sábado, 26 de novembro de 2016

Uma reflexão adventista sobre a morte de Fidel Castro

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Morreu hoje, aos 90 anos, o ex-ditador cubano Fidel Castro. Sua morte nos relembra uma valiosa lição: neste mundo todas as coisas passam. Castro procurou criar uma nova sociedade. Queria fazer um mundo a sua imagem e semelhança, ser ele mesmo a redenção dos homens. Talvez tivesse uma boa intenção no início. Quem sabe, realmente se incomodava com o sofrimento do gênero humano? Possivelmente, em algum ponto de sua distante juventude, tenha sentido, de fato, a dor de alguém e desejado sinceramente fazer um mundo melhor. No entanto, como todos aqueles que pretendem ser a redenção do mundo, Castro rumou pelo caminho da prepotência e do autoritarismo. Querendo agir como Deus, tornou-se assassino e repressor. Pretendendo, talvez, fazer um Céu na terra, criou um inferno. E nesse inferno buscou, egoisticamente, uma situação melhor para si mesmo.

Castro, como todos os ditadores, é mais um símbolo da completa falibilidade humana e da tolice da salvação pelas obras. Descrente de Deus, mas crente em sua própria capacidade, Castro não conseguiu redimir o seu povo; não conseguiu ser o salvador que talvez um dia tenha pretendido ser; não conseguiu criar um mundo realmente bom. Castro não salvou a seus conterrâneos, tampouco a sua própria vida. Deixa para trás toda a sua riqueza, todo o seu poder e toda a sua vivacidade que outrora tivera. Nada leva desta terra, exceto, simbolicamente, as mãos sujas com o sangue de milhares de pessoas inocentes.

Terá ele aceito a Cristo nos últimos dias de sua vida? Terá ele se arrependido de todas as maldades que conscientemente perpetrou ao seu povo? Pouco provável. Fidel Castro sai hoje da existência, tendo levado uma vida vazia, em busca do impossível, querendo fazer as coisas do seu próprio jeito, fugindo de Deus. Viveu iludindo-se e iludindo a outros. Foi transformado em santo por muitos, mas não fez qualquer pessoa se achegar a Jesus Cristo, o único e verdadeiro salvador. De que valeu a sua revolução? O sangue dos cristãos que matou clama na terra até hoje. E o seu povo está na miséria.

Castro matou e morreu; assim se resume a sua vida. E se morreu da maneira como viveu, uma terrível punição o espera e, por fim, a inexistência absoluta. Nenhum bom legado deixa. Espalhou apenas sofrimento e hoje muitos comemoram a sua morte. Que triste fim! Que triste existência! Para ele, que via Jesus apenas como um mero revolucionário, as palavras de Paulo vem bem a calhar: "Se a nossa esperança em Cristo se limita apenas a esta vida, somos os mais infelizes de todos os homens" (I Coríntios 15:19).

É isso. Fidel Castro agora está morto. Já nada mais pode fazer ou sonhar. E o mundo permanece tão ruim quanto há 50 anos, quando ele resolveu revolucioná-lo. Quem saiu ganhando nessa história? Apenas Satanás. Iludiu um homem e através dele milhares de outros. Deu-lhes uma falsa esperança. Uma esperança humana. Hoje nada mais resta de bom aos que morreram nessa crença falsa e vazia. Nós, porém, segundo a promessa de Cristo, "esperamos novos céus e nova terra, nos quais habita justiça" (II Pedro 3:13).

sexta-feira, 25 de novembro de 2016

A eterna síndrome do amor ao Estado

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Tem uma coisa que não consigo entender como se processa na mente de um esquerdista: a fé no poder politico. Vejam bem: todos os dias lemos notícias de políticos que nos deixam indignados com esta classe. Eles maquinam diariamente maneiras de nos prejudicarem em benefício próprio. Possuem dezenas de privilégios, um salário enorme e um poder maior ainda para decidir quase tudo sobre a sua vida. Fogem da justiça com uma facilidade absurda. São uns vermes, gente asquerosa, cínica, mentirosa, cruel, sem nenhum respeito pelo indivíduo humano.

E eu não falo de um grupinho de políticos. Estou falando de quase todos. A grande maioria é um estorvo para a nação. Só entre deputados federais e senadores, o nosso parlamento, há 594 políticos. Se 50 ali realmente prestam e possuem capacidade para estarem em suas posições é muito. O restante é um bando de néscios e ladrões, gente que mama o seu dinheiro de trabalhador suado para tornar sua vida mais difícil é a deles mais fácil. Nos estados e cidades a situação é ainda pior. Há câmaras inteiras sem uma única pessoa que preste. Há lugares em que os políticos viraram barões e suas famílias oligarquias. O poder é passado de geração em geração e nada muda. O povo permanece sendo massacrado.

Para mim, vendo tudo isso, é óbvio, claro e evidente que o poder dos políticos precisa ser reduzido, que seu campo de ação, seus benefícios, suas prerrogativas e responsabilidades, tudo tem de ser limitado ao máximo. O Estado precisa ser menor e menos poderoso. A classe política necessita de limites. No entanto, o esquerdista pensa justamente o oposto. De alguma forma que não entendo, ele consegue achar ruim todo esse cenário descrito, mas desejar que o Estado e seus agentes continuem tendo o mesmo poder e até o aumentem. Como assim?!

Será tão difícil entender que você não vai ter um hospital público de qualidade enquanto esses caras concentrarem tanto poder e funções? Será que não percebe que a educação jamais terá qualidade enquanto o Estado for esse monstro?

