Eu sou um cristão sabatista há mais de dois anos. Um sabatista é a pessoa que entende o sábado, o sétimo dia da semana, como um dia santo – um dia separado por Deus para o descanso das atividades seculares diárias e que deve ser preenchido com atividades espirituais e a comunhão com o próximo. Judeus ortodoxos são sabatistas até hoje. A maioria dos cristãos não é, mas existem pelo menos mais de 20 milhões que mantém essa prática.
Existem muitas razões bíblicas que me levaram a aceitar o sábado como um dia especial de descanso e adoração, mas não proponho uma exposição e análise delas neste texto. Em vez disso, o assunto que irei abordar aqui é o seguinte: “Como fica a questão dos trabalhos imprescindíveis dentro da visão sabatista?”. Esta é uma pergunta frequente e muitas vezes utilizada como argumento para invalidar a guarda do sábado.
O raciocínio anti sabatista usado aqui é que existem serviços imprescindíveis para a sociedade, que não podem parar no sábado. Assim, sempre haverá alguém trabalhando nesse dia. Se eu não trabalho, alguém trabalhará por e para mim, o que está errado. E se todos, porventura, resolvessem não trabalhar nesse dia, vários serviços importantes seriam impedidos. Logo, a guarda do sábado é inviável.
Quais são esses serviços imprescindíveis? Certamente o serviço dos médicos, dos enfermeiros, dos auxiliares de limpeza em hospitais, dos bombeiros, dos policiais, das forças militares e, no mundo moderno, dos motoristas de transportes públicos e dos que mantém o funcionamento das companhias de água e energia elétrica. A maioria das pessoas concordaria que se esses serviços faltarem, mesmo que por um dia, a sociedade teria vários problemas.
Em vista disso, a visão sabatista não deveria ser descartada? É possível realmente guardar o mandamento de Deus? Para responder à questão precisamos primeiramente entender o que exatamente é proibido fazer nesse dia. Então, vamos à Bíblia.
O que não se deve fazer no sábado?
O texto de Gênesis 2:1-3 afirma que Deus fez o mundo em seis dias e ao sétimo descansou, sendo esta a razão de santificá-lo. Santificar significa “tornar santo”. E tornar santo nada mais é do que separar. Então, Deus separou o sétimo dia para que o ser humano descansasse das atividades diárias. Certo?
Mas de que atividades o ser humano deve descansar no sábado? De todas elas? É óbvio que não! O senhor não teria qualquer interesse em obrigar o homem a não comer, não beber, não caminhar, não falar e ficar parado, estático, fazendo nada. Daí nós deduzimos que Deus queria que o homem descansasse de atividades relacionadas à sua subsistência e projetos pessoais, os quais ele poderia retomar no dia seguinte. E por quê? Porque o homem precisava de um dia para centralizar sua atenção em Deus e nas coisas espirituais.
O texto de Êxodo 20:8-11 confirma esse entendimento ao dizer que nesse dia o homem não deveria trabalhar ou colocar alguém para trabalhar por ele. Nessa mesma linha de raciocínio, o zeloso Neemias, quando coordenava a reconstrução de Jerusalém, protestou contra aqueles que faziam comércio na cidade em dia de sábado (Neemias 13:15-22). E o texto de Isaías 56:13-14 nos lembra que não são as nossas vontades e interesses pessoais que devem imperar no sábado, mas a vontade do Senhor. O que não quer dizer, evidentemente, que no sábado não podemos fazer coisas que nos sejam interessantes, mas que os nossos interesses nesse dia devem ter íntima relação com Deus.
Baseados nesse entendimento simples sobre o sábado, entendemos que o que Deus deseja de nós é que não gastemos as horas do sétimo dia focados em nossa subsistência, lucros, metas de produção e vendas, negociações, compras, pechinchas, finanças, clientes, vendedores, contas a pagar, contas a receber, obrigações corporativas, crescimento profissional, cargos, salário, status, reconhecimento pessoal e atividades estritamente seculares, mas, em vez disso, focados em oração, na Palavra de Deus, nos louvores, nas reuniões com outros adoradores de Deus, na rememoração das bênçãos da semana, na contemplação da natureza, na pregação do evangelho, no ensino da Palavra de Deus, na visitação de amigos e parentes, naquele grande almoço em família, na visitação de doentes ou pessoas solitárias, na promoção de ações sociais, na organização de um culto ao Senhor e etc.
