domingo, 14 de dezembro de 2014

Por que me tornei de direita? - Parte 2

Na última postagem, iniciei um texto explicando quais foram as razões que me levaram a virar de direita. Como o texto ficou muito grande, eu o dividi em duas partes e o subdividi em oito capítulos e uma conclusão. Na parte 1, vimos os cinco primeiros capítulos.

Agora, veremos os últimos três e a conclusão. Se o leitor não leu a parte 1, clique aqui e leia. É essencial para entender a parte 2, já que se trata de um texto só. Ao fim desse texto, colocarei também uma lista de textos meus que falam mais pormenorizadamente sobre cada tema que citei nesse texto. Agora, vamos à continuação do texto.

Capítulo 6: A cultura mortífera de esquerda
   
Quando você se torna conservador em política, começa a entender que as ideias esquerdistas são ruins e mortíferas não apenas em economia, política e filosofia. Elas também são uma desgraça moral e cultural. Esquerdistas procuram destruir tudo o que é bom, alegando ser opressivo e preconceituoso. Assim, eles vivem disseminando ideias contra a religião e os religiosos, as artes clássicas europeias, a castidade antes do casamento, a moral judaico-cristã, a noção de verdade e moral absolutas, a repreensão de filhos mal criados, a criminalização das drogas pesadas e etc.
   
O resultado é o rebaixamento dos padrões de cultura, a idiotização das pessoas, a disseminação de uma vida sexual promíscua, a elevação do prazer individual acima da dignidade humana, a geração de músicas, danças e artes burras e que nada acrescentam às pessoas, o desestímulo ao estudo e à leitura; o aumento de divórcios, de gravidez na adolescência, da AIDS, dos desequilíbrios familiares, dos pais irresponsáveis, das crianças, adolescentes e jovens sem limite, dos viciados em drogas, do desrespeito aos religiosos, de colegiais e universitários baderneiros, em suma, a destruição em longo prazo dos valores da sociedade.

A esquerda quer ver isso mesmo, porque pretende destruir a sociedade, para construir uma nova. Assim, tudo o que milite contra a moral, a religião, a verdade, a tradição, a ordem e a família, é positivo. E quando esses graves problemas causados e/ou aumentados à décima potência pela esquerda são apontados pela população, o que fazem os esquerdistas? Culpam a direita. Assim, se os jovens crescem cada vez mais revoltados, a culpa não é da destruição da família, mas do capitalismo. Se as meninas engravidam cedo, antes de casar, e o pai ainda vai embora, a culpa não é da família desestruturada, do incentivo à imoralidade sexual, da idiotização do povo, mas da religião, dos conservadores, da burguesia, do anti-aborto, ou qualquer outra coisa. Essa postura é essencial aos planos da esquerda de destruir tudo.

Karl Marx e Friedrich Engels, em “Manifesto do Partido Comunista”, ao responderem a objeção de que o comunismo era contra as ideias tradicionais da religião, da moral, da filosofia, da justiça, da família, da liberdade e etc., ideias essas que eram verdades eternas, afirmam: “A revolução comunista é a ruptura mais radical com as relações tradicionais de propriedade; não é de espantar que no curso de seu desenvolvimento ela rompa da maneira mais radical com as ideias tradicionais”.
   
Antonio Gramsci, ideólogo marxista italiano da época do fascismo, ao analisar porque o marxismo não tinha dado certo na Europa, concluiu que a cultura proletária ainda estava baseada nas ideias tradicionais. Assim, ensinou a esquerda a travar uma guerra cultural que minasse ao longo das décadas a religião, a moral judaico-cristã, a família, inculcando no senso comum o marxismo. A ideia não era transformar o povo em profundo conhecedor do marxismo, mas apenas um senso comum que estivesse de acordo com o que o partido comunista quisesse fazer.
   
Posteriormente homens como Adorno, Marcuse e Horkheimer colocaram para frente os princípios gramscistas de destruir a cultura, sobretudo a ocidental, baseada fortemente no cristianismo e no capitalismo. Daí surgiu a revolução sexual, as revoltas jovens, à apologia ao uso de drogas, ao ateísmo ou religiões tribais e sincretistas, às artes insanas, ao desrespeito aos pais, à destruição do patrimônio público, ao nudismo público e etc.
   
