domingo, 27 de janeiro de 2013

Confusões clássicas sobre Direita e Esquerda

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Em qualquer site ou livro de história geral que o leitor for procurar informações sobre a origem da esquerda e da direita política, o resultado será o mesmo: esquerda e direita são dois termos que surgiram na época da revolução francesa (1789-1799) para distinguir posições conservadoras (direita) das posições radicais (esquerda), no âmbito da política. Essas informações não estão erradas. Eu mesmo as ofereço na postagem "Definição de Direita e Esquerda". Contudo, é necessário desfazer algumas confusões clássicas que costumam obscurecer o entendimento do que os dois termos, de fato, significam.

A primeira confusão que precisamos desfazer é a seguinte: o que surgiu na época da revolução francesa não foram as definições do que é direita e esquerda, mas somente os termos direita e esquerda. Existe uma diferença abissal entre uma definição de algo e o termo usado para nomear esse algo. Por exemplo, existe um tipo de transporte público que é cumprido, retangular, tem vários assentos e anda no asfalto. Essa é a definição do objeto (do “algo”). O termo que é usado para nomear esse objeto é ônibus.

Perceba que o termo não é a mesma coisa que a definição. E note que a definição do objeto pode surgir antes do termo que o nomeia. Na verdade, isso é o que geralmente acontece, sobretudo, no campo das idéias. Quando o capitalismo surgiu, não tinha esse nome. Foi Marx que passou a designá-lo assim depois de tê-lo observado e entendido a sua definição. O cristianismo, quando surgiu, também não tinha esse nome. O termo só começou a ser utilizado posteriormente.

A coisa não é diferente quando tratamos do espectro político. Direita e esquerda são ideologias que já vinham se desenvolvendo muito antes dos franceses distinguirem suas posições ideológicas pelos assentos que ocupavam, designando assim tais termos para uso político.

No entanto, a maioria esmagadora das pessoas não percebe esse pequeno detalhe e acabam acreditando que tanto as definições como os termos do espectro político foram criados na revolução francesa. O resultado dessa confusão são explicações incoerentes como essa:

Direita e esquerda surgiram na revolução francesa quando o rei absolutista da França convocou os estados gerais para uma assembléia. Aqueles que eram favoráveis à conservação do poder absoluto do rei e dos privilégios da nobreza ficavam à direita do rei, enquanto que aqueles que queriam a derrubada do poder absoluto e dos privilégios da nobreza sentavam-se à esquerda. Assim, passou-se a denominar de direita quem é a favor da conservação dos poderes e privilégios da elite e de esquerda quem é contra essa conservação.
Não, não, não! Está tudo errado. Aqueles que eram a favor da conservação do poder absoluto do rei e dos privilégios da nobreza eram partidários não do pensamento de direita, mas do pensamento do antigo regime absolutista. Dizer que a direita era uma ideologia que apoiava esse antigo regime é a mesma coisa que dizer que a direita existe desde os primórdios da humanidade. Afinal, desde o início existiram reis com poderes absolutos e uma nobreza com privilégios.

Mas assumir que a direita existe desde os primórdios da humanidade não apenas contradiz a própria explicação de que ela surgiu na revolução francesa como contradiz a idéia de que ela ainda existe hoje. Ora, o antigo regime absolutista já foi derrubado em todos os países. Ainda há muitas ditaduras, por certo, mas não se tratam das monarquias absolutistas antigas. Se considerarmos, ainda, que a direita se caracteriza por ser elitista, então devemos considerar que os próprios governos comunistas que existiram no mundo foram de direita, pois havia em todos eles uma elite do governo que tinha seus salários garantidos, que não passava fome (como parte do povo passava), que não abria mão de seus poderes, que não ia à guerra e etc. Isso não é um governo elitista?

A verdade é que todo o governo é, por definição, elitista. Mesmo o governo mais esquerdista. Afinal, de contas o governo é formado por políticos que jamais passarão o que o povo passa. A esquerdíssima Dilma Rousseff, atual presidente do Brasil, por exemplo, não vai ficar desempregada, não vai receber salário baixo, não vai passar fome, não vai ser presa injustamente, não vai ser assaltada na rua, não vai ter sua casa roubada, não vai precisar esperar em fila de hospital público. Jamais. Se uma epidemia de alguma doença grave atingir qualquer país, os políticos serão todos vacinados. Se houver uma guerra, eles não serão convocados para batalhar. Se a guerra causar fome generalizada, tenha certeza que nenhum político morrerá por não ter o que comer. Ser político garante privilégios que o povo não tem. Isso caracteriza elitismo.

Então, fica claro que é incoerente dizer que os defensores do antigo regime eram de direita ou que a direita é o posicionamento que defende o elitismo. São idéias que não fazem nenhum sentido lógico. Da mesma maneira, é incoerente dizer que esquerda é a oposição ao antigo regime ou que é o posicionamento que ataca o elitismo.

A pergunta que pode surgir agora é: “Mas, então, o que eram os defensores do antigo regime e os contrários a ele?”. Bem, os defensores do antigo regime absolutista eram simplesmente os defensores do antigo regime absolutista. Não eram de esquerda, nem de direita, nem de centro. Eram absolutistas.

O antigo regime monárquico, sobretudo o absolutista, era um regime baseado em premissas que hoje nos são estranhas. O rei era rei e era absoluto porque ou Deus assim queria (apelo à religião), ou porque ele conquistou esse poder com seus exércitos (apelo à força) ou porque “sempre foi assim e deve continuar sendo assim, não importando se é bom ou ruim” (apelo à tradição) ou mesmo por todos esses motivos juntos. Nesse tipo de regime, não havia ideologias ou propostas de mudanças. Não havia livre discussão de idéias dentro lei. Não havia um plano de governo ou um objetivo político. Não havia partidos. Não havia direita. Não havia esquerda.

Direita e esquerda são modos de pensar que não fazem sentido dentro do antigo regime absolutista. São ideologias que se desenvolveram para existir dentro de um novo regime político. A discussão entre direita e esquerda não é e jamais foi uma discussão entre o novo e o antigo regime. Tanto direita como esquerda já são parte do (e só fazem sentido no) novo regime.

Quanto aos que eram contrários ao antigo regime e, portanto, favoráveis ao novo, eles poderiam ter uma orientação tanto de direita como de esquerda. Não há contradição aqui, porque direita e esquerda eram, ambas, de um novo regime que lutava para vencer o absolutismo. No caso da revolução francesa, a grande maioria dos revolucionários era de orientação esquerdista.

