segunda-feira, 20 de agosto de 2012

O Conceito de Beneficiários e Funcionais

Nas últimas duas postagens sobre política, eu fiz uma análise bem explicativa sobre as definições reais dos termos “direita” e “esquerda”. Nelas entendemos que a esquerda é um posicionamento político baseado no humanismo e na mentalidade revolucionária e que direita é o posicionamento político baseado no conservadorismo e no liberalismo clássico. Também entendemos que a direita sempre vai preferir um Estado mais enxuto, menos intervencionista, ao passo que a esquerda entenderá o Estado como a mãe do povo.

Obviamente essas definições reais não agradam aos esquerdistas, pois elas deixam patente que a ideologia de esquerda é muito mais passível de ser usada para enganar o povo do que a ideologia de direita. Enquanto a direita, a cada dia que passa, se torna mais cética em relação à bondade do ser humano e sua capacidade de construir um paraíso na terra, a esquerda continua a alimentar a confiança no ser humano e no Estado. E é evidente que a maioria dos políticos sempre irá preferir um povo menos cético. Daí o investimento tão grande em um “Estado-mamãe”, no populismo e no culto à personalidade.

Mas para entender melhor a ação da esquerda como um todo é importante entender o conceito de Beneficiários e Funcionais. Conheci esse conceito no blog do Luciano Ayan e o julgo muito elucidativo. Vamos entender do que se trata.

Em resumo, há dois tipos de atores envolvidos no sistema esquerdista: os Beneficiários e os Funcionais. Os beneficiários são aqueles que conquistam benefícios pessoais diretos através da implementação das idéias da esquerda. Estes não precisam acreditar realmente nas idéias esquerdistas, mas simplesmente se utilizar delas para alcançar seus interesses pessoais, sejam interesses legais ou ilegais. 

Evidentemente é no grupo dos beneficiários de esquerda que se encontra a maior parte dos políticos corruptos e incompetentes. Um beneficiário consegue o poder por meio daquele discurso humanista de que podemos mudar o mundo (ou sociedade, país, estado, cidade), de que o governo é uma mamãe e de que ele é um papai para o povo, de que o assistencialismo irá elevar o padrão de vida das pessoas, de que o político anterior era elitista (e de “direita”), de que o governo irá trabalhar mais (ou seja, acumular mais funções, o que quer dizer: impostos altos) e etc.

Quando este beneficiário chega ao poder, então, a manutenção deste poder com um considerável apoio do povo se dará com o assistencialismo (esmola para algumas pessoas), o discurso de apoio às minorias oprimidas e os gastos astronômicos com os infalíveis “pão e circo”, propagandas e obras eleitoreiras no último ano de mandato. Tudo isso é possível, claro, porque o Estado é inchadíssimo, tendo dinheiro o suficiente para manter os beneficiários no poder (e receber desvios para os bolsos dos corruptos).

Nos Estados em que a autoridade do governo já atingiu um nível muito alto e que o totalitarismo começou a aflorar, a situação ainda é pior. O chefe de estado investe pesado no culto à autoridade e ao governo, através do mesmo discurso humanista, conquistando a fé e a simpatia do povo.

O perfil não muda muito. A depender da conjuntura política do Estado, o beneficiário pode obter benefícios pessoais por meio do regime democrático ou por meio de um totalitarismo radical (o que inclui um discurso mais radical, por exemplo, o discurso comunista). Se olharmos para governos como o de Evo Moralez, Hugo Chavez, Fidel Castro e Josef Stálin, é possível ver muitas semelhanças, embora a conjuntura política de seus estados não tenham sido, naturalmente, a mesma.

Mas para ser beneficiário da esquerda, não é necessário ser um político. E é aqui que nós começamos a entender como que a esquerda propicia um cenário maravilhoso para quem não está nem aí para o povo. Por exemplo, pense em um grande empresário. Pode ser o Eike Batista. Você pode pensar: “O que o Eike Batista ganharia com um governo de esquerda?”. Eu digo: “Muita coisa”. Eike Batista é dono de um verdadeiro império. Para ele, é fácil pagar altos impostos para o Estado, ao passo que, para empresários de médio e pequeno porte, não é uma tarefa simples. Em outras palavras, enquanto Eike Batista sobrevive bem pagando altos impostos, pois tem uma situação mais estável, muitos empresários não conseguem crescer ou vão à falência por sua instabilidade financeira. Isso diminui a concorrência, tornando mais fácil o enriqueci-mento de Eike e a hegemonia de suas empresas.

Vamos mais longe. Se o esquerdismo facilita a hegemonia de grandes indústrias, estas também crescerão em seus status, logicamente. Crescendo em status, serão mais bem cotadas para ganharem licitações do governo (para fazer obras e serviços). Isso é bom para a empresa e também para o governo, pois quanto mais alto for o valor do serviço prestado pela empresa ao governo, mais desculpas o governo terá para manter os altos impostos, criar outros e, claro, desviar verbas públicas através de valores superfaturados. Ironicamente, a esquerda, que surgiu na Revolução Francesa com a proposta de defender a pequena burguesia, acabou se mostrando uma mãe para os grandes burgueses.