A União Soviética faliu no início dos anos 1990, mas como bem lembra Olavo de Carvalho, o que acabou foi a URSS, não o comunismo. É idiotice pensar que pessoas que foram comunistas por dez, vinte, trinta, quarenta anos deixariam facilmente os princípios marxistas e abraçariam de bom grado o capitalismo que tanto odiavam. O que ocorreu foi que comunistas continuaram marxistas, mas agora se orientando dentro dos moldes de Antonio Grasmci, no qual a guerra agora é cultural. A ideia não é dar um golpe violento e assumir o governo com toda aquela retórica de destruição da burguesia e estatização da economia. A ideia é mudar a mentalidade das pessoas gradualmente a fim de que o partido de marxista (ou mais esquerdista que houver no país) se torne “a autoridade onipresente e invisível de um imperativo categórico, de um mandamento divino”. A hegemonia deve ser alcançada primeiramente na cultura. Conseguindo isso, o partido poderá sonhar em se manter eternamente no poder. E não é isso que temos visto acontecer, sobretudo no Brasil?

Capítulo 7: A esquerda e a criminalidade
   
A criminalidade é um problema filosófico, cultural, político e econômico (ao mesmo tempo) que a esquerda só faz aumentar (quando ela mesma não é a responsável por criar). Uma vez que para a esquerda, o ser humano não é mal, mas corrompido pelo capitalismo e outros fatores externos, geralmente o esquerdista enxerga o criminoso ou como vítima, ou como herói. Enxerga como vítima quando o criminoso é de origem pobre e/ou é um menor de idade. Ele é vítima da pobreza, das falta de condições, da exploração capitalista, do preconceito ou, simplesmente, do fato de ainda ser menor de idade (o menor de idade não tem capacidade de discernir entre certo e errado).
   
Por esse motivo, a esquerda costuma a brigar para que criminosos tenham penas leves e breves, a fim de que voltem logo à sociedade. E ela entende que a função primordial da prisão não é proteger o cidadão honesto de novas injustiças do criminoso, mas sim a de reeducar o criminoso.
   
Não que reeducar o criminoso não seja algo nobre e desejável. Mas essa não é a função primária da cadeia. Isso seria priorizar o criminoso em detrimento da vítima. A principal função de isolar o criminoso não é reeducá-lo, mas proteger o cidadão. A reeducação é segundo plano. Por não entender isso é que a esquerda não combate a criminalidade com rigidez, criando uma sociedade na qual o criminoso reina e o cidadão honesto é punido.
   
Já os criminosos ricos, quando são políticos de esquerda, são defendidos pela esquerda, em primeiro lugar, com a desculpa de que não fizeram nada; foram acusados injustamente. E, depois, quando o governo esquerdista já alcançou grande poder e popularidade, como uma medida necessária para alcançar a justiça social e manter o povo no poder (os fins justificam os meios utilizados, entende?).
   
Assim, os criminosos se tornam heróis e a criminalidade continua reinando. E como se alcança isso? Como já dito, destruindo a família, a moral, a religião, a correção aos filhos, as leis firmes; ganhando poder, através de impostos e regulamentações, se infiltrando na educação para doutrinar alunos politicamente, mantendo a população sob o jugo da inflação, dos péssimos serviços públicos e dos monopólios privados (para botar a culpa de tudo na direita) e etc. Aliás, criar criminosos é ótimo para ajudar a destruir a sociedade tradicional, o que é o objetivo máximo da esquerda.

Capítulo 8: Um direitista consciente
   
Eu entendi isso, sobretudo, depois de ter contato com renomados pensadores conservadores como Edmund Burke e Russel Kirk. Então, deixei de colocar muita confiança no liberalismo. Eu o continuo defendendo e não tenho dúvidas de que o livre mercado é muito superior ao intervencionismo. Mas não o defendo sozinho. Economia é apenas um dos vários aspectos que formam uma sociedade. Não é o único e, portanto, não deve ser tratado como tal.
   
Neste ponto acredito que me tornei um direitista totalmente consciente. Eu agora podia expressar de maneira legítima o que a direita defendia e porque eu acreditava em suas ideias. Eu agora eu conhecia os gigantes do pensamento de direita (os quais não me foram mostrados na escola) tais como Edmund Burke, Frederic Bastiat, Alexis de Tocqueville, Eugen Von Bonh-Bayerk, Barão de Mauá, G. K. Chesterton, Ludwig Von Mises, Ruy Barbosa de Oliveira, Murray Rothbard, Winston Churchill, C. S. Lewis, Eric Voegilin, Eric Von Kuehnelt-Leddihn, Friedrich Hayek, Milton Friedman, Ronald Reagan, Margaret Thatcher, Ângela Merkel, Thomas Sowell, Olavo de Carvalho, Roger Scruton e etc.
   
