terça-feira, 12 de janeiro de 2016

O padrinho e o defunto

Quando algum de nós vai a um casamento, eu e meus amigos geralmente brincamos dizendo: "Vou a um enterro, digo, casamento. Sou amigo do defunto, digo, do noivo". Tal troça não representa, nem jamais representou o que realmente penso sobre o casamento.

Nesse domingo, um grande amigo meu se casou. Fui padrinho. As lágrimas não rolaram porque homem geralmente chora pouco. Mas sobraram nó na garganta e arrepios. Difícil não se sentir tocado com o nervosismo/alegria do noivo, a emotividade de sua mãe, a entrada triunfal da noiva - linda (com todo o respeito de quem é o melhor amigo do noivo), vestido branco, majestoso, com o rosto brilhando de pureza e ternura - e seu pai simpático, carregando em si um misto de felicidade e apreensão, de vitória e derrota; ele está perdendo sua menina.

Vi o relacionamento deles nascer e se desenvolver. Fui padrinho antes do casamento. Aconselhei-os quando precisaram de mim. Ouvi desabafos. Estive com eles sempre que pude. Agora, estão casados. E a felicidade que isso me causa é indescritível.

Ver esta união e a linda cerimônia religiosa que a oficializou diante de Deus obviamente mexeu comigo. E eu já sabia desde o início que seria assim. Há em mim hoje um misto de sentimentos diversos. Entre todos eles, o sentimento de noivo. Não, eu não sou um noivo ainda. Não há uma noiva em minha vida. Mas deixe-me contar-lhes um "segredo": para os homens que sabem de fato a importância da instituição divina do casamento, a entrada da noiva de seu melhor amigo no corredor do templo representa a entrada da sua noiva; na verdade ela é um símbolo de todas as noivas, a representação de todas as entradas. E o seu melhor amigo, o noivo, representa todos os noivos, simboliza todas as esperas no altar, prefigura a sua própria espera, e você. Você está ali junto com o noivo, esperando a sua amada. Quando se é padrinho de seu melhor amigo, sente-se isso com maior intensidade.

A cerimônia que vi é uma figura de todas as outras cerimônias. Toda a cerimônia de casamento contém em si as cerimônias de todos. Casamos, de certa forma, juntamente com os noivos. Atemporalmente falando, ali estamos nós no altar com nossos respectivos cônjuges. E, evidentemente, ali também está Cristo e a Igreja, Deus e seu povo, o Santo Espírito e seus corpos-templo. Somos a noiva de nosso Senhor, que espera ansiosamente trocar as alianças conosco.

De certa forma, fui mesmo a um enterro. Morreram o noivo e a noiva. Nasceu uma só pessoa, uma só carne, um só espírito humano. Os noivos agora são um, assim como Deus pretende ser um conosco. Isso não anula nossas individualidades. Ao contrário, como diria C. S. Lewis, é aí que nos encontramos. Ninguém tem identidade completamente só. As palavras "não é bom que o homem esteja só" ecoam pela eternidade. Nós precisamos de Deus. E enquanto estamos nessa terra, a maioria de nós precisa de um cônjuge.

Pelo casamento Deus nos ensina como duas pessoas se tornam uma e encontram sua identidade. É uma necessidade nessa terra, e uma parábola para o céu.

Ser padrinho na cerimônia de meu melhor amigo me casou também. Ali no não-tempo estou eu, de mãos dadas com a minha esposa. E com Deus. Ali no não-tempo eu já sou um defunto. Um defunto muito feliz.

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