Se o leitor entendeu bem qual é o caráter do sábado e como Deus deseja que utilizemos este dia santo, o que devemos fazer agora é pegar cada uma daquelas atividades imprescindíveis e nos perguntar: ela desrespeita o mandamento? Ela fere o objetivo básico do sétimo dia?
O Serviço dos Médicos
Vamos começar pelas atividades dos nossos amigos médicos. O que faz o médico? Depende. Há médicos cirurgiões que operam pacientes na emergência, por exemplo. Esse tipo de médico não está apenas trabalhando quando faz uma cirurgia de emergência. Ele está salvando uma vida. Evidentemente, não é errado salvar uma vida em dia de sábado. Salvar uma vida é uma obrigação humana, uma obrigação bíblica e um ato de amor. Não há um dia em que isso seja diferente. Então, um médico pode salvar uma vida no sábado? Não só pode como deve.
Agora, repare: é licito um médico salvar uma vida no sábado, mas não é licito que ele trabalhe nesse dia. O leitor perguntará: “Mas o trabalho dele não é salvar vidas?”. Sim, mas no dia de sábado ele não deve entender sua atividade como uma parte de seu trabalho diário, de seu “ganha-pão”. Ele deve entender como um bem ao próximo.
Aqui reside o espírito sabático: não devemos usar o dia de sábado para garantir remuneração, sustento, lucro ou a permanência em um emprego. Estes elementos pertencem aos outros dias da semana. No sábado, todas as nossas atividades devem ser gratuitas e altruístas. Assim, o médico sabatista que salva uma vida no sábado, deve fazê-lo apenas por amor à vida do seu próximo e a Deus, abrindo mão da remuneração daquele dia.
Ofereci o exemplo do médico cirurgião em emergência. Há outros médicos que trabalham com emergência, assim como também há médicos que trabalham apenas com consultas e exames de rotina. Esta segunda categoria de médicos desempenha atividades que não estão ligadas à emergência e salvação de vidas. Tais atividades podem muito bem ser deixadas para outro dia da semana. Há seis dias para isso. Desempenhá-las no sábado seria ferir o princípio sabático e desobedecer a Deus.
O Serviço dos Enfermeiros
As atividades dos enfermeiros seguem o mesmo padrão. Desde que imprescindíveis para a salvação de uma vida, podem ser desempenhadas em dia de sábado. Mas aqui vale ressaltar um ponto importante: nenhuma atividade, por mais altruísta e nobre que seja, deve tonar-se uma rotina que retire do sabatista um tempo considerável, impedindo-o de ter uma comunhão plena com Deus, com sua família e com a Igreja. Se todo sábado eu preciso estar no local que trabalho durante a semana, desempenhando as mesmas tarefas, gastando a maior parte do meu dia e ficando impedido de me desligar e focar plenamente na leitura da Bíblia, na oração, no louvor, na pregação do evangelho e etc., o sábado não está alcançando seu objetivo em minha vida.
Por esta razão, os profissionais da área da saúde que precisam salvar vidas em dias de sábado, devem manter uma escala que os permita estar longe do trabalho na maioria dos sábados. Em minha humilde opinião, uma escala boa para médicos e enfermeiros sabatistas seria a de um sábado trabalhado por mês ou dois sábados livres para cada sábado trabalhado. Na pior das hipóteses, uma escala “sábado sim, sábado não”, mas, neste caso, trabalhando meio período no sábado em que se trabalhar.
