segunda-feira, 8 de outubro de 2012

Argumentos para a existência de Deus – Parte 1: Argumento Cosmológico

Vou iniciar aqui hoje uma série de postagens sobre argumentos racionais para a existência de Deus. São argumentos que a maioria das pessoas não conhecem (o que é uma pena), mas que são expostos, desenvolvidos e debatidos nas verdadeiras discussões filosóficas. Descreverei os argumentos de modo bem simples. Então, se você acredita que discussões filosóficas são coisas complexas demais para “pessoas comuns”, não precisa ter medo do que vai encontrar por aqui.

Introdução

Este é o primeiro de uma série cumulativa de argumentos para a existência de Deus. Ele invoca uma observação lógica do universo e suas leis, concluindo de maneira simples e racional, que é necessária a existência de um agente transcendente criador do universo. Podemos dispô-lo da seguinte forma:
(1) Tudo o que começa a existir tem uma causa;

(2) O Universo começou a existir;

(3) Logo, ele teve uma causa.
Até este ponto, só introdução; nada que possa sustentar a necessidade da existência de Deus. Mas essa introdução é muito importante, pois nos permite ter a certeza de que o universo teve uma causa. O argumento se completa com as implicações dessa introdução. Perceba: se o universo realmente teve um início e esse início teve uma causa, isso significa que um dia o universo não existia e que alguma coisa o fez existir (o causou). Mas se o universo não existia, então a causa do universo não pode ter sido o próprio universo, não é verdade? Então, o que foi?

Aqui começamos a nos aproximar da conclusão do argumento cosmológico. Se as duas premissas de nossa introdução estão, de fato, corretas (o que veremos mais adiante), já sabemos que o universo teve um começo, que tal começo teve uma causa e que essa causa necessita ser algo além do próprio universo. Bem, do que é formado o universo? De tempo, espaço, matéria e energia, não é mesmo? Estas coisas estão todas interligadas. O nosso universo é a interligação entre esses quatro elementos. Isto implica que a causa do universo não pode ser nenhum deles (pois não existiam).

A conclusão de tudo isso é essa: a causa do universo só pode ser um agente transcendente (que está além da natureza) e com capacidade de fazer surgir o universo. Esse agente necessário e poderoso, os teístas chamam de Deus.

O argumento é simples e aparentemente lógico. Agora, é claro que existem tentativas de refutação por parte de ateístas e agnósticos. E seria muita indelicadeza minha se eu não os apresentasse aqui, até para que nós possamos observar se eles fazem algum sentido lógico. Então, vamos lá.

Tentativa de Refutação 1: Teoria do Nada


Para tentar refutar o argumento cosmológico, algumas teorias foram sendo pro-postas ao longo do tempo. Uma delas foi a de que o universo teria surgido do nada e o nada não necessita de causa, pois é nada. Alguns adeptos dessa teoria ainda salientam que no nada não existem leis da natureza e nem lógica, o que possibilita qualquer acontecimento, inclusive o surgimento espontâneo de todo o universo.

O argumento é aparentemente convincente, porém está completamente errado. O problema advém de uma confusão filosófica. Os adeptos da teoria do nada tratam o nada como uma entidade, um estado físico, um algo (alguns chegam a dizer que “nada” e “vácuo quântico” são a mesma coisa), quando na realidade, o nada é simplesmente a ausência de todas as coisas; o não-ser absoluto. O nada é a falta da lógica e também a falta da ilogicidade. Qualquer coisa que se postule acontecer no nada é contrária à própria definição correta de nada; pois o nada não é algo. O nada não tem capacidade de gerar ou agregar. O nada nem sequer tem capacidades. O nada é simplesmente nada, e nada mais. Portanto, o nada não pode causar algo.