Os motivos da adoção dos termos

Certo. Entendemos que os termos direita e esquerda surgiram na revolução da França, mas não as definições. Entretanto, alguém pode levantar uma objeção, dizendo que um termo só surge quando a definição já está pronta. Ou seja, se os partidários do antigo regime foram chamados de direita e os opositores foram chamados de esquerda é porque as definições eram essas mesmas. Mas isso está errado. Direita e esquerda eram, no início, apenas as alas da assembléia onde os franceses sentavam. Nesse sentido, sim, os partidários do antigo regime eram da direita (a ala direita) e os opositores eram da esquerda (a ala esquerda).

A adoção dessas palavras como termos que designavam ideologias políticas só ocorreu posteriormente e necessitaram se adaptar às definições reais de cada uma dessas ideologias. A base, é claro, ficou. A direita é a ideologia mais conservadora e a esquerda é a ideologia mais radical. Mas, afora essa idéia básica que os termos carregavam desde a revolução francesa, não há nada do contexto da revolução que sirva para definir cada uma dessas ideologias.

Vamos ver alguns exemplos. Todo mundo sabe que a revolução francesa foi uma revolução burguesa. A burguesia, na época, era uma classe ainda em ascensão e que era muito atrapalhada pelos privilégios da nobreza e o amplo poder do rei. Ora, se formos considerar que a definição de esquerda e de direita surgiu na revolução francesa, então devemos concluir que a esquerda deveria ter sido sempre favorável à burguesia. Porém, o marxismo, que é a mais importante doutrina da esquerda, se opõe à burguesia. Seria o marxismo de direita, então?

Da mesma maneira, todo mundo sabe que os partidários do antigo regime eram totalmente contrários à limitação do poder do Estado (representado pelo rei). Se formos considerar, então, que a definição de esquerda e de direita surgiu na revolução francesa, devemos concluir que a direita deveria ter sido sempre contrária à limitação do poder do Estado. Porém, o partido republicano dos EUA, que é de direita, por exemplo, jamais teve tal postura. Pelo contrário, seus políticos costumam defender um Estado que não se meta muito na vida do cidadão e das empresas, a fim de que o poder do governamental não aumente. Seria o partido republicano de esquerda, então?

Os exemplos não deixam dúvidas de que para definir direita e esquerda nós não devemos olhar para a revolução francesa. A revolução francesa apenas serve como base para nomear definições já existentes; definições que já vinham se desenvolvendo desde muito tempo.

O desenvolvimento das ideologias

Chegamos, enfim, ao ponto em que cabe perguntar: “Quando foi que surgiram as ideologias de direita e esquerda?”. Bem, acredito que utilizar a palavra “surgiram” não reflete muito aquilo que realmente aconteceu. “Surgiram” dá a impressão de que elas passaram a existir de repente, do nada. Mas a verdade é que as ideologias que viriam a ser chamadas de direita e esquerda foram se desenvolvendo gradualmente ao longo dos anos até estarem bem definidas e poderem receber os nomes que hoje conhecemos.

Podemos entender esse processo da seguinte maneira: o antigo regime começou a se tornar alvo de muitas críticas entre os séculos XVII e XVIII. Pensadores passaram a formular teorias políticas em que esse sistema absolutista seria abolido e daria lugar a algum sistema mais igualitário e justo. Entre os intelectuais, o antigo regime começou a perder muitos adeptos. A nova leva de pensadores tinha um pensamento em comum: o sistema político deveria ser mudado. Da forma como estava não dava.

Esse é o ponto de partida. Os novos pensadores concordavam que deveria haver uma mudança no sistema. Mas como seria o novo sistema? Quais seriam as funções do governo? Como se poderia evitar que os governantes se tornassem déspotas? Qual era o limite de atuação do Estado? Como o Estado poderia resolver os principais problemas que a sociedade passava? Quais seriam os métodos utilizados? Quais eram as melhores propostas de governo? Como encarar as novas mudanças que surgiam, como a criação de indústrias, o crescimento do comércio e as novas tecnologias?

Foi a partir desses questionamentos que os novos pensadores que iam surgindo passaram a ter divergências entre si. Afinal, cada um tinha uma proposta diferente. Cada um enxergava a sociedade de uma maneira distinta um do outro. Entretanto, as diversas idéias diferentes que surgiram na época sobre como deveria ser o novo sistema podem ser divididas em dois grandes grupos: o grupo humanista e o grupo pessimista.

Como já vimos nas últimas postagens, os humanistas eram aqueles que achavam que o ser humano tinha plena capacidade de remodelar toda a sociedade, tornando-a um paraíso. Muitos dos humanistas eram deístas, agnósticos e ateus. Então, isso facilitava o antropocentrismo. O homem tinha suas qualidades elevadas e passava a ocupar o lugar do próprio Deus, tornando-se capaz de redimir a humanidade.

Já os pessimistas eram aqueles que achavam que o ser humano é da forma como tem sido desde sempre e isso nunca vai mudar. Essa visão não estava relacionada com a religião, mas sim com a observação de como o mundo sempre foi e de como o homem costuma a agir. Paixões infames, inclinações ao mal, tendência ao egoísmo... Mesmo alguns pensadores ateus, agnósticos e deístas não tinham dificuldade de ver que essa era a natureza do ser humano. Assim, embora tais pensadores defendessem a criação de um novo regime, mais justo e não-despótico, não acreditavam muito na bondade do homem e em uma transformação tão ampla da sociedade.

Há também um meio termo nessa história. Muitos pensadores se dividiam entre idéias de ambos os grandes grupos, ficando no centro desse espectro. É no interior desse espectro que as noções de direita e esquerda começam a surgir (embora não com esses nomes ainda). Pensadores como Adam Smith, David Ricardo, Edmund Burke, Thomas Jefferson, John Locke e Voltaire foram muito importantes para o desenvolvimento das idéias da direita. Já pensadores como Rousseau, Robert Owen, Saint-Simon, Charles Fourier, Robespierre, Danton e Marat foram muito importantes para o desenvolvimento das idéias de esquerda. No centro do espectro, podemos colocar Montesquieu, já que ele teve idéias que foram cooptadas tanto pela direita como pela esquerda.

O desenvolvimento das ideologias continua mesmo depois da revolução francesa, ganhando novos pensadores como Comte, Proudhon, Bakunin, Marx e Engels para esquerda, bem como Tocqueville, Hume, Mill e Popper para a direita. Caso o leitor tenha algum conhecimento sobre esses autores, pode perceber que todos eles seguem as mesmas duas linhas de raciocínio que foram desenvolvidas no século XVII e XVIII: a humanista e a pessimista, que deram origem, respectivamente à esquerda e à direita.

