somente um homem e dissesse as coisas que Jesus disse não seria um grande mestre da moral. Seria um lunático - no mesmo grau de alguém que pretendesse ser um ovo cozido — ou então o diabo em pessoa. Faça a sua escolha. Ou esse homem era, e é, o Filho de Deus, ou não passa de um louco ou coisa pior. Você pode querer calá-lo por ser um louco, pode cuspir nele e matá-lo como a um demônio; ou pode prosternar-se a seus pés e chamá-lo de Senhor e Deus. Mas que ninguém venha, com paternal condescendência, dizer que ele não passava de um grande mestre humano. Ele não nos deixou essa opção, e não quis deixá-la [4].
Em suma, Jesus jamais poderia ter sido só um grande mestre da moral. As coisas que afirmava eram em demasia fortes e, se não eram verdadeiras, ele não passava de um doido varrido ou um grande farsante. Para provar que realmente era divino, ele deveria apresentar ao povo pelo menos alguns de seus atributos divinos. Mas, aceitando que ele era apenas um homem normal, tais atributos não poderiam ser mostrados e todos os seus milagres, descritos nos evangelhos, com certeza não ocorreram. Logo, é impossível que um mentiroso desses pudesse ser um grande mestre da moral com um caráter elevado.

B) Um Grande Farsante

Se Jesus não pode ter sido apenas um grande mestre da moral, então devemos considerar a hipótese de que ele foi um grande mentiroso. Ok. Entretanto, mais uma vez o tiro sai pela culatra no momento em que começamos a encarar os questionamentos formados em torno desta visão: Qual seria o seu objetivo, já que sofreu e morreu por essa mentira sem acumular riquezas e poder? O que levou os discípulos a seguir um mentiroso? O que levou tantas pessoas da época a crerem em um homem que não fez nenhum milagre para provar que era parte de Deus (afinal, estamos trabalhando com a hipótese de que os milagres descritos no evangelho não ocorreram)?

E mais: Por que os discípulos de Jesus e seus primeiros seguidores aceitariam sofrer tantas terríveis perseguições após sua morte, já que ele era um falso e também eles não se beneficiaram por suas mentiras? E como tiveram a cara de pau de pregar tantos milagres de Jesus, se todos sabiam que esses milagres não ocorreram? E como as pessoas acreditavam nesses primeiros seguidores, mesmo sua pregação sendo tão desprovida de verdades? Não há pensamento lógico aqui. Se tal homem foi um mentiroso, todo o sofrimento que ele passou e fez os outros passarem foi em vão. E se a mentira não beneficia o mentiroso, o mentiroso não irá persistir nela. Como, então, o cristianismo foi para frente? O apóstolo Paulo diz em I Coríntios, capítulo 15, versículos 14-19:

E, se Cristo não ressuscitou, é vã a nossa pregação, e vã, a vossa fé; e somos tidos por falsas testemunhas de Deus, porque temos asseverado contra Deus que Ele ressuscitou a Cristo, ao qual Ele não ressuscitou, se é certo que os mortos não ressuscitam. Porque se os mortos não ressuscitam, também cristo não ressuscitou. E, se Cristo não ressuscitou, é vã a vossa fé, e ainda permaneceis em vossos pecados. E ainda mais: os que dormiram [morreram] em Cristo pereceram. Se a nossa esperança em Cristo [a esperança dos cristãos] se limita apenas a esta vida, somos os mais infelizes de todos os homens.
Esta passagem é incrível! Ela mostra a situação de quem se tornou seguidor de Jesus no primeiro século. Paulo não foi discípulo direto de Jesus Cristo, mas assim como eles, era judeu. Se realmente o que todos os cristãos estavam sustentando era mentira, eles sabiam que estavam perdidos na vida. Não só sofreriam as perseguições dos romanos e dos judeus, que eram hostis à crença dos cristãos, como ainda estariam pecando contra o próprio Deus, assegurando que Deus fez algo que, na verdade, não tinha feito. Em II Coríntios, Paulo completa a nossa linha de raciocínio, dizendo:
Eu ainda mais: em trabalhos, muito mais; muito mais em prisões; em açoites, sem medida; em perigos de morte, muitas vezes. Cinco vezes recebi dos judeus uma quarentena de açoites menos um; fui três vezes fustigado com varas; uma vez apedrejado; em naufrágio, três vezes; uma noite e um dia passei na voragem do mar; em jornadas, muitas vezes; em perigos de rios, em perigos de salteadores, em perigos entre patrícios, em perigos entre gentios, em perigos na cidade, em perigos no deserto, em perigos no mar, em perigos entre falsos irmãos; em trabalhos e fadigas, em vigílias, muitas vezes; em fome e sede, jejuns muitas vezes; em frio e nudez. Além das coisas exteriores, há que me pesa sobre mim diariamente, a preocupação com todas as igrejas (II Coríntios 11:23-28).
Mas ainda podemos deixar a questão mais interessante citando aqui o que o apóstolo Pedro, este sim, discípulo direto de Cristo, diz em uma de suas epístolas presentes na Bíblia:
Porque não vos fizemos saber a virtude e a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo, seguindo fábulas artificialmente compostas; mas nós mesmos vimos a sua majestade. Porquanto ele recebeu de Deus Pai honra e glória, quando da magnífica glória lhe foi dirigida a seguinte voz: Este é o meu Filho amado, em quem me tenho comprazido. E ouvimos esta voz dirigida do céu, estando nós com ele no monte santo; E temos, mui firme, a palavra dos profetas, à qual bem fazeis em estar atentos, como a uma luz que alumia em lugar escuro, até que o dia amanheça, e a estrela da alva apareça em vossos corações. Sabendo primeiramente isto: que nenhuma profecia da Escritura é de particular interpretação. Porque a profecia nunca foi produzida por vontade de homem algum, mas os homens santos de Deus falaram inspirados pelo Espírito Santo (II Pedro 1:16-21).
Será que Paulo e Pedro, assim como outros discípulos, aceitariam passar por tantos problemas para sustentar uma mentira? Será sensato afirmar que todas as pessoas que se empenharam em pregar o evangelho durante o primeiro século eram farsantes?

É claro, que hoje, dois mil anos depois, vivemos em uma época em que existem muitos pastores ladrões, padres pedófilos e religiosos hipócritas. Sabemos também que durante toda a idade média, a Igreja Romana foi fachada para toda a sorte de corrupções. Mas é inegável, historicamente, que os cristãos dos primeiros três séculos sofreram muitas perseguições por pregarem uma filosofia de vida que não os beneficiava em nada (no que se refere à vida material). E justamente as pessoas que eram contemporâneas a Jesus Cristo. O que as motivava a sustentar a defender uma mentira tão inútil? O que motivou a Jesus?

C) Um Grande Louco

Entra em cena, então, a ideia de que Jesus Cristo era simplesmente lunático. Nessa hipótese, Jesus seria alguém com sérios problemas psicológicos que realmente acreditava que era o salvador do mundo. Entretanto, essa hipótese também apresenta muitas dificuldades. A primeira seria o tempo relativamente extenso de seu ministério. Jesus era o tipo de homem que não duraria mais que umas poucas semanas com vida no contexto judaico da época. Ele se igualava a Deus em autoridade (o que era uma blasfêmia); ele dizia ser o Messias, mas se recusava a tomar o trono de Israel (o que os judeus achavam que o Messias deveria fazer); ele arranjava inimizade com os maiores mestres da lei que existiam no judaísmo (o que não era nem um pouco aconselhável). Fazendo essas coisas, não tinha como Jesus pregar por três anos e meio. Seria morto antes disso.

A segunda dificuldade é que, se Jesus era um lunático, isso devia ser perceptível. É fácil averiguar que uma pessoa não bate bem da cabeça. O olhar, o jeito, o modo de falar, as atitudes e, sobretudo, o conteúdo das mensagens de uma pessoa costumam ser suficientes para mostrar se ela é normal ou se tem algum tipo de problema psicológico. Se Jesus era lunático, devia ter, no mínimo, alguns traços que mostravam isso. As suas afirmações, no entanto, eram tão absurdas que isso nos leva a crer que Jesus não tinha apenas traços de loucura. Ele era um louco explícito, no maior estágio de delírio a que pode chegar uma pessoa.

Não obstante, a suposição de que ele tinha um alto grau de loucura não se adéqua muito aos fatos. Jesus conseguiu seguidores demais para quem era tão maluco assim. Está certo que algumas pessoas meio lunáticas conseguem, por vezes, alguns seguidores. Só que nunca são muitos. E quanto mais louca uma pessoa é, menos seguidores terá. Contudo, Jesus foi seguido por milhares durante o seu ministério. Muitos abandonaram a crença em Jesus quando ele foi crucificado, não por acharem que ele era louco, mas porque achavam que o Messias não poderia morrer sem cumprir a sua missão de tomar o poder e libertar Israel. Como tantas pessoas creram em um louco? E como o cristianismo viria a se tornar a maior religião do mundo tendo começado a partir de um louco? Isso não se adéqua a essa suposição.