Tentativa de Refutação 2: Teoria do nada + Teoria dos eventos sem causa

Mas argumentos lógicos não convencem cientificistas e empiristas radicais. Eles desdenham da filosofia e da lógica, buscando nos métodos de suas ciências específicas as respostas para todas as ciências. É o caso de outra classe de pessoas, que acredita veementemente que a física prova que coisas podem surgir sem causa, o que refuta a primeira premissa do argumento cosmológico e abre possibilidade para a existência do nada. Os exemplos aos quais recorrem são: o decaimento dos núcleos radioativos de um átomo e a emissão de fótons (partículas de luz), ambos estudados pela física subatômica. Segundo os físicos, estes eventos não apresentam causas visíveis, refutando a lei da causalidade. Em outras palavras, o universo poderia ter surgido do nada e sem nenhuma causa ou explicação.

Porém, o argumento é infantil e facilmente refutável. O primeiro ponto a ser esclarecido é que as partículas subatômicas não surgem do nada (no sentido real da palavra). Elas surgem dentro de um átomo, que por sua vez vai existir dentro de um universo. E se todas estas coisas existem e se originam dentro do universo, obviamente não surgem, nem passam a existir a partir do nada, pois estão dentro de algo.

Com relação à causa, o que existe na física subatômica é a impossibilidade de determinar ou predizer a velocidade e a posição das partículas em determinado momento. Isso pode ser chamado de princípio do indeterminismo ou principio da incer-teza de Heisenberg, o que nem de longe indica que tais eventos não apresentam uma causa. Até porque, quando uma partícula é estimulada para ocorrer um decaimento de núcleo, o mesmo ocorre porque ela foi estimulada, o que envolve um estado específico do átomo, da partícula e de tudo o que se relaciona com o evento; para que o decaimento ocorra. Então, ainda que não se possa determinar a causa específica, a causa geral englobará as condições especiais estabelecidas, sem as quais, o evento jamais ocorreria. E a causa geral não é “um nada”, vale lembrar.

Ainda um terceiro ponto pode ser abordado contra a “teoria do nada + a teoria dos eventos sem causa”: a impossibilidade de se provar ou evidenciar que algo surgiu do nada e/ou sem causa alguma. Ninguém pode provar que algo surgiu do nada ou que não teve causa. O que se faz é olhar para um efeito ao qual não se conseguiu determinar a causa e dizer que ele não foi causado. Isso não é uma prova. Isso é especulação grosseira e que milita contra a própria ciência, já que abre mão da razão.

É mais ou menos como quando dizemos que um amigo apareceu do nada por não tê-lo visto chegar. Ninguém que seja racional pensará que tal amigo surgiu espontaneamente do nada, sem nenhuma causa ou explicação. Mas é nisso que deveríamos crer se o fato de não determinar a causa de um evento nos conduzisse logicamente à conclusão de que tal evento realmente não teve causa.

Aliás, o cenário que um ateu tem que estar disposto a aceitar caso sustente que as partículas subatômicas e também o universo surgem sem causa, sem explicação e do nada (em todos os sentidos que a palavra pode oferecer) é absurdo. O artigo de Alex Pruss sobre isso é esclarecedor. Ele mostra que, ignorando o Princípio da Razão Suficiente – idéia de que fatos necessitam de causas e explicações – toda a vida se torna uma bagunça. Eis um trecho de seu artigo:
Comece com a observação de que uma vez que admitimos que alguns estados de coisas contingentes não têm explicação, um novo cenário completamente cético se torna possível: nenhum demônio está enganando você, mas seus estados de percepção estão ocorrendo por razão nenhuma, sem causas anteriores.

Além disso, probabilidades estão relacionadas a leis da natureza ou tendências objetivas. Por isso, se uma probabilidade se liga a algum fato aleatório, essa situação pode ser explicada em termos de leis da natureza ou tendências objetivas. Agora, se o PRS [Princípio da Razão Suficiente] é falso para algum fato aleatório, então nenhuma probabilidade objetiva está ligada ao tal fato.