Por que esclarecer esses pontos?

O leitor pode estar se perguntando a razão de se esclarecer esses pontos. Qual é o problema de se confundir o aparecimento das palavras direita e esquerda como termos políticos com o surgimento das ideologias e definições em si? No fim das contas não dá no mesmo? Não, não dá.

Entender como essas duas ideologias distintas e opostas se desenvolveram é algo essencial para que possamos defini-las corretamente. Por exemplo, movimentos como o fascismo italiano e o nazismo alemão tem sido rotineiramente chamados de movimentos de extrema-direita. Mas isso não faz sentido. Afinal, a direita prega, desde seu início, o individualismo, o Estado pouco interventor, a prudência política e um forte ceticismo em relação à bondade do ser humano e a qualquer projeto de remodelação radical deste mundo. Assim, um regime de extrema-direita deveria ser um regime que levasse esses princípios ao extremo.

Contudo, o que vemos em regimes como o fascismo e o nazismo é justamente o contrário. Foram regimes coletivistas, fortemente interventores, adeptos de um terrível radicalismo político, defensores da perfectibilidade do homem de sua “raça” e crentes em uma remodelação completa da sociedade através da mão do Estado. Curiosamente, características que fazem parte justamente da esquerda, embora extremadas.

A pergunta é: o que há no fascismo e no nazismo que se assemelha com o que a direita defende? Não há nada. As justificativas para que tais regimes sejam colocados no campo da direita são sempre confusões como as que abordamos nessa postagem. Diz-se que a direita é elitista porque se classifica o antigo regime como direita. Assim, nazismo e fascismo passam a ser de direita.

Diz-se que a esquerda é contrária ao elitismo porque se ignora que todo governo é elitista por definição e que os governos mais esquerdistas que existiram no mundo (os comunistas) foram também os mais elitistas. Assim, o comunismo é visto como um regime realmente igualitário, em oposição ao nazismo e ao fascismo.

Diz-se que ser de esquerda é, necessariamente, ser comunista. Assim, nazismo e fascismo, que eram anticomunistas, passam a ser tão de direita quanto os governos dos EUA e da Inglaterra da época da segunda guerra mundial.

Por fim, definições errôneas que só existem e persistem porque não se faz uma distinção entre o surgimento de temo e definição. Esta é a razão pela qual é importante esclarecer esses pontos para o leitor. Esse foi o objetivo dessa postagem. E o leitor que for honesto consigo mesmo, verá que em momento algum tentei fazer um revisionismo histórico (no sentido pejorativo da palavra), mas apenas resolver as inconsistências que existem nas definições populares de direita e esquerda, que são baseadas nessa confusão entre termo e definição.

A Lógica Esquerdista: O Diálogo

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Direitista: O que você faria para melhorar a sociedade se virasse presidente e tivesse a maioria dos parlamentares a seu favor?
Esquerdista: Eu começaria aumentando os impostos das empresas.
Direitista: Por quê?
Esquerdista: Porque assim eu atacaria o lucro das empresas e redistribuiria esse dinheiro para a população em forma de programas sociais.
Direitista: Mas aí as empresas iriam aumentar os valores dos produtos e a situação seria a mesma.
Esquerdista: Bem, então, eu iria controlar preços, proibindo o aumento.
Direitista: Aí as empresas iriam despedir funcionários e o desemprego aumentaria e a situação seria a mesma.
Esquerdista: Não se eu proibisse também as demissões.
Direitista: Mas isso é fascismo, não é?
Esquerdista: Não é. Eu só quero o melhor para as pessoas.
Direitista: Entendo. Mas você sabe que a vida empresarial é feita de investimentos e riscos. Se você controlar as empresas dessa maneira, elas terão dificuldades de crescimento e estarão expostas à crises e falências. Como você resolve isso?
Esquerdista: Quando uma empresa estiver mal das pernas, o meu governo irá supri-la com dinheiro.
Direitista: Uhn... Mas essa parceria público-privada não aumenta os riscos de gastos inúteis, desvios de verbas e corrupção? E mais: Será que o governo realmente vai redistribuir bem o dinheiro para a população?
Esquerdista: Mas o homem é bom por natureza. O que o corrompe é a sociedade. Se tivermos um governo com as pessoas certas, é possível mudar. Um governo com bons esquerdistas é capaz de transformar a sociedade.
Direitista: Ok... [diz o direitista, se esforçando para não soltar uma gargalhada]. Mas de onde você vai tirar o dinheiro para suprir as empresas?
Esquerdista: Ora, dos impostos ué...
Direitista: E quem pagará esses impostos? Não podem ser as próprias empresas, que já pagarão altos impostos, né...
Esquerdista: Os impostos são pagos por todo o povo...
Direitista: Então, se as empresas vão mal das pernas por causa do próprio governo, quem arcará com a conta é o povo? Isso não vai fazer a situação ficar igual a de antes?
Esquerdista: Ah, cale a boca, seu fascista, reacionário, capitalista, burguês, filho de uma égua! Não tem como conversar com você...

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Índice II: Política, Economia e Cultura

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- Direita x Esquerda  
Definição de Direita e Esquerda
Por que me tornei de direita - Parte 1
Por que me tornei de direita - Parte 2
Confusões clássicas sobre Direita e Esquerda
Babilônia Política

- Mentalidade Revolucionária  
Os principais erros de Marx
Esquerda: uma religião política

A Crença no homem: uma análise crítica 
A Droga da Mentalidade Classista 
O comunismo tal como apresentado em "Manifesto do Partido Comunista"
O Antimarxismo de Hitler prova que ele era de direita?
O nazismo e o fascismo foram movimentos conservadores políticos?
Considerações sobre a trilogia "Jogos Vorazes", de Suzanne Collins  
Sobre o marxismo heterodoxo (ou: o que alguns pretensos estudantes de história ignoram) 

- A dinâmica do governo esquerdista
O Conceito de Beneficiários e Funcionais
Os quatro perfis de esquerdista (ou: por que não acredito em governos de esquerda?)  
O conservador, a prudência e a reforma agrária 
O que a esquerda defende

- Desmascaramento
O humanismo roxo de senhora Joana
Carta a um professor marxista

As contradições dos discursos de esquerda
A Lógica Esquerdista: O Diálogo

Ao manifestante brasileiro
O que a direita brasileira quer? 
Colocando os pingos nos i's (ou: assumam as merdas que vocês fazem)
Como discutir a redução da maioridade penal com um esquerdista 
Esfacelando a suposta dualidade "educar x punir" 
Indicação do livro: "Mentiram pra mim sobre o desarmamento" 

- Economia de direita
O capitalismo produziu/produz genocídios?