Jesus também não era alguém a quem as pessoas chamavam de lunático. Jesus não tinha essa fama. Ao contrário disso, ele era chamado de Mestre por muitas pessoas. Antes de sua crucificação os judeus o achavam um homem sábio. De fato, ele conhecia as Escrituras judaicas melhor do que os próprios líderes religiosos da época, algo que ninguém que não fosse rabino, escriba ou sacerdote, conseguia fazer. Era um homem de origem humilde, que não teve acesso a estudos profundos, mas que tinha gabarito para debater e ganhar o debate contra doutores da religião. Isso também não se adéqua a suposição de que Jesus era louco.

Se nós analisarmos os debates de Jesus no Novo Testamento, bem como seus ensinamentos, é possível ver que seu pensamento era de uma profundidade tão grande que chega a ser uma idiotice pensar que ele poderia ter sido um louco. Suas palavras não poderiam jamais ser fruto de uma mente delirante. Que tipo de louco consegue ser mais profundo e coerente que pessoas normais? Em suas parábolas e nos debates com fariseus há sabedoria, sagacidade e sensibilidade. Ele era capaz de calar os doutores da lei judaica através da própria lei judaica; e tudo o que dizia estava em conformidade com as Escrituras Sagradas dos judeus. Jesus sequer entrava em contradições. Como sustentar que esse homem era um louco em seu maior estágio de delírio?

Uma passagem interessante e que está em oposição frontal à hipótese da loucura de Jesus aparece em Mateus 7:29, onde podemos ler:

E aconteceu que, concluindo Jesus este discurso, a multidão se admirou da sua doutrina. Porquanto os ensinava como quem tem autoridade e não como os escribas.
O mesmo fato é relatado em Marcos 1:22 e Lucas 4:32. Isso é muito importante. Alguém que fala com autoridade é alguém que não denota insegurança, confusão e muito menos loucura. E alguém que fala com mais autoridade do que escribas (que também eram mestres da lei) é alguém apresenta uma inteligência e uma sagacidade ímpar.

Em suma, o tal Jesus era um indivíduo que falava com sobriedade sobre temas profundos e, alguns até absurdos, como já foi dito. E, pregando por longos três anos e meio, só foi calado no momento em que ele mesmo se entregou, sob nenhuma acusação de crime. Portanto, esse judeu de nome Jesus, que viveu no primeiro século e que foi crucificado, não apresenta nenhum traço que nos possibilite chamá-lo de lunático. Pelo contrário, o que conhecemos de Jesus (e que é confiável), nos revela um homem extremamente lúcido e inteligente.

Isso conclui essa segunda postagem. Vemos que todas as explicações naturalistas de quem teria sido Jesus falham feio. Jesus não pode ter sido só um grande mestre da moral. Se o que ele dizia ser era mentira, então ou ele era um mentiroso ou um lunático. Só que Jesus não tinha motivos para mentir e nem os seus discípulos. E também não há possibilidade de Jesus ter sido louco (nem seus seguidores, aliás, que eram profundos como eles). Então, chegamos à seguinte conclusão: Jesus não foi apenas um homem como qualquer outro. Ele foi algo mais que isso. Mas o quê? Um feiticeiro, um endemoninhado, um profeta? Vamos continuar as análises em nossa próxima postagem.
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Referências:


1.
C. S. Lewis, Cristianismo Puro e Simples - Martins Fontes, 2005.
2. Idem.
3. Idem.

domingo, 18 de novembro de 2012

Afinal, quem foi Jesus? - Parte 1: Um mito?

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O leitor deve se lembrar ainda (espero) dos argumentos que estudamos na série: “Argumentos para a existência de Deus”, aqui no blog. Entre os argumentos, tivemos o da Ressurreição de Jesus e o do Testemunho do Interno do Espírito Santo (fechando a série). Estes dois argumentos nos empurram para conclusão de que Jesus foi um Ser divino; parte do próprio Deus, que se fez humano e veio a terra sacrificar-se por nós. 