Então, se o PRS é falso, nós sequer podemos dizer que violações dele são improváveis. Conseqüentemente, alguém que não afirme o PRS não pode dizer que esse cenário cético é objetivamente improvável. O que pode ser tirado disso é que se o PRS fosse falso, ou mesmo, não conhecido a priori, nós não saberíamos nenhuma verdade empírica [1].
O apologista James Sinclair complementa as palavras do articulista Alex Pruss com muita sabedoria e propriedade:
Se nós estamos falando da criação (definitiva) do universo, então o cenário ateu... acabará tendo essa realidade vinda do ‘nada’, onde o ‘nada’ é concebido como ‘ausência de ser’. ‘Nada’ não tem nenhuma propriedade ou restrições. Se coisas podem aparecer em existência, então tudo e qualquer coisa pode aparecer, sem restrições e sem nenhuma probabilidade ligada ao fato. 
Então, você não pode dizer: ‘Isso pode acontecer, mas apenas com universos’. Você não pode dizer: ‘Pode acontecer com universos, mas nós não podemos vê-los porque eles não interagem entre si’. Você não pode dizer: ‘Isso pode acontecer, mas é raro e, por isso, eu não espero um universo aparecendo na xícara do meu café na próxima manhã (ou um elefante rosa com uma gravata borboleta)’. 
As implicações totais disso seriam o cenário cético máximo: sem pensamentos e observações. Nada poderia em qualquer hipótese ser seguramente atribuído a algum processo evolucionário baseado na física, porque qualquer coisa simplesmente poderia ocorrer sem explicação [2].
Assim, a teoria de que o universo teria se originado do nada, sem nenhuma causa ou explicação, não só é incoerente e logicamente inválida, como terrivelmente perigosa para quem se julga racional. Para aceitá-la, mesmo sendo tão falha, é necessário que o indivíduo abra mão de todo o sistema de pensamento em que vivemos e aceite esse cenário incrivelmente cético, onde qualquer coisa pode acontecer do nada e sem explicação.

Tentativas de Refutação 3: Teoria do Universo Eterno (sem início)

Uma terceira teoria criada para resolver o problema da causa do universo é ainda mais ridícula. Sua idéia consiste em fazer do universo uma grande exceção. Quer dizer, o universo, formado por tempo, espaço, matéria e energia, não teve início, sendo ele eterno e auto-suficiente. A teoria é muito conveniente, pois um universo sem início e estático, como se acreditava na época de Albert Einstein, acaba com o problema da quebra da lei da causalidade e evita o incômodo de concordar com os teístas, defensores de um princípio para o universo, cuja causa seria Deus.

Entretanto, avanços na ciência e contribuições valiosas do pensamento lógico, fizeram a idéia do universo eterno e sem causa desmoronar por completa, confirmando que o universo teve um início, isto é, passou a existir um dia:

Começando pela ciência [3], podemos listar alguns fatos fundamentais para estas conclusões:

(1) a segunda lei da Termodinâmica;
(2) a primeira lei da termodinâmica;
(3) a expansão do universo;
(4) a radiação da expansão;
(5) sementes de grandes galáxias;
(6) a teoria da relatividade de Einstein.

Vamos dar uma pincelada em cada uma delas:

1 – A Segunda Lei da Termodinâmica: Esta é uma lei da física, que provavelmente o leitor já estudou na escola. Entre outras coisas a lei afirma que a quantidade de energia utilizável do universo está ficando menor a cada momento. Desta forma, o universo caminha para a sua extinção, já que um dia não haverá mais energia para sustentá-lo. Ora, se a energia irá se acabar é porque ela é finita, e se ela é finita, ela não poderia ter existido pela eternidade. Evidência de que o universo teve um início.

2 – A Primeira Lei da Termodinâmica: De maneira semelhante à segunda lei da termodinâmica, esta lei afirma que o universo não pode aumentar a energia existente (gerar mais); ou seja, ela é finita, constante. Então, se temos uma determinada quantidade de energia, que não aumentará, mas, pelo contrário, será gasta a cada momento que passa (segunda lei), podemos postular que essa energia surgiu juntamente com o universo e decretará o seu fim, em determinado momento.

