Às vezes, em discussões pela internet, eu pergunto ao oponente se ele já leu determinados livros sobre o assunto (os quais eu já li). O intuito não é exaltar a "minha erudição". Até porque, se eu realmente fizesse questão de ser um intelectual (no sentido estrito do termo), eu precisaria ler muito mais, o que exigiria disposição e dedicação que hoje não tenho. O intuito dessas minhas perguntas é realmente mostrar à pessoa (ou ao público que vê o debate) que o tema em questão está sendo tratado de maneira superficial; que há uma montanha de informações importantes em livros básicos que o oponente não está levando em consideração.
É óbvio que poucas pessoas (raríssimas mesmo) tem tempo e/ou disposição para ler os principais livros dos principais temas que existem. E eu seria hipócrita se pretendesse me passar por uma espécie de leitor universal, conhecedor supremo da essência de quase todos os assuntos. Estou longe disso. Grande parte do nosso conhecimento se baseia em resumos, apanhados rápidos, leituras breves, passadas de olho, aparências, comentários das obras e coleções de "ouvi dizer", "vi por aí", "dizem". E eu não sou a exceção dessa tendência. Estou ciente disso.
No entanto, estou convencido de que é possível aumentar a qualidade de nossos conhecimentos em diversas áreas, mesmo sem se tornar expert no assunto. Se, por um lado, é preciso conhecer bem algo para poder analisar, por outro lado conhecer bem nem sempre requer a leitura de 20, 30 obras distintas sobre o tema. Dito à grosso modo, não é necessário comer fezes para saber que é fezes.
Quando pergunto a um oponente se ele já leu determinados livros, a ideia não é cobrar dele uma erudição impossível de ser alcançada. É apenas indicá-lo algumas obras básicas sobre o tema. Nem sempre é necessário. Às vezes alguns poucos resumos sobre um tema são suficientes para que se apreenda a essência. Mas, outras vezes, a leitura de uma ou duas obras mais detalhadas são imprescindíveis.
Em geral, quanto mais polêmico o assunto discutido, mais necessário se faz ler ao menos duas obras boas. E quando falo de leitura, nem estou falando de uma leitura completa. Aprendi com C. S. Lewis que não há nada de errado em não ler uma obra toda. Pode-se ler a maior parte, focando nos pontos essenciais e deixando pontos secundários de fora. Quem já fez TCC (Trabalho de Conclusão de Curso - Monografia) sabe o que é isso. Esse método pode falhar? Pode. Mas uma das funções do debate é essa: descobrir que talvez seu conhecimento deva ser aprimorado.
É por isso que indico leituras. E geralmente, as leituras que indico são curtas e de fácil linguagem. Quando não são, eu aviso. Penso que todo o debatedor deveria levar essas indicações mais à sério. Muitos fazem para tentar humilhar, para tentar ganhar o debate na aparência. Não é o meu caso. Mas ainda que fosse, por que não procurar as leituras sugeridas? Se em um debate eu menciono informações importantes que você desconhece, é bastante provável que essas leituras realmente sejam relevantes.
O que me deixa chateado é a postura orgulhosa de muitos que desejam debater sem terem conhecimentos básicos sobre a questão. Eu entendo que às vezes podemos achar que conhecemos bem um tema e, repentinamente, percebermos que não, não conhecemos. Já ocorreu bastante comigo. E, inclusive, algumas das opiniões que mudei ao longo da vida se devem ao fato de eu ter me debruçado melhor sobre a questão e descoberto riquezas que eu desconhecia. Mas é triste quando, mesmo vendo exposta sua ignorância, um oponente permanece agarrado aos seus preconceitos e forte orgulho.
Nenhum de nós está livre de cometer esse erro ao longo dos debates da vida. No entanto, a construção da honestidade e humildade intelectual está em reconhecer esses erros (o mais rápido possível de preferência) e não fazer deles um hábito. Um bom antídoto para isso é sempre entrar num debate de maneira serena, educada, aberta e disposta a saber mais sobre o que o outro pensa.
Nós sempre entramos em um debate achando que estamos certos. E isso não é ruim. Mas devemos considerar a hipótese de estarmos errados ou de estarmos certos, mas não termos mecanismos suficientes para provar nosso acerto e refutar o erro do oponente. A humildade e a disposição de aprender mais com o outro serão essenciais para mudar esse quadro, nos fazendo estudar mais. É o que tenho tentado fazer. Não com a aplicação que eu deveria ter, mas vida que seque. O importante é tentar melhorar sempre.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Caro leitor,
Evite palavras torpes e linguajar não compatível com a filosofia do blog. Obrigado.