Você quer um Estado que dê assistência aos necessitados? Ok. É possível. E é justo. Há realmente gente nesse país que não tem condições de levar uma vida digna. Por culpa do próprio governo. Então, há quem precise mesmo de assistência. Mas, meu amigo, não dá para manter um Estado que dê assistência aos pobres e, ao mesmo tempo, aos políticos, parentes de políticos, empresários financiadores de políticos, militantes, partidos, assessores comissionados, concursados com super salários, dezenas de ministérios, milhares de secretarias, bancos privados, bancos públicos, blogs, revistas, jornais, canais de TV, times de futebol, artistas, filmes, ONGs, Sindicatos, MST, CUT, UNE, MTST, Cuba, Venezuela, Angola, Foro de São Paulo, Odebrecht, SuperVia, Correios, etc. Não dá! Ou o povo pobre ou todos esses políticos e apadrinhados políticos. Lembre-se que esse segundo grupo se alimenta do primeiro. O dinheiro que paga todo esse enorme aparelho estatal e os seus tentáculos sai justamente do bolso dos pobres que você diz querer ajudar. Quanto maior o Estado e quanto mais poder a classe política tem, mais os pobres são massacrados. É difícil entender isso?

Reduzir o Estado e o poder dos políticos deveria ser ponto em comum, ponto pacífico, unanimidade. É apenas com essa redução que pode-se pensar numa economia mais ativa, capaz de arrecadar mais impostos. É apenas com essa redução de custos que pode-se pensar em investir mais e melhor em saúde, educação e segurança públicas. Mas enquanto houver quem defenda político bandido, morosidade nos julgamentos e concentração de poder e dinheiro nas mãos do Estado e seus agentes, não tem como melhorar a vida do povo.

Não se pode servir a dois senhores. Ou se serve aos políticos ou ao povo. Tentar servir aos dois é certeza de desagradar a um deles. Ou ambos.

quinta-feira, 24 de novembro de 2016

Conhecimento Econômico II: Inflação

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Você sabe o que é inflação? Sabe como ela se forma? Vamos tratar hoje desse tema. O texto de hoje é o segundo da série que me propus a fazer sobre conhecimentos básicos de economia. Para quem não leu o primeiro, clique aqui

Mencionei brevemente no primeiro texto o erro infantil (das crianças mesmo) de achar que imprimir mais dinheiro poderia resolver os problemas do mundo. Por incrível que seja, homens adultos, por vezes economistas, fazem uso desse artifício insano. Por quê? Explico.

Obviamente emitir dinheiro e distribuir à todos seria inútil, já que dinheiro é apenas um símbolo. Mas o governo pode (através do Banco Central) emitir mais dinheiro para os Bancos. Ao fazê-lo, os bancos terão mais dinheiro para emprestar. Isso reduz os juros dos empréstimos. Por quê? O juro nada mais é do que o preço do empréstimo. O empréstimo é um serviço como qualquer outro e, portanto, tem um valor. Isso é o juro.

Ora, se o banco tem muito dinheiro guardado, emprestar é mais fácil, logo o empréstimo será mais barato. Se suas reservas estão reduzidas, o preço do empréstimo se elevará, bem como os requisitos para consegui-lo; e os valores possíveis serão menores. Em outras palavras, quando o BC joga moeda na economia através dos bancos, estes passam a oferecer crédito fácil em todos os sentidos. Menos juros, menos requisitos, mais parcelas, empréstimos mais altos e etc. À curto prazo, isso gera um boom na economia. As empresas começam a pegar altos empréstimos para seus projetos; novos empreendedores surgem, conseguindo se capitalizar; os consumidores compram mais no crediário. É a farra do crédito. O banco tem para todos.

O que descrevi parece muito bom, né? Mas não se esqueça: é artificial. O que se aumentou, primeiramente, foi o dinheiro disponível (que é um símbolo) e não a produção. Isso quer dizer que, à princípio, há mais dinheiro em circulação para comprar a mesma quantidade de coisas. Não houve produção de riqueza, portanto.

Se todos recebessem esse dinheiro novo criado ao mesmo tempo e na mesma quantidade, isso não faria nenhuma diferença, nem positiva, nem negativa. Seria inócuo. Mas lembre-se que quem recebe primeiro são os bancos. Depois as primeiras empresas a pegar empréstimos. Ou seja, esse dinheiro vai sendo repassado para as pessoas aos poucos. Aí está o problema. As primeiras que receberem terão mais condição que antes de comprar coisas. E comprarão. Só que como a produção não aumentou à princípio, haverá menos produtos para os outros. Isso fará com que os preços se elevem. É o que chamamos de inflação de preços. Ela é causada pelo aumento de circulação de moeda no mercado.

Então, antes do novo dinheiro chegar à todos através do aumento de salários, os preços já subiram. Quer dizer, alguns tiveram aumento de renda e puderam comprar mais com os preços no mesmo patamar. Outros tiveram que comprar mais caro, ganhando o mesmo salário.  

Mas por que, então, os governos inflam moeda? Há pelo menos dois motivos. O primeiro é o já mencionado "boom" na economia. Trata-se de uma aposta. O governo expande crédito e espera que os empréstimos que isso vai gerar expandam suficientemente os negócios para que mais empregos sejam criados, o que fará mais empresas concorrerem e mais pessoas consumirem. A ideia, portanto, é criar uma inflação dosada, que não cresça muito e seja rapidamente superada pelo conseguinte aumento de produção.

Um dos principais problemas desse tipo de política é que essa aposta é arriscada. Não há como prever que o crescimento será tão grande, nem que será uniforme. Na verdade, dificilmente o crescimento é uniforme, em geral uns ramos crescerão mais rapidamente que outros. Então, mesmo que a economia cresça muito, alguns ramos podem não crescer o suficiente para conter a elevação de preços ocasionada pela expansão de crédito. Ademais, o crescimento da produção realmente deve ser fantástico para que a inflação seja contida, o que dificilmente ocorrerá em um país que já não seja bastante desenvolvido e liberal na sua economia.