Alguém pode dizer aqui que Jesus não fazia escalas para curar as pessoas e que, por isso, os médicos e enfermeiros também não deveriam fazê-lo. Mas este é um argumento tolo. Jesus Cristo não era um médico ou enfermeiro que trabalhava em um hospital, mas um pregador itinerante que também curava doentes. Um médico ou enfermeiro não pode parar no meio do dia para fazer um sermão de quarenta minutos, depois se retirar para orar por uma hora, em seguida debater com mestres legalistas e aí voltar a curar pessoas. Mas era o que Jesus fazia todos os dias. Logo, ele não precisava de escalas. Ele fazia o seu próprio cronograma e tinha todo o tempo para cumpri-lo.
Ademais, Jesus curava instantaneamente. Médicos e enfermeiros curam pessoas por meio de processos demorados e que exigem maiores cuidados e atenção. Jesus poderia curar dez pessoas em dez minutos e então fazer outra coisa. Um médico ou enfermeiro pode demorar mais de dez horas tentando salvar uma só pessoa. Então, sem dúvida, os profissionais de saúde precisam de uma boa escala de serviço no que tange o sétimo dia da semana.
Pessoal da limpeza em hospitais
Com relação às pessoas que fazem a limpeza nos hospitais, seu serviço também é de extrema importância, pois os hospitais precisam estar limpos para não proliferarem doenças. Mas é um serviço que pode receber, em dias de sábado, considerável redução de pessoal, diminuição de carga horária e escalas generosas, de modo que o serviço no sábado não se torne rotina.
Bombeiros, policiais e forças armadas
Saindo da área saúde, temos os bombeiros, os policiais e as forças armadas. Quanto aos bombeiros, não precisamos falar muito. As atividades que esses profissionais desempenham estão diretamente relacionadas à salvação da vida. E enquanto o trabalho de um bombeiro tiver a ver com isso, não há transgressão em desempenhá-lo no sábado, desde que haja uma boa escala, o profissional abra mão da remuneração do dia de sábado e o faça por amor, não por medo de punições.
Com relação aos policiais e as forças armadas, a questão é um pouco mais complexa. Embora esses profissionais desempenhem serviços essenciais, em muitos casos o seu trabalho envolve prevenção e não salvação. Por exemplo, se sou um soldado e me escalam para vigiar o quartel em um dia de sábado, eu não estou salvando vidas, mas protegendo o quartel de ataques. Por outro lado, se não houver essa prevenção, a vida de pessoas estará em risco. O que fazer em uma situação dessas?
Eu não posso dar uma resposta taxativa. O pecado tornou algumas questões complexas nesse mundo. O que posso dizer com certeza é que o sabatista deve dar preferência ao exercício de outras profissões, pois o ideal de Deus é que os seres humanos tenham seu sábado livre, a fim de o adorarem com toda a liberdade e descansarem suas mentes, corpos e espíritos. Mas na hipótese de alguém ter escolhido estas profissões (o que não ouso dizer que é errado, pois a Bíblia não me informa), o mais indicado é que o profissional busque não prestar serviço em dia de sábado. Isso pode implicar em punições, claro. E conheço muitas histórias de amigos que aceitaram passar por essas punições por amor a Cristo. A estes, o Senhor sempre honra, pois buscaram ser fieis ao mandamento.
Agora, na hipótese do policial ou militar sabatista entender que o seu serviço é essencial e não ver problema em desempenhá-lo no sábado, ele deve oferecer o serviço gratuitamente à sociedade, fazendo-o com amor e procurando respeitar uma escala que lhe permita não tomar a maioria dos seus sábados com esta atividade. Não é o ideal, mas não tenho como dizer que está errado.
Uma pergunta interessante surge aqui: aqueles policiais e militares que escolhem faltar o serviço em dia de sábado, mesmo sob punição, não estariam incorrendo em um pecado ao permitirem que outras pessoas façam o seu trabalho nesse dia? A resposta é não.