Mas será que isso tudo é verdade? Essa é a visão do cristianismo. Mas existem muitas outras visões diferentes sobre quem teria sido Jesus. Para alguns ateus, Jesus não existiu; foi mero fruto da imaginação humana. Outros sustentam que ele teria sido uma mentira formada pela mistura de vários mitos. Existe a opção de que ele teria sido um lunático. Muitos judeus o vêem como um impostor ou endemoninhado. Pessoas sem uma religião específica crêem que ele foi apenas um grande filósofo ou professor de uma elevada moral. Os islâmicos o sustentam como apenas um dos profetas de Deus, ser humano como qualquer outra. Mas quem está com a razão? Afinal, quem foi Jesus?



Com a finalidade de responder essa pergunta e ratificar os argumentos da ressurreição e do testemunho do Espírito Santo já afirmam, vamos analisar cada uma das diferentes teorias propostas e averiguar, por meio do raciocínio lógico, se alguma delas é mais plausível e provável do que a teoria de que Jesus realmente foi (e é) divino.



A primeira hipótese que iremos analisar nessa primeira postagem é a de que Jesus não teria existido. Essa hipótese se divide em duas versões. Na primeira, a pessoa só afirma que Jesus não existiu. Na segunda, a pessoa, além de afirmar que Jesus não existiu, sustenta que toda a sua história surgiu a partir de uma mistura de mitos, provenientes da mitologia egípcia e da mitologia grega. Nós vamos começar pela primeira.



A) Jesus não existiu, foi uma invenção



Conforme vimos no argumento da ressurreição, existem pelo menos dez critérios principais utilizados pelos historiadores para averiguar se o relato de um fato é digno de confiança (isto é, se o fato ocorreu ou não). Assim, para saber se Jesus existiu ou não, nós precisamos aplicar esses dez cri-térios aos documentos que falam sobre a existência de Jesus. Foi o que fizemos, aplicando esses critérios aos relatos do Novo Testamento, dos pais da Igreja e também de autores não-cristãos.



Vale lembrar que a crítica de que os documentos cristãos não servem para provar a historicidade de Jesus são infundadas, pois tais documentos satisfazem os critérios de confiabilidade, incluindo o critério do benefício (no qual, o autor do documento precisa não ter recebido benefícios com a descrição do fato). Nós vimos isso detalhadamente no argumento da ressurreição.



O resultado da aplicação desses critérios ao fato “existência de Jesus” foi a constatação de que ele é verdadeiro. Eu não cheguei a citar isso, mas a existência de Jesus é mais bem atestada do que a existência de outros personagens históricos relevantes como Alexandre o Grande, Júlio César e Tibério César. Grande parte do que sabemos sobre Alexandre o Grande, por exemplo, está escrito em basicamente duas biografias apenas (de Adriano e de Plutarco), que datam de mais de 400 anos depois da morte de Alexandre. Em contraponto, Jesus é citado por mais de 40 autores diferentes, ao longo dos primeiros 150 anos depois de sua morte, em documentos que satisfazem amplamente os critérios de confiabilidade.



Bem, eu citei no argumento da ressurreição o nome de alguns autores não-cristãos que chega-ram a falar sobre Jesus em seus documentos. A fim de dar uma idéia melhor para o leitor sobre como esses documentos são importantes vou expor algumas dessas citações. O tom de ceticismo, de hosti-lidade e até de ironia é comum nesses documentos, pois os autores não são cristãos e quem não era cristão naquela época era, em geral, contrário ao cristianismo.



A primeira citação é a de um historiador judeu chamado Flávio Josefo. Ele nasceu por volta do ano 37 d.C. Aos 19 anos entrou para o partido farisaico (o partido de líderes judaicos que ajudou a condenar Jesus). Fervoroso judeu, foi convocado para liderar as tropas judaicas da Galiléia na guerra contra os romanos em 66 d.C. Lutou bravamente até perceber que não adiantaria mais resistir. Então, se entregou ao império romano e assegurou uma vida tranqüila tornando-se historiador. Em sua obra Antiguidade dos Judeus, livro 18, capítulo 3, ele afirma:

Nessa época [a época de Pilatos], havia um homem sábio chamado Jesus. Sua conduta era boa e [ele] era conhecido por ser virtuoso. Muitos judeus e de outras nações tornaram-se seus discípulos. Pilatos condenou-o à crucificação e à morte. Mas aqueles que se tornaram seus discípulos não abandonaram seu discipulado, antes relataram que Jesus havia reaparecido três dias depois de sua crucificação e que estava vivo; por causa disso, ele talvez fosse o Messias, sobre quem os profetas contaram maravilhas.