Mas ainda que um país consiga ser bem sucedido nesse crescimento fantástico, isso não durará muito tempo. Por que? Bom, aqui entra outro grande problema desse tipo de política: Nenhum governo poderá inflar moeda para sempre. Ainda que se consiga a proeza de se conter a inflação durante um bom período de crescimento, em dado momento a expansão de crédito deverá parar para que não ultrapasse a capacidade de produção. Tudo tem um limite. Quando o governo chega nesse limite máximo, iniciará um momento de corte radical na emissão de moeda e de aumento da taxa básica de juros. Aqui no Brasil a Taxa Básica de Juros é a SELIC, que é calculada pelo Comitê de Política Monetária (COPOM), um setor do BC. O aumento ou a redução dessa taxa pelo BC influencia todas as outras taxas de juro do país. É comum que o governo aumente essa taxa quando deseja reduzir ou evitar inflação. 

Ora, com o corte radical na emissão de moeda e o aumento da taxa básica de juros, os bancos já não poderão emprestar na mesma velocidade, quantidade e facilidade de antes. Mas a sociedade ainda está à todo o vapor, lembra? Então, o que vai acontecer é que o preço dos empréstimos (os juros) tornarão a subir. Cessa a facilidade de conseguir dinheiro e quem fez empréstimos altíssimos terá uma surpresa: os juros aumentarão exorbitantemente. O que antes pareciam negócios lucrativos se mostram verdadeiras bancarrotas. Os empresários ficam endividados com o aumento dos juros. As pessoas que compraram em cartões ou que possuem dívidas no limite bancário também ficam mais endividadas. Os próprios bancos podem ficar em situação ruim, porque o não pagamento de seus empréstimos poderá quebrar suas atividades. Sem poder pagar suas dívidas, empresas demitirão funcionários e, se a concorrência permitir, procurarão aumentar preços.

O fim de toda a política inflacionária é essa. Mas para muitos governos vale à pena o risco, pois quem segurará o pepino provavelmente será o governo seguinte. Assim, é possível um governo inflar a moeda, aquecer a economia por alguns anos e deixar a crise para seus sucessores.

A segunda razão para governos inflarem a moeda é para pagar suas dívidas. Isso pode ser feito de três maneiras. A mais primitiva é o governo mandar o BC fazer dinheiro e pagar as dívidas. Mas isso é algo proibido em diversos países. Outra maneira é fazendo uma permuta com os bancos. O BC expande moeda para os bancos e os bancos, por sua vez, emprestam dinheiro para o governo. Em geral, esse empréstimo ocorre por meio de compra de "títulos de dívidas" do governo por parte dos bancos (grosso modo, isso nada mais é que empréstimo).

Por que os bancos aceitam isso? É óbvio. Além de terem recebido mais dinheiro para emprestar, ao emprestar quantias vultuosas para o governo terão um retorno enorme, já que quanto maior o empréstimo, maior o juro. O governo é sempre maior devedor que qualquer indivíduo ou empresa. Daí se segue também que quanto mais um governo gasta e pede empréstimos, melhor para os bancos (desde que o governo não seja caloteiro).

Uma terceira maneira de pagar suas dívidas através da inflação é visando reduzir justamente o juro de dívidas em andamento. Uma vez que expandir moeda reduz os juros, o governo pagará menos quando se utilizar desse artifício.

Quando entendemos essa dinâmica, conseguimos compreender alguns fenômenos da história. Por exemplo, por que o Brasil viveu uma hiperinflação nos anos 80 e início dos anos 90? Quem é mais velho lembra disso. Os produtos mudavam de preço todos os dias, duas, três, quarto vezes por dia. A pessoa recebia o salário e corria para o mercado para comprar antes que tudo aumentasse. Por quê? O motivo principal era a existência de um número enorme de empresas estatais (incluindo bancos) que davam déficits também enormes. Para que essas estatais não fossem à falência, o governo as acudia direta ou indiretamente imprimindo dinheiro. Resultado: uma inflação galopante.

Outro caso de distorção econômica causada pela política de expansão de moeda é a crise americana de 1929. Embora ela geralmente seja apontada como uma crise causada pela superprodução em uma economia extremamente liberal, a verdade é que sua causa foi a expansão creditícia promovida pelo FED, o Banco Central americano. Como se deu? O FED expandiu crédito por alguns interesses políticos da época. Isso derrubou os juros e estimulou a tomada de empréstimos. O resultado foi um boom na economia. Mas o FED teve que cortar o crédito, a fim de não criar um surto inflacionário. Os preços até então tinham sido segurados pela grande produção. Ao cortar o crédito e aumentar os juros, os empresários que fizeram altos empréstimos se viram com dificuldades de pagar.

Com as primeiras demissões e falências, muita gente começou a ir aos bancos para retirar dinheiro da poupança. Isso complicou a situação dos bancos, que já não estavam vendo o pagamento de muitos empréstimos.

O aumento do desemprego reduziu o consumo rapidamente. Então, aquela incrível produção passou a se acumular nas prateleiras. Havia mais produto que gente com condição de comprar. Em vez, então, de haver inflação de preços, houve deflação. Com excesso de produtos e pouco consumo, as empresas foram baixando os preços para tentar vender. Não é preciso ser um gênio para perceber que se você está em época de crise e ainda precisa baixar preços, você não vai durar muito.