O senso comum não conhece quase nenhum desses autores e quando conhecem alguns deles, só os conhecem através dos comentários de terceiros. Eu era assim. Não conhecia o que a direita falava através de suas próprias palavras e ações. Não conhecia a história contada pelo outro lado. Não tinha como comparar as visões de diversos autores porque eu só conhecia Karl Marx e Friedrich Engels (e, mesmo assim, muito mal. Eu sabia das suas ideias em forma de propaganda, sempre como algo bom).
   
Minha posição de direitista, no entanto, não me fez uma pessoa acrítica quanto aos problemas da direita, tampouco intolerante em relação à todas as coisas o que vem da esquerda. Talvez alguns amigos liberais não gostem do que vou falar, mas não sou totalmente contra leis trabalhistas, por exemplo, embora elas dificultem um pouco o crescimento econômico. Direito a férias e folga semanal, férias pagas, décimo terceiro salário, limitação das horas de trabalho semanais, adicional noturno e o seguro desemprego são leis de cunho esquerdista que acho boas (embora pense que há arranjos que tornam o encargo menos pesado às empresas).
   
Eu também não penso que a sociedade deva ter apenas direitistas. Ao contrário, a coexistência de direita e esquerda é essencial à manutenção de uma boa democracia e do Estado de direito. É preciso haver oposição de ideias. Isso é o que gera equilíbrio e evita extremismos, idealismos, dogmatismos e ditaduras. Sim, a direita também pode se tornar ditatorial, por mais que preze a liberdade econômica (que só funciona bem junto com a liberdade política).
   
O que penso que deveria ser expressamente proibido é o comunismo. Seguir as ideias de Marx e flertar com pensamentos revolucionários que intentem destruir tudo, criando classes inimigos e apelando à desordem, deveriam ser crime. Muitos países do leste europeu que sofreram com o comunismo equiparam, em suas leis, o comunismo ao nazismo. Lá, exibir a foice e o martelo, símbolo do comunismo, é tão ofensivo quanto exibir a suástica nazista. Nada mais correto, levando em conta que o comunismo matou mais de 100 milhões de pessoas.
   
Com relação aos EUA, devo dizer que não sou um defensor deste país acima de todas as coisas. Essa é a visão que a esquerda propaga dos direitistas: de que eles são puxa-sacos dos americanos. Alguns podem até ser. Mas não são todos. E faço parte dos que não se curvam diante dos americanos. No entanto, não aceito olhar os americanos como os piores inimigos do mundo. Em minha visão, todos os países são igualmente cruéis, pois seus governos são formados por homens e todos os homens falham.
   
O que diferencia um país do outro no que se refere a capacidade de infligir o mal é justamente a posição política e econômica. Qualquer país que assuma a liderança política-econômica do mundo terá um exército poderoso e, com isso, quererá dominar os mais fracos e se proteger dos que tem mais potencial. Se a Etiópia alcançasse a hegemonia política e econômica, teria sido tão cruel quanto foram os EUA, ou a URSS em diversas ocasiões. Colocar os EUA como o grande vilão é ignorar a verdade básica e realista de que todos os países são vilões e de que não há heróis no mundo.
   
Além disso, conquanto os EUA tenham usado de sua autoridade para subjugar povos e gerar guerras, este país apresentou ao mundo muitas virtudes econômicas e políticas desde seu processo de independência, teve um papel de destaque no conflito contra o comunismo e, através de seus conservadores, ainda sustenta o mundo hoje de colapsar diante do projeto destrutivo da esquerda (incluindo a esquerda americana, que é muito forte, embora muitos acreditem que nos EUA só há direitistas). Essa é a minha visão sobre o EUA.
   
Com relação à ditadura militar brasileira, evidentemente eu não a endosso. Creio que foi um regime desnecessário e nocivo. Não sou um desses idealizadores do passado, que pintam o período como maravilhoso e até pedem a volta do regime. Entretanto, é necessário fazer uma distinção entre a intervenção militar de 1964 e o regime que se seguiu. O primeiro impediu um genocídio. O segundo sufocou a democracia. Vamos entender o contexto.
   