O mandamento do sábado nos ordena a não fazermos comércio, nem obrigarmos as pessoas a trabalharem para nós em dia de sábado. Quando um policial ou militar escolhe trabalhar no sábado, isso é uma decisão dele. Se, portanto, eu falto o trabalho no sábado, mas meu colega não, eu não estou obrigando-o a trabalhar. Ele foi porque quis. E se eu sou salvo de um assalto ou minha rua é protegida por uma ronda policial no sábado, estes profissionais escolheram fazer isso por eles mesmos; poderiam ter escolhido ficar em casa. Então, nada me condena nestas situações. Seria diferente se eu contratasse seguranças privados e os ordenasse que trabalhassem para mim no sábado, pois aí eu também teria responsabilidade no ato.
Não obstante, a resposta acima levanta à outra pergunta, um pouco mais complexa: “Se todos os policiais e militares resolvessem guardar o sábado, como a sociedade seria protegida dos criminosos e das ameaças estrangeiras?”. Evidentemente, isso não irá ocorrer. Mas a questão é importante porque deseja saber se o sábado é um mandamento que pode ser cumprido por todos ou se é necessário que algumas pessoas o quebrem para que a sociedade funcione. Esta segunda opção faria do sabatista um verdadeiro parasita religioso.
Para responder à questão, é preciso primeiramente entender que o sábado foi projetado para um mundo perfeito. Portanto, a guarda ideal do sábado por toda a sociedade só pode ocorrer em um mundo perfeito. Isso não quer dizer que ele não possa ser guardado. Se todas as forças armadas de um país guardassem o sábado, provavelmente uma escala seria feita para que fossem raros os sábado em que cada militar tivesse de prestar serviço. Essa escala certamente seria muito generosa, pois todos os militares entrariam nela.
Além disso, o ambiente de trabalho seria altamente religioso, o que tornaria muitos locais de trabalho bem parecidos com Igrejas; os quartéis teriam Igrejas em funcionamento aos sábados (com cultos em vários horários); os policiais certamente fariam suas rondas com o rádio do carro tocando louvores; e de hora em hora os grupos e duplas de policiais e militares poderiam se revezar para fazer alguma breve leitura da Bíblia Sagrada e uma meditação.
Vale notar que em um país com tantos religiosos sinceros que decidissem reorganizar toda a escala de serviços nacional para se adequar ao mandamento de Deus teria um baixo índice de criminalidade, diminuindo assim o fluxo de serviço. A esfera espiritual do país também iria contribuir para a criação de uma cultura na qual nenhum policial ou militar iria enxergar o serviço prestado no sábado como um trabalho secular ou de subsistência, mas como um serviço para Deus. Isso já é o que acontece com os ministérios de Igreja. Toda Igreja conta com os irmãos que abrem e fecham o templo, com os que se revezam na recepção/portaria, com os que dão aulas para as crianças, com os que lideram cada classe na escola bíblica, com os que tocam e cantam, com os que dão a Palavra no culto, com os que recolhem os dízimos e as ofertas e por aí vai.
São muitos ministérios, cargos e funções. Mas nada disso é visto como emprego, exceto o pastorado, que geralmente exige do pastor a abdicação de qualquer outro emprego (ainda assim, o pastor sabatista não ganha por sábado trabalhado, mas por ser pastor). No hipotético país em questão, a sociedade seria vista como uma grande Igreja. E os serviços prestados no sábado seriam vistos como os serviços que prestamos na Igreja por amor.
Não é o ideal, já que Deus deseja que não haja criminosos e, por consequência, forças militares, armas e rondas para proteção. Mas em um mundo de pecado, tal arranjo seria o mais próximo do ideal, caso todos os policiais e militares se tornassem sabatistas. Porém, uma vez que estamos distantes desse arranjo, não há problema em um policial ou um militar sabatista optar por não trabalhar nesse dia por julgar que assim guardará o sábado de modo melhor. Contudo, deve estar pronto para arcar com prováveis punições civis. A escolha fica por conta do sabatista. Há questões que devem ser resolvidas na base do relacionamento do indivíduo com Deus e do que ele entende da Palavra. E Deus o julgará conforme a sua sinceridade.