Um terceiro caso desastroso de distorção econômica é bem mais atual. Aqui no Brasil, o governo Lula, após um breve período de ajuste da economia, também lançou mão da expansão de crédito. Mesmo esquema: uma aposta numa inflação contida que pudesse ser superada rapidamente pelo aumento de produção. A aposta deu certo principalmente por uma razão: a queda do dólar. Nesse período o dólar se desvalorizou bastante (provavelmente pelos efeitos da guerra no Iraque). Com o dólar caindo, todas as compras de produtos americanos ou que continham algum componente americano ficaram mais baratas. Isso não só anulou a inflação de preços como ajudou a aquecer a economia, aumentando a produção, a concorrência e o consumo.

O bom período econômico do presidente Lula acabou sendo mais extenso do que deveria pelos efeitos da queda do dólar. Houve outras razões também, como o bom momento dos países emergentes, incluindo a China, que virou grande parceira comercial do Brasil. Mas, como já vimos, a economia é implacável. Ele sempre impõe o acerto de contas. E o acerto começou a chegar quando o dólar voltou a subir. Os dois governos de Lula e o primeiro governo de Dilma haviam expandido crédito e gasto dinheiro como se não houvesse amanhã. Com a escalada da moeda americana novamente, nossa produção iniciou um movimento de queda, os produtos ficaram mais caros, a inflação começou a aparecer, a arrecadação de impostos pelo governo se tornou insuficiente para pagar as dívidas, os juros foram aumentados e entramos na crise que nos encontramos, com desemprego crescente e elevação de preços.

Esses exemplos nos deixam de lição de que não é possível enganar a economia. Você pode até expandir crédito e conseguir manter a inflação à níveis toleráveis por uma série de circunstâncias fortuitas. Mas uma hora chegará o acerto de contas em forma de juros altíssimos, causando endividamentos, queda nos investimentos, desemprego e falências. E se a produção foi muito acelerada, este cenário causará deflação.

Talvez isso possa parecer meio abstrato para você. Vamos expor de maneira mais concreta. Os empresários fazem seus investimentos com base nos sinais que a economia oferece. Esses sinais são os preços, a valorização da moeda, o nível da inflação, o nível de juros e etc. Se esses sinais forem falsos, todas as projeções e investimentos se mostrarão sem base em algum momento. Então, de repente, diversos empresários descobrirão que não deveriam ter pego empréstimo X, ou investido em Y, ou gasto tanto com Z. Ela se basearam em uma imagem falsa, distorcida da economia. É isso o que acontece quando o governo tenta criar crescimento econômico de forma artificial. Engana-se toda a população. O acerto de contas nos pega violentamente depois.

A pergunta que fica é: de que forma o governo pode impedir a si mesmo, de maneira eficiente, de criar inflação? Como uma sociedade consegue evitar esse mal? Esse será o assunto do próximo texto da série.

terça-feira, 15 de novembro de 2016

Acompanhem o blog "Reação Adventista"

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Quero convidar os leitores do Mundo Analista a visitarem o blog Reação Adventista. Ele é uma iniciativa de um grupo de cristãos adventistas (do qual faço parte) que se cansou de ver ideologias anticristãs advindas principalmente da esquerda infectarem a mente de alguns membros da nossa Igreja. Nós iniciamos o projeto com uma página no Facebook. A página cresceu e resolvemos fazer um blog para organizar melhor os nossos textos. Temos hoje a página no Face, uma conta no Twitter e no Instagram, e o blog. Em breve também teremos uma conta no Youtube. Se você também está cansado do progressismo se infiltrando no cristianismo, distorcendo o evangelho e afastando pessoas de Cristo, acompanhe este projeto. 

Segue abaixo o texto introdutório do blog, que descreve nosso objetivo.

O que é o Reação Adventista?

A página “Reação Adventista” foi criada com um objetivo simples e direto: ser uma voz de reação contra filosofias anticristãs tais como o marxismo, o liberalismo teológico, o feminismo, o abortismo, o relativismo e o secularismo em geral. Essas pautas tem sido geralmente disseminadas pela esquerda política, mas não se tratam meramente de discussão política – elas penetram o campo da moral e atingem princípios bíblicos, afastando pessoas de Cristo e deturpando o evangelho.

Entretanto, o intuito da página não é colocar o cristianismo (e o adventismo) em pé de igualdade com a direita. Até porque o que houver na direita que contrarie a Bíblia, nós não hesitaremos em rechaçar. Embora o posicionamento dos articulistas desta página seja, de fato, à direita (e não escondemos isso), temos a convicção de que direita e esquerda são dois posicionamentos políticos. É perigoso comparar posicionamentos políticos ao cristianismo, porque o cristianismo não é um posicionamento político ou econômico. São coisas de naturezas diferentes.

O cristianismo é uma religião. E o cristianismo genuíno é mais do que uma religião. É um relacionamento profundo e verdadeiro com Jesus Cristo, o que leva à observância e ao respeito pela Sua Palavra, a Bíblia. Quando fazemos uma comparação entre direita, esquerda e cristianismo, transformamos o cristianismo em política (ou direita e esquerda em religiões) e acabamos por colocar o evangelho ao nível de filosofias terrenas. Mas o evangelho é muito superior a essas filosofias. Assim, o objetivo da página não é (e não será) defender a direita política.

Contudo, também entendemos que há posturas e crenças políticas, culturais e até econômicas que contrariam princípios cristãos (e adventistas). E a esquerda é repleta desses elementos espúrios, corrosivos ao genuíno evangelho. Só para citar alguns exemplos:

Ela deposita confiança num Estado grande para mudar o mundo (como se fosse possível fazer um Céu na Terra), defende leis que criam sensação de impunidade entre os criminosos, tira do indivíduo a responsabilidade de ser caridoso (dando essa responsabilidade ao Estado), defende o aborto (que nada mais é que assassinato de inocentes), defende a liberalização das drogas (como se isso não fosse ter nefastas consequências em relação ao convívio social com drogados), defende altos impostos (o que a própria Bíblia diz que leva um povo à ruína) e usa uma retórica de ódio entre classes e subclasses (empregados x patrões, héteros x homos, negros x brancos, mulheres x homens) para alcançar seus objetivos.