O que realmente é o capitalismo?
Capitalismo gera miséria? 
Não, a Crise de 1929 não foi causada pelo liberalismo econômico
25 personalidades que começaram do zero e se tornaram empresários de sucesso 

- Pensando Direito: como a direita pode inovar na política
Parte 1: Reforma Política
Parte 2: Autofinanciamento Partidário
Parte 3: Educação 

- Como seria um bom governo de direita?
Parte 1
Parte 2
Parte 3
Parte 4

- Educação, cultura e moralidade
Pisoteando o professor e "investindo" mais em educação
Considerações sobre o aborto
A questão do casamento gay
A democratização da imbecilidade e da devassidão
Dez coisas que você pode fazer para mudar a educação no Brasil
A punição do cidadão honesto 
A importância da prática da leitura
Sobre o cavalheirismo
Um apelo ao senso de realidade: breve análise sobre o Jornalismo Utópico 
Como destruir em pedacinhos a educação de um país

- Política brasileira
FHC, PSDB e a diferença entre a Social-Democracia e a Direita

A gestão do PSDB entre 1994 e 2002 e as razões da direita para escolher os social-democratas nessas eleições
Você tem certeza de que vai votar no PT?
Colocando os pingos nos i's (ou: assumam as merdas que vocês fazem)

Índice I: Teologia

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- Argumentos para a existência de Deus (Série)
Parte 1: Argumento Cosmológico
Parte 2: Argumento Teleológico
Parte 3: Argumento Moral
Parte 4: Argumento da Razão Humana
Parte 5: Argumento Ontológico
Parte 6: Argumento da Ressurreição
Parte 7: O Testemunho Interno do Espírito Santo


- Afinal, quem foi Jesus? (Série)
Parte 1: Um Mito?
Parte 2: Um Homem Comum?
Parte 3: Mais que um simples homem


- Destrinchando Zeitghest (Série)
Parte 1: Jesus e a mitologia pagã
Parte 2: Ignorância Estratégica
Parte 3: O Jesus Histórico
Parte 4: Truques Psicológicos
Parte 5: Religiosos Políticos


- Postagens sobre o livro "Supostamente Cruel"
Lançamento do livro "Supostamente Cruel"
Sobre o livro "Supostamente Cruel"
Vídeo de divulgação do livro "Supostamente Cruel"
Palestra de lançamento do livro "Supostamente Cruel"
Aquisição do livro "Supostamente Cruel"

- Perspectivas Cristãs I: Razão
A necessidade da morte de Jesus Cristo
Cristianismo: uma religião de fatos
Os cristãos e a ressurreição de Jesus Cristo
Sobre os Milagres
O Problema do Sofrimento

Contos de Fada
Um jornalista perdido e a origem da solidariedade
Por que é importante ter uma fé racional?

Tudo o que um líder cristão não deveria fazer
O deus do evangelho libertário (ou: analisando a "Caiofabiologia")
Sejamos cristãos racionais

A marca da besta é um microchip?

- Perspectivas Cristãs II: Conduta, hábitos e moralidade 
Os porquês da virgindade antes do casamento
O casamento dentro da perspectiva bíblica cristã
Como tratar um homossexual (princípios básicos)
A homossexualidade é imoral?
Maridos, amai vossa esposa (ou: como o marido cristão deve agir, segundo a Bíblia)
Sobre o cavalheirismo
Um recado ao amigo cristão
O perdão de Cristo para os mais terríveis pecados 
Por que a oração é importante?
A importância da prática da leitura
Considerações sobre a trilogia "Jogos Vorazes", de Suzanne Collins  
Em defesa da insatisfação 

Análises Bíblicas Variadas
Análise sobre o texto de Mateus 16:18-19
Jesus e o judaísmo
A graça e a boa conduta moral
O inferno é um lugar de tormento eterno?
Avaliando os principais argumentos do catolicismo 
A história tradicional de Satanás é bíblica?
Sobre as leis bíblicas de Saúde   

Breves considerações sobre a lei - Parte 1: sobre a "anomia"
Breves considerações sobre a lei - Parte 2: sobre "innomos"

- Sabatismo
Um pouquinho sobre os adventistas do sétimo dia
Razões Bíblicas pelas quais sou sabatista
Os tipos de lei da Torá e sua relação com o sacrifício de Jesus - Parte 1 
Os tipos de lei da Torá e sua relação com o sacrifício de Jesus - Parte 2
Refutando Alguns Argumentos anti-sabatistas - Parte 1  
Refutando Alguns Argumentos anti-sabatistas - Parte 2
Quando eu também tinha medo
Diálogo entre Deus e o homem que queria mudar a Sua Palavra

Uma palavrinha sobre o sábado
Analisando o vídeo “Já estamos no sétimo dia” - Parte 1 
Analisando o vídeo “Já estamos no sétimo dia”- Parte 2
É possível realmente guardar o sábado? E os trabalhos imprescindíveis? 

- Postagem fixa sobre livros teológicos/apologéticos recomendados
Livros Recomendados

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Destrinchando Zeitgeist – Parte 5: Religiosos Políticos

2 comentários:
Refutar o documentário Zeitgeist não é uma missão difícil. Como nós pudemos ver ao longo dessa série, o filme é ridículo, do ponto de vista acadêmico. Comete erros cavernosos de metodologia histórica, se baseia em especulações, comparações forçadas e distorções e não tem a menor vergonha de mentir descaradamente. Seus produtores beiram o mais alto estágio da mitomania.

Entretanto, mesmo mostrando da maneira mais clara as mentiras presentes nessa produção, não é fácil convencer uma pessoa de que o documentário é mentiroso. Existe um motivo bem simples para isso: todos tendem a acreditar que pessoas não-religiosas são mais amigas da razão. É como se elas não tivessem nenhuma crença para defender e, por isso, nenhum dogma. Elas não se guiam pela fé, mas pela razão.

Mas o que o leitor diria se descobrisse que o documentário que se esforça tanto para condenar a religião tradicional (alegando que ela se baseia em crenças irracionais e pode ser usada para o mal) defendesse crenças de outra religião, muito mais irracional e muito mais perigosa? Seria digno de confiança um documentário desses?

Pois bem, o que nós vamos analisar nessa última postagem da série é como que o documentário Zeitgeist defende com uma fé fervorosa a chamada religião política. Ou seja, veremos como seus produtores não passam de religiosos políticos.