O Serviço do Motorista de Transportes Públicos
A próxima atividade é o de motorista de transportes públicos (ônibus, trens e metrôs). Esta atividade, por mais imprescindível que possa parecer, não deve ser desempenhada por um sabatista em dia de sábado. A razão é simples. Não estamos falando de um serviço do qual depende a vida de pessoas, mas de um serviço que geralmente pode ser feito em outros dias ou substituído por uma carona de amigos.
Contudo, uma questão é levantada aqui: “O sabatista pode se utilizar do transporte público em um sábado?”. Essa questão geralmente é utilizada por anti-sabatistas para acusar os sabatistas de hipócritas, pois os mesmos muitas vezes usam o transporte público para chegarem a igrejas de outros bairros, casas de conhecidos e hospitais. Ao usar esses serviços, os sabatistas estariam praticando comércio e obrigando os motoristas (e trocadores) a trabalharem para eles.
De fato, é facilmente compreensível que alguém, num sábado, procure um médico por se sentir mal, ou ligue para os bombeiros por conta de um incêndio, ou para a polícia por causa de um assalto. Não é uma quebra do sábado. A pessoa está pedindo ajuda, pois existe uma situação de alto risco. Mas o que dizer de pessoas que pegam um transporte público apenas para assistir um culto em outra igreja ou visitar um amigo? É certo?
Para responder à questão, teremos de voltar ao nosso hipotético país sabatista. Como é que funcionaria um país em que todos os motoristas de transportes públicos fossem guardadores do sábado? Bom, as pessoas que não tivessem um carro ou uma moto poderiam se deslocar para lugares mais distantes de bicicleta ou combinar uma carona com algum amigo. Além disso, as empresas de táxis e mais todos os sabatistas que tivessem carro em cada igreja poderiam fazer uma escala para oferecer caronas em dias de sábado. Para quantidades maiores de pessoas, as empresas de ônibus poderiam liberar alguns veículos por sábado e também entrar no rodízio.
Nesse sistema de rodízio geral, o “trabalho” seria muito pouco, pois a maioria esmagadora da população não precisaria, no sábado, ir ao emprego; e ninguém iria à escola, universidade, mercado, feira, shopping, cinema, teatro, estádio de futebol e etc. Além do mais, as pessoas se acostumariam a se programar, a fim de reservarem caronas com antecedência, ou dormirem na casa de um amigo que more perto do local aonde se pretende ir ao dia sábado, ou não fazerem determinada locomoção no dia santo.
Esses arranjos seriam perfeitamente possíveis caso a maioria esmagadora das pessoas do tal país virasse sabatista. E o funcionamento do sistema dependeria de a sociedade agir como uma grande Igreja. Penso eu que se Israel não tivesse sofrido a diáspora no ano 70 d.C. e permanecesse desde lá fiel a Deus, inclusive aceitando Jesus como o Messias, o país estaria vivendo um sistema semelhante a este, com uma forte colaboração social entre as pessoas, a fim de propiciar o cumprimento do sábado a todos os que quisessem, de modo aprazível e deleitoso.
Mas, utopias à parte, o mundo esqueceu o sábado e a maioria das pessoas não o obedece. Daí, nós não temos muitas opções quando precisamos de uma condução em dia de sábado. O que fazer? Deixar de visitar igrejas, amigos, parentes e hospitais? Aqui entra mais uma vez aquela palavrinha: ideal. Não é ideal que usemos transporte público no sábado. Mas não podemos dizer que o sabatista que o faz está errado. Se ele está usando este serviço com uma finalidade nobre e espiritual, a qual não poderia desempenhar sem usá-lo, e o motorista, por sua vez, está trabalhando ali porque quer (e trabalharia da mesma maneira se o sabatista não usasse o serviço naquele dia), não há como condenar o sabatista.