Ainda existem outros tipos de beneficiários que podem ser: autores de livros, cineastas, palestrantes e pessoas envolvidas com o meio acadêmico. Estes ganham fama e a simpatia das pessoas por pregarem idéias de esquerda em seus campos de atuação. Como as idéias de esquerda são esperançosas, enérgicas, emocionais, chamativas, boas para ouvir e facilmente espalháveis, estes beneficiários são considerados grandes personalidades e, óbvio, conseguem muito dinheiro. Enfim, é bem fácil se beneficiar das idéias de esquerda.

Mas os beneficiários não constituem grande parte da esquerda. A maior parte do sis-tema esquerdista é formada pelos funcionais. Os funcionais são aqueles esquerdistas que, de fato, acreditam nas idéias da esquerda. Estas pessoas levam a sério discursos de “igualdade social”, “luta de classes”, “governo pelo povo”, “mundo melhor” e “revolução”. Por menos politicamente engajadas que elas sejam, apresentam uma grande influência esquerdista na formação de suas opiniões.

Ótimos exemplos podem ser tirados daqui do Brasil, um país altamente influenciado pelo esquerdismo. É só observar a fé descomunal que muitas pessoas depositaram em Lula e no PT; os inúmeros jovens universitários que veneram Che Guevara e adoram ver revoltas armadas e vandalismos; a totalidade de professores ensinando seus alunos que a história do mundo é a história da luta de classes; a idéia de que a culpa da homofobia é dos religiosos e dos conservadores; o uso do termo “direita” como sendo sinônimo de elitismo, apoio aos ricos, opressão aos pobres e ditadura; a demonização da direita; a associação do pensamento conservador ao nazismo e fascismo; a tolerância da criminalidade por ser considerada culpa apenas das circunstâncias e nunca do autor do crime; o apoio ao MST; uma enorme gama de partidos que levam no nome algo relacionado à “social” ou “socialismo” e etc. 

Enfim, é visível que um grande número de pessoas acredita de verdade em idéias esquerdistas no Brasil. Essas pessoas formam o grupo dos funcionais. Mas por que elas são chamadas de funcionais? Simples. Porque elas desempenham a função de disseminar as idéias esquerdistas. Cabe a elas o trabalho mais difícil. Enquanto os beneficiários apenas colhem os frutos da ingenuidade das pessoas, os funcionais defendem e passam a diante tudo o que a esquerda prega. 

É claro que não é necessário que todos os funcionais concordem com todas as idéias da esquerda ou que se considere esquerdista ou que entenda alguma coisa de política. Se cada funcional tiver uma ou duas idéias pautadas no pensamento da esquerda, os beneficiários já saem no lucro. Como diz Luciano Ayan: “Quem executa uma função necessariamente não tem a visão do todo. Geralmente o funcional não sabe para que ele serve, a quem ele serve e para que serve toda sua energia despendida. Já o beneficiário sabe exatamente” [1]. Ora, o povo brasileiro já cai nessa artimanha desde a época de Getúlio Vargas, o “pai dos pobres”.

Bem, esse é o conceito de beneficiários e funcionais. E como podemos ver, ele mostra de um modo bem claro como que as ideias de esquerda podem ser facilmente utilizadas para ludibriar o povo e beneficiar a malandragem. 

Mas o esquerdista, claro, há de protestar: “Não posso considerar um verdadeiro esquerdista alguém que se aproveita das ideias de esquerda para alcançar benefícios pessoais”. Ora, esse tipo de protesto é bem comum, mas não faz sentido. Isso porque na política, o que importa para classificar uma pessoa não é o que a ela pensa e sim o que ela faz. Por exemplo, suponha que um político dê um golpe de estado e passe a ser um ditador. Não importa se ele se tornou ditador por interesse pessoal ou porque acreditava de verdade que o país precisava de uma ditadura para colocar ordem nas coisas (ainda que temporária); em ambos os casos, esse político é um ditador. Da mesma forma, não importa se um esquerdista busca interesses pessoais ou se realmente acredita na causa; em ambos os casos ele é um esquerdista. E isso vale também para os direitistas.

O esquerdista também poderia questionar: “Mas e a direita? Ela também não apresenta beneficiários e funcionais?”. Eu diria que não. A direita prega o ceticismo em relação ao ser humano, o pessimismo em relação a um mundo muito melhor, a idéia de que o Estado não deve fazer mais do que sua obrigação (e, portanto, não precisa de tantos impostos) e por aí vai. Não são idéias interessantes para uma pessoa que queira se beneficiar da ingenuidade do povo e nem são idéias que facilitam a ingenuidade. Em um cenário assim, o conceito de beneficiários e funcionais não se encaixa.

Agora, não me entenda mal. Não estou dizendo que em um governo de direita não existem políticos corruptos e eleitores ingênuos. Um político de direita pode muito bem desviar verbas, financiar o tráfico de drogas, acobertar crimes, fechar acordo com uma máfia, não cumprir as promessas que fez no período de eleições, armar ciladas para adversários políticos, apoiar leis prejudiciais para o povo e etc. Da mesma forma, um eleitor de direita pode acreditar nas promessas desse político e ser enganado. Mas o que não podemos dizer é que a ideologia de direita facilita a corrupção dos políticos e a ingenuidade do povo. Isso é uma característica da ideologia de esquerda, que prega a fé no ser humano, o otimismo, o assistencialismo, os altos impostos, o culto à autoridade e o “Estado-mamãe”.

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