A crença no homem em Zeitgeist

A crença no homem é o principal dogma humanista. É a crença antropocêntrica de que o ser humano é bom por natureza e altamente capaz de transformar o mundo em um paraíso com suas próprias mãos. Para o humanista, os males do mundo não resultam de uma inclinação natural do ser humano à imperfeição, mas sim de algo externo ao ser humano que, se for extirpado, mudará a história do mundo.

E qual são as evidências de que realmente o homem é bom por natureza e pode fazer o céu na terra? Nenhuma. Conforme observo na postagem “A crença no homem: uma análise crítica”, as evidências são justamente contrárias a essa idéia. Do ponto de vista darwinista, o homem é apenas um animal como outro qualquer. Ele tem instintos e características naturais também presente nos animais como: a luta pela sobrevivência, o territorialismo, o gregarismo, a luta pela liderança de seu bando, o predadorismo, a luta pelas mesmas fêmeas e etc. A diferença entre o homem e os animais é que o primeiro possui razão. Não obstante, é exatamente isso que o torna um animal mais perigoso que todos os outros. Ele é capaz de maquinar o mal, de cometer excessos e de transformar as piores maldades em hábito.

É por esse motivo que muitas vezes vemos crianças de dois anos de idade com ciúmes excessivos de um brinquedo ou invejando o brinquedo do outro. Não foram os pais ou a sociedade que ensinaram isso a ela. É uma característica natural. Os homens são inclinados ao erro desde o nascimento até a morte, e o drama da humanidade é essa constante luta de cada pessoa contra as suas próprias inclinações. (Lembrando que ainda que o mal no homem fosse tão-somente social, também não há evidências de que os homens podem se descorromper por completo e não se corromperem socialmente de novo. Em vez disso, a história do mundo evidencia justamente o oposto).

No entanto, como se não bastassem todos os problemas que advém ao mundo em função dessa natureza corrupta do homem, o humanismo existe. O humanismo é o pior dos tumores do mundo porque nega a natureza do homem e tenta incutir na mente das pessoas a idéia de que dá para mudar a história. Como resultado, cria-se uma legião de bitolados que procuram colocar a culpa do mal em algum agente externo que não seja a natureza do homem. É neste ponto que a ingênua crença humanista se torna uma arma perigosíssima.

Cada crente humanista começa a ver a si mesmo e ao seu grupo de crentes como o poder revolucionário que ajudará a trazer a redenção para o mundo. Define-se, então, o inimigo mundial, a raiz de todos os males, e uma retórica de ódio a esse inimigo se inicia. Podemos enumerar os passos do humanista da seguinte forma:

(1) defini-se que o mal da sociedade não está na natureza humana;

(2) busca-se um bode expiatório para pôr a culpa desse mal (a burguesia, ou os conservadores, ou os judeus, ou os cristãos ou qualquer outro);

(3) instiga-se o ódio aos “culpados”, pois eles não deixam o paraíso ser formado;

(4) legitima-se toda e qualquer ação contra os “culpados”, em prol de um bem maior e supremo, que será alcançado quando eles forem eliminados.
Muito bem, é justamente essa mentalidade revolucionária que define o que chamamos de religião política. A religião política é a religião de todo humanista e de todo esquerdista. É a fé que coloca o ser humano como o próprio Deus e que elege um grupo de pessoas inimigas, que levarão a culpa de todos os males do mundo, sendo, por isso, demonizadas.

Essa era a religião dos ditadores Lênin, Stálin, Mao Tsé Tung e Pol Pot, que são considerados heróis pela esquerda, embora tenham levado à morte mais de 100 milhões de pessoas em menos de um século. Essa era a religião de Hitler, que levou cerca de 50 milhões de pessoas à sepultura. Essa foi a religião do ditador King Jong, da Coréia do Norte, que é o país mais fechado do mundo. Essa é a religião de Fidel Castro, também um ditador. Essa foi a religião do famoso Che Guevara, que era um assassino frio. Essa foi a religião de Robespierre, talvez o primeiro homem a fazer discursos bem explícitos que legitimavam o assassinato de qualquer que parecesse ser contrário à revolução – foi sob seu comando que cerca de 50 mil pessoas foram mortas no chamado Período do Terror (1793-1794), a maioria inocente. E eu não comentei sobre as atrocidades que eram feitas com os vivos como estupros, esquartejamentos e torturas.

Com efeito, a religião política matou e oprimiu muito mais gente em um século do que a Igreja Católica em 1200 anos de supremacia. As tão difamadas “Cruzadas” e “Santa Inquisição” (que, eu concordo que não foram coisas boas), não mataram juntas nem 10% do que matou a religião política. As estimativas mais exageradas giram em torno de 800 mil a 2 milhões de mortes.

Neste ponto, o leitor já deve ter compreendido aonde eu quero chegar. Zeitgeist é um documentário altamente religioso. Só que político. A sua intenção é instigar o ódio à religião tradicional. Para seus produtores, a religião tradicional é uma pedra no sapato do mundo e eles, por sua vez, são os heróis da humanidade.

O religioso político acredita ter a missão de iluminar o mundo, de dizer a todos que a religião tradicional é uma farsa e que ela é a causa de todo o mal. O religioso político vê a si mesmo como um santo, que faz parte de um grande movimento que fará um paraíso na terra. Por esse motivo, qualquer coisa que fizer para alcançar esta meta, estará legitimada. Em um primeiro estágio, isso inclui mentir descaradamente. É o que o documentário Zeitgeist faz. Não importa que isso seja imoral. Os produtores acreditam veementemente que a religião tradicional é o mal do mundo. Então, qualquer mentira contra a religião é uma mentira santa.

É por causa de pessoas assim que ditaduras, opressão e genocídio se instauram no mundo moderno. Não que elas realmente queiram isso, mas em prol de um “bem maior”, as pessoas são levadas a apoiar qualquer atrocidade contra os inimigos. Quanto mais pessoas houver que estão convencidas de que o mal provém de um grupo e não da natureza humana, mais atrocidades poderão surgir daquele meio. E é assim que surgem oportunistas e pessoas que se corromperam ao ter o poder nas mãos. Ambas se utilizam da retórica da religião política para manter-se no poder e continuar com a opressão.