Os apologistas Norman Geisler e Frank Turek utilizam uma analogia interessante para exemplificar o assunto [3]. Eles comparam o universo a um carro. Um carro tem uma quantidade finita de combustível que o faz funcionar. Ao ligarmos o carro, o combustível começa a ser gasto e numa hora, não haverá mais energia para mantê-lo ligado. Ou seja, a energia utilizável do carro é transformada em energia não-utilizável no processo de alimentação do automóvel. E embora a soma das duas energias resulte sempre na mesma quantidade inicial (pois a energia é constante), a energia não-utilizável será cada vez maior. Assim também é o universo.

3 – A Expansão do Universo: Foi o que astrônomo Edwin Hubble confirmou no fim da década de 1920, constatando em seu telescópio que todas as galáxias estão se afastando da nossa, em um constante processo de expansão. Ora, se o uni-erso se expande constantemente, significa que se retrocedessemos cada dia no tempo, veríamos o universo cada vez menor até um determinado ponto em que simplesmente apareceu, tendo sido causado por algum agente de ordem transcendente. Ou seja, a descoberta provou que o universo não é estático.

4- Radiação da Expansão: Chama-se de big bang, justamente a teoria de que em dado momento o universo surgiu (explodiu), e a partir daí começou a se expandir. Ao contrário do que muitos pensam, o big bang não indica que o universo surgiu a partir de uma espécie de pré-universo primitivo, onde um caldeirão de “pontos matemáticos” causou uma grande explosão que o originou. Não. Isso é teorização ateísta para tentar fugir do que a teoria realmente revela: o universo surgiu e antes dele não havia tempo, espaço, matéria e energia. Exatamente por isso, antes que a teoria alcançasse aceitação no meio científico, havia muita relutância por parte dos ateus, pois o big bang acabava com a folga de crer em um universo eterno e estático.

Em 1965, no entanto, as coisas ficaram mais difíceis para os ateus. Acidentalmente, os cientistas Arno Penzias e Robert Wilson, detectaram uma radiação na antena do laboratório Bell, em Holmdel, Nova Jersey. A radiação cósmica de fundo, como veio a ser chamada, era esperada caso a teoria do big bang esti-vesse correta. Ela já tinha sido prevista por George Gamov, Ralph Alpher e Robert Herman em 1948.

Basicamente, esta radiação é um brilho de luz e calor emanados da explosão inicial que deu origem ao universo, onde a luz não é mais tão visível em função da expansão do universo, mas o calor ainda pode ser detectado. A descoberta da dupla de cientistas acabou por lhes render o prêmio Nobel de Física, em 1978 e sufocou a ideia de um universo sem início.

5- Sementes de Grandes Galáxias: Em 1989, a NASA lançava um satélite chamado COBE (Cosmic Background Ex-plorer), com o intuito de encontrar o que seria mais uma linha de sustentação da teoria do big bang: ondulações na temperatura da radiação cósmica de fundo. Com essas ondulações, a matéria poderia ser reunida em galáxias por meio da atração gravitacional, o que seria mais uma forte evidência para a teoria.

Em 1992, o satélite produziu o que alguns cientistas chamaram de a “descoberta do século”. COBE não só descobriu as ondulações (ou oscilações) esperadas, como revelou a incrível precisão (de cerca de um sobre cem mil) com que o universo surgiu e se expandiu, unindo matéria em galáxias, sem que ele mesmo desabasse sobre si. Uma pequena variação que fosse e não haveria possibilidade de existir vida no universo.

O satélite conseguiu, ainda, tirar fotografias em infraver-melho que apontavam para a matéria do início do universo que viria formar galáxias e conjuntos de galáxias. Isso se deu pelo fato de que as observações espaciais, na realidade, são obser-vações do passado, em fator do tempo que a luz leva para chegar até nós. Assim, o que os cientistas viram em 1992 foram as “sementes” das galáxias, a prova de que o universo já foi um “pequeno feto”.