Em outro trecho da mesma obra, Josefo faz alusão a Tiago, irmão de Jesus. Nesta parte, o his-toriador está relatando o que as autoridades judaicas fizeram aos cristãos, enquanto o sucessor do governador Festo, da judeia, não havia chegado para tomar o poder. Lê-se:
Mas o jovem Anano, que, como já dissemos, assumia a função de sumo-sacerdote, era uma pessoa de grande coragem e excepcional ousadia; era seguidor do partido dos saduceus, os quais, como já demonstramos, eram rígidos no julgamento de todos os judeus. Com esse temperamento, Anano concluiu que o momento lhe oferecia uma boa oportunidade, pois Festo havia morrido, e Albino ainda estava a caminho. Assim, reuniu um conselho de juízes, perante o qual trouxe Tiago, irmão de Jesus chamado Cristo, junto com alguns outros, e, tendo-os acusado de infração à lei, entregou-os para serem apedrejados.
A terceira citação vem de outro historiador, Cornélio Tácito. Este foi um romano, nascido em cerca de 55 d.C. Também chegou a ser governador em 112 d.C. Cornélio Tácito escreveu a história de Roma na era dos imperadores. Dentre eles, falou sobre o imperador Nero, descrevendo o incêncio que devastou a cidade de Roma no ano 64 e registrando a opinião corrente na época de que o próprio Nero ordenara que se colocasse fogo na cidade, a fim de atingir maior glória pessoal na reconstrução da cidade. Afirma em Anais XV.44:
Mas nem todo o socorro que uma pessoa poderia ter prestado, nem todas as recompensas que um príncipe poderia ter dado, nem todos os sacrifícios que puderam ser feitos aos deuses, permitiram que Nero se visse livre da infâmia da suspeita de ter ordenado o grande incêndio, o incêndio de Roma.
Portanto, para conter os rumores, Nero os apresentou como culpados e os puniu com a expressão máxima da crueldade, uma classe de homens, detestados pelos seus vícios, a quem a população designava de cristãos. Cristo, de quem derivava este nome, havia sido executado mediante sentença do procurador Pôncio Pilatos no tempo em que Tibério era imperador; e essa perniciosa superstição foi reprimida por algum tempo, para irromper outra vez, não apenas na Judéia, o berço da praga, mas na própria Roma, onde tudo o que é vergonhoso no mundo parece convergir e achar guarida conveniente.
Uma quarta citação é a de Caio Plínio II (Plínio, o Moço). Ele nasceu em 61 d.C. e chegou a ser governador da Bitínia, na Ásia menor. No ano 112 d.C., Plínio escreveu uma carta ao imperador Trajano, solicitando orientação sobre como tratar os cristãos. Na carta ele explica que vinha matando homens e mulheres, meninos e meninas. Eram tantos os que estavam sendo mortos que ele tinha dúvidas se deveria continuar matando todos os cristãos que descobrisse ou apenas alguns. 



Caio Plínio ainda explica que fizera os cristãos se curvarem perante as estátuas de Trajano e que ainda “os fez amaldiçoarem a Cristo, o que não se consegue obrigar um cristão verdadeiro a fazer”. Na mesma carta ele fala das pessoas que estavam sendo julgadas:
Eles afirmavam, no entretanto, que sua única culpa, seu único erro, era terem o costume de se reunirem antes do amanhecer num certo dia determinado, quando então cantavam responsivamente os versos de um hino a Cristo, tratando-o como Deus, e prometiam solenemente uns aos outros a não cometerem maldade alguma, não defraudarem, não roubarem, não adulterarem, nunca mentirem, e a não negar a fé quando fossem instados a fazê-lo (Epístolas X. 96).
Outro historiador romano, Suetônio, também faz uma citação aos cristãos. Ele nasceu em 69 d.C. Era um oficial da corte de Adriano e escritor dos anais da Casa Imperial. Em A vida de Cláudio, o historiador afirma: “Uma vez que estavam os judeus promovendo constantes agitações sob a instigação de Cristo, ele os expulsou de Roma”. Em A vida de Nero, diz também: “Nero infligiu castigo aos cristãos, um grupo de pessoas dadas a uma superstição nova e maléfica”.