A mesma esquerda ainda defende o multiculturalismo (ideia que diz que todas as culturas são iguais e devem ser respeitadas, o que não é verdade. Devemos respeitar a cultura do Estado Islâmico de decapitar homossexuais, por exemplo?), ataca a família tradicional, defende o feminismo (que não serve mais para representar a mulher, mas apenas para seguir uma agenda de esquerda), apoia a violência do MST e as invasões de terras, defende regimes ditatoriais comunistas (que mataram 100 milhões de pessoas no século XX, e continuam matando hoje na China, na Coreia do Norte e em Cuba), defende a corrupção em prol dos partidos de esquerda (vide os petistas) e, quando não abraça o ateísmo, abraça formas deturpadas de cristianismo.

Então, ser cristão e de esquerda não nos parece algo saudável. Ou você será um péssimo esquerdista ou um péssimo cristão. Para o cristão, politicamente, é melhor que ele seja de centro ou de direita. Quiçá, de uma esquerda moderada, isto é, sem os vícios culturais e morais já elencados acima (se é que essa esquerda existe e/ou é possível). Neste caso, não haveria problema.

Os componentes dessa página são de vertente conservadora. Defendemos o respeito à família tradicional e aos valores judaico-cristãos; não acreditamos que o Estado pode mudar o mundo, não apoiamos regimes totalitários, somos anticomunistas, somos favoráveis a leis rígidas contra criminosos, uma carga tributária mais leve, igualdade perante à lei, uma economia mais liberal, etc. São valores que ou se coadunam com os princípios bíblicos ou que simplesmente não os ferem.

A Bíblia não nos oferece uma fórmula política ou econômica específica para seguir. Mas nos ordena que tudo o que formos fazer, pensar, falar e defender não contradiga os mandamentos e as instruções de Deus. E ser de esquerda (pelo menos a esquerda que sustenta os pontos mencionados no texto) é pisar em vários princípios bíblicos. Em resumo: um cristão pode ter as posições políticas, econômicas e culturais que desejar (e não nos importamos com isso), desde que elas não firam a Palavra de Deus.

Para não parecer demagogia quando dissemos que o intuito da página não é defender a direita citamos alguns exemplos aqui. Nós somos contrários à regimes autoritários e ditaduras geralmente relacionadas à direita, como a Chilena, de Pinochet, o regime militar brasileiro de 1964 a 1985. Não temos ditadores ou ditaduras de estimação. Seja fascismo, nazismo, comunismo, teocracias islâmicas ou regimes autoritários de viés anticomunista, nós somos contra. Somos pelo Estado de direito.

Um segundo exemplo é que discordamos do libertarianismo e do anarcocapitalismo, duas correntes radicais do liberalismo econômico. Entendemos que essas correntes, ao colocarem o livre mercado como fim em si mesmo, acabam abrindo mão de valores morais, humanitários e cristãos em muitos casos. Nossa orientação é a Bíblia e não filosofias do mundo.

Ponto importante a enfatizar é que nós nos colocamos, nessa página, radicalmente contra o liberalismo teológico que tenta se infiltrar em nossa Igreja. Nosso conservadorismo se estende aos hábitos e costumes. Rechaçamos que o cristão se vista indecentemente e que viva chamando atenção para si. Acreditamos em algo muito importante chamado “Modéstia Bíblica”, a qual sempre fez parte dos princípios adventistas, mas tem se perdido nas novas gerações.

Também rechaçamos que a liturgia dos cultos a Deus seja infectada de mundanismo, transformando a Igreja em um clube. Somos jovens, não temos nada contra diversão, mas entendemos que o momento do culto é sagrado e deve servir para nos elevar a Deus em reflexão, contemplação e adoração, em um clima que não leve ao êxtase e à divagação.

Finalmente, a página também se propõe a divulgar o cristianismo e o adventismo de forma inteligente, polida e racional, da maneira como acreditamos que merece o nosso Deus. Não acreditamos na tese espúria e tola de que fé e razão não andam juntas, ou que fé é crer sem evidências. Cremos no que cremos porque há razões plausíveis e suficientes para crer. Há uma lógica no mundo criado por Deus. E podemos escavar as verdades de Deus através dessa lógica. Neo-ateus “toddynhos” não terão vez aqui falando suas baboseiras travestidas de intelectualismo.

Terminamos com duas citações de Ellen G. White que sintetizam o pensamento da página em relação à Palavra de Deus, à razão e à necessidade de correção dos que se desviam da verdade bíblica:

“Recomendo-vos, caro leitor, a Palavra de Deus como regra de vossa fé e prática. Por essa Palavra seremos julgados. Nela, Deus prometeu dar visões nos ‘últimos dias’, não para uma nova regra de fé, mas para conforto do Seu povo e para corrigir os que se desviam da verdade bíblica. Assim tratou Deus com Pedro, quando estava para enviá-lo a pregar aos gentios.” (WHITE, Ellen G. “Primeiros Escritos”, p. 78)

“Deus nunca pede que creiamos sem que nos dê suficientes evidências sobre as quais possamos alicerçar nossa fé. Sua existência, seu caráter e a veracidade de sua Palavra se baseiam em testemunhos que falam à nossa razão; e esses testemunhos são numerosos. Apesar disso, Deus nunca removeu a possibilidade de dúvida. Nossa fé deve se basear em evidências, não em demonstrações. Os que desejam duvidar terão a oportunidade de fazê-lo, enquanto os que realmente desejam conhecer a verdade poderão encontrar muitas evidências onde apoiar sua fé” (WHITE, Ellen G. “Caminho a Cristo”. Tautí: CPB, 2014, p. 105).

