quinta-feira, 21 de abril de 2016

Sobre a matéria "Marcela Temer: bela, recatada e 'do lar'"

Um comentário:
Tá, vamos lá. Eu resolvi ligar o notebook só para ler a tal da matéria da Veja intitulada "Marcela Temer: 'Bela, recatada e do lar'", sobre a esposa do vice-presidente. Como eu já imaginava (eu poderia ter apostado um dinheiro alto nisso), não há absolutamente nada de mais na matéria. É até uma matéria insossa. Não difere muito do que vemos, por exemplo, naquele "Ego", o portal de notícias da Globo sobre futilidades de famosos. "Fulano foi à praia ontem com a namorada", "fulana vai à academia para manter o corpo sarado".

A matéria da Veja segue essa linha. Fala sobre alguns detalhes da vida do casal Temer (detalhes que só interessam mesmo ao casal), descrevendo o romantismo de Michel, os hábitos, os hábitos de Marcela como esposa e o sentimento verdadeiro que parece existir (conforme a interpretação da jornalista que escreveu) entre os dois. Só isso.

O primeiro parágrafo se inicia com a frase "Marcela Temer é uma mulher de sorte" e o último parágrafo com "Michel Temer é um homem de sorte". Essas duas frases, conectadas ao contexto explorado na matéria deixam muito clara a intenção da jornalista de mostrar que o casamento deles deu certo e um faz bem para o outro à maneira deles.

O título não me pareceu uma tentativa de transformar o "bela, recatada e do lar" no único padrão correto e louvável para uma mulher. A matéria definitivamente não é sobre isso. O título, tal como a matéria em si, apenas descrevem como Marcela Temer é. O que se queria que descrevesse? "Marcela Temer: baladeira e mulher de negócios"? Se ela não fosse bela, recatada e do lar, a matéria teria outro título. Se a matéria fosse sobre Lady Dayane, quando ela ainda era viva, talvez o título fosse: "Lady Dayane: linda e socialmente engajada". Se fosse sobre Margaret Thatcher poderia ser: "Margaret Thatcher: decidida e durona".

É um saco ver um monte de mulher se ofendendo com uma matéria insossa e despretensiosa como essa. O fato de Marcela Temer ter escolhido uma vida discreta e de dona de casa, e de uma jornalista ter descrito isso, não obriga nenhuma mulher a ser como ela.

Curioso é que o padrão "recatada e do lar" praticamente inexiste entre as pessoas famosas que costumam a ser tema de matérias em revistas. Atrizes, cantoras, apresentadoras de TV, radialistas, jornalistas, políticas... Nenhuma dessas são "do lar". E boa parte delas não é adepta de vestes, palavras, modos e hábitos recatados, discretos, modestos. A própria jornalista que escreveu a matéria não é "do lar". E talvez não tenha o recato da Sra. Temer. A escolha do título, portanto, poderia ter sido até motivada por isso: é raro se fazer uma matéria sobre uma mulher famosa que seja "recatada e do lar".

Isso só torna as críticas contra a matéria mais irritantes e insanas. Abra a página do EGO, por exemplo, e conte nos dedos quantas matérias sobre mulheres recatadas e do lar você encontrará lá. Abra as revistas femininas que tem como capa atrizes e cantoras e conte quantas dessas se enquadram no perfil "recatada e do lar".

A indignação contra essa matéria tão inocente e sem gracinha é um tanto paranoica e esquizofrênica. Coisa de quem se acostumou a enxergar ofensa onde não existe, de gente que leva a vida tentando ler nas entrelinhas, fugindo do que foi dito e construindo toda uma narrativa do que talvez tenham querido dizer.

Ainda que a jornalista realmente tivesse a intenção de influenciar mulheres para ter este padrão "Marcela Temer", eu me pergunto: por que a ofensa? O que há de tão vergonhoso e terrível em uma pessoa ESCOLHER ser recatada e do lar? E por que uma jornalista não poderia achar esse padrão bonito e desejar que mais mulheres escolhessem isso?

O contrário não é criticado. Já li matérias de inúmeras mulheres que não possuem esse padrão. Vamos pegar uma à esmo. Talita Werneck. Comediante e atriz que trabalhou na MTV por algum tempo. Ela não é uma mulher recatada e do lar. Já fizeram matérias sobre ela. Igual a ela há centenas que viram matéria de revista. Não vejo ninguém dizer: "Ah, fazer matéria dessas mulheres é impor um padrão 'chamativo' e 'sem família' às mulheres". Não há imposição nenhuma.

Faz-se matérias de várias mulheres e descreve-se como elas são. Tatá Werneck escolheu ser chamativa, extrovertida e independente. Marcela Temer escolheu ser recatada e do lar. Qual é o problema de se fazer matérias falando de cada uma delas? Nenhum! Qual é o problema de cada uma delas ter escolhido o que era melhor para si? Nenhum! E se eu ler a matéria sobre a Marcela e não desejar adotar esse padrão para mim? Eu não adoto, ué! Mas é necessário eu me indignar com o texto só porque ele descreve um padrão que não é o meu preferido?

É por essas e muitas outras razões que tanto critico os movimentos feministas (que, claro, foram os principais a falarem mal da matéria). Dá-se tanta importância para um assunto idiota como esse, enquanto não se discute como seria bom para as mulheres honestas e mentalmente saudáveis terem acesso mais em conta à cursos de defesa pessoal (como o Krav Magá) e ao porte de armas de fogo.

Enfim, como eu previa quando comecei a ver os primeiros comentários sobre a matéria, a irritação contra ele trata-se de mais uma baboseira sem fim. Espero que quem viu na matéria mais do que ela dizia, repense suas interpretações e vá fazer algo mais produtivo.