Luciano de Samósata, um escritor satírico nascido em 125 d.C., é mais um que cita Jesus e os cristãos em seus escritos. Em tom de zombaria, ele relaciona os cristãos às sinagogas da Palestina e refere-se a Cristo como:
[...] o homem que foi crucificado na Palestina porque introduziu uma nova seita no mundo... Além disso, o primeiro legislador dos cristãos [Jesus] os persuadiu de que todos eles seriam irmãos uns dos outros, após terem finalmente cometido o pecado de negar os deuses gregos, adorar o sofista crucificado e viver de acordo com as leis que ele deixou (O Peregrino Passageiro).
Os comentários encontrados nos Talmudes também são bem interessantes. Eles são códigos de discussões rabínicas que começaram a ser escritos algum tempo após a destruição de Jerusalém em 70 d.C., baseado em tradições antigas de líderes judaicos. Vejamos dois trechos:
Na véspera da Páscoa eles penduraram Yeshu (de Nazaré) e antes disso, durante quarenta dias o arauto proclamou que ia ser apedrejado ‘por prática de magia e por enganar Israel e fazê-lo se desviar. Quem quer que saiba algo em sua defesa venha e interceda por ele’. Mas ninguém veio em sua defesa e eles o penduraram na véspera da Páscoa.
E acreditas que em favor de Yeshu de Nazaré houvesse qualquer direito de apelação? Ele era um enganador, e o Misericordioso disse: ‘Não o pouparás nem o esconderás.
Para finalizar a pequena lista de exemplos, a carta de Mara Bar-Serapion, um escritor sírio, que tenta encorajar o seu filho a adquirir conhecimento, é uma boa evidência não-cristã de que Jesus existiu. O documento é datado de cerca de 73 d.C. Na época Mara Bar-Serapião estava preso, mas procurou incentivar seu filho, por meio de uma carta, à buscar a sabedoria. Ele argumenta ainda que embora os homens sábios sempre tenham sido perseguidos, seus ensinos sobreviveram. Lemos:
Que vantagens os atenienses obtiveram em condenar Sócrates à morte? Fome e peste lhes sobrevieram como castigo pelo crime que cometeram. Que vantagem os habitantes de Samos obtiveram ao pôr fogo em Pitágoras? Logo depois sua terra ficou coberta de areia. Que vantagem os judeus obtiveram com a execução de seu sábio Rei? Foi logo após esse acontecimento que o reino dos judeus foi aniquilado. Com justiça Deus vingou a morte desses três sábios: os atenienses morreram de fome; os habitantes de Samos foram surpreendidos pelo mar; os judeus, arruinados e expulsos de sua terra, vivem completamente dispersos. Mas... Sócrates não está morto; ele sobrevive nos ensinos de Platão. Pitágoras não está morto; ele sobrevive na estátua de Hera. Nem o sábio Rei está morto; ele sobrevive nos ensinos que deixou.
Ainda existem outros documentos que eu poderia citar. Porém, esses são os principais e são unanimemente reconhecidos pelos historiadores como documentos confiáveis. Perceba que só por esses, já era possível remontar o básico da história descrita em documentos cristãos: que Jesus foi um homem judeu sábio, que era conhecido por ser virtuoso, que fez muitos discípulos, que morreu em uma cruz e cujos discípulos não abandonaram a fé nele, mas passaram a acreditar na sua ressurreição e a espalhar essa fé com tanto fervor a ponto de aceitarem torturas e morte de judeus e romanos.



Portanto, não há um motivo sequer para crer que Jesus não existiu. A hipótese é terrivelmente ignorante e anti-histórica. Poderíamos terminar por aqui e nem analisar a hipótese de que Jesus teria sido uma mistura de mitos pagãos sustentado pelos apóstolos. Afinal, já sabemos que ele existiu. No entanto, devido à repercussão que a mesma tem tido entre os “céticos” leigos, ela merece ser uma análise específica.



B) Jesus não existiu, foi uma mistura de mitos



Os primeiros estudiosos que puseram em dúvida a existência histórica de Jesus surgiram na época do iluminismo. A teoria não durou muito e a maioria dos grandes historiadores atuais (cristãos e não-cristãos) a considera absurda. Em 2007, no entanto, houve uma tentativa estapafúrdia dos produtores de um documentário chamado Zeitgeist de resgatar esta tese, afirmando haver paralelos entre Jesus e deuses antigos como Hórus, Osíris, Átis, Dionísio e Mitra. A ideia seria mostrar que tais paralelos provam que Jesus foi apenas uma invenção dos primeiros cristãos, baseada em mitos antigos de outras religiões. Entre os paralelos estariam: o nascimento virginal, o nascimento no dia 25 de dezembro, os 12 discípulos, o título e a missão de salvador do mundo, a morte em uma cruz e a ressurreição.