A respeito da nova descoberta, o líder do projeto, George Smut, concluiu: “O que nós descobrimos é uma evidência do nascimento do universo (...) Se você é religioso, então é como estar olhando para Deus”.

6- A Teoria da Relatividade de Einstein: Esta, na verdade, foi a base para que os cientistas começassem a predizer aspectos de um universo com princípio. A teoria afirma por meio de vários cálculos que tempo, espaço, matéria e energia estão correlacionados (são interdependentes) e que é necessário um mesmo início absoluto para eles.

Os cálculos haviam sido feitos em 1916, por Einstein, e talvez por estar em uma fase ateísta da vida, o físico resolveu criar uma constante em seus cálculos, para que não chegasse à conclusão de que o universo necessitava de um princípio. Mas com as descobertas cientificas, e principalemente o fato de que seu “fator disfarce” se constituía de um erro básico de matemá-tica, Albert Einstein se rendeu à ideia de um universo causado, chamando o seu erro de “o pior de sua vida”.

Esta meia dúzia de simples evidências científicas, aceitas unanimemente, é suficiente para que qualquer pessoa entenda que o universo é um efeito. Não obstante, algumas observações ainda mais simples, ligadas ao puro raciocínio lógico, podem ser feitas. Eis aí:

Se o universo fosse eterno, não haveria movimento ou modificações nele, pois com o tempo eterno, jamais chegaria o tempo de haver alguma modificação. É simples. Suponhamos que tenho uma reta numérica infinita. Digo que o universo teve determinada modificação no ponto 43 da reta. Mas onde começa a reta? Em nenhum ponto, pois é infinita tanto para frente como para trás. Logo, o ponto 43 jamais chegará.

E o interessante é que estamos falando de uma única modificação, mas sabemos que o tempo é incessante e que tudo muda o tempo todo. Dizer que espaço, energia e matéria sempre existiram, criando deste modo um tempo sem início nem fim, é dizer que a matéria e a energia do espaço são absolutamente estáticas, em função do tempo eterno. Mas como sabemos que o universo (e tudo o que há nele) não é assim, a conclusão lógica e muito simples é de que o universo teve um início; e este início teve uma causa que ainda não pode ser explicado pela própria natureza, que, a saber, não existia.

Tentativa de Refutação 4: Teoria da auto-criação do universo

Em uma linha superior de teorias idiotas, ainda temos a idéia de que o universo criou a si mesmo. Bem, trata-se de uma contradição lógica que uma criancinha de cinco anos de idade conseguiria compreender: algo que não existe, não pode vir a fazer alguma coisa. Para fazer alguma coisa é necessário existir primeiro. E se algo já existe, não criará a si mesmo, porque já existe. Vou simplificar ainda mais através de um exemplo da vida prática: Se uma mulher ainda não nasceu, não pode ficar grávida e gerar um filho. Como uma mulher que não existe vai parir um filho?

Tentativa de Refutação 5: Teoria dos múltiplos universos

Completando o leque de absurdos, temos a teoria de que o universo na verdade é somente um de trilhões de outros universos, que por muita sorte reuniu informações necessárias para dar certo. Muito bem. E daí? Isso não explica de onde ele surgiu, como surgiu, porque surgiu, qual é a sua causa, enfim, não explica nada. Antony Flew, importante filósofo do século XX, tendo sido ateu por mais de cinqüenta anos e mudado de opinião nos anos 2000, brinca com isto no livro Deus existe:
Como já mencionei, não achei muito útil a alternativa do multiverso. A hipótese de múltiplos universos, sus¬tentei, era uma alternativa desesperada. Se a existência de um único uni-verso requer uma explicação, universos múltiplos requerem uma muito maior: o problema é aumentado pelo fator de que teríamos de descobrir o número total desses universos. Vejo isso um pouco como o caso do menino cujo professor não acredita que o cachorro comeu sua lição de casa e que muda a primeira versão da história, dizendo que não foi apenas um cachorro que fez aquilo, mas um enorme bando deles [4].
Voltando ao Argumento Cosmológico