O Brasil vivia um intenso embate entre políticos comunistas e conservadores. E o mundo vivia em plena guerra fria entre americanos e soviéticos. A URSS tinha claro interesse em tornar o Brasil uma potência comunista na América do Sul, o que sufocaria totalmente os EUA. Os EUA, por sua vez, tinham claro interesse em evitar a escalada comunista no Brasil, a fim de manter sua hegemonia no ocidente. Então, o presidente Jânio Quadros renuncia o cargo e assume a presidência João Goulart, um esquerdista que mantinha fortes relações diplomáticas com o regime comunista chinês e pretendia expropriar terras para fazer a reforma agrária. Este cenário oferecia uma série de perigos ao Brasil:
   
(1) a escalada democrática do comunismo ao poder, através de uma política populista, intervencionista e que não mostrava ao povo as desgraças que o comunismo estava causando em outros lugares;
   
(2) um golpe comunista no âmago do governo, através de políticos comunistas brasileiros e auxílio soviético, chinês ou cubano;
   
(3) uma mescla dos dois pontos acima;
   
(4) um golpe americano que tornasse o Brasil uma colônia dos EUA;
   
(5) a deflagração de uma guerra entre tropas americanas e tropas soviéticas em pleno Brasil, numa luta sanguinária pela posse do território brasileiro.

Tudo isso era possível. E em todas essas hipóteses, o Brasil se tornaria um mar de sangue. Se a intenção dos principais militares que interviram politicamente no Brasil em 1964 era simplesmente tomar o poder, por pura ambição, ou se queriam salvar a pátria deste risco, ou se havia ambiciosos e patriotas juntos, nada disso importa. As intenções dos militares interventores são irrelevantes. A questão é: havia riscos e à soberania brasileira, tanto do lado americano, quanto do lado soviético, e a intervenção militar os evitou.
   
No entanto, o regime que se seguiu durante 21 anos foi desnecessário. Seja por ambição, ou por um erro estratégico, ou pela união das duas coisas, os altos militares do governo não entregaram o país à democracia como prometido, tampouco tomaram providências inteligentes e efetivas para desmascarar o comunismo, equipará-lo ao nazismo e vencer a guerra cultural. Apenas agiram com brutalidade, criaram ódio nos estudantes e deram espaço para que a esquerda vencesse no campo da cultura.
   
O regime militar venceu na guerra física contra o marxismo, mas perdeu na guerra ideológica. Permitiu que a direita perdesse todo o crédito perante o povo brasileiro, contrariou conservadores que haviam apoiado a intervenção só para manter a democracia, fez a maioria dos estudantes universitários se identificar com a esquerda, abriu o caminho para a doutrinação marxista na cultura e não permitiu que o liberalismo econômico se instaurasse no país. Resultado: quando os altos militares deixaram o poder, quase todo mundo se considerava de esquerda.
   
Assim, minha opinião sobre o regime militar que se seguiu à intervenção é que ele de que ele se constituiu uma verdadeira catástrofe, sobretudo para a direita brasileira, que sofre até hoje por conta dessa herança maldita. Tivessem os militares se limitado a expulsar os comunistas do país, desmascarar a esquerda radical, equiparar comunismo ao nazismo, destruir ideologicamente os professores marxistas, munir os universitários de conhecimento sobre grandes autores de direita, incentivado o liberalismo econômico e mantido a democracia, convocando eleições diretas dentro de um período máximo de um ano, a direita hoje seria forte no Brasil e o PT não estaria transformando o país no mar de lama que é hoje.

Conclusão

Eu não esperava que meu texto ficasse tão extenso, mas acredito ter oferecido uma visão bem ampla sobre minha posição política. Obviamente não esgotei o assunto. Outros textos meus falam mais pormenorizadamente dos temas aqui tratados, tais como a definição e origem da esquerda e da direita, os problemas do comunismo, os pontos positivos do capitalismo e do empreendedorismo, a análise dos movimentos fascistas e nazistas, a definição de conservadorismo e etc. Deixo alguns deles no fim do texto.
   
Devo dizer ainda que minha posição política não flerta com a utopia. Não creio que a direita pode mudar o mundo. Como sendo cristão, entendo que este mundo já está fadado ao fracasso. A minha obrigação é torná-lo menos pior para as pessoas até que Jesus Cristo venha e ponha fim a toda a miséria e injustiça ou que eu morra. E esse é mais um dos motivos que me fazem ser mais conservador e cético em relação a projetos de mundo melhor. Como diz Olavo de Carvalho: “Quando alguém diz que tem um projeto de mundo melhor, eu já me escondo debaixo da cama”. O conservador, em suma, é aquele que tem medo de piorar a coisa. Ele é realista. Sabe que a mudança só pode ocorrer dentro de certos moldes já conhecidos e certos limites humanos. O que passa desses moldes e limites, sem dúvida, vai dar errado.
   
Estou aberto a discordâncias, desde que construtivas e que levem em conta os autores que citei durante o texto. Críticas baseadas em senso comum serão consideradas imbecis à priori. Espero ter sanado dúvidas.

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