Em nosso mundo real, onde a maioria das pessoas não é sabatista, o mesmo princípio pode ser usado com relação à compra de remédios em dia de sábado, ao pagamento de uma clínica particular por alguma cirurgia ou atendimento de emergência, à compra de comida para um faminto e etc. Não é o ideal, mas também não pode ser julgado como erro. Ainda assim, é de bom senso evitar ao máximo até esse tipo de atividade no sábado. Assim, nos aproximamos mais do ideal de Deus.
Mantenedores dos sistemas de Energia e Água
Os últimos profissionais a serem mencionados são os que trabalham com a manutenção da energia elétrica e da água encanada. Não conheço muito do cotidiano desses profissionais, mas estou quase certo que dada a tecnologia que hoje temos, é perfeitamente possível deixar que as máquinas façam o trabalho dos homens durante esse dia. Mas ainda que eu esteja errado e que seja essencial ter pessoas trabalhando nesses lugares no sábado, não podemos dizer que o serviço é essencial à vida a ponto de não poder parar no sétimo dia. Ninguém morre por ficar um dia sem água ou luz. Além disso, hospitais e locais que não podem ficar sem energia têm geradores próprios. A água, por sua vez, não acaba nas casas e prédios até que a caixa d’água esteja vazia. Em outras palavras, é possível se virar. Assim, um sabatista que trabalhe em estações de água e energia, não deve trabalhar no sábado.
Os demais serviços
Todos os demais trabalhos que o leitor puder pensar, devem ser analisados com base em tudo o que foi pautado aqui. Embora a questão possa parecer delicada algumas vezes, a verdade é que são poucos os trabalhos que causam alguma dúvida quanto a se é licito ou não praticá-los no sábado. A maioria esmagadora não oferece dúvida alguma.
Para tornar a coisa mais palpável para o leitor, aí vão algumas das profissões que não devem ser desempenhadas no sétimo dia, acima de qualquer dúvida: pedreiro, carpinteiro, encanador, eletricista, pintor de paredes, chaveiro, engenheiro, arquiteto, vidraceiro, costureiro, estilista, técnico de computador, garçom, chefe de cozinha, operador de caixa, taxista, médico de consultório, advogado, juiz, político, vendedor, feirante, professor (de matemática, biologia, literatura, sociologia e etc.), esportista, segurança, gerente de banco, auxiliar de limpeza em empresas comerciais, lixeiro, gari, contador, ferreiro, mineiro e etc.
Deixando o legalismo de lado
Muitos cristãos pensam que guardar o sábado é ser legalista. O legalista é aquela pessoa capaz de colocar a lei acima do amor e até de Cristo. Essas pessoas geralmente não gozam de um bom relacionamento com Deus, não desenvolvem bem os frutos do Espírito, se tornam muitas vezes hipócritas, acusadoras, metódicas, robóticas e frias. Além disso, criam regras que não estão na Bíblia, a fim de tentarem seguir as leis com mais afinco.
Foi exatamente o que fizeram os fariseus e escribas da época de Jesus. Eles eram mestres no judaísmo, mas legalistas. Estes homens fizeram da guarda do sábado um verdadeiro suplício, criando miríades de regras extra-bíblicas e interpretações totalmente absurdas. É comum, portanto, que os cristãos que não guardam o sábado comparem os sabatistas a estes mestres legalistas.
O que devemos ter em mente aqui é que o sábado não foi criado por um mestre legalista, mas por um Deus sábio e perfeito. Assim, não podemos dizer que a guarda do sábado implica necessariamente em ser legalista. Há sabatistas legalistas, assim como há sabatistas de grande virtude espiritual e cheios do poder de Deus. Ser legalista não tem a ver com o mandamento do sábado, mas com a escolha humana. Cabe ao sabatista escolher se agirá como se a lei fosse o seu Deus, ou se viverá segundo a vontade de Deus. Jesus Cristo foi um sabatista que resolveu viver segundo a vontade de Deus. Guardou o sábado como havia sido ordenado na lei, mas não se tornou um legalista. Uma vez que Jesus é o nosso modelo, por que não segui-lo na guarda correta do sábado, sem distorções e imbuídos de amor?