Finalmente, depois de analisar as diversas teorias para o problema da questão da causa do universo, chegamos a algumas conclusões racionais:
(1) O universo continua precisando de uma causa;

(2) Esta causa precisa mesmo ser transcendente;

(3) Esta causa não pode ser causada para não cair no problema do regresso infinito, onde o universo será eterno.
Em outras palavras, a causa do universo deve estar além do tempo, do espaço, da matéria e da energia, sendo antes o criador desses elementos. Então, mais uma vez voltamos para as implicações básicas do argumento cosmológico, às quais nos mostram que a causa do universo só pode ser aquele agente poderoso que os teístas chamam de Deus. Agora, veja como as coisas se encaixam:
(1) Um agente causador que não tem início (isto é, não começa a existir) também não precisa de uma causa, pois só o que começa a existir precisa de uma causa.

(2) Um agente causador que criou todas as coisas, não está sujeito a nenhuma delas. Não estando sujeito a nenhuma delas, ele detém o poder sobre todas.

(3) Então, tudo está resolvido: a causa do universo é um agente transcendente, onipotente e não-causado.
Por isso é que Deus é a resposta. Ele é o único agente que se adéqua a estas características. Mas falo de Deus, com D maiúsculo, o criador; e não de divindades menores com diversas características humanas. As religiões monoteístas sempre sus-tentaram esse Deus criador lógico, infinitamente superior e diferente de tudo o que existe. O judaísmo, a primeira religião oficialmente monoteísta e base para as outras, já afirmava isso há pelo menos trinta e seis séculos. Ele era o Criador, e, portanto, diferente de tudo o que havia criado.

Considerações Finais

Três coisas, no entanto, devem ficar claras. A primeira é que ao chamar esse agente de Deus, estamos apenas designando um nome apropriado para um agente transcendente. Eu poderia chamá-lo de sofá, ou qualquer outra coisa, mas seria incoerente, pois coisas como sofá são materiais, espaciais, temporais e, além disso, fabricadas pela humanidade. Não é o caso do agente que causou o universo.

A segunda é que a necessidade da existência de um agente transcendente e criador do universo, conforme nos diz o argumento cosmológico, não nos dá nenhuma base lógica para inferir qualquer característica sobre esse agente, a não ser as que foram concluídas pelo próprio argumento.

A terceira, e não menos importante coisa a ser deixada clara, é que quando digo que esse agente é imaterial, isso não significa que ele é feito de nada ou que ele é o nada. Significa que ele não é limitado a átomos ou formado por matéria, como qualquer um de nós enquadrados no espaço.

Isso não vem a ser o nada. O nada é nada, mas Deus é uma unidade ontológica básica com propriedades positivas de causa para fazer surgir todo o universo. Isso é Deus. Esse é o agente necessário que o argumento cosmológico pressupõe.
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Citações:

1. Artigo de Alex Pruss, seção 2.2.2, sobre o argumento cosmológico, retirado e traduzido do livro: Blackwell Companion to Natural Teology.
2. Artigo-resposta de James Sinclair e William Lane Craig, extraído do site Resonable Faith (fé racional).
3. Livro: Não tenho fé suficiente para ser ateu, de Normam Geisler e Frank Turek.
4. Livro: Deus Existe, de Antony Flew.

3 comentários:

  1. Muito legal o seu texto,parabéns pra você.

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  2. Belíssimo texto. Já conhecia alguns dos posicionamentos mencionados,entretanto essa nova leitura me trouxe informações importantíssimas para um reestudo ou reapreciação da questão.Meus sinceros cumprimentos.

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  3. Isso foi tirado do 'não tenho fé suficiente para ser ateu'?

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