Zeitgeist constitui o primeiro estágio da mentalidade revolucionária no que diz respeito à luta contra a religião tradicional. Ele leva ateus, agnósticos, deístas, panteístas, umbandistas, candomblecistas e até alguns teístas a terem ódio da religião tradicional, vendo-a como opressora. O ódio é importante, porque ele é a antecâmara da agressão verbal e física. É o elemento justificador da atrocidade. E é só com sua evolução gradual que um governante consegue explorá-lo, a fim de perseguir determinado grupo.

O Projeto Vênus

Zeitgeist não faz um serviço incompleto para a religião política. Apenas apontar a religião tradicional como uma pedra no sapato do mundo seria muito pouco. Afinal, sabemos que nem todos os problemas do mundo são de ordem religiosa. Por isso, o documentário relaciona a religião tradicional aos grandes capitalistas. É a velha ladainha marxista de reduzir a religião a um produto fabricado pela classe opressora para oprimir e controlar os mais pobres.

No fundo, Zeitgeist é um filhote do marxismo. E como bons marxistas, os seus produtores também apresentam idéias para solucionar o problema do mundo. A solução seria algo como o Projeto Vênus, uma idéia apresentada no segundo filme, Zeitgeist: Addendum. Em suma, o Projeto Vênus é uma organização existente desde 1995, fundada por um designer e futurologista chamado Jacque Fresco. Seu objetivo é oferecer idéias de recriação da sociedade através de tecnologia, projetos sustentáveis e uma economia baseada em recursos.

Explicando melhor, para o Projeto Vênus, o que alimenta a ganância do homem e todos os problemas do mundo é a economia monetária (o dinheiro). E o dinheiro só existe porque os recursos (aquilo que as pessoas necessitam) têm sido limitados. Então, o plano seria explorar a tecnologia ao ponto de produzir recursos de sobra para todas as pessoas. Isso faria o dinheiro se tornar obsoleto, as pessoas teriam acesso a tudo o que necessitassem, não haveria mais motivo para roubar, matar, cometer crimes, enfim, todo o mal do mundo seria resolvido. Então, o estado seria abolido e viveríamos em um céu anarquista, bem ao estilo Jonh Lennon.

Mas como fazer isso? Como bons marxistas, os proponentes do Projeto Vênus se baseiam em profecias marxistas. Segundo eles, o capitalismo está cavando a sua própria sepultura. A crescente luta das indústrias por velocidade na produção está substituindo o homem pela máquina. Assim, o índice de desemprego crescerá vertiginosamente até que as pessoas não possam mais comprar os produtos fabricados por essas indústrias. Então, a economia monetária se tornará insustentável e mesmo os grandes empresários irão se sentir pressionados a aderir ao projeto.

Não precisa ser muito inteligente para ver que isso tudo é uma tremenda utopia tecnicista. Uma mistura de positivismo, de Comte (a religião da humanidade, como ele mesmo chamava a sua doutrina) e de marxismo ortodoxo. Na teoria é tudo muito bonito e desejável, mas na prática não dá para fazer. A verdade é que as coisas são assim:

1) O ser humano é ganancioso por natureza. É por isso que nenhum projeto de uma nova sociedade, remodelada, deu certo até hoje. É possível melhorar as coisas, por certo, e devemos perseguir isso. Mas não dá para fazer o céu na terra.

2) Não, o desemprego não vai subir a ponto de grandes empresários e governos aderirem a uma economia baseada em recursos. Primeiro porque existe um número bem grande de profissões que não podem ser substituídas por máquinas. Bombeiro, policial, médico, enfermeiro, anestesista, taxista, motorista de ônibus, atendente, padeiro, gerente de banco, gerente de loja, funcionário de loja, estilista, pedreiro, engenheiro, arquiteto, advogado, juiz, lixeiro, professor, diretor de colégio, segurança, esportista, feirante, empregada doméstica, o pessoal da manutenção das máquinas das grandes empresas e uma infinidade de outras profissões.

Segundo porque, ainda que o número de pessoas em cada uma dessas profissões se torne menor e o desemprego aumente muito, a ganância do homem não permitirá que se faça um projeto de salvação do mundo. Em vez disso, é mais provável que a crise cause a morte de muitas pessoas pobres e guerras. Isso não é conformismo meu, mas é uma observação baseada no que tem ocorrido no mundo desde sempre. Os homens não resolvem as coisas de maneira a beneficiar a todos. “Sad, but true”.

Fugir dessa realidade não é a melhor solução. Nada contra quem gosta de olhar o mundo como Polyana, a menina feliz. Mas o problema dessas utopias globais é que elas sempre terminam deixando a situação muito pior. É sempre assim: você leva milhões de indivíduos a crerem em uma utopia. Eles apoiam e até fazem todo o tipo de atrocidade e opressão em prol dela. No final, a utopia não se realiza (é óbvio) e o que resta, além da desilusão, é uma classe de novos opressores no poder que se utilizaram da ingenuidade alheia para criarem uma ditadura.

Foi assim com o Terror Jacobino (na França), com o comunismo (em todos os países que vigorou), com o progressismo dos democratas americanos (a quem se deve o Estado inchado e belicista, que detonou Hiroshima e Nagasaki), com o fascismo italiano e com o nazismo alemão.

Ok, sejamos honestos, o Projeto Vênus não incita a violência e nem pretende que um governo mude a história do mundo. Mas dificilmente uma utopia de reconstrução do mundo é deixada de lado quando se percebe que ela não dá certo. Em vez disso, o que se faz é reformular a utopia, procurar pontos que possam estar errados, criar vertentes ou reinterpretá-la à luz dos novos acontecimentos.

O ponto é: se aceitamos que dá para mudar o mundo e que o que nos impede é o capitalismo e a religião (como Zeitgeist quer nos fazer crer), cedo ou tarde, uma legião de esquerdistas anti-religiosos cheios de ódio irá tomar medidas mais drásticas. Afinal, o mundo não pode esperar a boa vontade dos burgueses e dos religiosos, não é? É essa mentalidade que gera as perseguições. Como o leitor acha que os nazistas conseguiram apoio dos alemães para perseguir os judeus? Começa-se explorando um preconceito e justificando-o como “a justiça contra os opressores”. No momento correto, alguém dá o ponta pé inicial na perseguição física.

O leitor acha que isso não é possível? Então, dê uma olhadinha nos comentários anti-religiosos que existem pela internet. Você irá se surpreender com a agressividade com que os religiosos políticos tratam os religiosos tradicionais. Com toda a certeza, se alguém colocasse um fuzil na mão de cada um deles, eles não hesitariam em exterminar “o mal que assola o mundo”. É por isso que documentários e livros como Zeitgeist, que mentem descaradamente contra religião tradicional e que tentam nos empurrar crenças humanistas irracionais devem ser considerados instigadores de genocídios.