Mas o documentário só teve sucesso entre o público leigo, que, em geral, não procurou pesquisar sobre o assunto. Qualquer que procure estudar um pouco sobre o que diz o documentário, perceberá facilmente como que a hipótese se baseia em especulações, interpretações forçadas, fontes não confiáveis e até mesmo falsificações. Vamos fazer uma análise bem breve (numa outra ocasião farei uma análise mais detalhada do documentário).



No que diz respeito ao nascimento virginal, por exemplo, nenhum dos deuses citados nasceu sem que seus progenitores tivessem uma relação sexual. Só para citar dois deuses: Hórus, um deus da mitologia egípcia, surgiu da cópula entre a deusa Isis e o deus Osíris; Mitra, em algumas tradições pagãs, nem sequer nasceu de um ser vivo, mas a partir de uma rocha. Então, o que a teoria quer dizer quando afirma que tais deuses tiveram nascimentos virginais?



Quanto à data 25 de dezembro, ela não corresponde à verdadeira data de nascimento de Jesus Cristo. Ela era apenas a data fixada pelos pagãos para celebrar o nascimento de Mitra e que acabou sendo utilizada pela Igreja Romana para comemorar o nascimento de Cristo, com o intuito de unir cada vez mais os cristãos e os pagãos do império. Ou seja, não há aqui paralelo entre Jesus e deuses pagãos quanto à data de nascimento. Jesus não nasceu dia 25 de Dezembro.



Os doze discípulos atribuídos a Hórus não aparecem em nenhum relato antigo da mitologia egípcia. Na verdade, Hórus, na mitologia egípcia, jamais foi narrado como sendo um mestre, mas sim um deus. Por esse motivo, seus seguidores não eram discípulos, mas semideuses e ferreiros que o acompanhavam nas guerras. E não eram apenas doze, mas centenas deles.



Com relação ao título e a missão de salvador do mundo, isso é totalmente incompatível com estes deuses. Em todas as mitologias, deuses são apenas seres poderosos que governam o mundo (ou parte dele) e que em algum momento disputam entre si o poder (ou outra coisa em que tenham interesse). A idéia de um salvador e, principalmente, de um redentor que sacrifica sua vida em prol dos humanos não provém dessas mitologias. 



Isso fica evidente, por exemplo, quando constatamos que Hórus, Osíris e Átis não sabiam que iriam morrer (ao contrário de Jesus). E a morte dos mesmos em nada ajudou os seres humanos, dando-lhes algo como salvação ou renovação espiritual. Ou seja, não houve um sacrifício vicário, nem uma redenção e muito menos a salvação de algum ser humano. As mortes desses deuses foram azares em suas vidas e não o cumprimento de uma missão pré-estabelecida.



A crucificação de alguns desses deuses é outra mentira. Além de não haver fonte antiga da mitologia egípcia que afirme isso, os primeiros relatos de crucificação só aparecem na pérsia mil depois do surgimento de Mitra. E ela só chegou ao Egito por meio de Alexandre, o Grande, quando o mito de Hórus já existia há séculos. Como, então, esses deuses teriam sido crucificados, se não havia esse tipo de morte quando tais mitos foram elaborados?



Por fim, no que diz respeito à ressurreição desses deuses, duas observações precisam ser feitas aqui. A primeira é que nas religiões pagãs era comum que se adorassem deuses que morriam e reviviam continuamente. Estes deuses eram símbolos de ciclos naturais, como a colheita. Em época de seca, por exemplo, dizia-se que o deus da colheita estava morto e ao término da seca, dizia-se que ele estava revivendo. Isso nada tem a ver com a idéia de ressurreição da Bíblia, na qual uma pessoa de carne e osso morre fisicamente e depois retorna à vida, com o mesmo corpo, só que restaurado. 



A segunda observação é que deuses como Hórus, Osíris e Átis, na verdade, não retornaram à vida da mesma forma como Jesus retornou. A morte de Hórus, por exemplo, não é citada até o momento em que ele se funde com o deus-sol Rá e passa a “morrer” todos os dias quando o sol se põe (tornando a vida no nascer do sol). Já Osíris, ao ter seus pedaços reunidos por Isis, se torna um deus-múmia, passando a habitar no mundo dos mortos. E Átis, em algumas tradições, ressurge como uma árvore e, em outras, como um ser que só conseguia movimentar um dedo (o que se assemelha muito mais a reencarnação do que a ressurreição).