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Obs.: Se, ao ler nossa introdução, você concordou e se identificou conosco, fique à vontade para fazer parte desse projeto. Aceitamos sugestões e colaborações, que deverão ser enviadas para o e-mail: reacaoadventista@gmail.com

sexta-feira, 4 de novembro de 2016

Conhecimento Econômico I: Geração de Riqueza

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Você sabe como o salário e a qualidade de vida dos trabalhadores aumenta? Qual é a fórmula, por exemplo, dos países com a melhor qualidade de vida do mundo? Você acha que é através de um governo que aprova leis aumentando o salário mínimo e dando mais garantias aos trabalhadores? Eu preciso te dizer que não é assim. Vou explicar resumidamente como funciona. Essa será a primeira de uma série de conhecimentos de economia que obtive lendo (não na faculdade, obviamente, já que não aprendo muita coisa útil lá).

Em primeiro lugar, você precisa ter em mente um fato básico: o estado natural do ser humano é a miséria. Por quê? Porque é preciso fazer algum trabalho para se ter as coisas. Isso não é novidade do mundo globalizado. Um primitivo homem de alguma tribo no interior da África há 4 mil anos precisava forjar sua lança e sair em busca de animais para caçar e terra nova para plantar. Alimento, roupa e objetos não se fazem sozinhos. É preciso produzi-los ou, no mínimo, se dispor a ir atrás deles.

Na medida em que as sociedades crescem, também cresce o número de coisas que precisamos e desejamos. E na medida em que as sociedades crescem, o que estava pronto na natureza passa a não ser mais suficiente para suprir o contingente de pessoas. Isso implica a necessidade de mais trabalho ou de um trabalho mais efetivo em produzir o suficiente para a demanda.

A evolução da sociedade não trará apenas novos tipos de produtos, mas também serviços. Isso porque naturalmente é mais fácil dividir as tarefas para diversas pessoas da sociedade do que cada um fazer tudo sozinho. Em vez de eu fazer minhas próprias roupas, móveis, utensílios e alimento, posso focar apenas em uma coisa e adquirir o restante através do trabalho de outras pessoas. Além do mais, nem todos os lugares são igualmente ricos em tudo (naturalmente falando). Daí se iniciarão as trocas. Eu produzo equipamentos de ferro. Você produz roupas de lã. Eu troco algum utensílio de ferro que você queira por alguma roupa que preciso ou desejo. As sociedades se desenvolverão desta maneira, com pessoas se especializando na produção de algum bem ou serviço e trocando com outras.

Em pouco tempo esse sistema se mostrará problemático por não oferecer um parâmetro único para valorar os produtos e serviços trocados. Quantas túnicas valem um boi? Quantos bois valem um camelo? Quantos camelos valem uma safra de milho? Quantas espigas de milho valem um boi? Confuso. É aí que surge uma das melhores invenções do mundo: o dinheiro.

O dinheiro é um símbolo. Ele em si não vale nada. É apenas um pedaço de metal (hoje em dia, um pedaço de papel). Seu valor está justamente no que ele simboliza: os produtos e serviços. A invenção é genial porque através dela é possível valorar todos os produtos e serviços com um denominador comum. Assim, o valor do boi não será mais medido em mil produtos e serviços diferentes. Será medido em um valor monetário. Isso facilita muito a vida, pois estabelecerá uma relação entre os preços de cada coisa. Por exemplo, eu não sei quantas espigas valem um boi. Mas se fixarmos que um boi vale cem moedas de prata e uma espiga vale uma moeda de prata, então eu sei que vendendo um boi eu compro cem espigas. Vendendo cem espigas, eu compro um boi. Se uma casa custa cem mil moedas de prata, eu sei que isso equivale a mil bois e a cem mil espigas de milho.

Percebe? Com os preços, é possível relacionar tudo. Além do mais, o dinheiro resolve uma limitação da negociação por trocas: no sistema de trocas, se eu quero algo seu, mas só posso trocar por algo que você não quer, que não tem valor para você, então nada feito. Mas com o dinheiro, qualquer troca é possível, já que de posse do meu dinheiro você pode comprar para si algo que eu não tenho para trocar. O dinheiro, portanto, dinamiza todo o sistema de troca de bens e serviços, tornando-o mais fácil, eficiente, justo e expansivo.

Acha que saí do assunto? Não saí. Tem a ver. Eu comecei dizendo que o ser humano é naturalmente miserável. Ele precisa fazer algo (trabalho) para sair dessa condição. Ou seja, ele precisa produzir riqueza. Riqueza não é dinheiro. Riqueza são produtos e serviços. O dinheiro é apenas um símbolo para esses produtos e serviços, um meio para valorá-los sob um denominador comum.

Aqui está o "x" da questão. Se dinheiro é só um símbolo, o aumento do dinheiro na sociedade sem o equivalente aumento de produtos e serviços não fará com que magicamente surjam mais produtos e serviços. Você aumentou o símbolo, não as coisas que o símbolo compra. Em outras palavras, não houve geração de riqueza.

Esse é um erro infantil, no sentido literal do termo. Toda criança pensa que se poderia resolver os problemas do mundo imprimindo mais dinheiro, cunhando mais moedas. Assim, elas pensam, todos poderiam comprar mais. O problema está justamente nisso: do que adianta ter o meio para comprar, mas não ter o próprio objeto disponível para compra?