O sistema que o próprio esquerdismo criou

O aspecto mais irônico que encontramos no esquerdismo (ou religião política, se preferir) é que grande parte das coisas contra as quais ele luta foi e continua sendo fruto do próprio esquerdismo. Por exemplo, quando um religioso político apóia um governo que dificulta a vida das empresas com altos impostos e muitas regulamentações, ele não se dá conta que está favorecendo a criação de hegemonias. Afinal, somente as grandes empresas sobrevivem a essas dificuldades.

E quando um religioso político apóia um governo interventor e cheio de funções e serviços, ele não se dá conta de que está criando fortes laços entre as mega empresas e o governo. Também não percebe que quanto mais dinheiro passar pelos cofres públicos, mais chance haverá de ocorrer má administração e corrupção. Também não percebe que quanto maior o setor público, pior tende a ser o serviço prestado.

O que o religioso político faz é apoiar todos os dias da sua vida um inchamento da máquina estatal doando-lhe, com um sorriso no rosto, mais impostos, mais serviços, mais funcionários, mais funções, mais áreas de atuação e mais poder. Isso me lembra a célebre frase do líder do fascismo italiano Benedetto Mussolini: “Tudo no Estado, nada fora do Estado, nada contra o Estado”. Essa é a síntese do esquerdismo. Mesmo um cara como Karl Marx, que no fim das contas era um anarquista, não abria mão de um Estado inchado temporário, dono de todos os meios de produção (uma oportunidade de ouro para líderes como Lênin e Stálin se tornarem ditadores vitalícios).

O deus dos religiosos políticos é o ser humano. E a encarnação da vontade desse deus é o Estado. Não creio que o próprio governo americano tenha planejado o ataque às torres gêmeas ou que exista uma conspiração mundial organizada de banqueiros que intentam dominar o mundo. Entretanto, ainda que fosse, a religião política apenas tem facilitado isso. Empresários só têm poder se estiverem unidos ao governo. E o governo só tem poder se ele seguir uma linha interventora. E a linha interventora faz parte do DNA da religião política que, para alcançar as suas utopias ou após vê-las dando errado, acreditam que o caminho é intervir radicalmente por meio do Estado. E assim o Estado continua ganhando poder.

Religião Tradicional x Religião Política

Existe um ponto do documentário Zeitgeist que é típico de qualquer obra que aponta a religião tradicional como um mal: ele omite o fato de que o cristianismo é uma religião apolítica. “Como assim?”, o leitor pode estar perguntando. Vou explicar.

No mundo antigo, era comum que política e religião andassem juntas. Entretanto, conforme a visão bíblica cristã, esse nunca foi um objetivo de Deus. O judaísmo só teria sido uma teocracia por uma questão de necessidade: o judaísmo era a única religião monoteísta do mundo e a única que detinha em sua doutrina uma moral duradoura. Não fosse um governo teocrático, o judaísmo não teria chegado nem até os dias de Cristo. E assim não haveria cristianismo, nem monoteísmo e nem moral judaico-cristã hoje. Não teria havido nem a vinda de Jesus.

Em função da teocracia judaica, portanto, o judaísmo pode ser conservado até Jesus vir (e até hoje, inclusive) e tal teocracia se tornou obsoleta. Jesus, então, fundou um novo contexto. A partir de sua vinda, a religião passou a ser uma questão pessoal e não mais estatal. Em outras palavras, a vinda de Jesus e a forma como ele criou um movimento de pessoas que viajavam espalhando o evangelho, possibilitou a cisão entre a religião do Deus judaico-cristão e a política.

Qualquer que leia o Novo Testamento compreende isso. Jesus diz: “Dai, pois, a César o que é de César e a Deus o que é de Deus” (Lucas 20:25). Diz também: “O meu reino não é desse mundo” (João 18:36). O apóstolo Paulo diz: “Foquem mais nas coisas lá do alto e não nas que são daqui da terra” (Colossenses 3:2).

O Novo Testamento deixa claro (claríssimo) que o cristianismo não era para ser uma instituição estatal, mas sim uma filosofia de vida pessoal. Não significa dizer que o cristão não pode ter participação política. Mas ele deve fazê-lo como um cidadão. Sua opção pelo cristianismo nada deve ter a ver com a política, assim como sua opção de se casar ou não, de ter filhos ou não, de fazer faculdade ou não. São questões pessoais e que não interessam à política.

Bem, é interessante ressaltar que foi exatamente dessa maneira que os cristãos trataram sua opção pelo cristianismo de 37 d.C. até 321 d.C.: como uma questão pessoal e não estatal. À bem da verdade foi o governo romano que agiu durante todo esse tempo de modo como se o cristianismo fosse assunto de Estado. Isso explica as perseguições e, posteriormente, a observação de seria interessante acoplar o cristianismo ao governo.

Aonde quero chegar com tudo isso? É simples. A qualquer cristão que realmente siga a Bíblia, é fácil entender que religião e política são duas coisas diferentes há mais de dois mil anos. Em outras palavras, não é da Bíblia que governantes tiram a idéia de criar uma ditadura cristã. Mas, então, como explicar o domínio político do catolicismo durante mais de 12 séculos da história? Como explicar o apoio de padres e intelectuais da idade média a essa mixagem entre política e religião? Eu explico: deram um gelo na Bíblia. Fizeram o que a Bíblia diz para não fazer. Por isso deu merda.

Felizmente, o problema foi resolvido. Os iluministas foram lá, meteram o malho na Igreja, “criaram” o conceito de Estado Laico (que Jesus já tinha inventado, diga-se de passagem), o conceito se desenvolveu, se espalhou e, hoje, grande parte dos países do mundo são laicos (muitos países islâmicos ainda não aderiram ao conceito, contudo, por algum motivo os esquerdistas não criticam muito os islâmicos). A Igreja Católica não domina mais. Não há mais inquisição, nem cruzadas, qualquer imbecil pode blasfemar contra Deus e só dá dinheiro para pastor ladrão quem quer dar. Ou seja, o mandamento de Jesus sobre o laicismo está sendo cumprido, enfim.

Isso mostra que, ao contrário do que o esquerdismo diz, o problema não está em existir cristãos, mas sim em existir cristãos que não seguem o cristianismo da maneira como ele realmente é. Se os cristãos da época de Constantino tivessem boicotado essa mistureba entre religião e Estado que o imperador estava propondo, por certo a história da igreja teria sido bem diferente. Seja como for, deve-se isentar o cristianismo e culpar o deturpação da doutrina cristã pela opressão que se seguiu na idade média.