Além dessas análises, deve-se ter em mente que grande parte do que se sabe sobre esses deuses está em documentos que datam de 200 d.C a 300 d.C. O pouco que se conhece a respeito desses deuses e que fazem parte de documentos anteriores ao nascimento de Jesus Cristo está, em sua maioria, em desenhos, nos quais a interpretação pode ser um tanto quanto subjetiva. 



Em outras palavras, qualquer semelhança que haja entre Jesus Cristo e os deuses pagãos provavelmente é um efeito da influência do cristianismo sobre as religiões pagãs nos primeiros séculos e não o contrário. Até porque, o cristianismo surgiu do judaísmo em um contexto no qual os judeus estavam mantendo sua religião fechada e muito apegada às suas leis. Acreditar, portanto, que esses mitos influenciaram os primeiros cristãos (que eram judeus) é acreditar em algo extremamente improvável (e que também não apresenta evidências).



Outro ponto importante e que foi levantado pelo doutor em história das religiões Crhis Forbs, é que essas mitologias não se inserem em contextos históricos. Elas são narradas como se fossem contos de fadas. Não apresentam datas, nem nomes de pessoas reais, nem descrições detalhadas do contexto histórico e político, nem o nome das pessoas importantes, nem os costumes da época e muito menos se relacionam com eventos importantes e reais (fatos históricos). Na postagem em que falei sobre o argumento da ressurreição, falei sobre isso quando apresentei o primeiro critério para a confiabilidade de um fato. O leitor se lembra? 



As mitologias da Grécia e do Egito são mais ou menos como o folclórico Saci Pererê, daqui do Brasil. São histórias que não se inserem em um contexto espaço-temporal, no qual podemos iden-tificar a história, a cultura, a economia, a política, os costumes etc. Em contraponto, Jesus Cristo está amplamente inserido em um contexto espaço-temporal. Esta é a grande diferença entre Jesus Cristo e os mitos das outras religiões.



Aqui voltamos àquela questão da invenção de uma mentira, que também tratei no primeiro critério de confiabilidade: um mentiroso jamais misturará uma mentira a fatos históricos importantes e recentes, dando detalhes do contexto em que inseriu a mentira. Como já exemplifiquei, eu poderia inventar que existiu um lobisomem na minha cidade. Mas minha mentira jamais iria para frente se eu dissesse que esse lobisomem nasceu em Deodoro, foi vereador, teve uma crise na câmara, seqüestrou o prefeito, foi preso, ficou quatro anos no presídio e quando saiu foi morto em praça pública por muitas pessoas cuja maioria está viva até hoje. Mas é isso que a Bíblia faz com relação à história de Jesus Cristo. Poderia, então, ser uma mentira? É claro que não.



Portanto, todas essas teorias de que Jesus Cristo teria sido invenção e uma mistura de mitos, não passa de ceticismo ignorante, que não resiste a uma análise mais detalhada. O único motivo pelo qual essas teorias ainda circulam por aí é que os auto denominados céticos não fazem um exame cético de seu próprio ceticismo. 



Se, com tudo isso, o leitor ainda duvida da existência de Jesus, então seja honesto e passe a duvidar também de Alexandre o Grande, Júlio César e outros personagens que são tão reconhecidos pelos historiadores, embora sejam historicamente menos confiáveis que Jesus.
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Bibliografia:



1. F.F. Bruce, Merece confiança o Novo Testamento? – Ed. Vida Nova, 2010 (Terceira Edição).
2. Josh McDowell, Evidência que exige um veredicto – Ed. Candeia, 1996 (Segunda Edição).
3. Norman Geisler e Frank Turek, Não tenho fé suficiente para ser ateu – Ed. Vida Acadêmica.
4. Renato Groger, Osíris e Hórus: Protótipos do Jesus da fé? (Artigo presente no seguinte link:


5. William Lane Craig, Jesus e a mitologia pagã (Artigo presente no seguinte link:


6. Marina Garner, Jesus Cristo: um plágio? (artigo presente no link:


7. Guilherme Born, Jesus: um plágio? (Artigo presente no link:


8. J. P. Holding, Andando como um Egípcio (Artigo presente no link:


9. Zwinglio Alves Rodrigues, O Cristianismo e as Religiões de Mistérios Pagãs (Artigo presente no link:


10. Ronald Nash, O Novo Testamento foi influenciado pelas religiões pagãs?(Artigo presente no link: http://www.monergismo.com/textos/apologetica/nt-rel-pagas_nash.pdf).