O aumento de salário mínimo via canetada do governo não tem o poder de gerar riqueza, portanto. Se, por exemplo, pegarmos um país miserável e elevarmos os salários de todos para o que seria equivalente a 3 mil reais no Brasil hoje, o que ocorrerá é que diversas pequenas e medias empresas irão falir, haverão demissões em massa, os produtos e serviços serão vendidos mais caros, muitas pessoas migrarão para o trabalho informal (sem carteira assinada, ou o que o valha), sobrarão algumas poucas empresas grandes que dominarão o mercado consumidor e o mercado de trabalho, haverá menos concorrência entre empresas (pois sobrarão poucas) e o povo perderá muito de seu poder de escolha. Isso sem contar com o fato de que quando você cria dificuldades para empresários, os grandes tentarão comprar facilidades junto ao governo. Tudo isso com uma canetada do governo. Por quê? Porque obrigou-se muitos a pagarem o que não tinham.

O que se pode argumentar aqui é que aumento do salário pelo governo, embora não gere riqueza, corrige distorções. Ou seja, em uma economia em que se está produzindo bastante riqueza, o aumento do salário pelo governo iria impedir que empresas que possuem condição de pagar melhor, pagassem menos.

Este argumento é até plausível. Mas a verdade é que o fator primordial para o salário se elevar não são as canetas do governo. É sim a concorrência. Explico.

Na medida em que o governo não impõe muitas dificuldades ao empreendedorismo, a tendência e o surgimento de mais empresas. Com mais empresas, o trabalhador pouco a pouco ganhará mais opções de lugares para trabalhar, o que não o deixará refém de um emprego que lhe pague muito pouco. Essa maior flexibilidade para o trabalhador acarretará uma disputa, entre as empresas, pelos melhores funcionários. Sabendo que não conseguirão mantê-los pagando pouco, terão que elevar seus salários. Como a economia vai bem, eles poderão fazer isso, pois há riqueza suficiente gerada.

Ao mesmo tempo, o aumento de empresas forçará o preço dos produtos para baixo. Por duas razões: (1) a abundância e (2) a concorrência. Quanto mais fácil é achar algo no mercado, mais barato tende a ser, pois tem aos montes. E quanto mais empresas vendem determinado produto ou serviço, mais cada uma delas procurará não vender a um preço exorbitante e até procurar meios de baratear para ganhar da concorrência (ou, no mínimo, para não perder).

Com os produtos mais baratos, as pessoas poderão comprar mais, ter acesso à mais coisas que precisam e/ou desejam, viver melhor. Poderão, inclusive, buscar especialização e estudo que as tornarão profissionais mais valorizados; ou investir em um negócio, gerando mais empregos. Nos dois casos, ela estará contribuindo para a elevação de salário da sociedade, ou por aumentar o nível de instrução e especialização, ou por abrir mais uma empresa que forçará, por meio de concorrência, as demais a venderem mais barato e pagarem melhor seus funcionários. A concorrência tende a tornar as coisas mais justas, colocando preços e salários nos patamares convenientes à saúde da economia.

O resultado não é o fim da pobreza ou da desigualdade social, mas sim a elevação da qualidade de vida de pobres e ricos. Na verdade, a própria definição de pobre muda. O pobre passa a ter muito mais capacidade de aquisição de bens e serviços do que antes. Torna-se rico em relação ao passado. Os pobres passam a sê-lo apenas em relação aos mais ricos, mas terão a mesma dignidade de vida.

Marx acreditava que esses sistema, ao qual chamava de capitalismo, inevitavelmente formaria monopólios. Na sua visão, o crescimento das grandes empresas inviabilizaria a vida das pequenas e médias, pois elas conseguiriam vender mais barato. E assim as poucas grandes empresas que sobrassem iriam permanecer explorando os trabalhadores.

Há dois erros nesse pensamento. O primeiro é que Marx não previu que o aumento da complexidade social cria necessidades distintas. Por exemplo, um mercadinho pode vender as coisas um pouco mais caras num bairro, mas ser preferência daquele casal de velhinhos que não tem disposição para ir até o centro comercial da cidade. Pode ser preferência daquele indivíduo mais preguiçoso ou que possui menos tempo para se deslocar. O mercadinho pode contar com um produto local bom que não é vendido pelos mercados grandes. Pode haver nesse mercado um confeiteiro que faz bolos muito bons. O mercado pode se especializar em algum produto ou serviço distinto. Algumas pessoas podem preferi-lo por ser mais vazio. O bom atendimento pode ser um diferencial. Os preços podem não ser tão divergentes, não fazendo tanta diferença no final. E o salário dos funcionários (bem como o lucro dos donos) pode ser menor, o que reduz os custos e possibilita produtos mais baratos. Em suma, há muitas nuances. E, de fato, a história comprova que essas nuances fizeram a diferença, já que a concorrência, onde pôde operar, gerou mais empresas e elevou a qualidade de vida da sociedade.

O segundo erro de Marx foi não ter percebido que seu próprio argumento favorecia a ideia de concorrência. Ora, se as grandes empresas ganhariam a concorrência por venderem mais barato, isso é um benefício para o consumidor. Eis, aliás, uma questão curiosa: embora possa, à priori, parecer interessante aos patrões (do ponto de vista mercadológico) pagar os menores salários possíveis, esse tipo de sistema logo se mostra inviável. Afinal, se todos os trabalhadores forem miseráveis, quem comprará os produtos? Assim, a elevação de salários segue seu rumo natural numa economia de mercado, sem poder ser contida em conjunto, sob o risco de reduzir os lucros de todos e ocasionar falências.