Mas e a religião política? Bem, essa aí, ao contrário do cristianismo, não precisa ser distorcida para fazer um monte de merda no mundo. Ela só necessita ser seguida de maneira fiel e fundamentalista. Porque a religião política diz: “Semeie o ódio a algum grupo de pessoas (burgueses, religiosos, conservadores, cristãos, judeus e etc.)”, “Tente se sentir o salvador do mundo”, “Aumente o Estado”, “Dê mais poder aos políticos”, “Dê-lhes mais impostos”. É claro que isso não pode levar a um bom lugar.

Não importa o quão bem intencionado um religioso político pode ser. Tais idéias não dão certo. Nunca darão. São idéias feitas para falharem. E é somente sendo fanático e fundamentalista para não enxergar isso. Há dois vídeos muito bons que nos ajudam a entender o que estou dizendo. Um deles é de um anime (desenho animado japonês) que gosto muito, chamado Death Note (Caderno da Morte). O outro é do filósofo Olavo de Carvalho. Vejam os vídeos e farei alguns comentários.
            

O primeiro vídeo é um trailler do Death Note. Como o leitor pode ver, o anime conta a história de um jovem inteligente do ensino médio de nome Yagami Laito, que encontra um caderno mágico no chão. Esse caderno tem o poder de matar qualquer pessoa que o portador do mesmo escrever o nome e tiver em sua mente o rosto de sua vítima. A pessoa morre no lugar, no horário e da forma como o portador do caderno da morte escreve. Se apenas escrever o nome, a pessoa morre de ataque cardíaco.

Yagami, que era um jovem desiludido com os problemas sociais do mundo e as injustiças, fica fascinado com a idéia de poder matar quem quiser apenas tendo o nome e a imagem do rosto. Ele poderia matar todos os criminosos e fazer um mundo perfeito através daquele caderno. É o que ele começa a fazer e isso atrai a atenção da polícia. É aí que começa a saga de Yagami matando friamente criminosos e qualquer pessoa que se colocava em seu caminho (e tentando esconder sua identidade).

Nas palavras de “L”, o brilhante detetive que investiga o caso: "(...) sua justiça está mal guiada, pois agindo como Deus, ele mesmo se tornou o criminoso". Eu acrescentaria: frio, autoritário e incapaz de ver a si mesmo como mera criatura e pecador também (para usar a terminologia da religião tradicional).

O segundo vídeo é uma excelente palestra de Olavo de Carvalho que mostra que não é necessário ter má intenção para fazer um estrago terrível. Tudo isso nos coloca a pensar sobre a diferença entre a religião tradicional e a religião política. A tradicional pode, eventualmente, ser deturpada. Não por uma falha sua, mas pela própria condição pecaminosa do ser humano. Mas a religião política leva invariavelmente para o mesmo caminho de opressão e genocídio. E Zeitgeist é um documentário feito para disseminar a religião política.

Considerações Finais

Sem dúvida uma das partes mais irônicas e cômicas do documentário Zeitgeist é o trecho em que o locutor diz o seguinte:

Foi sempre o poder político que tentou monopolizar a figura de Jesus para controle social. Em 325 d.C., em Roma, o imperador Constantino reuniu o ‘Concílio Ecumênico de Nicéia’. E foi durante esta reunião que as doutrinas políticas com motivação cristã foram estabelecidas. E assim começou uma longa história de derramamento de sangue e fraude espiritual.

E nos 1600 anos que se seguiram, o Vaticano dominou politicamente com mão de ferro toda a Europa, conduzindo-a a um período conhecido como a ‘idade das trevas’, paralela a eventos ‘esclarecedores’ como as cruzadas e a santa inquisição.

O Cristianismo, bem como todas as crenças teístas, são a fraude desta era. Serviu para afastar o ser humano do seu meio natural, e da mesma maneira, uns dos outros. Sustenta a submissão cega do ser humano à autoridade. Reduz a responsabilidade humana sob a premissa de que ‘Deus’ controla tudo e que por sua vez os crimes mais terríveis podem ser justificados em nome da perseguição divina. E o mais importante, dá o poder àqueles que sabem a verdade e usam o mito para manipular e controlar sociedades. 
O mito religioso é o mais poderoso dispositivo jamais criado e serve como base psicológica para que outros mitos possam florescer.
Enquanto o locutor diz a última frase, ainda aparece na tela a seguinte frase: “A religião não pode transformar a sociedade, porque a religião é escravidão”. É irresistível querer parodiar todo o trecho, voltando a crítica para o esquerdismo, a religião política. O trecho ficaria assim:
Foi sempre o poder político que tentou monopolizar a idéia de fazer um paraíso na terra para controle social. Em 1793, na França, o partido jacobino deu um golpe na assembléia legislativa e tomou o poder. E foi durante esse período que o radicalismo político com motivação humanista foi ratificado. E assim começou uma longa história de derramamento de sangue e fraude intelectual.

E nos 200 anos que se seguiram, as ideologias esquerdistas começaram a lançar raízes em toda a Europa, conduzindo-a a um período conhecido como o ‘século mais sangrento da história’, paralelo a eventos ‘esclarecedores’ como a Revolução Cultural de Mao e o Genocídio no Camboja.

O marxismo, bem como todas as crenças humanistas, são a fraude desta era. Serviu para enganar o ser humano sobre sua situação natural, e da mesma maneira, instigar o ódio de um grupo pelo outro. Sustenta a submissão cega do ser humano à autoridade. Reduz a responsabilidade humana sob a premissa de que o ser humano tem capacidade de fazer o paraíso na terra e que por sua vez os crimes mais terríveis podem ser justificados em nome da perseguição humanista aos responsáveis pelo mal no mundo. E o mais importante, dá o poder àqueles que sabem a verdade e usam o mito para manipular e controlar sociedades.

O mito da religião política é o mais poderoso dispositivo jamais criado e serve como base psicológica para que outros mitos possam florescer”.
Como cobertura do maravilhoso bolo, a frase de fundo usada por Zeitgeist não pode faltar nessa paródia: “A religião política não pode transformar o mundo, porque a religião política é uma utopia”.

Não é bom ser redundante, mas gostaria de terminar a postagem com um vídeo que usei na postagem: “A crença no homem: uma análise crítica”. É um vídeo de Olavo de Carvalho também e que mostra bem a periculosidade dos projetos mirabolantes da esquerda política. Bem, o documentário Zeitgeist está destrinchado.
           
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