Mas voltando à questão da concorrência, como Marx não trabalha com a noção da melhora natural da qualidade de vida das pessoas, não consegue prever que isso possibilita o surgimento de novos ricos e de empreendedores habilidosos. Ou seja, em um sistema de mercado livre (onde o governo não intervirá favorecendo uns é prejudicando outros), quem chega ao topo não está seguro para sempre no topo. A melhora da qualidade de vida da sociedade implica mais concorrência, criando um ciclo positivo.

A história mostrou que estás elucubrações não são apenas teóricas. De fato, esses sistema pós industrial baseado em divisão de tarefas, livre mercado e o bom e velho dinheiro (sistema que chamamos de capitalismo) tirou o ser humano de uma produção ínfima que não mais supria a demanda, para uma produção muito mais abundante. Isso gerou uma redução da miséria, uma elevação do padrão de vida e uma mobilidade social jamais antes vistas no mundo.

Agora, atenção: isso não é um argumento contra a existência de um salário mínimo estipulado pelo governo e garantias legais. É apenas a constatação de que as canetadas do governo não se constituem fator fundamental para a elevação dos salários e da qualidade de vida. Isso não impede a existência de argumentos à favor de determinado grau de intervenção governamental no sentido de coibir abusos. A limitação de horas de trabalho por dia e a garantia de um salário mínimo digno me parecem ideias legítimas. Por outro lado, é preciso entender que no mundo real nem sempre existem soluções plenamente satisfatórias para os problemas. Estipular um salário mínimo também pode implicar menor número de empregados, já que algumas empresas não suportarão o ônus. Para quem está desempregado e nada recebe, poder receber algo, ainda que abaixo do mínimo, seria interessante.

Ficamos então em um impasse: ou melhoramos a vida de quem já está empregado (via canetada do governo) e aumentamos o desemprego, ou reduzimos o desemprego e pioramos a vida dos empregados. Se escolhemos a primeira opção, podemos evitar que empresários maus explorem seus funcionários, mas também atrapalharemos a vida de empresários bons que não possuem condição de pagar muito. Se escolhermos a segunda, fica bem mais fácil conseguir emprego, mas abre-se possibilidade de trabalhos bastante exploradores.

Por outro prisma, também existe a possibilidade de que a redução do número de desempregados e o aumento do número de empresas torne os empregados mais disputados e valorizados, o que tenderá a elevar os preços por meio da pressão da concorrência. O contraponto é que essa elevação pode demorar algum tempo, o que manterá muitas pessoas em situação degradante. Mas há também outra nuance: a situação da maioria das pessoas antes do capitalismo era muito ruim. O capitalismo não tem como mudar tudo de uma hora para a outra.

Ficam as dúvidas: tentamos proibir explorações correndo o risco de atrasar o desenvolvimento e a consequente elevação da qualidade de vida? Ou deixamos a economia o mais livre possível, abrindo riscos de exploração, mas acelerando o processo de enriquecimento de todos? Há um modo de equilibrar as duas coisas? São perguntas difícies. Não há como negar que os primeiros estágios do capitalismo foram bem ruins. Mas não há como negar que os estágios anteriores ao capitalismo também eram igualmente ruins. Tampouco há como negar que os países com melhor qualidade de vida do mundo são os que possuem legislação trabalhista mais frouxa. Em muitos deles nem salário mínimo estipulado pelo governo há, como na Suíça. E então?

Como eu disse: não há solução plenamente satisfatória. Eu, Davi, procuraria uma espécie de equilíbrio. Trazendo a questão para o Brasil, creio que o maior entrave para a economia não é o atual salário mínimo estipulado pelo governo ou os direitos trabalhistas. O maior entrave está sim nos altos impostos e na excessiva burocracia e regulamentação para se abrir e manter negócios. É isso que dificulta a sobrevivência das empresas (sobretudo pequenas e médias), bem como a entrada de novos concorrentes no mercado. É por causa desse excesso de tributação, burocracia e regulamentação que o Brasil se encontra nas posições 118 e 122 nos rankings de liberdade economica (Economic Fredom) e facilidade de fazer negócios (Doing Business). Gerar empregos e riqueza assim é muito complicado.

Outro problema que a intervenção governamental traz é a manutenção de alguns monopólios estatais e a proteção de monopólios e oligopólios privados através de agencias reguladoras. Tais políticas tiram da sociedade a capacidade de gerar mais empresas, empregos, serviços, produtos, qualidade, concorrência. E os consumidores ficam à mercê dessas grandes empresas, com pouca ou nenhuma liberdade de escolha, se sujeitando a preços altos e qualidade péssima.

O governo também, por gastar demais, cria déficits que acabam sendo pagos por nós. E é o governo o grande responsável por criar inflação (algo que será abordado no Conhecimento II), que reduz nosso poder de compra. Ademais, os direitos trabalhistas atrapalham mais pelo modo como foram formulados do que propriamente pela sua existência. Por exemplo, o INSS e o FGTS são descontados obrigatoriamente do trabalhador, indo para o governo. O funcionário deveria ter o direito de escolher ter esse dinheiro descontado ou não, contribuir para a previdência ou não. A previdência, aliás, deveria funcionar de modo individual, onde cada um contribuiria para a sua própria e não para a de outros. Já que todos os direitos do trabalhador são o seu salário compartimentado, ele deveria poder fazer uso dele integralmente.

Atacando esses problemas, a economia se tornará muito saudável, não sendo necessário mexer nos direitos trabalhistas. Estes, por sua vez, se tornarão quase inócuos, já que o que faz a sociedade ficar rica não são as canetadas do governo. Se causarem algum problema, será muito pequeno, sendo logo compensado pelo rápido desenvolvimento do capitalismo. Se ajudarem a evitar abusos (ainda que não constituam o fator primordial para nosso desenvolvimento), saímos no lucro. Em todo o caso, o que fica claro aqui é: o que melhora a vida da sociedade é o capitalismo.